4.Ligações
Vi um ônibus passando e não pensei duas vezes, dei o sinal e após um longo suspiro entrei, desliguei meu telefone, não podia acreditar que Lorena tinha feito aquele show, principalmente na frente do Dr. Castro que era meu supervisor, a medida que o ônibus seguia um caminho que eu não conhecia, as pessoas desembarcavam e eu continuava ali estático, talvez eu estivesse exagerando, deveria ter ido para minha casa, mas provavelmente Lorena estará lá e não tenho mais paciência para o seu drama.
— este é o ponto final! — disse o motorista me tirando dos mais profundos devaneios.
— obrigado — desci do ônibus e fui iluminado pelos raios de sol, não tinha percebido que o ônibus subiu um morro, andei até uma praça vazia que dava para ter uma bela visão de árvores.
Aquele ar parecia ser tão diferente do que eu estava habituado, meu coração se acalmou rapidamente, uma senhora veio até mim, seus cabelos brancos presos em um coque me lembraram minha avó.
— bela vista concorda? — ela sorriu.
— sim — respondi lhe retribuindo o sorriso.
— você se parece com o meu marido — ela disse sentando-se ao meu lado.
— perdão? — não tinha entendido.
— na verdade ele se foi a um tempo — ela deu uma risada — quando era jovem se parecia muito com você!
— entendi — dei um leve sorriso olhando para meus pés.
— eu nunca lhe vi — ela continuou — está perdido?
— não — respondi — só estava precisando de ar puro.
—o que aconteceu? — ela perguntou eu não entendi o porque de tantas perguntas.
— tive problemas — respondi.
— então fugiu?
— não! — falei um pouco alto.
— eu sou velha querido, sinto longe a presença de mentiras — ela respondeu e após eu explicar tudo o que havia acontecido...— volte para casa querido, imagine o quanto seus pais estão preocupados.
— você tem razão — respondi após uma longa pausa.
— eu lhe acompanho até o ponto — ela me levou até o local onde deveria pegar o ônibus e ao avistar um ônibus que retornaria para locais conhecidos eu parti.
Ao abrir a porta da minha casa encontrei meus pais, minha irmã, Felipe, Sofia, Gabriel e Ítalo — o que me surpreendeu muito — ao me verem todos suspiraram.
— onde você esteve? — minha mãe perguntou visivelmente preocupada.
— eu estou bem — comecei — precisava ficar sozinho.
— agora que ele voltou, peço licença para me retirar — disse Ítalo assentindo para mim e cumprimentando todos em minha casa.
— obrigada pela preocupação Dr. Castro — minha mãe disse indo com ele até a porta.
Ele me olhou uma última vez e fez um esboço de sorriso, ao me dirigir ao meu quarto meu pai me segurou pelo braço.
— você tem noção do quanto você foi egoista? — ele estava furioso.
— me desculpe, fiquei sem bateria — menti — reconheço, eu estou muito mal.
— você não pode fugir sempre que Lorena vir ao seu encontro! — ele gritou.
— eu já pedi desculpas— comecei — o que mais você quer que eu faça?
— agora eu quero que você vá para seu quarto e que não fuja pela janela — ele disse indo para a cozinha.
Passei por todos apenas acenando e fui ao meu quarto, abri a porta e me joguei na cama, o que meu pai queria que eu fizesse? Com certeza queria que eu enfrentasse Lorena, mas eu não quero mais conversar com ela eu só quero seguir em frente, meu celular tocou e nem vi de quem era o número pois estava desnorteado.
— olá? — perguntei.
— quando vamos nos ver de novo? — José perguntou.
— ah, então eu to meio ocupado esses dias — menti.
— que pena — ele lamentou.
— e ainda tem o casamento da minha irmã...
— quando você estiver livre me liga — ele disse enquanto Luiza abria a porta do meu quarto.
— tá bem, eu aviso — olhei para minha irmã — agora tenho que desligar a noiva chegou.
Ele riu fraco e desligou.
Luiza sentou-se ao meu lado, seus olhos estavam vermelhos, seu cabelo preso num rabo de cavalo desajeitado.
— você nos deu um baita susto — ela começou e parecia visivelmente brava.
— eu sei — retribui o olhar bravo e ela começou a rir.
— você sabe que agiu mal né? — perguntou.
— não vi nada de errado no que eu fiz— dei de ombros.
— Lorena não tem limites mesmo — ela mudou o foco — não sei como você aguentou namorar aquela maluca.
— ela não era maluca no começo — nos dois rimos.
— e o Dr. Castro nos surpreendeu vindo aqui — ela disse.
— eu não esperava encontrá-lo aqui — sorri.
— eu também não — ela começou — até porque ele é tão frio.
— sim, mas também ele é brilhante — elogiei.
— que? — ela arregalou os olhos e em seguida os serrou como se estivesse desconfiada de algo.
— eu quero ser como ele — respondi dando de ombros.
— entendi — ela colocou sua cabeça em meu ombro — vou sempre te entender — ela me deu um beijo no rosto e em salto saiu do meu quarto — meu Deus como eu estou feia! — gritou do lado de fora.
Ri e em seguida meu telefone tocou deveria ser José novamente.
— alô? — atendi desanimado
— fiquei preocupado com você — disse Ítalo.
— Doutor Castro?
— quando não estivermos no hospital você pode me chamar de Ítalo.
— tudo bem, Ítalo — respondi.
— você está bem? — perguntou.
— sim — respondi — só precisava descansar.
— pensei de amanhã irmos na minha mãe após a aula com sua irmã, o que você acha?
— incrível — respondi animado — vou falar com ela.
— então nos vemos amanhã — ele disse rindo — boa noite Leo.
Meu coração gelou ao ouvir ele me chamar de Leo, não sabia o porque, mas eu estava feliz. Bem feliz.
— boa noite Ítalo — peguei o cartão da mãe do Ítalo e fui a sala, encontrei Luiza e Felipe conversando baixinho, os dois tinham muita química.
— oi cunhado! — ele sorriu ao me ver.
— como estão os preparativos pro casamento? — perguntei.
— tudo está tranquilo, sua irmã que não encontra o vestido — ele olhou para ela.
— acho que tenho a solução para isso — entreguei o cartão da senhora Castro a minha irmã e segundos após ler ela estava sorrindo e me abraçou forte.
— você é demais — ela bateu palmas.
— agradeça ao Ítalo — ela me olhou abriu a boca para dizer algo, mas parece que mudou de ideia é apenas assentiu.
Deitei em minha cama e cai no sono, no meio da noite eu tive certeza que tinha visto Ítalo em pé no meu quarto me observando, ao acordar na manhã seguinte percebi que tudo não passava de um sonho.