Arena Mortal escrita por Nyna Mota


Capítulo 24
Capítulo 23 - Recomeço


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo!

Boa leitura!



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O vento batia em meu rosto, o sol, tive vontade de chorar de alegria. Eu estava livre.

— Precisa de carona garoto? — Joseph perguntou.

Assenti ainda sem palavras, extasiado.

Entrei no carro luxuoso acanhado, intimidado. Joseph era um homem observador, que analisava tudo ao seu redor e todos os meus movimentos.

— Não está feliz? — Ele perguntou em certo momento.

— Mais que feliz.

— Então porque está tão sério?

Fiz um careta tentando pensar no que sentia.

— É difícil. Eu nunca estive realmente livre. Essa é a primeira vez que realmente sou dono da minha vida e das minhas escolhas. E das consequências.

Joseph deu um breve sorriso enquanto passava a marcha.

— Acho que esse é um excelente dia para recomeçar filho.

Recomeçar. Saboreei a palavra, senti ela penetrar meu corpo e preencher meu ser. Um arrepio de antecipação me subiu pela espinha.

— Acho que recomeçar pode ser bom. — Enfim dei um sorriso verdadeiro.

Após mais alguns minutos de silêncio não pude deixar de perguntar curioso com aquele homem e o que ele representava.

— Como entrou na advocacia?

— Herança de família. Meu pai e meu avô eram advogados, então me tornei um. Minha filha pulou a tradição, quis ser jornalista, espero que meu neto perpetue nosso legado.

Um legado, uma herança, um filho.

Luke.

— Não tenho nada a oferecer ao meu filho. — Admiti pela primeira vez em voz alta.

O advogado tinha um magnetismo que me fazia falar, que me permitia demonstrar minhas fraquezas e inseguranças sem receio de julgamento.

— Tem mais do que imagina garoto.

O encarei. Eu parecia um menino assustado e não um homem feito, eu sabia disso, mas eram raros os momentos em que me deixava ser fraco, que podia me permitir demonstrar o receio que sentia no meu intimo.

— Eu já vivi muito mais que você, já tenho quase meus sessenta anos, sei que não parece. — Ele riu e eu sorri de volta. — Já vi todo tipo de gente Edward, já defendi da pior escória ao mais inocente e posso dizer que sou um especialista em pessoas e com propriedade posso te garantir: você tem muito a oferecer ao seu filho, a ensinar, exatamente por temer não ter nada bom, por se preocupar com isso. Você vai ser um excelente pai garoto.

Eu queria tanto acreditar naquilo, queria tanto saber que em algum momento eu seria um exemplo pro meu filho e me agarrei aquela esperança pra continuar, para recomeçar.

Joseph me deixou na porta do apartamento.

— Aqui, se precisar de algo me ligue. E não se esqueça, você precisa estar às 7 horas na biblioteca. — Ele estendia sua mão me entregando seu cartão de visita personalizado e luxuoso.

— Obrigada Joseph.

Ele deu partida e se foi. Só então encarei o apartamento.

Tantas lembranças felizes, tanto de Bella, tanta dor.

Respirei fundo e subi.

O apartamento estava sujo, e com muito cheiro de mofo, eu teria um grande trabalho pela frente.

Arregacei as mangas, comprei o que precisava pra faxinar a casa e comecei.

Meus braços ardiam pelo esforço, mas estava tudo limpo, apesar de ainda ter um cheiro forte, a janela aberta ajudaria, e logo estaria habitável novamente.

Guardei o último item que faltava das compras que havia feito e apreciei a limpeza, a tranquilidade do local. Não havia grades, isso me fez sorrir.

***

Cheguei na biblioteca com dez minutos de antecedência. Me encostei na porta e aguardei.

O serviço comunitário era tranquilo, o barulho das páginas passando me acalmava. O ir e vir das pessoas me deixava empolgado.

Com o passar dos dias fui ficando cada vez mais impressionado com a magnifica quantidade de livros que havia ali.

Eu era responsável por limpar o chão, o banheiro, tirar poeira livros, organizar as cadeiras e desligar os computadores.

A bibliotecária era uma senhora arisca e mal humorada, usava um coque perfeito na cabeça e óculos pequenos, adorava uma seção em particular que percebi ser de romances eróticos.

Iam pessoas de todos os tipos na biblioteca, desde universitários a crianças, alguns advogados, outros cientistas. Dos nerds aos mais descolados, todos em algum momento precisavam ir ali.

Eu chegava todos os dias antes do horário e ficava sempre até um pouco mais tarde. Não me importava de trabalhar ali, na verdade eu até gostava.

— Sra Karp? — Chamei a bibliotecária baixinho.

Ela me encarou com a mesma cara fechada que fazia para todos que iam ali.

Como ela ficou em silêncio continuei.

— Eu, hum, gostaria de fazer o cadastro para poder pegar alguns livros emprestados, se eu puder é claro.

A velha me intimidava. Que Emmett não descobrisse isso.

Me surpreendendo ela abriu um sorriso.

 — Eu sempre soube que você era um amante de livros como eu! Seu cuidado com os preciosos diziam tudo.

Olhei alarmado pra mulher que saiu me arrastando para a bancada, pra então fazer meu cadastro na biblioteca municipal de Detroit.

***

Uma semana havia se passado desde que eu saíra, e apesar de estar louco pra ver meu filho eu tinha medo.

Era sábado a tarde, eu estava trancado no apartamento olhando pro teto pensando na fodida mensagem de Alice.

“VOCÊ É UM FODIDO COVARDE!”

Em letras maiúsculas. Baixinha corajosa.

Suspirei frustrado. Alice tinha razão eu sabia, mas enfrentar tudo me paralisava. Pensar em encarar Bella e o medo do que faria com Luke me congelava no lugar.

Sai da inércia pra ir ao supermercado comprar algumas coisas que faltavam e em uma loja perto de casa comprar algumas camisetas e calças.

Algumas mulheres me olhavam e sorriam descaradamente. Me senti intimidado.

Bufei.

Ótimo além da bibliotecária, agora mulheres me intimidavam.

Ignorei os olhares pegando algumas camisetas do mesmo jeito.

Preto dominava tudo que escolhia. Vi uma camiseta laranjada e quis atear fogo lembrando do odioso uniforme da prisão.

Saindo da loja me deparei com outra que prendeu toda minha atenção, que fez meu coração doer e sangrar, bem como a vergonha me tomar.

Entrei na loja incerto sem saber o que comprar, ou o que poderia ser útil a um bebê.

Engoli em seco e fui olhando tudo, tinha tanta coisa, fiquei me perguntando se uma criança realmente usava tudo aquilo.

Olhando ao redor me deparei com algo que me encantou, um macaco de pelúcia, era a coisa mais fofa e mais estranha do mundo, tudo ao mesmo tempo.

Peguei o pelúcia e analisei minuciosamente.

— Ótima escolha! Esse é antialérgico, material resistente, perfeito pra crianças de todas as idades. — Ela me olhou de cima em baixo descaradamente. — É para um sobrinho?

— Meu filho. — Respondi mais brusco do que esperava. — Vou levar ele, obrigada.

Dispensei a atendente e continuei olhando as coisas, dessa vez sozinho. Eu não tinha ideia de qual era o tamanho de Luke e das coisas que ele precisava. Frustrado fui até o caixa, levando apenas o macaco.

Ignorei o olhar em fenda da vendedora que dispensei e segui pra casa.

***

Tirei tudo que havia comprado das sacolas, organizando tudo, deixando apenas o pelúcia em cima do sofá.

Parecia que me encarava debochado, sabendo a covardia que me tomava, evitando rever Bella por medo de sua reação, medo da rejeição.

Bufei e tomei a atitude que devia ter tomado assim que sai da prisão.

“Me manda o endereço dela”

Alice de pronto respondeu.

“Até que enfim idiota.”

Encarei o endereço me preparando pra encarar meu passado, mais aliviado para enfim enfrentar tudo de frente.

Tomei um banho demorado, peguei a roupa que usaria, algo que nunca me importei muito, antes que me vestisse, alguém bateu na porta.

Abri a porta sem me preocupar em olhar quem era.

Grande erro.

Os grandes olhos verdes me encaravam, a boca avermelhada, o cabelo um pouco mais curto do que a última vez que a vi, os seios mais cheios. Bella segurava um bebê conforto, dentro dele a coisa mais linda que já tinha visto na vida.

Lucas.

— Vai me chamar pra entrar ou prefere ter essa conversa aqui fora de toalha? — Bella arqueou a sobrancelha.

Ela tinha razão.

Pigarreei duas vezes antes de conseguir falar qualquer coisa.

— Desculpe, entre.

Ainda sem conseguir tirar os olhos do pequeno bebê que dormia sai da frente da porta pra ela entrar.

Ela olhou tudo com cuidado, analisando cada detalhe, até que seus olhos pousaram no macaco de pelúcia.

— Eu, bem, vou trocar de roupa. — Entrei no banheiro me vestindo o mais rápido que pude.

Não sabia o que ia acontecer e sinceramente estava nervoso.

Sai e Bella se encontrava no mesmo lugar, apenas o bebê conforto agora repousava no sofá.

Ela ainda estava de costas, mas deve ter ouvido meus passos.

— Quando ia me contar que saiu Edward? Quando ia ter coragem de me encarar? De encarar seu filho?

Engoli em seco.

— Hoje.

Ela me encarou, seu olhar sério.

— E você quer que eu acredite nisso?

— Nunca fui um mentiroso Bella. Posso ser tudo, assassino, ladrão, posso ser muitas coisas, mas nunca fui um mentiroso. — Um centelha de irritação me tomou.

— Quando vai aprender que não vou quebrar? Quando vai entender que sou forte o bastante, quando vai perceber que seu lugar é ao meu lado. Ao nosso lado!

Fui pego de surpresa, eu esperava tudo, raiva, ódio, indiferença, mas não isso.

— Eu..o que?

— Estou cansada Edward, durante toda nossa vida tivemos que lutar, que brigar, e teve tanta gente se intrometendo entre a gente, teve tantos obstáculos, não que vai ser fácil, mas ao menos eu acho que vai ser mais fácil. — Ela respirou fundo. — Droga, estou sendo incoerente.

— Não, não está. — Ela me encarou. — Ok. Talvez um pouco.

Ela riu, eu sorri de volta.

— O que eu quero dizer, na verdade perguntar é se quer embarcar nessa comigo Edward, estar comigo, como companheiro, como um casal, cuidar do nosso filho sem a sombra  do nosso passado. Sermos iguais! Nada de proteção, nada de fugir ou de me proteger, é enfrentar tudo junto! E quando digo junto, é junto mesmo, porque juro Edward se você me afastar de novo...

Não deixei Bella acabar. A puxei pros meus braços e beijei-a docemente.

— Pra sempre. Juntos como um só, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até depois da morte porque nem ela será capaz de me manter longe de você agora que estamos juntos novamente.

— Você promete?

— Prometo gatinha!

Beijei Bella novamente até que um resmungo chamou minha atenção.

— Eu posso? — Perguntei inseguro estendendo os braços na direção do bebê, que agora tinha os olhos abertos.

— Graças a Deus alguém pra cuidar dessa criança de madrugada!

Eu ri mas não desviei os olhos dele que me encarava. Eu cuidaria dele todas as madrugadas feliz.

Acariciei seus rostinho suave, analisando cada detalhe. Então a coisa mais incrível aconteceu, Luke sorriu. Um sorriso sem dentes, cheio de baba, mas era um sorriso.

— Oi garotão! — Com cuidado o peguei em meus enormes braços. — Eu sou seu pai! Eu não sei ser um pai, então a gente vai ter que ir aprendendo juntos. Você vai ter que ter paciência comigo, e eu prometo ser muito paciente com você.

O garotinho me olhava e mexia as mãos gordinhas e meu coração parecia que ia explodir em meu peito de tanto amor, com uma força que nunca imaginei ser possível.

— Meu Deus Bella, ele é a coisa mais linda desse mundo! — Exclamei encantado.

Bella se aproximou e enlacei sua cintura, tendo minha família completa pela primeira em meus braços.

***

Reencontrar Carlisle era algo necessário, tomado de vergonha, mas resoluto de que precisava enfrentar tudo toquei a campainha.

Bella já estava lá, assim como Emmett e Alice.

Era apenas um jantar, mas o primeiro que eu aparecia após sair da prisão, cerca de um mês atrás.

Uma rotina havia se estabelecido. Eu trabalha o dia todo na biblioteca, a noite via Bella e Luke, e então ia pra casa. Ainda não havíamos dormido juntos, eu estava louco de saudade e de tesão, mas queria ir devagar, que nosso relacionamento fosse avançando aos poucos.

A vida estava boa e feliz, até o momento que Bella me avisou que teria um jantar na casa de Carlisle e que era pra eu ir.

Ainda me lembrava da última vez que o havia visto no hospital, não tinha sido bom, e ele tinha total razão. Tinha receio de que sua desaprovação pudesse acabar com a coisa boa que havia se estabelecido entre Bella e eu.

Toquei a campainha e esperei alguém abrir a porta.

Esme estava linda como sempre, e tinha o mesmo olhar maternal de sempre.

— É bom ver você Edward! — Ela me puxou pra um abraço que eu não esperava.

— É realmente bom vê-la de novo Sra. Cullen. — Respondi ao abraço ainda meio incerto.

— Nada de Sra. Cullen por favor, me sinto muito velha! Apenas Esme. Venha, entre, os meninos estão te esperando.

Entrei na casa que não me era estranha, mas também muito tinha mudado, lembranças de noites felizes e ao mesmo tempo tristes vieram.

Emmett foi o primeiro a levantar.

— Até que enfim cara, achei que não viesse. — O grandalhão me pegou de surpresa com um tapa que me fez tropeçar.

Olhei feio pra ele.

— Foi mal cara. Acho que você precisa malhar.

Ele tinha razão. Era algo que eu queria ver, assim que terminasse de organizar minha vida.

Rosalie se jogou em meu braços. Eu ri de sua empolgação.

— É bom ver você também Rose!

Alice estava mais ao canto de cara fechada.

— Preto lhe cai muito bem. — Ela falou irônica. Sorri e puxei a morena pros meus braços. Alice era o mais próximo de uma irmã que eu tinha, mesmo uma irritante e mandona.

— Obrigada Ali. — Ela relaxou um pouco.

— Ainda te acho um idiota, mas estou feliz por te ver livre.

A garganta travou embargada. Ela sorriu e se afastou. Luke e Bella estavam perto, mas antes havia Carlisle.

— Senhor Cullen. — Me aproximei. — Obrigada por me receber novamente em sua casa.

Seu olhar não era mais caloroso, não tinha o afeto de outrora, me fazia sentir desconfortável.

— Fique a vontade. — Ele foi se virando pra sair quando Esme se intrometeu em seu caminho.

— Carlisle. — Ela repreendeu séria.

— Eu não posso aceitar, não depois de tudo que ele fez.

— Tudo bem Sra. Cullen, eu entendo. Talvez seja melhor...

— Apenas Esme querido, por favor. E não, você não vai embora, nós já conversamos sobre isso e nessa casa nós acreditamos em segundas chances, todos cometemos erros e Carlisle vai sim participar do jantar conosco.

Eu me mantive calado, esperei que ele fosse contra a firmeza de Esme mas me surpreendi com sua aceitação pacífica. Talvez fosse algo a aprender pra lidar com a mulher teimosa que eu tinha.

O jantar transcorreu “normal”, ou o que normal poderia ser. Carlisle permaneceu calado, e não se dirigiu a mim em nenhum momento. Me sentia incomodado e permaneci o mais quieto possível.

Luke ficou no meu colo o tempo todo, estava acordado e observava cada movimento que eu fazia.

Pouco antes das nove da noite me levantei e comecei a me despedir de todos, eu ainda precisava cumprir meu toque de recolher.

Entreguei Lucas pra Rosalie que estava mimando meu filho com Emmett a tira colo.

— Obrigada Esme, estava tudo uma delícia.

— Volte sempre que quiser querido.

Olhei de relance para Carlisle, sabendo que não era bem vindo por ele.

Dei um suave beijo na testa de Bella e fui em direção a porta. Carlisle me acompanhou. Todos ficaram nos olhando, até a porta se fechar, nos dando privacidade.

Na varanda parei, e esperei, olhei o céu e respirei fundo, ainda me acostumando com a liberdade.

— Vou ser direto com você garoto, não acho que esse relacionamento seja bom pra Bella ou pro Luke. Acho que seus erros foram demasiados, violentos, agressivo e nem posso enumerar tudo que aconteceu, mas...

— Mas é Bella quem escolhe. — Interrompi ele o mais educado que pude. — Eu e você a amamos, você como o pai que ela não teve, e eu sempre a amei e sempre vou amar, e apesar desse amor Bella é independente e forte, e mais corajosa que nós dois juntos. E o senhor tem razão, eu não sou bom o suficiente pra Bella, e eu tentei com todo meu ser ficar longe dela, até que não pude mais. Não fui eu que escolhi, foi Bella que me escolheu Sr. Cullen e eu não vou ser tolo o suficiente pra afastar ela de novo, eu vou ficar com ela e Luke por quanto tempo ela me quiser.

Parei um pouco respirando fundo.

— Eu te devo desculpas senhor Cullen. Eu menti pro senhor, e fiz coisas das quais não me orgulho, mas paguei pelos meus crimes, estou pagando todos os dias da minha e não tenho certeza de muita coisa, mas vou tentar ser pro meu filho pelo menos metade do homem que o senhor é, metade do pai que o senhor foi e é, e seu eu chegar ao menos a metade disso, vou poder morrer em paz.

Carlisle me encarava em silêncio. O que me incomodava, mas não me impedia de falar.

— Sei que me odeia e tem toda razão, mais eu amo aqueles dois com tudo em mim, eles são meu motivo de viver, e eu faria e faço tudo por eles, nisso o senhor tem que acreditar.

Um brilho de conhecimento passou nos olhos dele. Eu não tinha mais nada pra falar, e estava extrapolando meu limite de tempo fora de casa.

— Tenha uma boa noite Sr. Cullen.

— Edward? — Ele chamou quando estava no último degrau da escada. — Me chame de Carlisle. Te espero pro próximo jogo garoto.

Aliviado segui pra casa.

Não era uma relação como a anterior, mas era o início, um recomeço.

***

Eu beijava Bella com ardor, sugando os lábios carnudos, apertando as nádegas nuas enquanto metia dentro dela com força.

— Estava com tanta saudade amor.

Sussurrei beijando-a, então Bella sumiu.

Levantei nu, procurando Bella pela escuridão. Me senti sufocar e engasgar percebendo onde estava.

A cela. A maldita cela que fiquei por mais de cinco anos.

Um desespero me tomou. Não podia ser verdade, eu não podia estar ali, não de novo.

— Nãaaaaooooo. — Acordei gritando assustado.

Tropecei na coberta que me embrulhava, vomitei no chão aos pés da cama. Suando frio e tremendo olhei ao redor. Estava no apartamento. Livre. Não estava mais na prisão.

Levantei trêmulo e abri a pequena janela do quarto. Ajudou a respirar, mas não tirou de mim a sombra do passado. Existem cicatrizes que nunca iriam sumir.

Passei a mão pela cicatriz da facada que tomei no dia que Charlie foi morto, o dia que tudo mudou.

Ainda assombrado limpei o vômito do chão e fui pra porta do apartamento. Em tese estava descumprindo minha pena, mas levando em consideração que estava na porta de casa e o quão assustado estava, ignorei não suportando o ambiente apertado, precisava respirar.

O vento gelado bateu em meu rosto, me tirando da mente a prisão quente e seca.

Sentei no chão encostado na porta e liguei pra pessoa que sempre me atenderia e me compreenderia.

— Você sabia que agora é madrugada né? — A voz de Alice estava desperta.

— Sempre soube que você era uma vampira Alice, na verdade você parece aquela de crepúsculo. – Brinquei sem humor na voz.

— O quão assustador é o fato de você assistir esses filmes adolescentes?

Eu ri. Um pouco da opressão que sentia se esvaiu.

— Tem sido difícil dormir? — Ela perguntou.

— Algumas vezes sim. Outras não vejo nada. Você dorme tranquila?

— Cada vez que fecho os olhos é como se revivesse tudo de novo. — Ela se calou um instante. — O que Bella tem dito sobre isso?

— Ela não sabe. Não temos dormido juntos.

Alice riu.

— Então Bellinha está te colocando na geladeira?

— Algo assim. — Brinquei. — Na verdade acho que só estamos indo devagar, não sei, tudo está muito diferente.

Como tudo estava diferente.

— Ela teve pesadelos também, muito agressivos, sonhava matando Charlie, ou não conseguindo matar ele, ou sonhava com ele te matando. Segundo ela, tudo sempre mudava, a única coisa que sempre a mesma era que você morria. Não me pergunte como Bella superou isso Edward, mas acho que ela pode ser a melhor pessoa a te ajudar. Muito melhor que eu. — Ela resmungou a última parte.

— Você ajudou Ali, você sempre ajuda. Luke já tem mantido Bella acordada durante diversas madrugas, amanhã falo com ela sobre isso.

E eu realmente falaria. Éramos uma dupla agora, iguais, parceiros. Juntos.

— A cada dia que passa ele fica mais lindo! Não posso acreditar que você fez um filho lindo daquela jeito.

Meu peito inflou de orgulho. Senti uma pontada de dor em sua voz.

— Como estão as coisas? Jasper?

— Estou bem!

Eu ouvi a mentira em sua voz e bufei.

— Nova York é incrível Edward, mas, é grande e solitária. Sinto falta de vocês. — Eu também sentia. Alice e eu havia estado juntos desde sempre. Nossa ligação era forte e odiava o fato dela estar longe. — Jasper e eu acabamos. A distância é complicada, ele almeja a suprema corte e eu só quero uma casa com uma cerca branca e tranquilidade, com uma família.

A dor em sua voz ficou mais evidente. Eu não julgava o cara, ele estava no auge da carreira e era um homem fenomenal, faria grande diferença no mundo, mas ali eu via minha amiga, e entendia seu sofrimento, sua vontade de tranquilidade, de calmaria. Por um instante quis socar ele.

— Está tudo bem Edward. Eu sabia que seria assim. Foi bom enquanto durou.

Alice era tão forte. Ouvi seu bocejo.

— Vá dormir. Me ligue amanhã, talvez a gente possa assistir algum romance idiota por vídeo chamada. Eu pago seu sorvete!

— Vá se foder Edward! Ou melhor, vá foder Bella! — Ela disse rindo e desligou sem se despedir.

O tom mais leve em sua voz me acalmou.

Voltei pro apartamento sem me sentir sufocado, com planos de me abrir com Bella sobre os pesadelos, e de uma noite romântica, se Bella quisesse, claro.

***

Havia organizado tudo, limpado cada canto do apartamento, organizado o pequeno berço portátil de Luke para aquela noite, havia comprado o jantar e o vinho, preparei a mesa, procurei uma música agradável, escondi o anel na mesinha de cabeceira, coloquei o hobby em cima da cadeira no quarto.

Tudo pronto, só faltava o mais importante: Bella e Luke.

Eles chegaram, Bella tinha a chave. Entrou com um monte de coisas enquanto ainda falava no telefone.

— Rose eu sei, sim, anotei tudo que faltava. Droga. Acho que esqueci do material de limpeza.

Ela riu.

Rosalie e Bella haviam começado uma pequena clínica. Segundo elas a parte mais difícil era administrar, clinicar era como respirar pra ambas as garotas.

— Acabei de chegar, depois te ligo.

Bella desligou e eu já tinha pego o garotinho do bebê conforto.

— Que bonito, pega o Luke e me larga com todas as coisas.

Eu ri culpado.

— Desculpe amor, mas esses olhos me hipnotizam.

Com o bebê ainda em meus braços ajudei Bella a se desvencilhar de todas as coisas. Luke tentava chamar minha atenção fazendo barulhos com a boca, mexendo os bracinhos.

Ele crescia tão rápido e eu ficava cada vez mais encantado, havia um mês e meio que estava livre, Luke em breve faria um ano e eu poderia acompanhar todos os momentos dele.

— Ei filhão! Papai estava com tantas saudades de você!

— Só dele? — Bella perguntou manhosa sentando ao meu lado.

— Dos dois! — Passei o braço por seus ombros beijando suavemente seu pescoço.

— hummm...algo está cheirando muito bem. Você que fez? — Enrubesci quando ela se levantou e fui atrás.

— Eu comprei. — Admiti.

Ela riu.

— Eu gostaria de um jantar mais elaborado com você, mas...

Ela me calou com um selinho.

— Eu amei!

Sentamos e comemos enquanto conversávamos sobre cotidiano.

As coisas na clínica, meus dias na biblioteca, o crescimento de Luke, o término de Alice, Emmett e Rosalie, coisas comuns, coisas felizes.

Não havia peso ou pressão. Sorrimos, tomamos nosso vinho, comemos a sobremesa. Ficamos abraçados no sofá enquanto passava um filme idiota na TV. Luke tomou a mamadeira e dormiu, enquanto Bella colocava ele no berço, coloquei a música pra tocar.

Quando ela voltou a puxei pros meus braços.

— Dança comigo. — Pedi baixinho em seu ouvido.

Ela enlaçou os braços em meus pescoço. Nunca havíamos dançado daquele forma, na Daimond’s era sempre uma batida sensual e alta. Eu amava aquela tranquilidade, o corpo dela roçando ao meu, o cheiro dela por todo lado.

— Está tentando me seduzir?

— Por que? Estou conseguindo?

Ela riu e assentiu. Ficamos assim um longo tempo, nos movendo devagar, apreciando o momento de tranquilidade e estarmos nos braços um do outro.

Beijei Bella, suave, leve. Bella tomou meus lábios com fervor.

— Não podemos nos demorar, Luke pode acordar a qualquer momento.

Fiz careta, queria amar Bella lentamente, mas meu pequeno pacote de amor poderia não concordar e me atrapalhar.

Fomos pro quarto ainda nos beijando. Deitei Bella lentamente na cama, ela puxou minha blusa com pressa.

Beijei seu pescoço, sentindo o cheiro que me enlouqueceu durante toda a adolescência e fase adulta, cheiro de morangos.

Grunhi de tesão sentindo meu pau endurecer.

— Amor, rápido! Faz muito tempo!

Eu entendia a pressa de Bella, mas queria saborear a morena e aquele momento. Eu tinha tempo depois pra mais, nada precisava ser feito com pressa e essa nova realidade me bateu.

Tínhamos um depois, tínhamos tempo, o resto de nossas vidas.

Beijei Bella novamente me esfregando contra ela, ouvindo-a gemer e enfiar as curtas unhas em meus ombros, interromper o beijo e morder meus pescoço com força, depois lamber o lugar. Gemi alto.

— Shiiii. Luke não pode acordar.

Concordei engolindo os gemidos e vendo o rosto travesso dela.

— Dá próxima vez podemos deixar Luke com os padrinhos né, só algumas horinhas. — Bella se esfregou contra mim me fazendo morder as bochechas pra engolir o gemido. — Na verdade a noite toda!

O riso dela foi engolido pelo meu beijo feroz.

Eu queria que fosse lento e romântico, mas Bella me torturava, me enlouquecia, não me dava alternativas, me mordia, arranhava me fazendo perder o pouco controle que tinha.

Terminei de tirar suas roupas. Vendo-a nua pela primeira vez em muito tempo. A primeira vez depois da gravidez.

Seu corpo havia mudado, os seios estavam maiores e não tão empinados, a barriga antes plana agora tinha algumas estrias e estava mais flácida, algumas gordurinhas localizadas, e a cicatriz da cesariana que trouxe Luke pras nossas vidas. Beijei cada cantinho, lambi cada detalhe, enaltecendo seu corpo.

Bella me olhava envergonhada.

Ambos estávamos nus, Bella tomou meu pau em suas mãos tirando todo o resto do controle. Peguei o preservativo na mesinha de cabeceira fazendo careta, mas não havia falado com Bella sobre controle de natalidade.

A morena me encarava com os lindos olhos verdes em expectativa.

— Eu não tendo usado pílula, não sabia o que ia acontecer. — Se justificou.

— Está tudo bem. — Beijei seus lábios.

Bella tomou a camisinha das minhas mãos, rasgando o lacre. Deitei de costas na cama pra observar.

A morena segurou meu membro, e antes de me vestir me colocou na boca.

Me fazendo ranger os dentes pra não rugir. Agarrei os lençóis da cama, sem controle algum.

— Porra! — xinguei. — Amor, quero estar dentro de você. Não aguento Bella!

Nos virei na cama, tomando o preservativo e colocando em mim rápido.

Me aconcheguei entre suas pernas e tomei sua boca. Fui entrando devagar, sentindo seu corpo se abrir pra me acolher. O prazer era tão intenso que me fazia suar, e eu tinha a louca vontade de me enterrar nela forte e rápido até ouvir Bella gritar de prazer, mas ainda não.

Quando estava todo dentro dela soltei seus lábios e sussurrei, com uma única lágrima escorrendo pelo meu rosto.

— Estou enfim, em casa.

Bella acariciou meu rosto se remexendo embaixo de mim.

Dei o que ela queria. Tirei meu pau quase por completo e entrei novamente, com força, Bella gemeu alto. Parei olhando pro berço.

Luke nem se movia.

Olhei irônico pra Bella.

— Ok, entendi. Nada de gemidos altos.

Eu queria rir, mas Bella arqueou os quadris me fazendo entrar um pouco mais.

Enfiei o rosto em seu ombro abafando os sons de agonia, indo e voltando, várias vezes.

Senti as paredes de Bella me apertarem, ela estava tão perto, eu queria gozar junto com ela. Peguei uma de suas mãos e guiei até meu saco, instintivamente Bella me acariciou. Grunhi enlouquecido, acariciei o clitóris de Bella com o polegar, sua boceta apertada me consumiu como lava quente, o orgasmo veio forte. Bella mordeu meu ombro pra evitar gritar, a dor da mordida era o que faltava, gozei com ela, forte e alucinante.

Perdi as forças dos braços e das pernas, perdi a noção de tudo, menos do cheiro que inebriava o quarto de morangos e suor.

Com o último resquício de força que tinha virei nossos corpos, colocando Bella por cima de mim, ainda sem sair de dentro dela.

Acariciei suas costas enquanto recuperava o fôlego.

Estava começando a ficar nervoso com o que planejara. E se fosse muito cedo? E se Bella não quisesse se casar?

Bella sentiu a tensão no meu corpo.

— Edward? — Ela chamou insegura.

Luke começou a chorar em seu berço. Levantei pra pegar o menino no colo, ainda me sentindo tenso e não dando resposta alguma a morena.

— Ei campeão, você acertou o horário em cheio! — O menino fazia biquinho enquanto berrava. — Vamos fazer a mamadeira?

Vesti a calça de moletom que havia separado ainda com ele nos braços, Bella pegou o hobby e me seguiu.

Durante todo o tempo conversei com o bebê que ainda chorava de fome. Deitei ele em nossa cama e dei a mamadeira ansioso, ainda sem me dignar a falar com ela.

Luke acabou de mamar, o peguei pra que arrotasse. Cuidei dele com todo esmero, troquei sua fralda molhada e fiquei brincando com ele sob o olhar atento de Bella.

O frio na minha espinha não diminuía, e o suor na minha testa denunciava algo errado.

— Achei que fossemos ser abertos Edward. — Ela acusou friamente.

— Droga! — Xinguei alto.

Luke tentava pegar os pés gordinhos e eu enfrentava a fúria da sua mãe.

— Não é o que está pensando Bella. — Resmunguei pegando a caixinha de veludo.

Os olhos verdes ficaram arregalados, a boca aberta em um pequeno O.

— Edward...

— Eu malditamente ensaiei a cena na minha mente, decorei um texto, peguei poemas de autores famosos, mas tudo saiu errado. Era pra te amar docemente e então me ajoelhar e te pedir em casamento, e não ficar apavorado com o não e sequer ter coragem de pedir! — resmunguei tudo de uma vez. — Eu amo você Bella, quero você e Luke ao meu lado pra sempre, e quero oficializar isso. Quero construir uma vida nova com vocês dois ao meu lado, e mais alguns irmãozinhos, claro. Você aceita se casar comigo?

Minhas mãos tremiam enquanto tentava abrir a maldita caixa e não conseguia. Segurar uma arma era coisa fácil pra mim, agora uma caixa com um anel de noivado? Impossível.

— Sim!!!! — Bella gritou se jogando em cima de mim com cuidado pra não acertar nosso filho. Ela beijava meu rosto e sorria, eu ria aliviado.

Ela sentou em cima de mim e senti meu membro reagir no mesmo instante. Ela olhou de lado pro nosso filho.

A comemoração teria que esperar.

Bella estendeu a palma da mão pra ver seu anel. Era simples, eu não tinha dinheiro pra nada luxuoso, mas pareceu se encaixar perfeitamente em sua mão.

Aro fino, um solitário pequeno, delicado e forte como Bella.

— Nós pra sempre Bella.

— Pra sempre. — Ela repetiu dando um suave beijo em meus lábios.

Ficamos daquele jeito, deitados na cama madrugada a dentro, vendo nosso pequeno milagre brincar até se cansar.

Adormeci com meus tesouros seguros em meus braços, não havia sombra do passado, não havia mais o peso dos grilhões que nos prendiam, agora, somente o futuro nos aguardava.

***

Eu sentia uma coisa esquisita de uns tempo pra cá, um vontade de colocar pra fora tanta coisa, tantos sentimentos, e cada livro que pegava na biblioteca eu sentia mais vontade.

Cada letra lida tinha tanto a dizer, tanto a falar.

Eu estava finalizando o cumprimento da minha pena, faltavam apenas seis meses, Luke já era um lindo menino de três anos.

A clínica das meninas estava ótima. Alice ainda em Nova York, Emmett e Rosalie planejando o casamento.

Tudo parecia estar em ordem, menos o sentimento que eu tinha de precisar falar, de colocar pra fora coisas que eu sentia, que tinha vivido.

Era um dia qualquer na biblioteca, eu já havia limpado e guardado tudo, estava relativamente vazio. Os computadores do canto estavam desocupados. Sentei em um deles, abri uma página em branco e a olhei fixamente, quando meus dedos começaram a mexer com vida própria. Eu sabia que naquele momento minha vida daria outra guinada, mas dessa vez eu estava preparado.


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Notas finais do capítulo

Oi gente, demorei mas voltei!

Como foi difícil escrever esse capitulo, encerrar esse ciclo. Pensei ainda em dificultar a história deles e prolongar, colocar Bella com um novo relacionamento, mas seria injusto com duas pessoas que sofreram tanto.
Arena Mortal significa muito pra mim, nos momentos de dor, de desespero e das crises de ansiedade, foi aqui que me foquei.
Poucas pessoas sabem tudo que passei durante todo esse tempo escrevendo, mas digo, foi muita coisa, mas estou feliz de ter concluído.
Agradeço a presença de cada um, quem leu, quem comentou, quem esteve aqui, de todo meu coração obrigada.
Sobre a reviravolta da história, dentro de cada um de nos tem partes boas e ruins, Tiger tinha tudo pra só ser ruim, mas abraçou sua parte boa. Eu desejo pra cada um de vocês um amor assim que te traga praz.
Gente meus olhos estão cheios de lágrimas, não sei como dizer adeus, mas é preciso.
Antes de finalizar preciso agradecer três pessoas que estiveram comigo sempre, a Lola que é uma pessoa que admiro demais como escritora e como pessoa, que me incentivou e me deu muitas ideias pra colocar; a Chloe que é a pessoa mais doce do mundo e que nunca me deixou desistir; e a Kawanne que me aturou reclamando e lendo antes que eu postasse porque me sentia insegura. Dedico AM a essas divas!
Por último, o epílogo vai sair dia 19/11/2020 juntamente com um presente de aniversário pra uma pessoa especial pra mim e prólogo de Hope, minha mais nova aventura!
Obrigada por tudo!
Logo mais vejo vocês!
Beijinhos
07/11/2020.



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