Quantas voltas escrita por DiHen Gomes
Notas iniciais do capítulo
Já sabe...
— Como tu conseguiu meu número?
— Isso não importa, Espaguete — diz a Carol, uma das minhas ex. — A treta é com o chefe.
— Qualé a desse cara? Já falei, meu, não tô mais na atividade aí. Mó vacilona tu… meu… olha…
— Espaguete, não desliga. É importante. O chefe tá querendo apagar o Black.
— E daí? Problema dele. Vacilou, já era.
— O Black agora tá igual você, saiu do movimento, mas o chefe diz que saiu devendo até o cu, e não vai aceitar dívida nem de um conto mais de ninguém.
— Carol, foi mal aí, mas tenho que…
— O Black é da tua igreja, cara. Sabe esses crente que foram na Casa de Recolhimento e te ajudaram? É o Black que segura a barra pra eles.
Black era um dos chefes do tráfico. O nome dele é Valdir. Eu não sabia que ele estava tão bem assim para bancar o grupo dos crentes. Só que se não fossem eles, eu não estaria aqui mais. Foi o Deus deles que me livrou da chacina que teve pouco depois que pude sair. Certeza que foi.
E agora querem apagá-lo por seus erros do passado?
— Mais alguma coisa? — pergunto depois de um tempo quieto.
— Não sei mais nada, Espaguete — diz ela, soluçando. — Você não pode ficar de boa. Ele é meu irmão. Ele é teu irmão também.
Éramos rivais, mas existia respeito entre nós.
— Posso fazer nada, falou?
A ligação cai de repente. Deve ter acabado o crédito dela. Fico pensando se há algo que posso fazer, mas nada vem à cabeça. Tento puxar um ronco, mas não está fácil. O chefe da favela não vai voltar atrás. Agora só posso orar pelo Valdir.
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