É tão lindo ajudar quem precisa. Por isso fico tão animada com movimentos como esse, para ajudar os presos. Também por ter a chance de rever um velho amigo. Será que hoje consigo falar com ele? O Róger me disse que só familiares podem conversar com os presos. Bem que poderiam abrir uma exceção para nós. Afinal, Arnaldo pode também pedir para falar comigo, e os seguranças veriam que somos conhecidos. Só acho.

*

— E não é que deu certo? Aproveitei um momento durante a troca de pavilhões e pedi para um policial, e ele liberou. Muito legal esse policial, parece que ele já me conhecia!

— Sei, parece que ele te conhecia — Arnaldo responde com aquele sorriso tímido que me deixa mais tímida.

Por um instante esqueço que o tempo é cronometrado e fico apenas olhando para o Arnaldo através do vidro. Nossa, há tantas coisas para falar, tantas conversas para atualizar, e fico aqui perdendo tempo, ouvindo de longe a voz dele me chamando. Chacoalho a cabeça e tiro o sorriso do rosto. Preciso me concentrar na alma dele.

— E aí, como você tá?

— Ah, eu? Ah, eu tô ótima, e você? Quero dizer, eu… eu tive, pelo que a obreira falou, tive meu encontro com Deus. — Arnaldo abre os olhos mais um pouco. — Ela disse que logo vou receber o Espírito Santo!

— Sério? Arrebentou, Helô!

Ah, esse sorriso. Mas preciso focar. Falo para ele sobre o pessoal da igreja do Centro, já que é onde estou indo agora. Quando ele me pergunta dos amigos, descrevendo o mais barbudo, que acho que sei quem é, e pergunta como ele está, antes que eu lhe diga que não sei, meu tempo acaba. Ele ainda diz rápido para eu orar para ele sair logo.

Preciso voltar para o grupo com a Ariana e os demais jovens. Volto disfarçando o sorriso. E pensando: onde está aquele amigo barbudo do Arnaldo? Vi ele na vigília da virada, mas depois nunca mais, nem nas vezes em que fui na igreja do Mazini. Ai, meu Deus, será que ele também não tinha o Espírito Santo e saiu da igreja? Será que se eu não receber logo esse Espírito, vou sair também?