Nem é tanto pela fé que vim à sede. Hoje a FJ é no centro, e por isso pensei em falar com aquela prima do Arnaldo, para saber como ele está.

A igreja está cheia. Lotada. Na porta de entrada está a Karen com um microfone e outra menina do Comunicação com a câmera. Devem estar gravando uma matéria. Aguardo alguns minutos, até que elas param de ficar rindo e dão um passo para ir a outro lugar.

— Karen, dá licença. Você tem notícias do Arnaldo? Ele sumiu, não apareceu mais na igreja. Sabe se aconteceu alguma coisa?

Nem foco nos olhos dela ao fazer a pergunta. Ao responder, ela também não foca nos meus.

— Pois é, ele está bem afastado mesmo. Depois que a irmã dele piorou, ele ficou bem abalado. Sabe — ela cochicha —, ele praticamente perdeu a família. Ele já estava mal depois da morte dos pais, e a única da família que restou pra ele está quase partindo também. Só Jesus pra dar força.

Só mesmo.

Ela continua: — E ele, só Deus. Ninguém sabe onde ele está. Falei pra obreira que deveríamos avisar a polícia, mas ninguém foi. A irmã dele tá no hospital sem poder falar. É uma guerra.

Vou me sentar numa das últimas poltronas e participo da FJ, paradinho, sem pular ou dançar com o pessoal. Não tem ninguém aqui para me enturmar. E estou cansado, não vejo sentido nessa animação toda. Não tenho mais o que comemorar. Ao término, simplesmente vou embora na minha moto, sem olhar para trás para ver se alguém vem falar comigo. Tudo bem, vou indo. Em casa, mesmo sozinho, tenho muito o que fazer.

A noite cai, a madrugada vem chegando, os olhos estão secos, mas continuo firme na frente da TV. Foram só algumas semanas que dei todo o meu tempo na igreja, mas foi o bastante para acumular dezenas de episódios. Haja tempo para colocar minhas séries todas em dia! Vai dar trabalho para levantar de manhã para ir na reunião.