Quantas voltas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 60
60 - Kleverson




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Finalmente estou livre para ir embora. Não que não estivesse bom aqui na igreja, mas todos já tinham ido, só eu fiquei para ajudar o pastor a terminar de limpar a área dos fundos.

Estou de saída quando uma mulher entra na igreja. Aos gritos ela tenta falar, mas não entendo nada. O pastor deve ter ouvido os gritos, pois ele aparece num instante. Pede para a mulher se acalmar, mas ainda não consigo entender o que está acontecendo.

— Senhora, senhora, se acalme. A gente vai, sim, mas agora não posso. Espere um pouquinho, logo chega…

— Não, pastor, não posso esperar. E se… meu filho… ele tá em perigo… não tem tempo… ah, Deus, meu Deus…

Ainda não entendi direito o que se passa. O pastor entendeu, posso ver pelo jeito firme que olha para aquela senhora.

— Klever, vem comigo. Depois te levo pra sua casa.

Pensei que poderia finalmente dormir um pouco, mas tudo bem. Em casa não tem nada de bom mesmo. Fechamos a igreja e entramos no carro do pastor, nós três, a senhora no banco de trás, soluçando sem parar. O sol começa a aparecer refletido nos prédios mais altos do centro. Um dos prédios é o Hospital Isaac Newton, onde paramos. A senhora desce correndo e nem pede licença às atendentes, causando uma pequena confusão com os seguranças. O pastor e eu ficamos aguardando o fim da confusão, mas uma das atendentes permite que entremos com a senhora a um dos quartos de emergência. Dois policiais armados também estão no quarto.

— Filho, olha pra mim, por favor. Eu te amo. E olha, trouxe o pastor aqui.

Agora me toquei! É aquele menino da favela, o Espaguete. A senhora é a mãe dele. Ela está fazendo a corrente de domingo pela família. Espaguete não parece muito entusiasmado, mas nem teria como demonstrar, já que está com a barriga enfaixada. Deve doer bastante. Deve ter levado tiro.

— Roviner, não vim aqui pra te dar religião ou qualquer coisa. Vim aqui porque sua mãe te ama, e nós queremos o melhor pra você, entendeu? A gente não sabe o amanhã, se vamos ter outra chance, não é mesmo? Você poderia nem estar mais aqui, sabia? Mas se você tá me ouvindo, é porque Deus te deu outra chance. Aproveite, mude sua vida.

Espaguete, cujo nome é Roviner, não consegue falar. Ainda assim, vejo que ele está considerando. Seus olhos mudam entre o pastor e a mãe, e uma lágrima escorre de um deles. E os policiais parecem estátuas.

— Então, Roviner — tento fazer minha presença — não sei se você lembra, eu e meu amigo já te vimos uma vez. Você sabe, aí dentro de você, que aquela vida que você vive, é ilusão, sabe? Dá uma chance pra Jesus. Se você… se, não. Quando você sair dessa, vem conhecer a FJ. Vai valer a pena… pode crer! Deus nunca te esqueceu.

Roviner se move, mas seus olhos escorrem com mais força. Deve ser de dor, pois ele para e os fecha por alguns instantes, deixando sua mãe apreensiva.

Os enfermeiros entram no quarto rapidamente após um bipe começar nos equipamentos ligados ao Roviner. Somos convidados a sair, e então o pastor fala com a mãe do Roviner mais alguns minutos enquanto vou para o carro, pensando que ele logo vem para me levar embora.

Alguns minutos sozinho no carro. Penso se Arnaldo teria palavras mais convincentes para o Roviner. Mesmo ele não tendo falado de Jesus para mim, ele sempre estava me dando ouvidos e oferecendo um certo apoio. Quem dera se ele estivesse vindo na igreja ainda, talvez ele poderia até me ajudar a vencer tantos pensamentos negativos que tenho. Até mesmo os suicidas. Arnaldo vai voltar! Se Deus existe, ele vai voltar, eu determino.

— Vamos? — o pastor entra e liga o carro. — A dona vai ficar no hospital ainda.


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