Quantas voltas escrita por DiHen Gomes


Capítulo 18
18 - Kleverson




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/752193/chapter/18

Descemos andando, Arnaldo e eu, como sempre fazemos na volta do curso. Desta vez, porém, pouco falamos.

Tento relembrar a matéria de hoje, mas só penso em tudo que está acontecendo fora do curso. A aula hoje foi tempo perdido para mim.

Também, como poderia prestar atenção?

Ontem, ao chegar em casa, foi sorte ter encontrado minha mãe viva. Havia no mínimo quinze caixas de Dramin derramadas na pia, e uma das mãos dela estava cheia de comprimidos quando abri a porta da cozinha. Ao ver a cena, fiquei em choque por alguns segundos, e ela também ficou sem reação ao me ver. Mas logo que voltei a mim, consegui puxar a mãe para longe da pia, derrubando todo o conteúdo de sua mão. Uma das cadeiras caiu, e quase a mesa de jantar foi junto. O chão da cozinha encheu-se de comprimidos tanto quanto minhas artérias de adrenalina.

Corri com minha mãe nos braços até o posto de saúde da Isaque Newton. Nem sei de onde me surgiu tanta força, pois ela não é magra! Do atendimento emergencial ela foi para a ala de intoxicações, onde ficou até a madrugada.

E isso foi muito para guardar para mim. É tão difícil manter-me forte quando a pessoa mais importante da minha vida está abalada. Sinto-me inútil, sem saber como ajudar.

Não posso me conter, por isso conto tudo para Arnaldo.

— Mas sua mãe está bem?

— O médico falou que ela não corre risco de vida. Mas mesmo assim, e se eu não chegasse a tempo? Por quê? Ela sempre foi tão… forte.

Arnaldo baixa o olhar por um instante.

— Cara… Seja você forte. Acho que, depois dessa, você que vai assumir a casa. Não que ela vá… né? Mas que agora ela precisa de você mais que você dela.

— Sim, mas aí é que tá. Eu… eu não sou forte. Não consigo. Quem sou eu?

— Klever, você é muito inteligente, consegue o que quiser. Você é o que tira as notas mais altas!

— Essas notas não vão me ajudar na vida real.

— E sua mãe, ela deve estar passando por uma luta interna muito grande. Você não percebeu nada?

— Não, até notei ela mais estressada de uns meses pra cá, mas nada anormal, eu acho.

— Mas não fique tão preocupado. Você vai conseguir, vai ver, essa situação vai mudar. Então, cara, vou nessa. Falou!

— Mas como? — pergunto ao vento, pois Arnaldo já vai a metros.

Às vezes me pego questionando. Arnaldo é mesmo meu melhor amigo? Toda vez que preciso, ela está ali para me apoiar, mas quando peço ajuda explicitamente, ele se esquiva.

Ou talvez ele também esteja passando por alguma fase ruim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quantas voltas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.