Castelobruxo e o Bracelete de Ouro escrita por RRCORVINAL


Capítulo 3
Capítulo 3 - A Seleção da Gruta Cantante!


Notas iniciais do capítulo

Conheça um pouco mais da Escola Mui Antiga de Castelobruxo. Conheça o processo seletivo e alguns segredos da escola. Os alunos estão nervosos. Conheça alguns professores da Escola. Os alunos estão indo para suas Casas Tribais. Os Mascotes das escolas estarão presentes observando. Será que você se conhece o suficiente para entrar na Gruta? Você sairia rápido? Você realmente sabe quem é?



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A professora e vice-diretora de Castelobruxo era uma bruxa com seus quarenta anos, mas bonita e não aparentava passar dos trinta. Seu nome era Miranda Agathia Assis, casada e tinha o próprio filho como um dos alunos da escola. Alta, com um corpo muito bem distribuído em curvas, a pele negra e olhos amendoados, cabelos cheios e cacheados que cascateavam seus ombros. Havia braceletes dourados em seus braços e pulsos, brincos e jóias. Estava elegante apara a cerimônia de seleção. Mas apenas um cordão, a sua Honra.

Seu esposo era cuidador e tratador de Dragões no Peru, especificamente a raça mais famosa do continente americano, o Dente-de-Víbora peruano. O filho estava em seu sétimo e último ano, e quem pensar que o jovem Dante tinha vantagens ou preferências, era melhor pensar duas vezes.

Miranda é uma das professoras mais rigorosas de Castelobruxo, e ela cobrava muito de seu filho, e exigia dos outros professores máxima capacidade do filho em aula. Alunos do quarto ano jurariam ter visto ela atirando bolas de fogo no filho quando ele tirou uma nota que ela considerava baixa demais. Dante era o nome preferido para se tornar o Líder do conselho das tribos que sempre são escolhidos pelos professores e diretora da escola. Porém, teria que ser um voto unânime, e Miranda foi a única que não votara no jovem Dante. Muitos diriam que Dante era o aluno muito além da média e cheio de méritos acumulados nos seis anos de Castelobruxo, mas Miranda disse que não aprovava e assim, o jovem Ricardo D’Angelo foi seu substituto mesmo sendo um ano e uma série mais novo.

Miranda sempre recebia os alunos do primeiro ano, geralmente eram aceitos uma média de 60 alunos só no primeiro ano, nos tempos áureos a capacidade era de cem alunos por série. Hoje, na crise política Castelobruxo estava recebendo 35 calouros. E a realidade das séries mais avançadas era igualmente triste e decadente. Talvez, a crise e o medo atingiam a comunidade escolar. Miranda teve que assinar a demissão de professores.

Três professores de origem latina pediram as contas da escola, dizendo que não trabalhariam para um governo como aquele instaurado no Brasil. A diretora Olga e Miranda tentaram muito manter-los, porém famílias importantes estavam também pressionando o Ministério Brasileiro, dizendo que os professores latinos poderiam Doutrinar negativamente os alunos brasileiros e favorecer os latinos.

Até o ano de 2015, Castelobruxo oferecia em sua grade curricular extra duas matérias, Língua e Cultura Brasileira e Língua e Cultura Hispânica, as duas matérias serviam para ensinar um pouco da língua e da cultura bruxa para os alunos. Alunos brasileiros poderiam falar e aprender o espanhol, e alunos espanhóis aperfeiçoavam o português. Mas com o passar do tempo, o professor Guillermo Cuarón desistiu de dar a aula quando viu uma sala, capaz de abrigar 30 alunos, preenchida apenas com dois alunos.

Miranda temia o futuro. E apesar de severa, ninguém poderia dizer que ela não era justa e que adorava o que fazia. Miranda dava aulas em Castelobruxo desde seus vinte e dois anos, até mesmo seu casamento fora realizado no Domo das Árvores. Ela deu uma olhada por cima do ombro nos rostinhos dos novos alunos. E minimamente sorriu. A jovem Oliveira parecia uma versão tagarela dela mesma em seus tempos de Castelobruxo. Mas viu crianças de todos os tipos e que escondiam histórias em rostinhos tão inocentes. Algumas pareciam marcadas com ideais que eram muito velhos para crianças tão jovens. A senhorita Guerra, por exemplo, parecia uma jovem revolucionária com sede de se mostrar forte. A jovem Amanita Flores, entretanto, era a nova personificação de coragem. Durante as férias, Olga dissera que mandaria sua filha, Isabella para buscar pessoalmente os alunos andinos, mas principalmente Amanita, a única Colombiana hoje em Castelobruxo. Nenhum colombiano voltaria a Escola aquele ano, de nenhuma série. Ela era a única de seu país. Era uma triste comédia, hoje tinhamos amis alunos ingleses que Colombianos na escola. Tínhamos três alunos de intercâmbio, dois ingleses e um americano, porém ela era a única de seu país que era logo ali. Olga dissera aos professores na reunião que antecede o período letivo que o pai de Amanita era um Auror do Congresso Colombiano, mas que o mesmo perdera o emprego por aceitar que sua filha fosse para escola.

Miranda sabia que Amanita não deveria ser a única com pais ameaçados e presos em embates políticos. Como Vice-Diretora da Escola, Miranda conhecia a história de todos os seus alunos. Conhecia seus nomes e lia seus relatórios. Ela sabia que o jovem, Esteban Iglesias era órfão e vivia com pais de sua mãe numa comunidade de língua Quéchua em uma zona rural na Bolívia. Tanto a avó quanto o avô eram descendentes diretos dos Incas, e falavam apenas o Quéchua em casa, e mesmo eles, tinham grande preconceito contra o espanhol, a mãe também bruxa quéchua se chamava Kastilla Simi e casara com o nascido-colono que conhecera em Castelobruxo, o jovem equatoriano filho de espanhóis catequizadores de índios: Moreno Iglesias que os pais de Kastilla odiavam mais que tudo. Esteban era a cópia do pai, mas com a gentileza da mãe. Seus avós só foram convencidos que ele deveria ir para Castelobruxo por que o Professor DelMarino, maliciosamente e muito inteligentemente levantara a oportunidade do casal ficar sem o neto por todo ano letivo. E foi apenas por isso, que o jovem Iglesias teria sido deixado ir para escola.

Miranda continuou andando, continuou levando os meninos para dentro da escola.  Depois das grandes pilastras dos portões os alunos do primeiro ano foram guiados através de uma estrada de terra que era ladeado por um rio cristalino e uma montanha revestida da floresta mais exuberante do mundo. O caminho planejado de pedras dava em uma ponte que atravessava o rio e levava a um caminho ladrilhado em ouro. A ponte ficava na porta de uma grande caverna onde se escutava uma melodia que se juntava com o cantar dos pássaros. Os alunos apenas seguiam a professora, e todos caminharam pela estrada dourada até chegar à curva da montanha que dava de frente para o magnífico castelo cidadela todo em ouro.

Castelobruxo aparece em todo o seu esplendor. Um castelo fabuloso, um imponente edifício de pedra dourada semelhante a um templo de vários níveis cercados pela floresta, a montanha e alguns rios.

Ao entrar na grande área do Castelo, os alunos poderiam ver outros pequenos prédios no mesmo formato em volta do principal. Mas estes esbanjavam vida em jardins suspensos e cada nível havia biomas, cascatas e outras construções de utilidade para a escola, viam-se a estufas em terraços, praças para estudo ao ar-livre, e muitos animais passeavam entre os terraços e pelas grandes escadarias.

O silêncio dos alunos mostrava a surpresa de estarem em um espaço tão magnífico. Chegaram ao prédio central, subiram dois lances de escada e adentram ao lugar. A entrada no prédio era iluminada por cristais iluminados enfeitados em cipós e cercas vivas que davam ares de uma mistura de templo inca com as cidades élficas dos livros trouxas de Tolkien.

Depois de alguns corredores, as pedras de luz nas paredes eram substituídas por piras em chamas. Apesar de estarem em algum lugar da maior floresta tropical do mundo o clima em Castelobruxo era agradável como se uma constante brisa fresca perpassasse seu corpo.

Alguns alunos perceberam que alguns corredores tinham algumas portas de madeira, outros corredores apenas portas de pedra, e tinha até alguns que as câmaras e ante-salas não tinham portas alguma só o portal. Podiam-se ver também moradores incomuns em Castelobruxo, havia macaquinhos que brincavam com as flores que nasciam das paredes de cerca viva, pássaros exuberantes em cores voavam para cá e para lá.

Estátuas de pedra pareciam às vezes tão vivas quanto os alunos que comentavam coisas que tinham visto e curiosidades. Pinturas e estátuas também eram vistas, e esculturas de ouro e prata aqui e ali. Mas a beleza rústica finalmente deu lugar a uma saída.

“Aqui em Castelobruxo, nós incentivamos o espírito aventureiro, mas, como uma instituição séria, temos regras. Obedeçam às regras ou serão convidados a abandonarem a escola. Vocês são os convidados dessa casa, sejam hospedes dignos, e com o tempo chamarão e cuidaram desse lugar e as regras se misturarão com vocês naturalmente. Temos uma hierarquia. Diretores, Professores, Líderes do Conselho das Tribos, Chefes de Tribos e por fim, Alunos. Eu aconselho a vocês não desrespeitarem a vida abundante e igualmente mágica de Castelobruxo, quase tudo aqui dentro tem vida e a vida coexistirá com vocês em equilíbrio, um dos principais fundamentos de nossa escola. Não provoquem os Caiporas e nem os seres de Castelobruxo, cuidado com o famigerado trote dos Calouros, apesar de não oficial, é uma tradição dos alunos do quarto ano para com os calouros, e Alguns alunos são bem brincalhões e criativos. Vocês serão livres para explorar o terreno da escola, mas tenham o bom senso, e como eu disse antes, vocês estão e sempre sendo observados por algo ou alguém. Há muita vida... aqui”.

Vários alunos se entre olharam uns excitados e outros com medo.

“Vocês conhecerão a rotina de Castelobruxo na primeira semana de adaptação, as aulas começarão depois de amanhã na segunda-feira. Seus chefes de tribo aconselharão vocês, e ensinarão os mandamentos gerais e específicos. O que precisarão saber sobre as tribos será explicado assim que chegarem ao local de seleção, eu desejo sinceramente sorte a vocês”.

Finalmente saíram no centro de Castelo bruxo a maior câmara do castelo por assim dizer, mas era mais como um pátio ao onde os andares de toda estrutura era vista, mas não apenas isso, as colunas do grande lugar eram árvores, pedregulhos e pilares polidos de ouro.

Assim que adentraram o local iluminado por piras de fogos de fogo e pedras de luz perceberam que o teto era praticamente folhas de árvore de onde pouquíssima luz da lua crescente passava. Chão era de terra e de pedra e raízes se espalhavam por todos os lugares, era um lugar respeitoso, amplo, imponente que misturava a idéia de comunidade, natureza e vida. Os níveis do castelo eram dispostos por grandes terraços e sacadas e as mais próximas do nível deles era as que chamavam mais atenção.

Assim que a Professora Miranda adentrou o local seguida pelos 35 alunos calouros, o local rompeu com estrondosas palmas e vivas, dos alunos que estavam nos primeiros e segundos níveis dos terraços em volta do local, parecendo agora uma grande arena de um coliseu templário.

Os alunos calouros ficaram sem reação apesar de tímidos as palmas em que eram recebidos pareciam sinceras e calorosas e aquilo preenchia seus corações acalmavam os nervos. Mas alguns alunos não deixaram de pensar que talvez a seleção fosse como na Roma Antiga, um show onde os gladiadores teriam que lutar contra feras na arena.

As palmas pararam e uma mulher ainda mais imponente saiu de uma gruta que ficava na parede oposta da entrada, baixo a uma grande árvore que tinha seus galhos tão grandes que se espalhavam por todos os níveis da escola. Era chamada de Iggbrasil. A mulher já deveria ter seus quarenta e cinco anos, amiga íntima de Miranda, mas considerada seu extremo oposto. Olga Joana Garibaldi era branca e tinha cabelos aloirados com muitas mechas brancas, nas orelhas um brinco de penas em cor caramelo com pintas negras. Os olhos amarelos como as de uma onça, hoje ela se apresentava com um vestido simples, e um avental, parecia sair de um jardim e que tinha ido rapidinho na cerimônia por que tinha que cumprir o protocolo, era formal quando tinha que ser, ela era misteriosa, era doce, e era a bruxa mais habilidosa de todo território brasileiro, lendas dizem que uma Diretora Inglesa teria dito que Olga lembrava muito um antigo diretor de Hogwarts, até mesmo no senso de humor atrapalhado, e em sua vivaz assertividade em assuntos mais sérios.

Numa das sacadas Isabella tampou o rosto e parecia com vergonha.

“Aff, mamãe...”— disse Isabella vermelha, nunca ia se acostumar com aquilo.

“O que foi Bella?" – perguntou Ricardo.

“Mamãe não precisa mais fazer isso e todo ano ela faz...”— disse a jovem pedindo para aquilo acabar logo.

“Um dia pode ser você, Bella”— disse uma amiga da jovem.

“Que o grande bruxo Cosme Velho me livre dessa pagação de mico”. – respondeu Bella.

“Eu preferia ver você dançando lá, Bella”.— disse um jovem negro de sorriso alvo e covinhas nas bochechas, alto, forte e atlético com olhos azuis diamantinos, um brinco na orelha.

“Obrigada, Dante...”— respondeu Bella rindo o que deixou Ricardo vermelho de ciúmes.

Olga caminhou para frente do grupo de calouros e lhes sorriu carinhosamente.

“Bem-vindos, meus jovens, obrigado Miranda. Estamos prontos e ansiosos”

“Como sempre...”

Miranda consentiu e se afastou indo para a direita e Olga passou a mão no rosto de alguns, bagunçou e sujou de terra o cabelo de outros. E para olhos atentos, as duas em sincronia brandiram suas varinhas e com floreios iguais fizeram uma coreografia de dança que parecia uma mistura de valsa solitária. Tronos de madeira se ergueram do solo em volta do grupo de alunos. Doze tronos de madeira com símbolos diferentes surgiram ali no meio do pátio. Nenhum trono era igual ao outro. Madeira, símbolos e enfeites diferenciavam os doze tronos. Flores e pétalas caiam do alto e maravilhavam a todos os presentes.

Os alunos das sacadas começaram a assobiar principalmente os meninos. Os calouros não estavam mais sozinhos em volta deles apareciam belas jovens com ares etéreos, orelhas pontudas, belíssimas com vestido de folhas, adereços de frutas, e duas delas tinham até asas. Eram cinco Dríades e distribuíam com belos sorrisos cristais brancos em cordões. Cadu, Esteban, Victor e o jovem Iago Cosme estavam babando hipnotizados pela beleza dos seres florestais e diria que até babavam eram irresistíveis. Carregavam uma cesta e dançavam como as professoras e iam passando pelos alunos enquanto distribuíam os cristais.

Quando as duas pararam de valsar um trono maior surgiu onde a diretora se sentou frente à grande gruta. Seis tronos à direita e seis tronos à esquerda. Miranda se sentou logo a direita de Olga. As dríades terminavam a dança e o show, e sumiam no vento reaparecendo sentadas e risonhas nos galhos frondosos de Iggbrasil, muitos alunos mandavam beijos, faziam coraçõezinhos com as mãos. Miranda assobiou alto enquanto Olga ria-se dos meninos e como os anos passavam, mas as coisas não mudavam.

“Comecemos!”— disse Olga com uma potente voz, cruzando as pernas e abrindo os braços. E assim, os dez dos doze tronos foram preenchidos por bruxos que deveriam ser os professores da escola. Alguns formalmente vestidos outros mais naturais, e outros bem estranhos. Alguns alunos gritaram os nomes de seus professores preferidos. Mas nenhum nome foi mais escutado do que de Gael.

“Boa noite, muitas boas noites e noites boas a todos. E agora, nós voltamos a nossa morada de conhecimento abaixo da frondosa Iggbrasil, recebendo a todos nós com seus galhos abertos para acolher a vós, e com raízes fortes para lhes dar a base. É com muito orgulho que recebo esses novos amigos que deixarão as feiúras de um mundo dividido e cheio de ervas daninhas, sejam as flores, sejam jardineiros, sejam os frutos de um bom e delicioso futuro”

Todos bateram palmas.

“Esses muros e essas árvores já viram muitos bruxos excelentes passando por aqui, muitos passando pelo o que vocês estão passando agora. O misto de excitação, curiosidade e novidade. Vivemos a quinta Era de Castelobruxo, que futuramente será conhecida como a Era das Atribulações. Nossos antepassados já tinham previsto isso, Na Era de Ouro, os povos indígenas e nativos eram os únicos que andavam por esse templo de saber, Na época de Prata, os bárbaros do norte nos visitavam trazendo inovações e novas magias. Na era de Sangue, os europeus colonos chegaram e dizimaram muitos dos que aqui chamavam de lar e morada. Mas o advento chegou, E na Era das Mudanças, os bruxos europeus e bruxos de todos os cantos do mundo aqui chegaram e a escola evoluiu, cresceu e como uma árvore e gerou frutos. Castelobruxo ficou conhecida em todo o mundo, sem perder sua principal essência, todos que aqui chegarem são merecedores de estar aqui, todos deixamos marcas no solo, todos construímos essa escola. Não importa seu sangue, não importa sua cor, não importa sua nacionalidades, somos todos filhos da terra e da natureza, somos irmãos mágicos. Então, não se esqueçam disso... trabalhem em equilíbrio. Tempos difíceis estão por vir. Perdemos muitos amigos, familiares e entes queridos mas faremos de tudo para que se sintam em casa. A principal regra e inviolável é que aqui, em Castelobruxo não é aceito qualquer tipo de preconceito ou injustiça”.

Dessa vez nem todos bateram palmas, porém a maioria dos alunos ainda estava de acordo com aquelas palavras. E alguns outros apenas bateram palmas meio a bocejos e escárnio.

“E a vocês meus pequenos, a jornada de vocês começa agora. Nossas queridas Dríades distribuíram a vocês suas Honras. Esses cristais acompanharão vocês por toda a caminhada de vocês aqui. Na Era das Mudanças, cinco bruxos se destacaram bruxos magníficos que estudaram aqui começaram uma reforma educacional, e fizeram o que Castelobruxo é hoje, seus nomes são Graciliano Jorge Lico, Wagner Von Berto, Maria Del Mar, Guaraci Eféus e por fim, Oswald André Prometheus. E como em acordo decidiram criar as Tribos de Castelobruxo: Autólicos, Wistéria, Mariara, Guaraféus e Protheus. Eles juntos encantaram essa caverna nas raízes de Iggbrasil, e a assim que adentrarem, sim vocês entrarão lá, e encararão a música da cachoeira. A música de seus pensamentos, Iggbrasil irá se enraizar no mais profundo cerne de coração, mente e vontade, e assim serão escolhidos, selecionados...não, uma palavra melhor, revelados para suas respectivas tribos”.

Todos os calouros cochicharam nervosos.

“Caverna?”

“Será que tem animais lá dentro?”

“Odeio insetos?”

“Será que vou ter que molhar o cabelo?”

Olga voltou a falar:

“Acalmem-se, não doerá nada. Ou doerá tanto quanto é encarar a si mesmo. Desde que vocês entram aqui vocês já entraram com seus sonhos, características e vontades dentro de seus corações. Vocês já pertencem a uma dessas tribos naturalmente, o que a Caverna da Cachoeira Cantante irá fazer é revelá-los. As tribos serão como suas famílias, acharão seus iguais, trabalharão juntos em algumas tarefas. Mas nada impede que vocês sejam amigos dos alunos de outras tribos. Afinal, o que não temos em nós, nós buscamos no outro. Farão grandes amigos, e a Tribo não vai segregá-los, mas ajudar a encontrar os seus. Vocês tiveram a chance de conhecer os Animais Fantásticos das Heráldicas de suas casas no desfile dos Calouros. Apresentem-se, por favor!”

Cinco feras magníficas surgiram no local causando arrepios, palmas, sussurros e olhos arregalados. Do tronco enorme de Iggbrasil desceu uma grande serpente plumada e que tinha asas. Ela sibilou e mostrou-lhe língua. Uma grande ave branca também desceu de seu ninho no topo da gigante árvore. Das chamas da maior das piras de fogo uivou uma labareda que ganhou forma de lobo-guará, de dentro da Caverna saiu o que parecia uma índia encharcada, enfeitada com belas jóias, longos cabelos e cada um viu a beleza que queria nela, aquela era uma Iara, uma sereiana amazônica que cantava com uma belíssima voz. Por fim, desceu pulando entre os galhos uma grande onça quatro vezes maior que o normal com longas asas, ela se deitou perto dos professores.

“Eu vos apresento Guarapyrang."— disse Olga apresentando o lobo feito de chamas e olhos abrasadores. O lobo uivou e as piras de todo o lugar acompanharam ele. – "Guarapyrang é o rei dos lobos de fogo, é o protetor da casa de Guaraféus. A tribo do Sol”.

O primeiro terraço do nível acima da Arena a direita rompeu em aplausos orgulhosos e animados. Era um local com várias figuras de lobo, pedras de âmbar, flores vermelhas e figuras de sol. Tinha uma grande pira de fogo ali, que nunca se apagava. A chama era vermelha e dourada.

Miranda Assis levantou-se de se trono e falou com voz firme e orgulhosa:

“Em Guaraféus, os alunos de espírito aguerridos, sinceros, dedicados e exigentes serão acolhidos pelo fogo que e pelo poder do sol. Lá conseguirão caçar seus ideais e sonhos como lobos famintos. São fortes e decididos, e encontrarão no Âmbar a sua Honra e farão da ‘Alcatéia’ a sua morada, eu sou sua Professora Madrinha, responsável por honrar esta Tribo”.

“Eu vos apresento Walkyer!" – disse Olga apresentando a grande Ave prateada que abriu o bico fazendo um brilho lunar se espalhar com um leve bater de asas. — Walkyer é uma Harpia Hrasvelgr, uma rara e poderosa força dos ventos lunares, ela é protetora da Casa Wistéria. A Tribo da Lua”.— explicou Olga.

Uma bela professora se levantou de um dos tronos, de longe era a professora mais bonita do lugar. Ela era uma beleza bruta e selvagem. Alta, forte e cheia de voluptuosas curvas generosas distribuídos em um vestido de ceda, ficava entre a pele a morena, olhos claros que brincavam entre o mel, o verde, o azul e que mudavam conforme você olhasse olhos que eram tão felinos quanto os da Diretora Olga, o nariz reto e perfeitamente moldado, tinha a boca tão vermelha quando os frutos da pitangueira. Pescoço alto e elegante, olhos espertos e sonsos como de uma cigana oblíqua e tão quanto dissimulada e misteriosa. Cabelos negros como a noite caiam em ondas elegantes e cheias. Uma flor de glicínia violeta enfeitava seus cabelos.

A jovem professora de vinte sete anos se levantou sedutoramente em um cruzar de pernas e falou com voz sensual e orgulhosa:

“Em Wistéria, os alunos de espírito sábio, inteligentes, curiosos, imaginativos, criativos, misteriosos, críticos e impulsivos como as fases da lua serão acolhidos pela magia da Lua. Em Wistéria vocês abrirão suas asas além de qualquer efemeridade leviana ou sem fundamentos, sonhos são feitos para se realizar, ninguém vive de idéias subjetivas e achismos bestas, sonhar é permitido para aqueles que têm o poder de pensar, pensar maneiras para realizar o que desejam, criem e sejam seus próprios milagres do impossível. Encontrarão na Ametista a sua Honra e farão de ‘A Utopia’ a sua morada, Eu sou Capitu Afrodite Machado, sua Professora Madrinha, responsável por honrar essa Tribo”.

O segundo terraço da direita rompeu em palmas educadas e orgulhosas, o local era adornado por figuras de harpias, pedras ametistas e adornos lunares. As paredes cascateavam as flores que davam nome a casa.

A Diretora Olga olhou a figura da Iara que cantarolava baixinho acenou com a cabeça e falando em sereiaco fez a jovem sereia rir. A mesma fez um movimento com as mãos e um tridente de água apareceu em sua mão. E com um balançar e um piscar de olhos ela fez chuva.

“Essa é minha amiga, Amana! — disse Olga que respirou profundamente aquele cheio de mata molhada. Alguns alunos se protegiam da garoa que logo cessou. – Amana é uma Iara, uma tão antiga quanto esta escola. A rainha da águas que banham e abastece Castelobruxo o que gera muita da vida que colhemos da terra. Ela é a protetora da Casa de Mariara, A tribo das Águas”.— disse Olga que agradeceu a presença da sereia.

Desta vez foi vez das meninas suspirarem. Um elegante bruxo se ergueu de um dos tronos à esquerda. Também jovem, com seus trinta e quarto anos, tinha uma beleza indefinida que vagava pelo europeu-latino, cabelos longos e selvagens que se misturavam com o castanho, dourado ou ruivo. Lisos e sedosos, uma barba charmosa a moda lenhadora. Corpo musculoso e alto. Olhos translúcidos e verdes. Vestia-se com uma camisa branca, jeans azuis, um terno azul e chinelos, que lhe dava ares de modelo hipster. Quase não conseguia falar por que os meninos o invejavam, queriam ser como ele, ou ambos. E as meninas suspiravam, choravam e gritavam por ele, e as lendas dizem que para elas era preciso atenção redobrada, mas de longe era a aula que elas mais se esforçavam. Seus fãs só se calaram quando ele levantou a mão pedindo a palavra.

 “Em Mariara, os alunos de espírito justos, alegres, e de corações vaidosamente indômitos serão como um rio que corre, seguindo o fluxo da justiça e da habilidade. Em Mariara vocês serão como um rio que começa em uma pequena nascente, mas que avança para o grande mar. Podemos ser calmos como um lago, altivos com uma cachoeira e revoltos como o mar. Atinjam seus oceanos de possibilidades, água é vida e aqui vocês cuidarão da vida. Trazemos beleza ao mundo, mas não a beleza de fora para dentro, mas de dentro para fora. Encontrarão na Água-Marinha a sua Honra e farão de ‘O Espelho’ a sua morada. Eu sou Gael Milano DelMarino, seu Professor Padrinho, responsável por honrar essa Tribo.”— disse ela sabendo de sua fama.

O segundo terraço da esquerda estava cheio de jovens que tinham orgulho de sua casa, jovens que pareciam ter nenhum problema com espinhas e dia ruim de cabelo. O local era adornado com conchas, estrelas do mar, pedras de rios, de Água-Marinha. Podiam-se ver grandes espelhos por ali.

A Diretora Olga olhou Gael se sentar, lembrava dele quando era apenas um desengonçado rapaz, fora um dos seus alunos mais promissores.

Olga continuou com o protocolo e olhou para a grande serpente que se arrastava no tronco da árvore. Ela sibilou algo e expandiu suas asas coloridas. A diretora apenas cumprimentou a serpente com a cabeça. Diferente dos outros, que esperaram a fera ser apresentada para depois se apresentar, um professor se ergueu e fez um cumprimento elegante a cobra, não só isso pareceu sibilar e conversar com a mesma. A diretora Olga já esperava algo do tipo.

“Essa é Titã!" – disse Olga riu-se da cobra que olhou para ela e para o professor. – "Pode traduzir, para ela meu amigo, acho que ela preferirá entender com suas palavras, professor Lispector. Bem, meus queridos alunos, essa é Titã, uma Serpente Alada. Poderosa, um tanto apreensiva quanto aos bruxos, Titã é o senhor das tempestades e dos raios, nobreza e força traduzem seu nome. Não deem motivo para que ele tenha algo contra vocês"; – a cobra balançou a gigante cabeça quando escutou a tradução muito satisfeita. — "E assim como os filhos de sua tribo ela é auto-suficiente e competitiva e um pouco territorial. Grande protetor da Casa de Autólicos, A tribo do Trovão”.— explicou Olga e ao fim de suas palavras a gigantesca cobra bateu suas asas e trovões longínquos foram escutados. Ela logo foi embora quando o professor Lispector se despediu.

Depois de ter traduzido tudo, o professor ofidioglota pigarreou e se dirigiu a todos. Ele era também forte, deveria ter seus quarenta anos, cabelos cortados ao estilo militar, tatuagens nos braços musculosos que ficavam amostra na camisa regata camuflada, botas de couro de dragão e calças de tactel, como se fosse um professor de educação física e a varinha numa porta-varinha especial de aurores que ficava preso a coxa. Olhos negros, sobrancelhas grossas e cara limpa.

“Obrigado, Olga. Em Autólicos, somos corajosos e nobres. Confiantes e vitoriosos. Competiremos sempre pelo primeiro lugar. O segundo é apenas o último que perdeu. A confiança da serpente que ganhou asas para não mais se rastejar, mas controlar o poderoso raio. Não se diminuam perante a nada. Vocês devem saber que são suficientes, a tribo é importante, mas tenham coragem para superar quaisquer barreiras. Antes de tudo, acreditem em si mesmos, querem respeito? Façam-se respeitar. Encontrarão no jade a sua Honra, e farão de ‘O Forte’ a sua morada. Eu sou Rômulo Lispector, seu Professor Padrinho, responsável por esta tribo! Vi, Vim e Venci! Autólicos!— urrou ele a última parte levantando o braço para os alunos de sua casa.

O primeiro terraço da esquerda urrou como se fossem um grupo de alunos do exército, ali residiam os alunos Autólicos. O lugar era adornado com figuras de serpentes aladas, pirâmides e pedras de jade. Era de longe a sacada menos natural, sem plantas e pedras espalhadas, tudo era milimetricamente limpo e arrumado.

“E por fim, e não mais ou menos importante. Temos... Jaguadarte.”— disse a diretora olhando a grande onça alada que prestava atenção nos alunos.

Alguém poderia pensar que aquele fabuloso animal estava olhando as crianças pensando no seu jantar, mas não era isso. A grande onça alada estudava os alunos, procurava sua ninhada, seus futuros filhos. Ela os protegeria.

“Jaguadarte é um Jaguar Maia, ou também conhecida como Onça Guarani. Este fabuloso ser o protetor e soberano da Amazônia das terras americanas, desde as montanhas e planícies do norte até os pampas do sul. – a onça ronronou carinhosamente e depois rugiu. - Ela é a protetora da Casa de Protheus, A tribo da Floresta”.— disse Olga ficava emocionada com a presença da secular onça.

Jaguadarte era um espírito livre, diferente dos outros representantes das casas ele não vivia em Castelobruxo, ninguém sabia para onde ele ia, mas o fabuloso animal tinha um carinho especial por Olga desde a Infância dela, a própria Olga tinha sido da Tribo de Protheus.

Uma professora se levantou dessa vez, uma mulher gordinha e com cara de boazinha. Tinha cara de mãezona. Cabelos cacheados e curtos na altura dos ombros, um sorriso simpático e aquele jeito que um abraço resolveria todos os seus problemas. Era uma das professoras mais velhas ali presentes, deveria ter seus setenta anos. Estava feliz por voltar a Castelobruxo depois de cinco anos de aposentadoria forçada. Ficou aliviada quando Olga lhe escrevera para voltar.

“Ah, puxa vida. Que bom ver todos vocês aqui. Voltar para cá é como voltar para casa depois de uma grande viagem. Vejamos, espero conhecer todos aqui e ajudá-los. Em Protheus, os alunos de espírito humilde, responsáveis e carismáticos confraternizarão e encontrarão os amigos de uma vida. Levamos o coração numa mão e a racionalidade na outra. Somos livres para atingir o céu por que temos asas, mas temos nossas patas firmes no chão quando queremos. A empatia e a vontade de crescer deve ser parte de você. Vocês encontrarão a sua Honra no Topázio Amarelo. E lembre-se meus querido, a verdadeira nobreza se encontra nos atos e não nas palavras. A verdadeira coragem se encontra no altruísmo, a verdadeira inteligência se encontra no saber que não somos uma coisa só, a verdadeira beleza se encontra na vontade de unir, não há vitória no ‘eu’, e sim no ‘nós’. É muito bom retornar, e ver que meus ex-alunos hoje se sentam ao meu lado. Eu sou Alma Dourado, Professora Madrinha, responsável por esta tribo”.— disse a mulher sorrindo para seus colegas professores.

A sacada do meio acima da porta de entrada atrás dos calouros bateu palmas, ninguém conhecia ainda a professora Dourado. O terraço do meio era onde os alunos de Protheus residiam. Era o lugar mais floresta possível adornada com folhas e frutos de todos os tipos. Figuras de onças aladas e ninhos de pássaros vivos e poucas pedras preciosas de topázio amarelo.

Por fim todos os alunos calouros estavam pensando de onde eles eram, qual Casa Tribal eles pertenciam. Duda ali no meio estava segurando seu cristão branco com força.

“Duda, tudo bem?”— perguntou Yasmim.

“Sim, Tomara que nós fiquemos juntas na mesmo Tribo”— disse Duda segurando a mão de Yasmim.

“É. Tomara!”— Yasmim pensando naquilo também, mas sabia que as chances de caírem na mesma tribo eram ínfimas, elas não eram parecidas. Elas eram tão diferentes. Mas Yasmim se prendeu a uma pontinha de esperança.

“Eu imagino para onde eu vou”.— disse Gabriela que estava com as meninas.

“Para onde... não quero ser apressada. Talvez eu espere uma grande surpresa."— disse a jovem, ela queria ir para a casa de seu pai, de sua mãe, de sua irmã, de seus antepassados.

Não muito longe delas. Cadu olhava para a Iggbrasil. Ele mesmo se vira em várias daquelas tribos. Ele olhou para os terraços em volta e viu seu irmão. Rodrigo de Wistéria, ele soube que não iria para a mesma casa do irmão. Ele olhou Duda e Yasmim de mãos dadas, depois de tanto tempo e ele percebeu que era a primeira vez que Duda estava distante. A vida inteira desde o nascimento, eles estiveram juntos. Cadu achava que era perturbado pela irmã, ansiava se soltar. Mas agora ele mesmo não sabia se estaria pronto para se desprender dela. Com certeza, ele também não iria para mesma casa dela. Ele olhou para o lado e lá estava à menina americana, Alison, ela parecia maravilhada e curiosa. Seria o seu mundo tão diferente assim?

Mais distante Amanita respirou fundo e sentiu seu coração disparar, mas parou de pensar em si mesma quando viu o menino gordinho boliviano apavorado pela cobra que ainda observava do alto dos galos da grande árvore. Esteban foi o único que percebera que a cobra estava à espreita.

"Tenha coragem, chico!" – disse ela sorrindo tentando encorajá-lo.

"Vou ter..." – disse ele ficando vermelho.

"Então, comece parando de tremer." – disse Verônica de braços cruzados. – "Não tenha medo da Serpente, ela está estudando todos nós. Alias, todos a nossa volta estão nos estudando. Fazem apostas para saber aonde vamos, somos o show essa noite. Só sei para onde eu não quero ir.

"E onde seria?" – perguntou Amanita curiosa.

"Não gostei de Mariara, parece uma Tribo de molengas. Acho que estou na dúvida se vou para Guaraféu, Autólicos ou Protheus. Não me vejo em Wistéria ou na Tribo da futilidade".

"Futilidade?"

“Olhe com atenção. A maioria dos alunos são meninas com caras de mimadas, e os meninos parecem tão ‘maricones’ quanto”.— falou a jovem cuspindo no chão.

“Preciso ir para aquela casa do professor gatão."— disse uma menina próximo aos gritinhos.

“Viu?”— disse Verônica com cara de tédio.

“Acho que está julgando eles. E a si mesmo. Não se me conheço tão bem, para me enquadrar em alguma coisa tão diretamente. A única coisa que sei é que a dúvida faz parte de mim agora. Mas acho que qualquer uma parece bem divertida”.— disse Amanita olhando os terraços onde os outros alunos estavam.

“Quero que termine logo isso tudo...”— disse Esteban que escondeu algo na mão.

“Não se preocupe, amigo. Prometo te ajudar se precisar...”— disse um garoto com a camisa aberta.

Aquele ali era um dos alunos do Norte, eles não iam para Castelobruxo em trens, eles atravessavam dias na mata até chegar a Auramina guiados apenas pelos seus instintos. Era um menino indígena magro, porém atlético. O rosto era pintado com urucum e tinha brincos de gravetos, tatuagens simétricas de formas geométricas perfeitas. Não usava calçados, seus pés estavam sujos de terra e lama.

“Obrigado, me chamo Esteban Iglesias, muito prazer.”— disse o jovem se apresentando.

“Amanita Flores e essa é Verônica Guerra”.— disse Amanita.

“Ayr Wanari, de uma tribo reclusa do Pará”— disse Ayr. – “Cheguei aqui com dois amigos da mesma tribo, nosso cacique está em paz com Castelobruxo e nos mandou para cá, como prova disso. Estamos do lado do que a escola acredita... não há fronteiras naturais”— disse o rapaz índio.

“Mas indígenas são territoriais. E até agressivos”. – disse Verônica.

“Apenas quando temos que ser, o homem branco bruxo e colono se acha superior, acha que pode criar suas leis e que os índios devem seguir como subalternos. Chegamos nesta terra primeiro. Vocês são convidados que se acham donos. Nossas fronteiras são em respeito a natureza que vocês corrompem.”— falou o jovem muito sério.

“Atenção, por favor, eu chamarei dez nomes por vez, adentrem a Caverna e descubram-se, saberão o que fazer.— disse Olga que calou as conversas paralelas.

 A diretora Olga sacou a varinha um pergaminho apareceu em sua mão e chamou. Separados em ordem alfabética vocês entrarão na Caverna e tenham o tempo que precisar. O primeiro grupo, vejamos: Alan Borges, Alice Ramos, Alison Kowalski, Amanda Ottoni, Amanita Flores, Ana Paula Lima, André Silva, Antônia Barbosa, Ayr Wanari e Beatriz Pontes.

Ayr e Amanita se entreolharam e caminharam em direção a caverna os alunos gritavam e torciam para suas próprias casas das sacadas. André Lima foi logo atrás. Cadu empurrou carinhosamente Alison com os ombros e piscou. “Good Luck!” disse ele. O grupo entrou na caverna. Não passou um minuto quando o primeiro terraço explodiu em vivas. A festa vinha de Protheus, um Ayr confuso e sorridente aparecia todo molhado sendo abraçado por vários alunos mais velhos.

“A seleção mais rápida que eu já vira...”— disse Miranda a outra professora que concordou com a cabeça”.

Ninguém mais tinha saído da caverna passado cinco minutos. Olga chamou o segundo grupo: Bernardo Monteiro, Cadmo Reis, Caio Estefano, Carla Afonso, Carlos Eduardo Oliveira, Carlota Joaquine, Cátia Ferreira, Cauã Kaluana, Diego Morales e Enzo Bertolli.

Ao escutar o nome de Cadu, Duda finalmente encontrara o irmão que lhe olhou de forma marota, ele deu um tchauzinho e ela sorriu para ele um ‘boa sorte’. Ele estufou o peito e um passo de adentrar a caverna ele escutou várias outras sacadas explodindo vivas para seus recém-chegados alunos.

Uma das sacadas em festa era Wistéria onde Rodrigo e um grupo de amigos cumprimentava Cauã Kaluana e Amanita Flores que tinham chegado a Wistéria praticamente ao mesmo tempo. Cadu sumiu no escuro da caverna. Outros alunos foram aparecendo em Mariana, Autólicos e Guaraféus.

 A diretora Olga parecia muito feliz com a seleção. E chamou o terceiro grupo: Esteban Iglesias, Gabriela Gomes, Giovana Pietrine, Haoni Kaluana, Helena Santana, Iaciara Guaraféu, Iago Cosme, Iara Tupiã, Isabel Dias e Isadora Cavallera.

Muitos alunos ficaram espantados com o nome Iara Guaraféu, ela era descendente direta do fundador da Tribo do Sol. Ela foi uma das que não demorou, a Tribo do Sol comemorava avidamente a chegada de uma descendente.

Ao escutar seu nome Esteban ficou em choque mal conseguia se mover, ele viu os outros chamados adentrando a caverna, ele tomou fôlego e caminhou lentamente até a gruta, um rapaz mais alto passou por ele empurrando-o. Muitos viram, mas o rapaz soube disfarçar. “Cuidado, cara! Pode se machucar!”— disse ele em voz alta. - “Anda logo, porquito!”— disse baixinho no ouvido do garoto com um sorriso falso e debochado.

Iago correu para a gruta e Esteban só queria sumir. Finalmente ele adentrou a caverna. Vários outros alunos estavam aparecendo nas sacadas acima e sendo muito bem recepcionados. Amanita viu Esteban sumir na caverna, ela cruzou os dedos. O quarto grupo chamado de Olga foi: Jonathas Real, José Barbosa, Joyce Viana, Julio Garcia, Kelly Videl, Laelia Souza, Larissa Kosich, Laura Rocha, Leonardo Brito e Liana Mawé.

A jovem paulistana era a fina flor da elite bruxa de São Paulo. Uma das poucas famílias que mantiveram o nome e a ancestralidade sanguínea. A família Videl se importava com Sangue-Puro, se importava com Classe Social, se importava com cor de pele, se importava principalmente em se mostrar avessa aos hispânicos. Ela empurrou Duda e Yasmim passando por elas.

“Saiam da frente, gentinha!”— disse a jovem de nariz arrebitado.

Yasmim segurou o braço de Duda. A jovem Kelly desfilava junto com os outros alunos e bufou mostrando como estava entediada. Parou do lado de Olga e perguntou se precisava mesmo fazer aquilo, e se tinha um jeito de ela escolher a casa pela qual seus antepassados estudaram. Olga ergueu a sobrancelha ameaçadoramente.

“Minha jovem, você lembra muito o seu pai, e vou dizer a mesma coisa que disse a ele no dia da Seleção. – a diretora sorriu bondosamente. — “Se não entrar, você virará uma pária sem-varinha e será expulsa. Escolher não entrar seria um favor a mim e a nossa comunidade. Faça como quiser, quer que eu chame os caiporas para levá-la de volta a estação?”

“Não, não, senhora.— disse Kelly assustada e furiosa, com os olhos arregalados e com a veia da testa pulsando de raiva, ninguém nunca falara assim com ela, e foi a última a entrar de seu grupo.

Duda e Yasmim viram a expressão da jovem soberba e riram. Mas logo parou de rir ao ver que Cadu ainda não tinha saído da caverna. Ela procurou o irmão mais velho e deu de ombros, falando em silêncio, mexendo apenas os lábios: “Onde está o Cadu?”. Rodrigo sorriu para ela e fez um gesto pedindo calma. Ela colocou a mão no coração.

Mais alunos apareciam no meio de suas novas Tribos. Duda e Yasmim estavam nervosas. As mãos suavam. Yasmim queria chorar, será que ficaria perdida na gruta muito tempo?

Olga chamou o quinto grupo: Lorcan Scamander, Luan Marquês, Lucas Macedo, Lucas Rogério, Lysandro Leal, Marcos Pereira, Maria Eduarda Oliveira, Mariana Matos, Milena Perón e Pedro Bierseck.

O nome Scamander não era considerado comum, e ele ilustrava um livro muito famoso que eles usavam em Castelobruxo. Lorcan era bisneto do Magizoologista Newt Scamander, e amando os animais como ele amava animais, pediu a mãe Luna que o deixasse ir para Castelobruxo, ela sem pensar duas vezes permitiu. Conseguiu uma bolsa pelo Ministério Bruxo do Reino Unido e ele embarcou para o Brasil, cheio de sonhos de se tornar tão habilidoso como seu bisavô.

E agora era a vez de Duda sentir o frio na espinha, ela abraçou a amiga fortemente que desejou sorte e não conseguia mais controlar as lágrimas. O menino chamado Luan passou por elas revirando os olhos. “Por que são tão exageradas, as meninas. Ninguém vai morrer não”. – falou indo para a gruta. Duda quis acertar ele mas se segurou. Ou foi segurada.

Ela caminhou e não deixou de olhar para trás. A caverna era escura e parecia bem grande. Caminhou alguns passos e escorregou caindo no lago. Não parecia fundo, caminhou pela água e chamou Cadu a esmo, mas só escutou seu eco. Ela caminhou mais um pouco e se deparou com uma grande cachoeira. Ela colocou a mão e quando sentiu a água molhar sua mão uma grande onda desceu sobre sua cabeça.

Duda estava submersa sentia que ia se afogar, mas abriu os olhos. Seu corpo estava todo imerso não havia chão, não havia superfície. Só existia água. Ela nadou e nadou e não saiu do lugar, não perdeu o fôlego. Logo ela esqueceu de quem era, esqueceu que tinha um nome, esqueceu seu rosto, esqueceu tudo. E quis desistir, ela nem sabia onde estava, mas quando seu corpo parecia adormecer escutou uma canção.

“Você se conhece?”

“Garota, você se conhece?”

Escutou vozes perguntarem. As vozes vinham de vários lugares.

“Vejo Inteligência”

“Vejo Vontade”

“Vejo sonhos”

“Vejo coragem”

“Vejo bondade”

“Mostre-nos o que está em seu coração, bruxinha”

“Revele-se” – cantaram vários ecos.

“Vejo confusão”

“Quem é você?” – ela escutou vozes de pessoas conhecidas.

Duda viu imagens na água, viu os amigos, viu sua casa, viu sua família e viu Castelobruxo. Ela se lembrou de uma coisa que várias pessoas disseram em momentos diferentes. “Seja você mesmo”.

“Meu nome é Maria Eduarda! Eu sou a Duda!”— disse sua voz que saiu em um grito sincero.

Ela nadou para baixo, não sabia por que, mas seguiu o instinto. Chegou ao que pareceu ao fim, da água ela viu alguém do outro lado. Ela se viu estendendo a mão para si mesmo. Elas sorriram. Uma segurou a mão da outra. O ar voltou aos pulmões estava escuro e seus olhos. Ela estava sozinha e molhada frente a uma grande passagem de pedra. Iluminada por dois lampiões velhos. Tinha luz depois daquela passagem e ela saiu a por ela.

A luz explodiu em seus olhos e ela ficou surda. Muita gente gritava e a apertava sua mão. Ela estava frente a um grande espelho vendo a si mesma, molha da cabeça aos pés. Isabella Garibaldi se aproximou dela sorrindo.

“Olá, bem-vinda a Mariara, Duda!”— disse Isabella sacando a varinha e secando a jovem.

“O último grupo vai entrar!”— falou um garoto ao seu lado.

“Está na sua Casa Tribal, Duda, sinta-se em casa e mais uma vez. Você está em ‘O Espelho’. Vamos ver se recebemos mais gente?— disse Isabella se aproximando do peitoril do Terraço.

Duda olhava sua Honra de pedra azul. E se sentia bem com aquilo. A diretora Olga chamava os cinco últimos alunos: Vinícius Alves, Viviane Araújo, Yasmim Martins, Yukina Haruko e Yuri Belmont...

Duda tinha uma visão muito melhor do todo. Sua amiga parecia nervosa, mas confiante.

“Vai lá, Yas!” — gritou Duda sem saber se a amiga escutaria.

Yasmim sorriu e caminhou porta adentro sumindo. Duda olhou os outros terraços e viu Cadu rindo e brincando com uns garotos. Cadu também tinha saído, ele estava na Tribo do Sol. Ao seu lado, gritou: “Temos uma Weasley!”. Uma menina com sardas e pele bem morena chegava em Mariara também. Duda entrou na brincadeira e se juntou aos amigos comemorando. Qualquer um que fosse bruxo, conhecia a história do que tinha acontecido na Europa nas ultimas décadas, e Rodrigo fizera o favor de explicar quem eram Potter e Weasley. E aparentemente, a menina a sua frente era uma descendente dos Weasleys, uma aluna de intercambio. Isabelle recebia a menina do mesmo jeito que recebera Duda.

“Seja, bem-vinda Roxanne!”— disse Isabella secando a menina com um feitiço simples.

Não demorou muito e Wistéria estava aplaudindo a recém chegada Yasmim. Duda viu Rodrigo e cumprimentar, e Duda sabia que a amiga estava feliz. Feliz e envergonhada. Ela deu de ombro e bateu palmas para amiga comemorando de longe.

Já tinham se passado 20 minutos e todos os alunos já tinham sido selecionados. Apenas um não tinha saído.

Alguém em Autólicos gritou: Temos um “Entala de Gruta”!

Os professores trocaram olhares e domaram a situação. A diretora Olga meneou a varinha e escadas surgiram das sacadas que davam ao pátio. Ela bateu palmas e várias dríades começaram a dançar.

Enquanto os alunos desciam as escadas. Eles viam o pátio da seleção se tornar um grande refeitório. Na frente dos tronos apareceram longas mesas de jacarandá, e para os alunos várias mesas menores.

“Iniciaremos o banquete. Não é comum, mas também não é tão raro que tenhamos um aluno mais difícil de encontrar. Vamos começar o banquete de cerimonial. O jovem se juntará a nós logo”.

 As várias mesas espalhadas começaram a se encher de alunos. Muitos se sentavam conforme suas tribos, outros conforme seus países e outros só queriam comer e conversar. Havia mesas maiores perto das escadarias onde você poderia se servir com uma variada seleção de pratos deliciosos. Tinha carne e assados, principalmente peixes. Também havia muitos doces regionais, e frutas coloridas e saladas diversas. Havia vários sucos e a famosa iguaria bruxa brasileira uma das bebidas mais tradicionais de Castelobruxo, o Hidromel de Açaí.

Amanita conversava com um menino chamado Lucas Rogério, também de Wistéria, mas não parava de olhar a gruta e as sacadas esperando que ele saísse de uma delas.

Duda se sentou com os irmãos e Yasmim que falavam sobre a Seleção, Rodrigo contava com detalhes sua experiência. Cadu falava sobre ter visto um rio de lava. Yasmim comentava que conversou consigo mesma sobre várias coisas e até vira a mãe que não conhecera. Duda entendia que cada um passava por uma experiência diferente. Ela olhou a gruta, e pensou que tipo de experiência o jovem ali preso estaria passando para demorar tanto.

Duas horas se passaram o banquete era substituído pelo piar dos pássaros. A Diretora Olga mandou os professores e os Chefes de Tribo recolher os alunos.

Todos estavam indo para suas Casas Tribais, Amanita estava parada sentada a mesa muito preocupada. O Chefe de Tribo de Wistéria, um jovem do sexto ano se aproximou dela.

“Amanita, precisamos ir. Está na hora de se recolher...”

“Mas...”

“Às vezes acontece isso, demora. Tem registro de alunos que passou um dia inteiro para se encontrar na Caverna”— disse Angelo.

“Não posso esperar?”

“Melhor que descanse... Amanhã você tem o dia livre...”— disse o jovem com pesar.

Então houve um murmúrios e uma multidão começou a rir e gritar.

“Entala Gruta! Apareceu!”

“Ah, não... Esteban...”

 Esteban estava cercado de alunos de Autólicos que riam e zombavam dele.

“Às vezes, a gruta é um mistério nas seleções”.— disse Angelo. – Vamos, Amanita.

Amanita foi subindo os degraus e vendo o menino se levantar, sem ninguém ajudá-lo ou secá-lo. Ninguém estava cumprimentando ele, estavam caçoando. Amanita sentiu-se triste desejando que aquilo não fosse verdade.

Ela foi guiada até sua Casa Tribal e desapareceu no portal de Wistéria junto com os outros alunos.

O Domo das árvores caiu em silêncio. Todos tinham se recolhido e a gruta sumia nas raízes da Iggbrasil. Cada seleção é diferente. Ninguém nunca sabe o que pode acontecer com você. Muitos enfrentam a si mesmos; já outros buscam o que querem de si; outros apenas refletem o que são.

E outros começam a se conhecer. Não há erros quando é seu coração que escolhe seu caminho. E você? Você se conhece? Para onde você iria? Quem é você?

Corpo Docente


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Notas finais do capítulo

E você? Você se conhece? Para onde você iria? Quem é você? Para onde você iria se entrasse na Gruta?



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