Instinto & Coragem - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 8
8 - Salão Tarbeck


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! Último capítulo focado em Salão Tarbeck, eu juro!



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SALÃO TARBECK

 

Quando lhe trouxeram a carta no final da tarde, imaginou que havia acontecido alguma coisa errada com aquela que escrevera pela manhã, mas assim que perguntou do que se tratava ao pajem, o menino balançou os ombros. Leu as inscrições no envelope e fechou a porta rapidamente. Precisava se sentar para ler a mensagem que seus pais haviam enviado antes mesmo dele ter pensado em lhes escrever. A letra era visivelmente da mãe e estava borrada em lugares que seus dedos passaram sem dar tempo para a tinta secar. Um aviso escrito às pressas.

Jasper, envie um meistre capacitado para Riverspring imediatamente. Seu pai adoeceu de súbito ontem e ninguém consegue dizer que doença o atacou. Esteja intercedendo por nós e boa sorte nas justas.

Mãe

A carta fora enviada há um dia. Se o caso era tão extremo, deveria correr para conseguir o meistre que seu pai precisava. Desceu até o salão de desjejum, onde Lorde Tarbeck e o Rei comiam lado a lado. Os homens pareciam ainda taciturnos e sonolentos, mas Jasper não se intimidou e se apresentou com uma curta mesura ao se aproximar. Lan Tarbeck olhou-o surpreso, mas Sua Majestade se limitou a erguer os olhos e voltar à sopa. Visivelmente havia bebido além do aconselhável na noite anterior.

— Senhor Sarwyck, a que devemos a visitar? - Lann Tarbeck incubiu-se de perguntar. Vossa Majestade continuou mastigando pesadamente.

— Milorde, temo que serei obrigado a desistir das justas. Recebi uma carta de minha mãe, dizendo que as condições de meu pai pioraram desde dois dias atrás. Rogo-te um meistre preparado para ir comigo até Riverspring. É meu dever cuidar de minha mãe enquanto passamos por essa adversidade.

Lann ergueu as sobrancelhas e olhou de soslaio para Corlos. O Rei fez um gesto com a mão, dispensando-o, e o lorde da fortaleza levou Jasper até seus aposentos, onde sentou-se em uma escrivaninha e redigiu uma carta de dispensa do Torneio, junto de outra mensagem, desejando melhoras e orações ao Senhor Sarwyck.

Jasper agradeceu beijando a mão do lorde, que ordenou avidamente aos cavalariços que preparassem três cavalos forte o suficiente para viajarem por um dia sem cessar. Jasper conheceu o meistre apenas alguns minutos antes de montar o cavalo e sair em corrida. O dia estava mais fresco que o anterior e as justas aconteciam normalmente no pátio do Salão. Conforme ele, o Meistre Solomon e o mensageiro Shek se distanciavam da fortificação, sentia que seu peito deixava de lado o Cavaleiro da Primavera e começava a pesar as obrigações de Jasper Sarwyck.

Seu pai sempre fora um senhor forte, que ajudava os seus inquilinos durante as colheitas, sob o sol forte. Sua pele era queimada e cheia de rugas, seus braços eram finos e fortes, a pele desgarrava-se de seu rosto antes dos quarenta e ele se parecia mais com um fazendeiro que com um senhor. Mas era o que Senhor Jasper gostava, sentir-se útil. Embora nenhum outro Sarwyck tivesse os costumes de seu pai, todos os camponeses veneravam a linhagem da Casa apenas por ele. Sua mãe, que não nascera Sarwyck, nem nobre, às vezes incomodava-se com esse trabalho braçal ao qual seu marido se dava o trabalho. Ela não entendia por quê um homem dono de um castelo e descendente de sangue nobre se dobraria na terra junto do menor camponês das Terras da Primavera.

Jasper também não gostava tanto de vê-lo voltando sujo de terra e fedendo a suor no final do dia. Quando voltava de algum torneio, sentia-se envergonhado pela figura de seu pai.

Mas era impossível imaginá-lo fraco ou doente.

Era ainda mais impossível imaginá-lo morto.

Jasper filho de Jasper viu-se desesperado pela chance de aquele ser o fim.

Incitou o cavalo a correr ainda mais, obrigando os seus companheiros a segui-lo. Não se importava com os animais, desde que chegassem a tempo. Qualquer ínfima possibilidade de a morte de seu pai ser sua culpa o enchiam de pânico. O sangue parecia congelado nas veias e ele se viu gritando contra o vento, batendo ainda mais as rédeas, como um louco.

Não percebera o quão aflito ficara com a carta até que ninguém mais pudesse vê-lo. Ninguém além do mensageiro e do meistre. Salão Tarbeck perdeu-se no horizonte em minutos e logo a estrada se tornou menos pisoteada e mais selvagem. As árvores rodeavam aqui e ali, com pássaros voando ao redor de frutas podres e camponeses colhendo sua lenha.

Silenciosamente, nuvens negras cresciam no azul do céu e o vento a cada minuto ficava mais violento. O meistre pediu para que fossem mais devagar, mas Jasper não o ouviu. Ele ouvia apenas o sangue pulsando em seus ouvidos.

— Deixe-o ir, ele é um Sarwyck - o mensageiro refreou seu cavalo.

Enquanto os outros dois passavam a uma corrida normal, Jasper disparou a frente, perdido na ânsia de voltar logo para casa. O menino perdeu-se por horas a quilômetros na frente dos outros, levando o seu cavalo ao máximo do esforço, sem nunca desviar os olhos da estrada que sempre o levavam para os braços de sua mãe.

A chuva começou leve, fria como a lâmina de uma espada descendo sobre a pele. Aquilo o assustou, quando sentiu os primeiros pingos escorrendo por suas costas, mas não parou. A capa que se agitava agora estava grudada ao corpo e o cavalo afundava as patas na lama e na relva, dobrando o esforço que deveria fazer para continuar no ritmo.

Assobiando no vento, estilhaçando na chuva, estrondos de trovão e o final de um outono muito curto: a tempestade era impiedosa. Jasper chafurdou, seu cavalo vacilava, mas nada no mundo o impediria de chegar a Riverspring ainda naquela tarde. Nem mesmo a noite, insinuando-se pelas nuvens, escurecendo ainda mais os céus. Nem o tempo, nem o destino, nem os deuses o fariam parar.

Nem mesmo os deuses.





— Tem certeza disso, milady? - o homem encarquilhado hesitou em lhe entregar o frasco com o pó, mas Serana não tinha paciência para essas coisas.

— Toda a certeza do mundo, velho - tomou o frasco de sua mão e jogou o pó dentro da caneca de leite. Não era chá de lua, mas funcionaria enquanto estivesse ali.

Não podia pedir aos meistres de Salão Tarbeck por algo como aquilo, tinha de se esgueirar até a cidade para comprar de pessoas simples algo que tirasse as porcarias que seus irmãos colocavam dentro de sua barriga.

Pensara que, desde a última vez, na Fortaleza Clegane, as sementes de Steffon estivessem fracas demais para germinarem, mas estava enganada. Já fazia duas semanas que seu sangue se atrasava. Ela não suportaria mais tempo com aquele monstro dentro si.

Bebeu o leite e entregou a caneca ao estalajadeiro. Ele era um senhor simples, provavelmente viúvo e sem filhos. Sua estalagem era pobre, embora fosse uma das primeiras da cidade. Pagou-lhe a quantia prometida e exigiu seu silêncio, mostrando o punhal que trazia sempre escondido no cinto da calça. Colocou o capuz e tornou-se novamente mais um mendigo perambulando pelas tavernas. Retornou por trás da fortaleza, onde as cozinhas funcionavam. Nenhum criado estava desperto o bastante para percebê-la, graças aos deuses.

Subiu até seu quarto e vestiu a camisola, jogando-se na cama imediatamente. Cansada, tremendo de medo, Serana Clegane abraçou-se e brigou consigo mesma por estar se comportando como uma criança.

‘Você já tem quinze primaveras, Serana, seja uma mulher de verdade!”

— Onde estava?

Jogou-se da cama por reflexo, a voz era a mesma de seus pesadelos, a mesma de Steffon. Em Salão Tarbeck, Steffon não a havia procurado em nenhum momento e sentia-se grata por isso, mas agora toda a segurança que lhe rodeava se foi e ela se sentiu a mesma pequena e fraca Serana da Fortaleza Clegane. Lembrou-se de como o xingara durante a noite do banquete e como se portara com prepotência, confiante de que o irmão não faria nada perto dos outros cavaleiros. Queria pedir desculpas, mas apenas gaguejava. Pateticamente.

— Eu perguntei onde se enfiou! - Steffon avançou e a levantou pelo queixo, como se segurasse o filhote de um gato manhoso. - Sua puta, estava fodendo com algum bêbado? Foi correndo pra cama do senhor primavera?

— N-não…

Steffon não queria saber onde ela fora, com quem estava ou por quê. Essas perguntas eram só uma desculpa para que gritasse e se enchesse de raiva. Só assim ele conseguia ficar duro.

Jogou-a de volta para a cama e ergueu a camisola até metade da costas, montando sobre seu corpo e já enfiando-se sem prelúdios. Steffon não conseguia suportar por mais que alguns segundos, pateticamente. Se ela contasse isso como uma fofoca, provavelmente ele a mataria com chutes e pontapés. Não antes de alguém perguntar como ela sabia disso.

Ele conseguiu aguentar apenas vinte segundos e então murchou.

— Você disse a Steven, não disse?

O irmão mais velho de ambos, Steven, Cavaleiro da Guarda Real e um dos preferidos de Sua Majestade o Rei. O seu irmão preferido, também.

Ele normalmente a defendia de Steffon. Mas isso foi antes, antes dele ir embora para Rochedo Casterly.

Antes que pudesse responder, no entanto, a porta se abriu com uma chuva de dez guardas, todos armados e gritando. Entre eles, quatro capas brancas cintilando na luz da Lua. A voz de Steven, tão feroz e autoritária, se sobressaiu.

— Prendam o filho da puta. - ele contornou a cama, chutando Steffon para longe. - Serana… - suas mãos soltaram a espada e ele a envolveu.

Serana queria acreditar que aquilo não era verdade, mas ao mesmo tempo sentia-se tão grata… Steven a apertou fortemente, escondendo seu rosto enquanto os outros guardas levavam Steffon dali e seguiam as ordens de um dos cavaleiros da guarda. Seu irmão mais velho deixara a barba crescer e parecia mais largo, ou talvez ela havia diminuído em seus braços. Não importava. Estava a salvo. Sentia-se a salvo. Desde a morte de Lorde Clegane e a despedida de Steven, nunca se sentiu tão a salvo como naquele momento. Retribuiu o aperto como conseguia, trêmula e soluçando.

— Por que não contou a ninguém? Por que não me contou? - ele segurou seu rosto - Há quanto tempo?

— Há-há dois ou três… D-Desde que v-você deixou a Fortaleza. - limpou a garganta e respirou fundo - No começo ele me dava chutes e apenas me batia, mas depois ficou mais agressivo e ameaçou me matar. Disse que eu era uma bastarda e que podia lhe servir como quisesse.

— Aquele filho da puta é um bastardo - Steven segurava-a como fazia para niná-la, após contar uma história sobre guerras e soldados. Seus dedos, apertando sua coxa, não levantavam arrepior de horror da mesma forma que Steffon. Ela se sentia bem em tê-lo tão perto. Não queria desgrudar dele nunca mais. Nunca, nunca, nunca. - Ele fez… alguma coisa a mais do que te bater?

— Desde o ano passado, quando sangrei…

— Eu vou matar ele, Serana, eu juro. Nem que eu perca a minha capa, eu vou matar o desgraçado. - o irmão a pressionou contra seu coração e colocou o queixo sobre sua cabeça, protetoramente. Ela se aninhou e aceitou que ainda não era uma mulher adulta para não sentir medo.

— Mate.

— Eu juro - ele reafirmou e embalou-a suavemente.


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Notas finais do capítulo

Então, alguns leitores queriam conhecer a relação dos irmãos Clegane, acho que essa cena mostrou exatamente como eles se sentem um com os outros.
Aos curiosos: Cygnus é primo de Lorde Tytos e herdeiro depois de Drusten.
Obrigada por lerem! Beijos da Mell!



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