Instinto & Coragem - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 5
5. Salão Tarbeck


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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SALÃO TARBECK

 

As liças foram montadas ainda àquela noite e, conforme o banquete prosseguia entre os homens e mulheres acima de trinta anos, os mais jovens e mais inquietos furtivamente escapavam para os terrenos do Salão, perfeitamente planos e ideais para os torneios. Alguns cavalariços caminhavam com os cavalos para acostumá-los ao local e essa foi o motivo perfeito para que o jovem Sir Sarwyck tomasse as rédeas de seu garanhão mais novo e atacasse a terra com trotes e exibições de suas destrezas. Outros cavaleiros que competiriam no torneio do dia seguinte também levaram seus animais para as liças e sorriram entre si, sentindo que o orgulho de sua juventude os precedia para o êxito.

Para a curiosidade de muitos, Lady Druella está conversando animadamente com Lady Janna Westerling e seu irmão, Drusten, escondendo os vestígios do fatal ataque ao cavalariço inocente. Sinceramente, seu coração está cheio de arrependimento e dor, mas a pobre alma do garoto que nunca saberemos o nome já está com o Pai, exigindo seu julgamento.

Quem realmente chama o foco no Salão agora é o jovem Sir Sarwyck, um rapaz que esconde o galante semblante por trás da viseira e da cota de malha que enfiou em si mesmo, por cima do gibão de festa, apenas para reivindicar desafios mais perigosos. Os outros cavaleiros não o chamam pelo nome, porém, mas por seu famoso título. Não caído. É fato que Sir Sarwyck nunca foi derrubado em um torneio oficial e ganhou todos nos quais participou. Nenhum deles foi grandioso, é claro, mas a sua fama corria por todo o reino e nas terras vizinhas. Aqueles que ainda não o tinham visto estavam ansiosos. O que um Sarwyck, Casa que nunca obteve grande reconhecimento por seus cavaleiros, poderia oferecer? Talvez uma habilidade impressionante, talvez uma sorte inabalável.

De uma coisa, no entanto, Serana Clegane estava certa: com todo aquele espetáculo com o pobre cavalo, ela rapidamente o derrubaria.

— O chamam de Cavaleiro da Primavera. - comentou uma das donzelas que assistia ao ensaio nas liças, ela parecia vestir as cores da Casa Lefford, porém em nada se aparentava com Netalia. Não que esperasse encontrar sua prima ali, os Lefford raramente iam a eventos como esse. E Serana a invejava por isso.

— Ele é um cavaleiro de Riverspring, ouvi dizer que é o melhor do reino. - outra dama sussurrou por baixo da mão e soltou uma risadinha - Quero ver seu rosto… A quem ele dará o título de Rainha da Beleza?

A garota de vestido verde olhou de soslaio para Serana e então descontraidamente apontou para a amiga, que soltou outra risadinha tosca e meneou a cabeça. Serana não se importava com aquilo, sabia que não era a jovem mais bela do reino, mas podia ter outras formas de impressionar o seu público. Entrou nas liças quando o irmão trouxe Ferro já selado e com uma espada na bainha, o cavalo era o melhor que tinham na Fortaleza Clegane, não deveria ser usado para uma exibição mesquinha no meio da noite, mas se Stefan o escolhera, deviam usar um cavaleiro a altura. Ela rapidamente o montou e desembainhou a espada. O cabo era o corpo de um cão em corrida e apertava os dedos do irmão quando ele a empunhava, mas para ela encaixava perfeitamente. Obra dos hábeis ferreiros da fortaleza.

— Deixe de ser estúpida - Stefan puxou as rédeas - Preciso treinar para amanhã.

— Para quê? Não vai adiantar muito, mesmo - ela cutucou o cavalo com os arreios e o incitou para frente. Stefan soltou as rédeas. - O Cavaleiro das Flores ali vai sapatear para  teu lado e te derrubar em dois tempos.

— Cale a boca, porquinha. - ele dizia aquilo porque seu rosto realmente se assemelhava ao de um porco. Mas ela não se importava. Podia ser mais feia que Stefan, mas ainda tinha mais pinto que ele.

Juntou-se a corrida dos cavaleiros, sem armadura ou cota de malha, apenas com a espada. Após algumas voltas, eles se afastaram e começaram a combinar os duelos daquela noite, uma demonstração do que viria a seguir. Serana não conhecia os homens naquela justa, mas enfrentaria qualquer um deles. Enquanto olhava ao redor, um pouco desorientada, outro cavaleiro aproximou-se num trote fraco e ergueu a mão para ela, sem luvas ou cota, apenas dedos e carne.

— Você, rapaz, quer ter a honra de enfrentar Sor Jeffrey de Castelo de Prata?

Ela pensou em uma resposta a altura, mas não chegou a abrir a boca.

— Você é um covarde, Jeffrey! - gritou o Cavaleiro da Primavera com um sorriso imponente nos lábios. - Sempre desafia os mais fracos. Lute comigo e teremos uma justa equilibrada.

Jeffrey estalou a língua e avançou para aceitar o desafio. Tudo o que Serana pôde fazer foi se retirar das liças junto com os demais cavaleiros para assistir ao duelo. Ambos os cavaleiros mantinham uma pose confiante e carregavam lanças sem ponta, para treinos. Os escudeiros foram enxotados aos pontapés quando eles se cansaram de esperar. A emoção contagiava tanto os homens quanto as moçoilas paradas do outro lado das arquibancadas, curiosas e tímidas. Elas suspiravam e apontavam os seus preferidos. Serana voltou a olhar o Cavaleiro da Primavera e Sor Jeffrey. O primeiro mantinha sua lança bem erguida em completa posição se ataque, nada indicava que fosse se preocupar com a investida do oponente. O segundo deixou o braço leve e pronto para bloquear o adversário.

O clássico atacar e defender. Para ela a melhor defesa era atacar primeiro, mas nunca havia competido contra outros além de seus irmãos e os soldados da Fortaleza Clegane. O primeiro a começar a correr com o cavalo era o Cavaleiro da Primavera, ele exibia confiança exagerada em tudo, e poderia ser pego de surpresa facilmente, mas se oponente Sor Jeffrey se intimidou com a investida e apenas bloqueou estabanadamente a lança do Sarwyck. Em segundos, já no segundo momento, o Cavaleiro da Primavera levou a melhor e conseguiu desencaixar sua lança da defesa de Sor Jeffrey, atingindo sua virilha no ponto de montar o cavalo, isso era uma ótima estratégia para desestabilizar o oponente sem ferí-lo de verdade. Jeffrey caiu no chão rolando até aceitar a sua derrota.

Todos gritavam pelo Sarwyck, incluindo os demais cavaleiros. Serana queria enfrentá-lo, sabia que venceria qualquer desafio, mas não podia simplesmente se impôr contra o vitorioso de uma justa, isso seria muita má educação e claramente o cavaleiro não aceitaria. Ela estava quase decidindo por ir até Sor Jeffrey e exigir aquele combate que ele sugeriu, mas uma mão segurou-lhe a panturrilha fortemente e a obrigou a desmontar se arrastando para baixo do cavalo.

— Já brincou o suficiente - Stefan a empurrou para longe - Volte para o banquete.

Serana o encarou, mas não conseguia sustentar o olhar contra ele por muito tempo. Não ainda.




O gosto da vitória era fácil de ser engolido, depois que a euforia e o fervor do sangue passavam, tudo o que restava eram os sorrisos camaradas dos outros homens e a raiva suprimida do derrotado. Desde pequeno, Jasper sabia que a vitória era a única verdadeira escolha e escolhia sempre vencer. Nascendo um Sarwyck, sem grande tradição em torneios e guerras, não se abateu pela expectativa que tinham sobre ele, muito mais que isso: notou que toda tradição possuía um começo e decidiu ser o começo dos Sarwyck guerreiros. Ainda não pensava em filhos, mas os ensinaria a manusear a espada, com certeza. Mas ainda falando da vitória, ela tinha um ótimo toque açucarado, que se desvanecia rápido demais. Demais.

Depois que esporeou o cavalo de volta para as mãos dos cavalariços, o Cavaleiro da Primavera entristeceu o coração de todas as donzelas que assistiam às justas improvisadas, retornando para o banquete em nome do Rei. A princípio, não fora sua intenção sair dos festejos, pois considerava uma grande desfeita aquela. Todavia, quando os cavalheiros ao seu redor passaram a discutir a legitimidade da herança dos Lannister sobre Lannisporto… Não pôde ouvir aquilo calado, então decidiu não ouvir. Rezava aos deuses para que o assunto fosse outro, ou teria de ir dançar no grande salão com uma das jovens solteiras do banquete. O problema não eram as donzelas, mas sim as mães que imaginavam a cor do vestido de suas filhas quando um cavalheiro aceitava a dança. E o Cavaleiro da Primavera já chamava atenção suficiente.

Às vezes não conseguia associar Jasper Sarwyck com o lendário prodígio Cavaleiro da Primavera. Talvez porque um só existisse muito longe do outro. Jasper era o herdeiro de Riverspring e em casa mantinha responsabilidades, sem se importar com a aparência. Nos torneios, o Cavaleiro era destaque e sorria para as jovens, esbanjava amizade com os demais cavaleiros, portava-se com nobreza distinta. Mas a consciência do herdeiro ainda o obrigava a retornar ao salão. Agora que o efeito do vinho parecia fazer efeito, preferia estar sentado.

— Sarwyck! - alguém anunciou-o antes de empurrarem-no para a parede, onde a sombra os esconderia atrás do móvel de espadas de Lorde Tarbeck. - Ei, sor.

— Sim? - Jasper tentou erguer o rosto para ver seu raptor, mas um braço mantinha seu pescoço abaixado e mais três corpos se colocaram a sua frente, todos bem vestidos em gibões escuros e com os braços cruzados sobre o peito.

— Você não é tudo isso como disseram - o garoto riu e então soltou-o de repente, tomando-o pelo maxilar para erguer seus olhos. Jasper enfim viu-o. - Bom conhecê-lo.

— Lorde Reyne - o garoto se curvou, embasbacado com o tamanho e a naturalidade com que o Senhor de Castamere conseguia ser amedrontador. Ouvira que, embora ter nascido com todos os dotes de um guerreiro, ele preferia caçar e andar a cavalo, um desperdício para todos os músculos do corpo. Vendo-o, Jasper tinha certeza de que ele seria devastador em torneios.

Se um dia participasse de um.

— Percebi você olhando minha irmã - o homem abriu um sorriso largo e abriu espaço para apontar no meio da multidão dentro do salão. Para a mesa do rei. - Myrcella não é uma beldade, mas tem seus padrões. Somos uma casa alta.

— Não é isso que milorde imagina, Senhor… - Jasper tentou se desvencilhar do grupo, mas eles o interceptaram com sorrisos sarcásticos. - Eu juro que não estava olhando para ela.

— Ah, tudo bem. Se juras. - Lorde Reyne fez um gesto com a mão e seus comparsas deixaram o garoto sair para a luminosidade do salão. - Mas Myrcella tem um rosto muito ameaçador. Mais que o meu, imagino. Um incentivo não seria ruim, certo? Podes tirá-la para uma dança?

— Uma dança, milorde.

— Isso, isso - o Reyne suspirou - Quando os demais cavalheiros perceberem que Myrcella não é um dragão cuspidor de fogo, talvez se animem a chamá-la também. A garota reclama que nunca se aproximam dela, mas não percebe que a culpa é dela mesma.

Jasper assentiu sem reação e caminhou até a mesa do rei.

Ainda sentia-se atordoado com a abordagem do Lorde.

— Miladies - ele se curvou diante da princesa e de sua amiga. Elas conversavam entre risadas alegres, suas bochechas rosadas confirmavam a leve embriaguez e assim que o perceberam, seus olhos seguiram os movimentos até ali. - Peço permissão para interromper.

— Permissão concedida - Princesa Annelyse sorriu para ele feito uma deusa travessa e Jasper deslocou o olhar para Myrcella, pois não queria mostrar o próprio rubor.

— Seria um enorme prazer tirá-la para dançar… - as palavras perderam-se quando viu o escudeiro do Príncipe Warren parado atrás das cadeiras. O irmão de Myrcella, Sor Ronnel Reyne. Instintivamente recuou um passo, mas a princesa se levantou e ergueu a mão.

— Sim, eu já estava cansada de esperar. - ela sorria, ainda. A taça de vinho a sua frente parecia completamente vazia e um jarro estava pela metade. Myrcella se debruçou sobre a mesa de maneira deselegante e apoiou o queixo na mão pequena. Parecia contrariada. Talvez decepcionada.

Jasper queria segurar a mão de Annelyse, mas ainda tinha consciência do escudeiro parado como uma estátua bem ali, cravando os olhos sobre ele como se pudesse perfurá-lo com uma lâmina. Aquele tipo de encruzilhada não lhe era comum. As coisas eram bem mais diretas em Riverspring. Mas ainda tinha dignidade e um bom jeito para lidar com as pessoas ao seu redor. Abriu um sorriso e encolheu os ombros envergonhadamente. Parecia quase sincero!

— Vossa Alteza me honra com tal, porém - a princesa ergueu as sobrancelhas - Porém é de meu desejo pedir a mão de Lady Myrcella para esta dança.

A garota Reyne arregalou os olhos e imediatamente se empertigou na cadeira. Parecia ainda mais surpresa que ele com aquela resposta. Annelyse deu de ombros e voltou a se sentar, como se isso não fosse uma afronta (rejeitar a própria princesa do Rochedo!). Myrcella o acompanhou até o centro do salão com uma mão levemente agarrada ao gibão e, assim que se colocaram em um espaço discreto entre os pares que dançavam, a menina loura ergueu seus azulados olhos e sorriu fechando as pálpebras. Jasper notou que ela estava tão bêbada quanto a princesa.

— Milady - ele segurou uma de suas mãos e tentou guiá-la, mas a dança era mais animada e não combinava com um dueto. As quadrilhas saltitavam em círculo. Logo alguém os encontraria e tentaria forçá-la a saltar também. Isso seria impossível naquelas condições. - Acho que poderíamos caminhar ao invés da dança.

— Ah - Myrcella soltou e então assentiu lentamente.

Havia acabado de chegar ao salão para se sentar e agora caminhava em círculos com uma Reyne. Jasper queria resgatar o Cavaleiro da Primavera que saberia exatamente como lidar com aquilo, mas sentia-se apenas um garoto do interior, perdido no maior banquete de sua vida, até então.

— Você realmente me escolheu - a donzela se apoiou contra um dos móveis de Lorde Tarbeck e brincou com o bordado de um leão negro, símbolo da Casa Reyne. A visão ainda lhe causava asco. Jasper jurara detestar todas as grandes casas que prejudicavam Lorde Lannister.

— Como? - estava anestesiado demais para compreender o olhar vago e o sorriso meigo de Myrcella.

— Quando fico perto de Anne, ninguém prefere a mim. Eu não sou a princesa. - ela soltou uma risada fraca e suspirou - Fiquei um pouco feliz, na verdade. Isso é malvado, mas Anne já tem tudo, então posso ficar feliz. Qual o seu nome?

Obviamente Myrcella Reyne nunca havia ouvido falar de Jasper Sarwyck. Que raios um Sarwyck faria num torneio?

— Jasper Sarwyck, milady - cordialmente fez uma mesura, mas ela riu. Estava gozando de sua cara?

— Eu tinha ouvido dizer que todos os Sarwyck são carrancudos e feios que doem - deslizou uma mão pelo cabelo e colocou uma madeixa dourada para trás da orelha pequenina. - Estou decepcionada.

Se antes sentia confusão e atordoamento, agora mesmo Jasper estava embasbacado com o elogio de Myrcella Reyne, a donzela de ferro conhecida pela língua afiada e os modos grosseiramente sarcásticos. Seria a bebida que a tornara mais solúvel? Abriu um meio sorriso contido e agradeceu sussurrando. Que espécie de tolo estava se tornando? Nunca sentira tanto desconcerto na vida!

— Foi o Gaemon?

— Milady?! - Jasper não entendeu imediatamente.

— Meu irmão pediu para fazer isso?

— Não, milady. Eu adoraria dançar.

— E agora estamos caminhando - Myrcella olhou para o resto do salão - Na verdade, estamos parados. Isso faz sentido para o senhor, Lorde Sarwyck?

Jasper engoliu em seco.

— Acho que estou bêbada.

— Concordo com você. - ele riu.

— “Você” não é muito apropriado, milorde.

— Perdão, Lady Myrcella.

— Ah, fui afrontada - a garota colocou o pulso sobre a testa e fez uma expressão dramática, rindo entre os dentes. - Por favor, leve-me de volta para minha amiga. Estou fora de minhas condições normais. Mas foi ótimo caminhar com você, Jasper.

Jasper conduziu-a até a mesa, onde Annelyse conversava com seu escudeiro apaixonado. Era notável a atração entre eles. Myrcella se sentou quase derrubando a cadeira e, quando ele fez uma mesura para se despedir, ela sorriu acenando os dedos.

— O que aconteceu com vocês? - Jasper ouviu a princesa perguntando a sua amiga.

— Ele é um amor, Anne - Myrcella murmurou e deitou-se sobre o colo de Annelyse, pedindo por um carinho nos cabelos.


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Notas finais do capítulo

F I N A L M E N T E
Postei! Meu Senhor da Glória, vocês não imaginam a batalha pra escrever esse capítulo. Esse é o demônio que chamam de faculdade? Socorro, queria starmorta.
Mas e aí? Me perdoam? Não prometo capítulo rápido não, estou duvidando da minha própria capacidade :D
Beijos!
PS: OBRIGADA PELAS FICHAS, JESUS, O NUMERO DE MENINOS DOBROU, QUE HINO!



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