Instinto & Coragem - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 4
4 - Salão Tarbeck


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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SALÃO TARBECK

 

Pedra escura, limo e ervas daninhas por toda a muralha. Ela sabia que não deveria esperar muito da vida, normalmente havia apenas expectativas frustradas, mas realmente havia esperado mais de Salão Tarbeck. Aquele lugar não era o ‘Salão do Rei’? A única referência a isso era a entrada perfeita e plana para a carruagem real e brasões incrustados nas portas dos quartos separados especialmente para a família real. Quando disseram que iria ao próximo torneio dos Tarbeck, ficara realmente esperançosa com a elegância e sofisticação do lugar preferido do rei. Agora, todas as suas ideias sobre a falta de aptidão de Corlos Casterly e sua tendência a colocar o reino em más condições eram comprovadas: os sapatos do rei afundavam nas poças do pátio, onde a água suja da chuva parava como coágulos de sangue negro. Enquanto o resto de sua família descia da carruagem, mais sapatos de tecido fino eram destruídos naquela água turva e Druella sentiu vontade de gritar com todos eles sobre bons modos e o valor que aquele tecido tinha no mercado.

Mas claro que o rei não saberia que usava uma das peças mais caras dos mercados de Lannisporto. Ele nunca se interessara por sua capital, nem pelo seu comércio e pela sua riqueza. Tanto potencial desperdiçado por que um rei não sabe olhar para baixo e ver que pisava em poças sujas. Mas tudo bem, isso ainda não era motivo para destroná-lo.

— Você está fazendo uma careta. - Drusten se inclinou para falar ao seu ouvido. Era difícil não fazer uma careta vendo aquilo debaixo de uma chuva fraca que a estava ensopando. Os ventos do inverno já haviam chegado, custava alguma coisa permitir que os convidados do torneio se recolhessem para a fortaleza, enquanto o rei e Lorde Tarbeck riam sobre… qualquer coisa boba que os entretesse?

— Esse é o meu rosto normal. - ergueu o queixo e fez um grande esforço para não cruzar os braços. Seria deselegante relaxar a postura ou mostrar sua irritação. Mas o irmão a conhecia há vinte e um anos e sabia que ela não era de se controlar fácil.

— Por isso ainda não arranjou um marido.

— Sempre tão exigentes - resmungou, mas Drusten riu do comentário e isso melhorou um pouco seu humor. Gostava quando ele ria de algo que falava, a fazia se sentir menos irritante.

Finalmente o rei e Lorde Tarbeck entraram na fortaleza e um a um os convidados retornaram a suas atividades normais. O irmão também voltou para o acampamento dos Lannister, para demonstrar suas parcas habilidades com a espada antes do torneio. Os torneios podem ser o melhor lugar para os homens mostrarem sua aptidão com a espada, mas também era o melhor lugar para que damas que exibissem a sua elegância e cordialidade. O torneio estava sendo realizado por Lady Tarbeck e uma comitiva inteira fora construída ao lado dos preparativos para que suas damas de companhia e convidadas descansassem debaixo da sombra da tenda aberta. Mesmo que não quisesse, era obrigada a ir para lá. Segurou a saia de seu vestido para que não molhasse e desviou das poças que conseguia indentificar. Isso não a impediu de molhar completamente os pés até chegar à tenda de Lady Barbare. As damas sentavam-se em almofadas e tapetes, o ruído de conversas formais era agradável aos ouvidos de Druella e rapidamente encontrou um ótimo lugar para se sentar.

Escondeu os pés molhados debaixo do vestido.

— ...e não é apenas ele, mas também o irmão. Quando ouvi isso, nem pude acreditar. - Lady Parren sorriu falsamente constrangida. - Dizem que Serana Clegane irá competir no torneio, seria lamentável para sua família.

— Aquela garota tem quinze anos e o rosto de trinta, será muito difícil encontrar um marido - uma senhora que Druella não conseguiu identificar riu fraco.

O som da fofoca da nobreza. Nada era tão melódico para Druella. Muitas damas acabavam com sua reputação ao se envolver nesses conglomerados de línguas afiadas, mas as mais espertas conseguiam se promover e alcançar ótimos casamentos, mesmo que tenham uma Casa baixa. Por sorte, havia nascido para aquilo. Tanto quanto para ouvir as barganhas no mercado e os juros dos banqueiros no porto, não podia fazer nada se gostava tanto daquilo.

— Você viu como o rei teve de sujar os seus sapatos para cumprimentar Lorde Tarbeck? É lamentável que um anfitrião cause tanto incômodo ao próprio rei. Mas imagino que nenhum Tarbeck chegou a cogitar que o chão estivesse um pouco molhado demais. - disse com uma voz inocente e sorriu. - Nem todos se preocupam com como as pessoas irão se sentir.

— Eu vi - Lady Parren agitou a mão no ar - Muito deselegante e desatencioso. Esses Tarbeck só fazem isso porque o rei gosta muito deles, senão seriam mais gentis. Eles são arrogantes até com o próprio Corlos.

Emelya Parren era famosa por tratar todos os grandes lordes e até mesmo o rei por seu primeiro nome, como se fosse próxima a qualquer um deles. Felizmente ela tinha decência para fazer isso longe dos supostos “amigos próximos”.

— Lamentável - a dama ao lado concordou novamente.

Lady Parren continuou conversando sobre a má educação de Serana Clegane e sua dama de companhia a acompanhou, concordando com tudo o que dizia. Aquelas que, assim como ela, concordavam com tudo o que ouviam, saíam-se bem dentro da nobreza feminina, mas não tão bem quanto aquelas que ditavam o que deveria ser concordado ou não.

Parren não era o alvo, então Druella balançou a cabeça conforme a melodia daquela tarde e se concentrou em rir dos comentários certos e olhar na direção das damas que precisava cativar. Havia nascido para ser uma bela dama, para fazer tudo com perfeição. Infelizmente seu nome não representava tanto (no momento) para poder aspirar por grandes casamentos. As únicas famílias que importavam no Rochedo eram praticamente inimigas declaradas. Casterly, Reyne e Tarbeck, os três principais nomes detestavam os Lannister e os Westerling tinham apenas mulheres. O caminho teria de ser construído por ela mesma, vinte e um anos era muito para uma mulher. Logo não seria mais um bom partido. Se ao menos seu pai se importasse em procurar por um pretendente… Druella sentia-se excluída. O pai buscava mais matrimônios para suas primas que para ela. Dizia nunca julgar uma aliança boa demais para ela, mas se continuasse esperando pelo “príncipe”, então nunca se casaria.

Não importava se seria Salão Tarbeck ou Castelo de Prata. Desde que tivesse um marido e filhos, o resto do caminho poderia construir. Ela nunca quis depender de sua Casa para conseguir algo, mas talvez sua própria dedicação pudesse fazer dela a mulher que sonhava ser. Digna, nobre e inspiração para as demais. Rainhas eram menos que isso, às vezes quem fazia um título era a pessoa por trás do nome e não o contrário.

— Lady Druella Lannister, é ótimo que ao menos um Lannister tenha vindo ao meu torneio. Espero que os guardas não estejam sendo inconvenientes. - Lady Tarbeck sorriu ao seu lado, enquanto caminhavam de volta para a fortaleza. Começara a chover no final da tarde.

— Imagine, tenho sido tratada com muito respeito, milady.

Barbare tomou sua filha pelo braço e colocou-a entre ambas, talvez para sua própria proteção. Sabe o que se diz dos leões.

— Soube que seu pai viajou para um castelo de veraneio, é verdade? Ou é apenas uma desculpa para não vir me ver? Já contei que ele tinha uma terrível paixão por mim, quando éramos jovens?

— Sim, eu soube, Lady Barbare. Mas é realmente verdade. E o castelo é de Lady Prester.

— Ah, Fortaleza Prester. Um lugar adorável, eu lembro. Íamos muito lá, durante a primavera e verão. Ótimo lugar para caçadas. Pena que fica inacessível no inverno. É uma península, você sabia? Sempre me perguntei se, todos os homens do reino cavassem um buraco lá, talvez pudesse se tornar outra ilha. Eu tinha uma forte imaginação, não acha?

— Sim, milady. Agora estou imaginando isso - Druella meneou a cabeça e sorriu - Meu pai lamenta muito por não ter vindo. Minha prima mais velha irá se casar com o jovem Lorde Prester e por isso alguns arranjos precisavam ser arrumados.

— É claro que seu pai sente muito - o rosto de Barbare se modificou. Repentinamente os olhos castanhos brilhavam. - Quando eu era solteira, Rogar implorava ao pai para ir aos mesmos eventos que eu. Eu achava que era coincidência, mas sempre fui seguida!

— Rogar?

— Você não sabe? - Lady Tarbeck riu com a mão em frente os lábios, estava puxando o braço de sua filha, embora a garota parecesse detestar o assunto. - Eu e Jeana apelidamos Lorde Lannister de Rogar, pois ele implorava ao meu pai para me dar em casamento a ele. Claro que isso nunca aconteceria, afinal eu sou uma Reyne e ele um Lannister, mas seu pai nunca deixou de sonhar. Quando me casei com Lorde Tarbeck, ele ficou terrivelmente machucado por anos, antes de aceitar se casar com Helleny.

Druella sorriu e continuou acompanhando a comitiva. Aquela conversa estava sendo puxava ao ego de Lady Tarbeck e, visivelmente, a mulher nutria mais afeto por seu pai do que ele por ela, afinal Lorde Lannister havia passado um ano de luto por seu finado pai, antes de se casar com Helleny. “Rogar”. Aquilo era uma piada mal-contada? Por algum motivo, não achava a graça. Mas o que podia fazer, aquelas ladies não eram exatamente exemplares. Todos sabiam que o grande trio mantinha homens irresponsáveis e mulheres mal-educadas, todos escondidos atrás de seus brasões. Se ao menos o mérito significasse algo, assim como as canções defendiam, talvez fosse ela a montar um torneio em seu próprio castelo.

Ela continuou caminhando, até entrar em seu quarto, ao lado do quarto das falantes Farman e a rabugenta Lady Viúva Lydden. Os criados viriam para prepará-la para o banquete logo, mas começou a preparar-se sozinha. Escolheu um vestido dentro de seu baú e escovou as madeixas louras, cuidadosamente. Seu cabelo era fino e se não tomasse cuidado, arrebentava com facilidade. O espelho não mentia. Druella Lannister não era a moça mais bela do reino, nem a mais alta ou mais magra. Não tinha a melhor postura, ou os olhos mais azuis. Mas duvidava que qualquer uma das outras superava-a em determinação. Prendeu os cabelos em uma rede de ouro e despiu-se sem ajuda, decididamente puxando as mangas vermelhas e apertando o espartilho por baixo do corpete. Usaria as suas cores, o dourado e o púrpura, orgulhosamente. Havia pó branco debaixo das caixas de seus colares e brilho rosado para suas bochechas. Podia não ter nascido pálida ou adorável, mas ela sabia o que estava ao seu alcance. Por fim, atrás de todos os seus pertences, escondido de qualquer mal olhar, um pequeno vidro com perfume de Lys. Respingou de leve sobre seu vestido, o suficiente para se destacar.

Seu pai não estava no torneio por não conseguia prestigiar a Casa Tarbeck ou a Casa Casterly, sabendo que seus dois irmãos mais novos estavam mortos por causa deles. A guerra que o rei infligira sobre seu próprio reino tomara a vida de Tyte, um garoto da guarda real que mal havia completado quatorze anos. E a derrota, após tantas mortes, decidida por apenas um julgamento por combate entre Tarbeck e Martell.

— Ele disse “Defenda o seu rei, Lannister” e Tyman jamais poderia ter recusado. Meu irmão era honrado e corajoso. Mais corajoso que todos os outros, mesmo após Tyte ter morrido na sua frente, ele continuou lutando até que vencessem a batalha. - contava Lorde Lannister, nas noites em que bebia com sua família. - Todos, covardes. Casterly, Tarbeck, Reyne… são todos covardes! Sentados em mesas de estratégia, levando homens à morte sem hesitar. Eles planejavam batalhas invencíveis por diversão. Caíam em armadilhas, eram tolos! Então…

— Pai, o senhor já bebeu demais…

— Quieta, Druella! Você precisa saber o que eles são, antes de lidar com esses covardes. - o senhor então se encostou na cadeira e respirou fundo. - Então Tyman se levantou, ele estava cansado, havia lutado por quase dez horas em duas batalhas diferentes, atravessando todo o reino. A armadura estava amassada perto de seu ombro e ele havia perdido a espada no meio do campo. Mas ele se levantou, Tyman era o mais bravo de nós três. Ele seria um lorde bom, papai dizia isso. Eu fui o mais velho, mas Tyman era o verdadeiro nobre. Nós ríamos quando conversávamos sobre isso. - seu pai apontou para as primas, sentadas no tapete, bordando diante da lareira - Ele tinha duas filhas e uma bastarda, jurei cuidar delas. Até mesmo da bastarda, eu jurei. Pois era de Tyman.

Helleny, sua mãe, afastou a taça de vinho do esposo, que não percebeu. Elas se entreolharam e então concordaram silenciosamente em deixá-lo falando até que dormisse.

— Tyte foi nosso caçula, nada era mais doloroso que perder meu irmão mais novo, tão jovem e tão voraz. Mas Tyman… ele sabia que aquilo o mataria. Ele sabia, Druella. Antes do combate, nós nos encontramos apenas uma vez. Seu tio me fez jurar cuidar de sua esposa e filhas e ele abençoou minha mulher grávida. Lembra-se, Helleny?

— É claro, meu amor. - Lady Helleny sentou-se ao lado do marido e apertou-lhe as mãos - Nunca me esquecerei desse dia.

— Sim… Ele disse que seria uma menina, mesmo que todos quisessem um rapaz, Tyman sabia que seria você, Druella. Ele colocou a mão sobre você e disse que seria uma garota forte, não disse que teria beleza ou graça. Isso todos dizem quando vêem uma donzela. Seu tio sabia que você não seria nada disso, mas ele disse que seria forte. E você é forte.

— Obrigada, pai.

— Não, agradeça a Tyman. Querida, diga a ela para agradecer Tyman.

Helleny sorriu para a menina e novamente elas concordaram em silêncio.

— Então… Quando ele morreu - Lorde Tytos Lannister respirou fundo, seus olhos estavam vermelhos e ele oscilava entre chorar e soluçar. - Tyman morreu e eu vi meu segundo irmão mais novo morrer. Pensei que minha família estava perdida. Eles cresceram comigo, mesmo que eu seja o mais velho, minha infância sempre teve Tyman e Tyte. Eu pensei que… sentiria a falta dele por algum tempo, assim como senti de Tyte. Mas nossas idades eram mais próximas. Ambos tínhamos esposas, filhas… Eu…

— Eu sei, Ty… - Helleny tomou o rosto de seu esposo e colocou-o sobre seu seio. - Eu sei…

Druella nunca se esqueceria daquela ferida no peito de seu pai. As pessoas egoístas que fizeram aquilo com sua família, que julgavam-se superiores. Após a morte de Tyman, o rei disse “a nossa derrota é culpa dos Lannister” e condenara-os a difamação, mesmo quando doaram tanto por aquela guerra, mesmo após tantos sacrifícios. Nenhum Lannister perdoaria aquilo. Ainda tinham honra! Tinham dignidade! A cidade de Lannisporto prosperava graças à boa administração por gerações, o comércio movia todo o reino. Um dia, ainda, teriam o reconhecimento que mereciam, quando fosse a mulher que todos admiravam, Druella mandaria fazer uma canção para seus dois tios que nunca conheceu, cantariam sobre os leões que doaram suas vidas e foram esquecidos como culpados pela derrota na guerra.

Antes que percebesse, estava pronta. Suas criadas terminaram de prender os seus cabelos na rede de ouro e arrumaram a cama, antes que ela descesse para o banquete. O salão estava agitado. Aparentemente, a mesa do rei não tinha espaço suficiente para todos os convidados que mereciam sentar-se nela.

— Olhe só aqueles Reyne - Lady Meera Parren disse, ao seu lado na mesa. - Há um príncipe sentado a mesa do rei e eles se acham no direito de expulsá-lo. Se uma guerra com o Reino dos Rios começar, podem colocar a culpa nos Reyne.

— Nunca confie em leões negros - concordou sua dama.

Druella observou o tumulto, até que mais cadeiras fossem colocadas ao redor da mesa, obrigando o príncipe a ficar no espaço mais distante. Ao lado dos príncipes do Rochedo, os Reyne riam e bebiam. Aquela desfeita era apenas mais uma das inúmeras que o rei já fizera. Estranho pensar que a família real estivesse coberta de má educação e pouca dignidade, não eram eles o maior exemplo do reino? Nada surpreendia que tudo estivesse indo de mal a pior.

Ela entusiasmou o diálogo com Lady Parren (defensora ferrenha da causa Lannister) e procurou seu irmão pelo salão, sem sucesso. O que mais a preocupava não era Drusten, no entanto, mas sim o que as pessoas diriam se ele desaparecesse durante todo o banquete. Infelizmente, todos fechavam os olhos para os erros diplomáticos do rei, mas notavam cada tropeço que um Lannister podia dar.

O sentimento de injustiça não abatia apenas a ela, mas Drusten também detestava aquele ambiente. “Nobres” e a corte, tudo o que os cercava, inequivocamente acabava por colocá-os em sua devida posição. Aquela dada por seu rei, há vinte e um anos atrás. Culpados pela derrota, culpados por cada revolta que os camponeses faziam dentro das cidades, mortos de fome e doentes. Mesmo quando não apareciam, era dito. Se faltassem, eram deselegantes. Se viessem, eram escandalosos. Se ele pudesse, faria aquele dito popular se tornar realidade. Quando as duas famílias, Casterly e Lannister, enfim se encontrarem, então apenas uma resistira e governara o Rochedo até o fim do reino.

— Drusten, espere! - Paige segurou-o pela manga, mas não voltou-se para ela. Não conseguiria encará-la, não depois de ouvir tudo o que ela tinha para dizer. Sério? Isso era real? - Por favor, você sabe que o amo, mais do que tudo!

— Claro - riu sarcasticamente, mas no fundo cada inspiração era uma pontada de dor. O que ele já havia feito por ela que não merecia o mesmo esforço? O que ela pensava que era? Um fiel escudeiro? Um maldito príncipe trancado na torre, aguardando para ser acordado por seus beijos? Ela deveria se envergonhar pelo que havia feito, jogando-se como uma qualquer para seus braços e depois dizendo que “seria impossível”. Pela primeira vez realmente havia acreditado naquilo. Acreditara que poderia amá-la e ser amado. Mas… o mundo não foi feito pelos deuses para ser nutrido por amor e paz. Todos sabiam que um dia toda essa merda acabaria numa grande guerra e tudo seria nutrido por sangue e dor. Mesmo assim, tentou acreditar em algo melhor. Ela o enganara direitinho.

— Por favor, me escute, Drusten. E-eu…

— Você só sabe falar “eu, eu, eu”, certo Paige Crakehall. Está pronta para ouvir o que tenho a dizer? Posso não ser um cavaleiro com armadura de ouro e uma espada para lutar em torneios, mas eu também sou um homem. - enfim encontrou coragem para olhá-la. Ela não parecia abalada da forma que dizia. Quem tinha lágrimas nos olhos era ele mesmo. Que patético. - Você sabe o que eu sinto quando uma mulher me beija e me acaricia da forma que você fez?

— Não fale isso.

— Por que não? Ah, eu sei porquê. Não é algo que uma dama do seu nascimento deveria fazer com um homem, certo? Mas nunca pensei que seria assim. Eu realmente pensei que você seria minha, eu deixei me sentir atraído por você, deixei que minhas vontades fossem atendidas. Você também deixou! Sabem os deuses como eu gostaria de ter sido mais forte para fugir de você.

— Drusten…

— Foi divertido? Brincar comigo, pedir para que eu dissesse aquelas coisas. - sorriu, finalmente o rosto dela estava ficando mais doloroso. Talvez ela sentisse algo, ao menos. - “Eu te amo, Paige. Você é linda. Nenhuma mulher é tão bela quanto você.” - Paige encolheu os ombros. Aqueles largos ombros que a tornavam tão bruta. Ela nunca seria bela, nunca seria nada que qualquer outra mulher poderia ser. E, depois de tudo, ainda conseguia ser pior que ela mesma. Pior que não ter graça ou beleza, ela ainda era mentirosa e cruel. - Você lembra quais eram os nomes dos nossos filhos, Paige? Eu lembro exatamente o que você disse: “Quero ter os seus filhos, Drusten. Quero ser sua”. Eu deveria tê-la feito minha naquele dia, talvez agora eu pudesse contar vantagem de algo. Mas eu nunca fiz nada. Você acha que sou menos homem por não ter me aproveitado de você? Ou isso a divertia? Talvez você gostasse de me provocar e depois sair correndo. Como uma prostituta barata e mal-paga.

Paige ergueu o punho para estapeá-lo, mas não conseguiu fazer. Aquilo doía em seu peito, mesmo que não quisesse sentir. As palavras de Drusten realmente a machucavam.

— Você é sujo.

— Agora eu sou sujo?! - Drusten segurou o punho levantado e obrigou-a a encostar as costas na parede. - Eu acreditei em você, nas suas mentiras! Você me fez tão feliz.  - como pôde ser tão enganado? Como ela conseguiu ser tão falsa? - Paige, você não tem dignidade para ser chamada de lady. Nada em você é nobre. Eu quero tanto… tanto…

— Matar? - ela sorriu - Machucar? Tudo o que eu disse e fiz era verdade. Tudo… entre nós. Eu sei que nunca serei boa como uma mulher, mas eu realmente queria ser sua. Quero. Você sabe disso, Drusten. Eu…

— Não.

— Sim, Drusten.

— Então me diga, por quê? - involutariamente levou a mão até o rosto dela e acariciou-lhe a bochecha. Ainda a amava… amava muito.

— Você sabe - Paige desviou os olhos, mas puxou-o para mais perto, contra si.

— Diga.

Paige mordeu os lábios e ofegou. Finalmente, suas lágrimas caíam, afinal ela não era feita de ferro.

— Eu disse a você que nos casaríamos. Eu tenho riquezas e uma ótima posição na sociedade. Sou o herdeiro do meu pai, único homem da minha família. O que mais a faria mudar de ideia, senão os seus próprios sentimentos? - a voz parecia falhar - Você tem nojo de mim? Tem nojo do meu nome?

— Não, Drusten, eu nunca me importei com nada disso.

— Então me diga. Como posso ser esposo de qualquer outra mulher, quando já jurei tudo a você?

Ela fechou os olhos, mas não conseguiu parar o choro. Sentiu-se mal por fazê-la sofrer daquela forma, mas não conseguia impedir que as palavras saíssem. Também estava sofrendo. Mais do que imaginara.

— Você sabe…

— Então diga.

Paige cerrou os olhos e o empurrou com raiva. Seu rosto vivamente vermelho e a boca trêmula. Ela era forte, mais forte do que muitos garotos na sua idade. Mesmo assim, não conseguia deixar de achá-la delicada e fofa.

— Porque você é um Lannister! Feliz? Queria ouvir isso? Pode se gabar para todos, então!

— É isso? - Drusten sorriu e não controlou o impulso de socar a parede. - Só isso?

— O problema é meu pai e não você. Sabe que ele quase me matou?

— Se eu realmente quiser, posso dizer a ele onde é a sua marca de nascença e então ele irá implorar para nos casarmos. Mas antes, muitos rumores estranhos seriam espalhados sobre o seu pudor.

— Drusten…

— Tudo bem, Paige. - ele se afastou - Está tudo bem comigo. Eu sou um homem, não ligo se estou tirando o vestido de uma dama ou de uma prostituta. Com você foi quase o mesmo, certo? Tirando o fato que parecia tirar o vestido de um homem e não exatamente de uma dama. Por favor, não saia por aí espalhando coisas estranhas. Eu realmente gosto de mulheres, mas você estava sendo fácil demais, melhor aproveitar o que se tem.

Depois de horas acertando sacos de feno nos estábulos, sua raiva foi substituída pelo arrependimento. Paige era sensível aos comentários sobre sua aparência, não deveria ter dito aquelas coisas. Mas era tarde demais. Já a ferira, do mesmo modo que ela o havia ferido. “Porque você é um Lannister”. Isso não é algo que se pode mudar tão facilmente. O que Lorde Crakehall espera para sua filha mais velha que é motivo de piada em todas as mesas de banquete quando veste aquele vestido cor-de-rosa horrível? “Lady Lannister” é o melhor que ela conseguirá encontrar. Nenhuma moça como Paige já teve uma oportunidade tão grande na vida, ele estava fazendo um favor. Pela última vez, chutou um balde vazio e jogou-se contra o curral, feliz pelas farpas da madeira machucarem suas costelas. Estivera tão feliz quando seu pai disse que sim. Drusten havia saltado sobre sua cama e abraçado o travesseiro como se fosse ela, do jeito que faria quando fossem marido e mulher. Agora, toda aquela alegria parecia idiotice. Fora estúpido em achar que haveria amor e felicidade no mesmo mundo em que vivia.

Crakehall. Ele teria virado uma piada para todos.

Não, estava recebendo uma dádiva. Agora poderia tomar a decisão certa, uma esposa bela, graciosa e silenciosa, uma que fizesse todos comentarem sobre sua boa educação e bom trabalho. Filhos bonitos, não necessariamente fortes. Um cavalariço entrou no estábulo e encarou-o, caído no chão, rindo como um bêbado.

— Ei, este lugar é reservado aos cavalos. Vá achar outra vala, cara.

— Certo. - levantou-se e caminhou a passos largos.

— Quem é você?

— Drusten Lannister - ergueu o punho e acertou o rapaz sem grandes avisos. Ele cambaleou e caiu sentado no chão.

Certo. Sempre preferiu brigas de bar a duelos de espada.

Drusten Lannister


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Notas finais do capítulo

Infelizmente talvez a fanfic não possa continuar, e não é por falta de criatividade ou inspiração, mas por falta de personagens. Temos um total de 9 personagens de leitores e, embora pareça muito, não é o suficiente para o universo de GOT. Sem dizer que desses 9, 7 são mulheres. Drusten é um personagem meu que eu achei estar faltando, as únicas personagens enviadas nesse capítulo foram Druella e a menção honrosa a Serana Clegane, que irá aparecer nos próximos capítulos.
Minha ideia era fazer uma guerra civil, com revoltas camponesas e traição entre os senhores, mas se o núcleo for pequeno demais (por exemplo, as Casas são mais de vinte, e mesmo assim poucos são os personagens que saem do padrão). Eu aceito personagens de outros reinos, mas... É mais difícil ligá-los aos acontecimentos, certo? Por exemplo, Asher Stark foi um dos primeiros que recebi e ainda não vi onde enfiá-lo para fazer diferença.
Os fatos se resumem a:
Núcleo 1 - Palácio (Anne e Myrcella)
Núcleo 2 - Fortaleza dos Prester (Elinor)
Núcleo 3 - Portão de Dente Dourado (Netalia)
Núcleo 4 - Salão Tarbeck (Serana e Druella)
Núcleo 5 - Reino dos Rios (Yller)
Lembrando que esses núcleos são mais representativos e os únicos mais importantes são Dente Dourado, o Palácio e Salão Tarbeck. É difícil desenrolar uma trama legal com apenas um personagem dos leitores em cada lugar, significa que eu teria de mover todos para um mesmo núcleo, mas mudaria o foco da fanfic.
Vocês preferem que eu mude o foco da fanfic para uma história menor e mais pessoal, ou continue com a ideia da guerra e mais geral?
Comentem ai!
E, se puder, enviem fichas masculinas para as Casas menores, há um resumo de todas no Tumblr que fiz com muito carinho. Sério ;u;
Beijos!



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