Luz do banheiro escrita por Maffle


Capítulo 4
17 anos


Notas iniciais do capítulo

Esse é o último. Aqui acaba a história do Leandro e do Miguel. ♥

Boa leitura.



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— Pra onde você vai depois do verão?

— Acho que pra Recife. Meus pais vão voltar pra lá e eu posso tentar alguma faculdade. Não passei em nada nesse ano mesmo.

— Ah, então vai me abandonar mesmo, né, Leandro?

— Como se você não fosse entrar na sua faculdade de Física e esquecer completamente o que é ter amigos mundanos.

— Mundanos. Bela palavra.

— Obrigado.

— Acho que é um fim, né?

— Hum. Será que você pode me fazer um favor?

— Qualquer coisa.

— Você pode deitar aqui do meu lado?

— Bom. Certo. Ok. Acho que tem espaço pra nós dois.

— ...

— ...

— Você respira muito alto. No que tá pensando?

— Estou pensando que temos que desligar a luz do banheiro.

— Quê? Miguel?

— Eu já volto. Olha, nem é tão ruim. Só não consigo ver nada. Não ria. Ai, meu pé.

— Você deitou na minha mão. Talvez a sua luz do banheiro realmente seja útil.

— Não é.

— Esse é seu ombro.

— É. Seu coração tá batendo rápido.

— Acho que sim. Você sabe por que eu acordava tão cedo quanto tínhamos 11 anos?

— Porque eu sou esquisito e você não sabia lidar com isso?

— Ah, Miguel, ainda não sei. Ai! Não precisa me bater. Você sabe que eu sou o único que te atura. Ai, cara! ​Quer saber ou não?

— Quero.

— É... Não olha pra mim. Vamos olhar pro teto. Você precisava da luz acesa. Eu precisava assistir ao nascer do sol pra me sentir seguro o suficiente. Eu e minha mãe fazíamos isso o tempo todo. Ela costumava me acordar bem cedinho para vermos os primeiros raios aparecerem naquele breu todo. Depois, eu voltava para a cama. Estar no acampamento completamente sozinho me apavorava, então eu acordava às 5 da manhã junto com o sol. Era mais fácil continuar o dia olhando o sol, porque talvez minha mãe estivesse olhando também.

— Leandro de 11 anos também tinha sentimentos.

— Sério que é isso o que você tem a dizer?

— Isso.

— Você é péssimo.

— Obrigado. Mas você passou a acordar junto comigo nos outros verões.

— É...

— O quê?

— Acho que é mérito seu. Você se tornou familiar o suficiente pra eu parar de sentir medo.

— É. Idem. Eu só deixava a luz do banheiro acesa pra ter certeza de que você ainda lembrava.

— Quê? Eu retiro o que disse, perdi meu medo só porque cresci mesmo, seu bosta.

— Há! Não acredito em você. Sou seu herói.

— Tá, tá, tá. Volta pra sua cama.

— Não mesmo. Você tem cheiro de limão.

— Não funga o meu pescoço, faz cócegas.

— Por que suas mãos são tão geladas, hein, Leandro? É verão.

— Não sei, não. Acho melhor você voltar pra sua cama.

— Vou esquentar elas. Aqui, coloca dentro da minha blusa.

— Shhhh, acho que tem alguém do lado de fora.

— Você tá com medo? Seu coração tá batendo rápido mesmo.

— Só vamos deitar aqui um pouquinho. Depois eu levanto pra ver o sol.

— A gente pode ver junto.

— É. Nossa última manhã.

— É.

— ...

— ...

— Você dormiu?

— Não, sua respiração é muito alta. Parece um pug respirando.

— Você parece o Darth Vader respirando.

— Você parece um fumante velho rindo.

— Você parece uma hiena rindo. Olha aí a risada de hiena.

— Cala a boca, Miguel.

— Vem cal-

— ...

— ...

— ...

— ...

— Desculpa, eu não devia ter feito isso. Não sei o que deu em mim. Acho que é sono. Vou no banheiro rapidinho...

— Não, volta.

— ...

— ...

— Ah. Uau.

— Eu sei. Isso...

— Não precisa falar nada. Só fica aqui.

— Tudo bem se eu apoiar a cabeça aqui?

— Apoia no meu ombro. Seu coração tá batendo rápido, Miguel.

— Ah, é? Acho que é o escuro.

— Acho que sou eu.

— Eu também acho. É o cheiro de limão. Não mexe no meu cabelo assim se não eu vou dormir.

— Seus olhos são verdes. Sempre achei que fossem castanhos.

— Acho que os óculos atrapalham um pouco.

— Tudo atrapalha a gente pra ficarmos aqui deitados. O Gabriel, a luz do banheiro, eu, você, aquele Caio...

— Você realmente não gosta do Caio.

— Talvez se a gente não se mexer ninguém aparece pra atrapalhar.

— Daqui a pouco amanhece e vão dar nossa falta.

— Você é um estraga prazeres.

— Eu quero ficar aqui.

— Eu quero também.

(...)

— O que a gente faz agora?

— Só fica aqui deitado comigo. Só mais um pouquinho.


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Notas finais do capítulo

Vocês já apagaram a luz do banheiro hoje?

Contem o que acharam nos comentários ;)

Até a próxima xxxxxxx



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