— Leandro.

— Hum? Tem uma garrafa d’água na cômoda.

— Não é isso.

— Quer que eu acenda a luz?

— Não, não é nada disso. Eu queria te perguntar uma coisa.

— Vai em frente.

— Eu ouvi os caras falando no campo de futebol que você queria mudar de quarto... E só queria te dizer que tudo bem mudar, mas posso parar de fazer certas coisas se você quiser. Tipo, desligar a luz do banheiro e só ir assoar o nariz lá fora. Eu sei que você fica irritado, mas não precisa também se dar o trabalho de mudar de colega de quarto. Juro que nem falo mais de madrugada.

— Ah, isso. Não tem a ver com você, cara, de verdade. É que o quarto 49 fica mais perto dos dormitórios das meninas.

— Você também?

— Como assim?

— Todo mundo tá nessa de querer invadir os dormitórios um dos outros. Por quê? Vocês não podem só se ver de dia?

— Você sabe, Miguel... Às vezes a gente quer se encontrar quando os monitores não estão mais acordados. E as meninas de pijama... entendeu?

— Acho que não muito. Por que você tá rindo?

— Eu tinha esquecido de como você é fora desse mundo. 

— Fora do mundo do jeito bom ou do jeito ruim?

— Do jeito bom, acho. Eu nunca fico pra baixo quando tôcom você. É legal. Mas fica tranquilo, não vou mudar de quarto. O Tiago nem quis trocar comigo de qualquer jeito.

— O Tiago ia ser meu colega de quarto? Credo, Leandro! Ei, para de rir!

— Você tá rindo também! E ele nem merece um colega de quarto tão comédia como você. Acho que vamos ficar juntos nessa até os nossos últimos acampamentos de verão.

— Pode ser. Ou vai ver minha mãe finalmente me deixa em paz e eu consigo passar minhas férias com o meu clube de xadrez.

— Clube de xadrez? Cara, você não pode só sair por aí falando sobre clube de xadrez. Tem que fingir que veio pro acampamento só pra jogar uma pelada com os caras.

— É o que você faz?

— Óbvio. Eu queria estar em casa estudando os fungos do meu quintal. 

— Cara, você não pode só sair por aí falando sobre fungos do seu quintal.

— Minha barriga tá doendo, para.

— Você que fica rindo igual um idiota.

— Idiota, é? Vou contar pra todo mundo que você tem uma coleção de meias de dinossauro.

— Ei! Elas são muito incríveis.

— São mesmo.

— Hum.

— É.

— Leandro?

— Oi, Miguel.

— Você por acaso quer jogar buraco?