Viver na favela não é fácil.

Você sobe e desce o morro, todos os dias, e nada muda. As crianças fumando pedra na esquina e os burgueses falando de juventude marginal. Na favela qualquer um tem tendência a se tornar marginal. Principalmente se for preto. Já nos traçam esse destino desde os nossos primeiros passos. Quando, no colégio, a professora privilegia a inteligência estruturada de quem tem mãe e pai em casa com algum tempo disponível para ajudar o filho na lição de casa. Quando entramos no mercado, maltrapilhos, e somos seguidos por seguranças troncudos – que as vezes nos colocam para fora a pontapés. Quanto o teu pai é assassinado na sua frente por conta de uma maldita divida feita com traficantes do morro, em nome da sobrevivência ou quando a sua mãe trabalha como empregada doméstica dia e noite, leva cuspe na cara, é humilhada e morre de desgosto.

Somos, no final, filhos renegados da pátria. Influenciados por armas – da polícia (que só está lá para nos prender) ou do ladrão (a proteção da favela).

Viver na favela está longe de ser fácil. Principalmente quando você precisa ser o homem da casa e cuidar de duas irmãs, torcendo para que nenhuma delas tenha o destino trágico que o mundo traçou para a gente.

Isaac Carter.