Os Cuecas e as Chiquititas escrita por SnowShy


Capítulo 72
Razão e sentimento


Notas iniciais do capítulo

Oiê! Espero que gostem do capítulo!



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Davi estava devastado. Ele tinha tomado tanto cuidado para não ter problemas com o pai biológico dos meninos! Pelo jeito como Henrique falava, parecia que Davi era tão mau pra eles quanto o Ian... 

Assim como em todas as outras vezes que teve que conversar com os filhos adotivos sobre assuntos relacionados ao pai biológico deles, Davi teve muita dificuldade pra falar. E, como sempre, Clarinha o ajudou. Na verdade, novamente, foi ela quem contou aos meninos o que estava acontecendo. Eles estavam felizes porque tinham acabado de sair do show, que tinha sido ótimo apesar da ausência da baterista das Chiquititas, mas logo que souberam da notícia da briga pela custódia, deixaram de pensar no show. Samuca viu que sua previsão sobre as intenções do pai biológico estava certa. E Téo percebeu que seus pesadelos e seu medo de que se separassem de Davi não eram à toa.

Clarinha estava muito preocupada com toda a situação e ia fazer o que pudesse para ajudar. Estava tentando ser otimista como sempre, mas, desta vez, estava bem difícil convencer Davi de que tudo ia dar certo no final, pois ele estava mais pessimista do que nunca. Mas Clarinha sabia que, se encontrassem o advogado certo, não tinha como Davi perder a guarda dos meninos, então foi logo atrás de saber se alguém conhecia um. Por sorte, quando falou com Suzana, ela disse que tinha um conhecido que era um ótimo advogado e, ainda por cima, não cobrava muito caro. 

— E esse advogado é amigo do namorado imaginário dela? Ou será que eles são a mesma pessoa? — Perguntou Davi, de maneira bastante sarcástica, quando Clarinha o contou.

Não tinha jeito, Davi ainda não confiava em Suzana, não importava quanto tempo passasse. Clarinha ficou com raiva, pois estava tentando ajudar e ele reagia desse jeito. Como sempre, ela começou a defender a Suzana, dizendo que ela não mentia sobre o namorado, eles só não o conheciam porque ele morava longe. 

— Eu acho que você devia parar de ser tão desconfiado e dar uma chance às pessoas, principalmente quando elas tentam ajudar.

— Desculpa, mas não é em todo mundo que dá pra confiar. Esse Henrique aí, por exemplo, ele tá fazendo de tudo pra me prejudicar! Eu sei que ele é pai dos meninos, tem os motivos dele e tudo mais, mas essa sua ideia de que todo mundo pode se dar bem, de que ninguém deseja mal pra ninguém e que todos os desentendimentos podem ser resolvidos simplesmente com uma conversa é muito ingênua! 

Clarinha resolveu não insistir mais. É muito difícil ajudar alguém que não quer ser ajudado. No dia seguinte, na escola, ela tentou disfarçar o quanto estava triste, não queria que seus alunos percebessem. Então deu suas aulas aparentando a mesma boa vontade de sempre e até conseguiu esquecer um pouco dos problemas com as palhaçadas dos alunos engraçadinhos que, graças a Deus, justo naquele dia, resolveram prestar atenção nas aulas e fizeram piadinhas bem contextualizadas.

Mas, na sala dos professores, ela não conseguiu esconder a tristeza. Suzana percebeu assim que apareceu lá. Clarinha não estava muito a fim de falar, mas teria que falar de qualquer jeito, já que Susana queria saber se Davi concordou em contratar o advogado. Por mais que fossem amigas e que Clarinha sempre a defendesse, de vez em quando, ela se perguntava se devia mesmo ficar falando sobre Davi com Suzana, se perguntava se devia acreditar no noivo e se afastar dela. Porém, no momento, estava com raiva dele. E precisava desabafar com alguém, então foi o que fez.

Suzana ouviu atentamente cada palavra de Clarinha e disse que sentia muito por tudo o que estava acontecendo. Ela falou que estava sendo difícil manter um relacionamento à distância, mas pelo menos não tinha nenhum problema assim...

— Eu fico feliz por você ter encontrado alguém! — Disse Clarinha. Em seguida, suspirou e disse: — Sabe? Eu sei que isso não é nada perto de tudo que o Davi tá passando com os filhos, mas... hoje é o nosso aniversário de namoro. E eu tenho certeza que ele esqueceu...

— Não acredito! Por que você não lembra a ele? Manda uma mensagem, sei lá...

— Não, eu não quero incomodar... E, do jeito que ele é, vai acabar se sentindo mal por não ter planejado nada pra hoje, então... eu prefiro só deixar ele se acalmar e esperar que ele volte a falar comigo quando tiver vontade.

***

Os Cuecas precisavam de um plano pra que Davi continuasse com sua guarda e, obviamente, as Chiquititas iam ajudar. Joaquim pensou em marcar uma reunião na casinha da árvore, mas esse lugar era meio arriscado no momento. Se houvesse outro acidente, Davi teria ainda menos chances de ficar com eles. Então a reunião foi na sala 801 da escola, mesmo, que era a sala onde eles estudavam. Vocês acham que é coincidência os 6 sempre ficarem na mesma turma? Bom, 2 anos atrás, quando as Chiquititas chegaram na escola, foi, mas, nos anos seguintes, se qualquer um deles ficasse numa turma diferente, eles iam no primeiro dia de aula lá na coordenação implorar pra ficarem todos juntos. Mas, voltando, a reunião foi na hora do recreio, enquanto não tinha mais ninguém na sala.

— Aff, eu acho ridículo a gente não poder fazer isso na casinha da árvore só porque eu caí! — Disse Eleanora. — Tipo, eu nem sou filha do Davi, eu não tenho nada a ver com a história, e, mesmo se tivesse, o pai de vocês não sabe que é normal crianças se machucarem, não? Quando a gente morava com os nossos pais, eu vivia quebrando um monte partes do meu corpo lá no condomínio onde a gente morava e nem por isso os nossos pais eram considerados ruins ou o condomínio "perigoso pra crianças"...

— Boa! — Disse Joaquim. — Você pode usar isso como argumento no tribunal. 

— A gente vai falar no tribunal? — Perguntou Janete.

— Claro que vão! Vocês são testemunhas.

— É, e se o acidente da Lelê é um dos motivos pro nosso outro pai achar que o Davi não pode ficar com a gente, aí é que ela tem que falar mesmo! — Disse Téo. 

As meninas ficaram felizes em ajudar. Só Samuca não estava muito feliz, estava preocupado enquanto os outros estavam mais otimistas. Sandy sugeriu que elas contassem sobre como o Davi ajudou a ela e às irmãs na época em que estavam sem a tia. Então as outras crianças começaram a dar várias sugestões sobre o que podiam dizer no tribunal, e Joaquim anotava tudo em seu caderno. Só Samuca não deu nenhuma ideia e também não falou muito, só dizia "pode ser" pra algumas das sugestões de vez em quando. Mas os outros estavam tão empolgados, que nem perceberam a atitude estranha dele. Exceto Janete. Mas, logo quando ela ia perguntar o que havia com ele, o sinal tocou e todos foram pras suas respectivas carteiras. E, como Samuca e Janete prestavam muita atenção em todas as aulas, trocar bilhetinhos estava fora de cogitação, então ela foi conversar com ele depois da aula.

Enquanto não chegasse o dia do julgamento, os meninos não iam participar de nenhuma atividade da banda para não haver mais nenhum problema, então também não ia dar pra falar com ele na gravadora, teria que ser naquele momento, enquanto Davi não chegava para buscar os meninos.

— Você tá preocupado com essa coisa do tribunal, né? — Ela perguntou quando ficaram a sós.

— Eu não sei se isso vai dar certo... se a gente vai continuar com o Davi...

— Eu acho que vai dar tudo certo, sim. Primeiro, porque vocês já foram adotados, segundo, porque a vontade de vocês tem que contar em alguma coisa, além disso...

— Acontece que eu não sei se é isso que eu quero.

— Como assim?

— Parece que o Joaquim e o Téo esqueceram que o Henrique é o nosso pai de verdade, eu acho que o certo é a gente ficar com ele, né?

Janete ficou um pouco chocada com o que ouviu. Ela não imaginava que Samuca pensasse assim, afinal, ela mesma havia tentado forçar a aproximação dos meninos com o pai biológico e nenhum deles tinha gostado... Além disso, desde que o homem apareceu, Samuca sempre tinha sido o mais desconfiado e o que menos queria se aproximar.

— Então você prefere ficar com o Henrique do que com o Davi?

— Não é que eu prefira, mas... eu acho que faz mais sentido.

— Só porque vocês têm o mesmo DNA?

— Sim, isso não é motivo o suficiente?

— É, eu acho que vocês deviam se aproximar dele, mas... pelo que os seus irmãos falaram e pelo que a gente percebeu também, parece que o ele quer é que vocês fiquem longe do Davi e isso não tá certo, ele não merece isso!

— Mas o Davi nem é nosso pai de verdade...

— Nossa! — Disse Janete, horrorizada. — Isso foi...

— Foi o quê? Continua! — Ele disse, após Janete ficar calada.

Ela não sabia se devia falar, mas arriscou:

— Você não acha que tá sendo meio... insensível?

— Você pode pensar o que quiser de mim — ele respondeu, irritado —, mas, diferente dos meus irmãos, eu tô sendo realista e acho que eles deviam ser mais racionais ao invés de...

— Ao invés de terem coração? Samuca, isso é sobre a família de vocês, eu acho que, nesse caso, o sentimento tem que vir em primeiro lugar...

Samuca estava ficando impaciente. Estava começando a se arrepender de contado como se sentia. Ele não tinha tido coragem de falar nem com os irmãos sobre esse assunto, mas tinha confiado em Janete, pois achou que ela podia entendê-lo, já que era sua melhor amiga e era sempre tão compreensiva, mas parecia que, desta vez, estava errado. 

— E eu acho que você não nada a ver com isso e não tem o direito de ficar ditando o que eu tenho pensar ou sentir! — Disse Samuca, por fim. — E, quer saber? Tanto faz, o Joaquim e o Téo nem sabem que é isso que eu penso e, mesmo se soubessem, eu ia ser voto vencido, então não faz diferença... 

Ele nem esperou ela responder mais alguma coisa e saiu andando com raiva. Janete fez a mesma coisa, mas na direção oposta.

***

Clipe musical: "Não Faz Mal" por Janete.

***

— Acho que eu briguei com o Samuca... — Disse Janete quando estava no quarto com as irmãs.

— Como assim você "acha"? — Perguntou Eleanora. — Ou você brigou ou não, ué...

— É que eu não tenho certeza, eu nunca briguei com ele antes... Mas a gente conversou, quer dizer, discutiu, e ele saiu com raiva e eu também, então eu acho que foi uma briga...

Sandy não pôde deixar de rir ao ouvir isso. Janete era tão da paz, que não conseguia nem identificar uma briga.

— Deixa eu ver — disse a mais velha. — Você tem vontade de olhar pra cara dele agora?

— De jeito nenhum!

— É, então foi uma briga.

— Nossa! — Exclamou Eleanora. — O que aconteceu?

Janete contou e as irmãs ficaram bem surpresas, mas não tão chocadas quanto ela. Sandy e Eleanora entendiam que, acima de tudo, essa história do pai deixava os meninos muito confusos e Eleanora, particularmente, já tinha conversado tanto com Téo sobre isso, que não se surpreenderia se ele mesmo acabasse mudando de ideia, pois o menino já tinha dito a ela que se sentia muito mal por tudo o que havia acontecido com o pai biológico. 

Mas ele e Joaquim não estavam mesmo dispostos a abandonar Davi e sabiam que essa coisa de envolver advogados podia dificultar tudo ainda mais. Enfim, era complicado demais!

Um tempo depois, Flora chegou, parecendo bem contente. As meninas ficaram curiosas pela expressão da tia, então ela contou que havia acontecido uma coisa ótima no trabalho.

— Você conseguiu resolver aqueles problemas? — Perguntou Eleanora com muita expectativa enquanto Sandy e Janete estavam boiando.

Flora, então, contextualizou para as mais velhas que tinha um cara sendo chato com ela no trabalho, mas que agora ele havia sido despedido. O plano de denunciá-lo ao dono da empresa tinha dado certo. Mesmo sem saber qual tinha sido a treta, as meninas ficaram muito felizes pela tia. Pelo menos uma coisa boa havia acontecido naquele dia...


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Notas finais do capítulo

Por incrível que pareça, o Joaquim e a Sandy tão sendo a duplinha mais tranquila nesses últimos capítulos kkkk
Acho que é pq essa situação toda tá deixando muitos personagens normalmente calmos meio alterados, enquanto o Joaquim e a Sandy meio que já tão acostumados com o caos...
Espero que tenham gostado! As minhas aulas já voltaram, mas eu ainda tenho uns capítulos escritos, então vou continuar postando enquanto eu puder :)



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