Os Cuecas e as Chiquititas escrita por SnowShy


Capítulo 71
Consequências de uma queda


Notas iniciais do capítulo

Oiê! Espero que gostem do capítulo! Eu me diverti muito com algumas cenas kkk



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Davi, Joaquim, Sandy, Samuca e Janete ouviram um barulhão (da queda de Eleanora) e, em seguida, os gritos de Téo, então logo foram pra perto da casinha da árvore. O homem alertou pra ninguém encostar nela pro caso de ter lesionado alguma coisa e chamou um médico. Ela acordou e, ao ser examinada, falou onde sentia dor e foi levada para o hospital por Davi. Téo e as irmãs dela, que também estavam bem preocupadas, foram junto, enquanto Joaquim e Samuca ligaram pra avisar a tia Flora, que, quando soube, também foi direto pro hospital. 

Eleanora saiu de lá com uma bota ortopédica na perna e andando de muletas. Depois que voltou pra casa, a menina já tinha se recuperado do susto, mas estava triste e com raiva. Só conseguia pensar em todas as coisas que teria que deixar de fazer nos próximos dias. Primeiro, não ia dar pra tocar bateria, o que ia atrapalhar ainda mais a banda.

— Nada disso, você vai tocar, sim! — Disse Sandy, sempre preocupada com a carreira. — Os seus braços não tão quebrados.

— Nossa, Sandy, você não entende nada mesmo de instrumentos musicais, né? Não é à toa que tá demorando tanto pra aprender a tocar violão! Bateria não é tambor, eu preciso do pé direito pra tocar o bumbo, sua anta! 

—O que é isso, Eleanora?! — Exclamou Flora, chocada com o jeito como a sobrinha estava falando. Ela era acostumada a ouvir Sandy falando assim, mas Eleanora, não...

— EU TÔ COM RAIVA! — Respondeu a mais nova.

— É, eu tô vendo! Mas a sua irmã nem ninguém tem culpa por você ter caído, a única culpada é você, que não tomou cuidado.

— Eu sei, desculpa, Sandy! — Ela disse, e começou a choramingar. — Mas é tão injusto! Eu não posso mais jogar bola, não posso correr, não posso fazer nada direito, nem tomar banho! E, sinceramente, eu não sei se vai dar pra eu me apresentar desse jeito, mesmo que o Téo toque bateria no meu lugar em todas as músicas, vai ser muito ruim subir num palco assim!

— Eu acho que você não devia pensar nos shows agora... — Disse Janete, temendo que Sandy viesse com outra ordem para que a irmã se apresentasse.

— A sua irmã tem razão. — Disse Flora. — É melhor você ir descansar, depois a gente vê esse negócio dos shows.

Eleanora concordou e tentou se acalmar. No fundo, ela se sentia culpada por estar atrapalhando a banda, não devia ter se arriscado na casinha da árvore. Porém, ela não era a única que se sentia culpada. Téo achava que a culpa era dele, que poderia tê-la impedido de cair se corresse mais rápido e não fosse tão medroso. Aliás, se não fosse tão sedentário, Eleanora não ia ter tido a ideia de se pendurar na árvore pra incentivá-lo a fazer exercícios...

Porém, quem mais se sentia culpado era Davi, que era o responsável pelas crianças naquele momento e devia ter ficado de olho, ainda mais por saber o quanto elas eram levadas, principalmente Joaquim, Eleanora e Samuca quando fazia algum experimento científico com risco de explosão. Mas Davi estava ocupado com o trabalho na hora e acabou permitindo que um acidente grave acontecesse...

De fato, Eleanora não poderia participar do show, mas, tirando Sandy, ninguém se incomodou com isso, todos só queriam que ela ficasse bem. Mas depois a Chiquitita mais velha acabou se conformando. O show não foi cancelado e, enquanto Lelê estava machucada, recebeu várias visitas de Davi, dos meninos e de Clarinha e foi muito mimada por todos eles, por suas irmãs e por tia Flora. Por um lado, ela estava gostando de ver o quanto todos se importavam por ela, mas, por outro, não gostava de ser vista como uma coitadinha. Ela só tinha quebrado o pé, não estava no leito de morte!

Quem mais exagerava com os cuidados era Téo. Ele não queria deixar nem ela tomar água sozinha! Ele não só buscava a água pra ela como queria ficar segurando o copo enquanto ela tomava. Na escola, ficava andando com ela pra cima e pra baixo, só faltava fazer ela soltar as muletas e ficar carregando ela. Na verdade, era o que ele queria fazer, mas ela não deixou. Além disso, ele ficava o tempo todo se desculpando pelo que aconteceu. Eleanora estava ficando irritada. Então, em uma das muitas vezes em que ele recusou sair com os irmãos e o pai biológico pra ir pra casa das Chiquititas cuidar dela, a menina não aguentou e explodiu:

— AI, JÁ CHEGA! PARA DE SE DESCULPAR E FICAR ME SEGUINDO TODA HORA, GAROTO! 

— Mas...

— Olha só, eu já tô bem acostumada com as muletas e consigo me virar sozinha! Sem falar que a culpa deu ter caído não foi sua! Eu tava entendiada e ia subir naquele muro de qualquer jeito, isso não é sobre você!

Eleanora se sentiu mal pelo jeito como falou assim que viu a expressão triste de Téo. Ela sabia como ele era sensível e não queria magoá-lo, mas é que... aquilo não tava dando mais!

— Desculpa... — ele disse. — Eu vou embora então...

— Não... não precisa ir. — Ela suspirou. — Você pode ficar comigo, só... não precisa me tratar que nem uma inválida. Ao invés disso, a gente podia brincar de alguma coisa ou conversar, como a gente sempre faz... E desculpa por ter sido grossa com você!

Ele sorriu e disse:

— Tudo bem.

— Ah, e mais uma coisa! Já que você tá se sentindo tão culpado... eu quero que você prometa que vai fazer exercícios físicos de agora em diante!

— Tá bom. Eu prometo! Ah, e eu também tô pensando em fazer uma horta no nosso quintal.

— Sério? Que legal!

— É, eu só não falei com o Davi ainda e não sei quando a gente vai ter tempo, mas...

— Ah, eu aposto que ele vai deixar! E eu vou querer ajudar, hein?

E assim as coisas voltaram ao normal entre eles.

***

Clipe musical: "Fica Pertinho de Mim" por Eleanora. 

***

Às vezes Eleanora ia pra gravadora, mas só pra assistir aos ensaios, já que não podia tocar. Porém, quando Flora podia ficar com ela, as duas ficavam em casa. A certa altura, já estavam todos cientes de que a menina não queria ser paparicada, então a tia também não estava mais fazendo tudo pra ela, a não ser que ela pedisse. Ficava com ela mais pra fazer companhia mesmo enquanto as outras Chiquititas ensaiavam.

Em um desses dias, Eleanora começou a conversar com ela e percebeu que a tia estava particularmente feliz por ter conseguido tirar uma folga do trabalho. Ou melhor, não era exatamente feliz que ela parecia, era mais... aliviada. Tudo bem, isso é super normal, todo mundo que trabalha adora uma folga, mas Eleanora resolveu perguntar:

— Você não gosta do seu trabalho, tia?

Flora suspirou e disse:

— Não é que eu não goste... quer dizer, nunca foi o meu sonho de infância ser faxineira, mas eu fiquei feliz em conseguir esse trabalho, só que... as coisas andam meio complicadas lá...

— Por quê?

— Ah... problema de adulto...

— E esse problema é muito sério?

Sim, era bem sério. Flora não respondeu, mas deu pra perceber por sua expressão. 

— Tia, se você não tá feliz, devia sair de lá.

— Eu não posso! É difícil conseguir emprego e se eu ficar sem trabalhar, posso perder a guarda de vocês.

— Poxa... Por que você não me conta o que tá acontecendo? Eu posso ser criança, mas entendo das coisas.

Flora riu e disse:

— Olha, eu gosto da empresa, de verdade. Eu sempre gostei de moda, tanto que eu era gerente numa loja de roupas antes, lembra?

Eleanora ficou surpresa. Sim, ela lembrava dessa outra loja, mas ficou surpresa em saber que a tia gostava de moda. A menina não sabia julgar essas coisas, mas Sandy sempre dizia que a tia se vestia mal (não na frente dela, óbvio), então a mais nova não imaginava esse interesse de Flora... Se bem que Sandy julgava as roupas de todo mundo, né? Achava que todo mundo, exceto ela própria, tinha mal gosto... Mas enfim, Lelê ficou feliz em saber que a tia gostava de alguma coisa no trabalho, porque trabalhar com algo que não gosta deve ser insuportável. 

— E algumas pessoas lá da empresa são maravilhosas — Flora continuou —, mas tem outras que são...

— Tóxicas?

— Exatamente...

— E essas pessoas tão fazendo você sofrer?

— É... tão me obrigando a fazer uma coisa que eu realmente não quero fazer...

— Ai, tia, que horror! Você não devia ser obrigada a fazer o que não quer.

Seria ótimo se ela tivesse essa opção, mas a pessoa que a estava obrigando a fazer algo que não queria era, ninguém mais ninguém menos, do que o chefe da empresa, e ameaçou demiti-la se ela não o obedecesse. O que acontecia era que Flora estava sendo subornada para espionar um outro funcionário. E ela se sentia péssima com isso! O que será que as meninas pensariam dela se soubessem disso?...

— Eu acho errado você se conformar com as coisas desse jeito — a menina continuou. — Você devia tentar enfrentar essas pessoas de algum jeito...

Mesmo sem saber do que se tratava o problema de Flora, o conselho de Eleanora era bem pertinente. A tia só não sabia se tinha coragem o suficiente para segui-lo... Mas decidiu que ia tentar. Ela precisava cuidar de suas sobrinhas, mas também podia aprender muito com elas. Elas eram muito corajosas e ela também devia começar a ser assim.

No dia seguinte, no trabalho, acabou contando a Fred, o funcionário que ela estava espionando, o que estava acontecendo. E pediu desculpas, pois já havia mostrado alguns desenhos dele a Tomas, o chefe, sem ele saber. Fred ficou chocado com a atitude de Flora, mas a perdoou. Então, juntos, eles pensaram num plano: iam contar ao dono da empresa que Tomas estava subornando Flora e, para não o acusarem sem provas, esconderiam uma câmera na sala dele para gravar uma conversa do chefe com a faxineira.

***

Chegou o dia do show dos Cuecas e das Chiquititas e Eleanora ainda não podia tocar, mas Téo concordou em acompanhar as músicas das Chiquititas na bateria, então tudo daria certo, Sandy e Janete ainda podiam participar do show. Além disso, as cinco crianças também cantariam algumas músicas juntas. Enquanto isso, Lelê ficaria na plateia com Flora e Clarinha. 

Todos os ingressos haviam sido vendidos, então as crianças estavam animadas, com exceção de Téo. Lá nos bastidores, ele estava nervoso para o show. Era estranho, ele nunca ficava nervoso assim, quer dizer, só no começo, nos primeiros shows da banda dos Cuecas, não agora que já estava tão acostumado. Percebendo esse nervosismo, Davi foi falar com ele. Faltava pouco para começar o show, mas não importava, ele não ia ficar apressando o garoto quando via que ele claramente não estava bem. Nem que tivesse que atrasar o show pra isso ou que os outros tivessem que cantar sem bateria.

— Tá tudo bem? — Davi perguntou, enquanto se sentava ao lado de Téo no banco em que este estava.

— Ahn-ham. Eu tô bem, eu vou pro palco daqui a pouco...

— Eu te conheço, Téo! O que foi que aconteceu?

— Eu não sei... acho que eu tô com medo de alguma coisa dar errado... não sei por quê...

Téo continuava tendo pesadelos e havia tido alguns na noite anterior ao show. Tinha tido pesadelos com o show, com as pessoas rindo dele (por causa dos comentários da Internet) e, como não podia faltar, com Ian. O menino tentava se convencer de que sonhos eram só sonhos, mas não era normal ter tantos pesadelos assim! Ele estava com um mal pressentimento.

Davi o abraçou, dizendo que ele não precisava se preocupar porque daria tudo certo, e, depois de um tempo, Joaquim, Samuca, Sandy e Janete, que estavam procurando pelo mais novo, apareceram, dizendo que daqui a pouco apresentariam a primeira música, que seria com todos juntos. Apesar de ter sido consolado por Davi, ainda dava pra ver que Téo estava um pouco nervoso, o que deixou os outros preocupados. Todos, com exceção de Sandy, ficaram perguntando se ele estava bem pra se apresentar, até que a menina mais velha falou:

— Ele vai se apresentar.

— Sandy! — Janete a repreendeu. — A gente não pode forçar ele! Você queria fazer a mesma coisa com a Eleanora...

— Acontece que não é a mesma coisa, Janete! — Voltando-se para Téo, ela continuou. — Eu sei porque você tá assim. Tá preocupado por causa dos haters, da nossa reputação, da gravadora... mas eu acho que principalmente com os haters. Eu sei porque uns meses atrás eu tava exatamente assim e vocês me fizeram entender que eu não tinha que dar bola pra essas pessoas. Mas é aquilo, né? "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço", porque todos vocês ficaram mal quando foi com vocês. Acontece que todos os ingressos foram vendidos e tem um monte de gente aqui doida pra ver a gente no palco e, sinceramente, eu acho que não tem como as coisas darem errado hoje, não se a gente não quiser!

Todos ficaram impressionados com o discurso de Sandy. Acharam que ela só tava sendo workaholic como sempre, mas não, apesar de seu jeito de mandona, ela estava se importando com Téo, assim como os outros. Joaquim até aplaudiu e foi acompanhado pelos outros, enquanto a menina ficou rindo. E esse momento serviu muito, porque Téo ficou realmente animado, assim como os outros estavam. Seu nervosismo foi todo embora e ele foi ao palco com todo mundo. Davi só conseguia pensar em como essas crianças eram imprevisíveis. E estava bem feliz por elas estarem felizes, pois isso era o que mais importava pra ele.

O show acabou sendo um sucesso apesar de os fãs sentirem falta de Eleanora no palco. Porém, não estranharam que as outras Chiquititas estivessem cantando com os Cuecas, afinal, as bandas eram duas, mas pareciam uma só. Elas, inclusive, nem faziam shows separadamente...

Eleanora ficou feliz por tudo estar dando certo, mas com certeza preferia estar lá no palco com eles. Mas enquanto estava na plateia, avistou Henrique, o pai biológico dos meninos. Ele estava tentando se aproximar dos meninos mas não fazia a menor questão de se aproximar das pessoas que eram próximas a ele e a menina sabia disso, então nem pensou em falar com ele, só comentou com Clarinha e tia Flora que ele estava lá. Porém, quando elas o viram, ele começou a se aproximar, cumprimentou as 3 e perguntou como Eleanora estava, já que sabia que Téo tinha deixado de ir vê-lo porque ela tinha se machucado. Até Clarinha, que sempre vê o bem em todo mundo, achou estranho ele se importar, mas pensou que ele só estava sendo educado, que foi a mesma coisa que Flora e Eleanora pensaram.

Porém, depois que o show acabou e ele deu um abraço nos filhos, foi falar com Davi. E não tinha uma cara muito boa. Começou a reclamar sobre não estar mais passando tanto tempo com os meninos, sobre essa vida que eles levavam não ser apropriada e sobre Davi não cuidar bem deles. Quando Henrique soube o que aconteceu com Eleanora teve ainda mais certeza disso, a casa dele era perigosa para crianças e ele nem se dava o trabalho de prestar atenção nelas. 

Antes que Davi pudesse responder, o pai biológico dos meninos terminou seu discurso dizendo que havia conseguido um advogado e estava decidido a tentar conseguir a guarda deles no tribunal. Davi ficou atônito. Tanto que não conseguiu dizer nada. Depois que Henrique foi embora, Clarinha apareceu, perguntando o que havia acontecido. 

— Preciso de um advogado... — Davi respondeu quando finalmente conseguiu falar. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! :)
Gente, vcs viram que a Bia Jordão (a Eleanora) lançou um álbum??? Tá muito fofo, eu amei as músicas! ♥ Inclusive tem uma que combinaria muito com esse capítulo aqui, eu só não coloquei pq ela ainda não existia na época em que a história se passa kkk



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