Os Cuecas e as Chiquititas escrita por SnowShy


Capítulo 68
Um novo pai


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Hoje vai ter uma coisa diferente no clipe: a música, pra quem não conhece é da primeira versão de Chiquititas e eu imaginei o clipe com os meninos pequenininhos na época em que eles moravam no orfanato, então vai ser tipo um flashback haha
Espero que gostem do capítulo! :)



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Todos os testes deram positivo. Joaquim, Samuca e Téo eram os filhos biológicos do homem que sobreviveu ao acidente de avião e passou anos numa prisão clandestina. Henrique não se conteve e começou a chorar. Não esperava que o resultado fosse outro, mas não deixou de ficar emocionado e abraçou cada um dos meninos, que também estavam bastante emocionados. A possibilidade de seu pai biológico estar vivo era uma coisa, mas a confirmação disso... E pensar que eles passaram anos pensando que não tinham nenhum parente vivo! 

Porém... não podiam deixar de pensar em Davi, que era seu pai há menos de dois anos, mas, ainda assim, era o único que eles viam como pai. E eles não puderam deixar de notar como ele parecia arrasado, apesar de tentar muito disfarçar. Clarinha e as Chiquititas, que sabiam de todas as apreensões de Davi e dos meninos, não sabiam se ficavam emocionadas ou preocupadas com o destino deles com cada um dos pais. Obviamente, Henrique iria querer fazer parte de sua vida. Não foi sua escolha ficar longe dos meninos, além disso, ele era um homem muito solitário, Joaquim, Samuca e Téo eram as únicas pessoas que ele tinha nesse mundo.

Ele já tinha dito a Davi que queria a guarda dos meninos, mas não era simples assim. Estes estavam legalmente adotados, Henrique não podia tirá-los dele, porém, Davi sabia que, se cometesse qualquer deslize, podia perder os meninos para sempre, então achou que o mais sensato a fazer era deixar o pai biológico se aproximar deles, deixaria ele fazer parte da vida dos meninos. Foi o que Clarinha o aconselhou e parecia um bom plano. 

Porém Davi não deixava de pensar que, talvez devido à ligação de sangue, os meninos acabassem se apegando mais ao pai biológico e quisessem morar com ele, que, a propósito, já tinha conseguido se estabilizar na cidade, morava num apartamento e tinha um emprego. Isso porque ele já tinha voltado há um ano para São Paulo, passara muito tempo tentando encontrar os filhos e, consequentemente, teve que achar um jeito de seguir sua vida enquanto não os encontrava.

Mas enfim, tinha outro problema em relação à aproximação de Henrique. Apesar de serem crianças, os meninos eram muito ocupados, tinham a escola e a banda, então era difícil terem um tempo livre para passar com ele. Na semana seguinte, por exemplo, eles já não iam poder, e nem no próximo fim de semana, pois iriam ao Vilarejo dos Sonhos para o aniversário de Janete, que seria lá. Isso não era bom... Davi percebeu que Henrique não estava gostando, então decidiu liberar os meninos dos ensaios da banda na semana seguinte para eles poderem sair com o pai biológico e foi o que aconteceu. 

Henrique apareceu na escola deles um dia depois da aula, no lugar de Davi, e os levou a um parque. Ouviram várias histórias dele, Téo ficava perguntando sobre a mãe deles e a época em que eram bebês e Joaquim, sobre a prisão na Amazônia. Samuca, apesar de ser um menino bastante curioso, porém, não fazia nenhuma pergunta. Ele não se conectava facilmente com as pessoas por ser muito introvertido, mas seus irmãos acharam estranha a atitude dele.

Em casa, os três conversaram a respeito dos acontecimentos recentes e Samuca estava calado. Téo confessou que tinha gostado de Henrique, mas que estava se sentindo um pouco mal por não conseguir vê-lo como um pai.

— É, eu também não consigo. — Concordou Joaquim. — Mas eu acho que não tem problema, o nosso pai vai continuar sendo o Davi, e o Henrique pode ser um amigo adulto, tipo o Arthur. 

— Mas o Henrique é o nosso pai de verdade, isso é um fato. — Samuca, por fim, falou.

Agora é que Téo e Joaquim não estavam entendendo nada mesmo! Achavam que Samuca estava pouco à vontade com a aproximação de Henrique e agora ele soltava essa... Acontece que Samuca estava muito confuso com essa situação, já que passou a vida toda acreditando numa coisa, que não tinha pai, e agora tinha descoberto que estava errado esse tempo todo. Porém, independente disso, ele tinha que aceitar os fatos: Henrique era seu pai. E não fazia sentido ele e os irmãos continuarem adotados depois disso... Se Henrique fosse mesmo um parente distante, como ele tinha pensado anteriormente, seria uma coisa, mas... agora que sabia que ele era seu pai, será que o mais correto não seria ficar com ele mesmo que, em seu coração e no dos irmãos, Davi fosse seu pai? Era o que fazia mais sentido...

***

Clipe musical: "Papai" por Joaquim, Samuca e Téo (na época do orfanato).

***

Janete estava se sentindo um pouco culpada por ser um dos motivos pros meninos não poderem passar mais tempo com o pai biológico, então teve uma ideia: convidá-lo para o seu aniversário no Vilarejo. É claro que não faria isso sem antes consultar os meninos, mas estes não souberam o que dizer. Eles achavam que, se o aniversário era dela, ela podia convidar quem quisesse, mas nenhum deles estava realmente querendo que ela fizesse isso, pois pensavam em como Davi se sentiria, já que era a família dele que morava no Vilarejo dos Sonhos. Sendo assim, Téo teve uma ideia melhor: ela devia pedir a Davi, não a eles. E foi o que ela fez em seguida.

Porém Davi também não sabia o que dizer. Na verdade, ele sabia ainda menos do que os meninos. Mas estava tão preocupado em ter que brigar pela guarda deles na justiça se não os deixassem passar tempo com o pai, que acabou concordando. E se arrependeu assim que lembrou que ainda não tinha contado aos próprios pais que o pai biológico dos meninos tinha aparecido. Ele tinha esquecido completamente desse detalhe! Clarinha sugeriu que era melhor que ele contasse logo, ou senão ele teria que explicar tudo na hora que Henrique chegasse na festa.

Agora haviam várias pessoas apreensivas em relação ao aniversário de Janete. Inclusive, depois de um tempo, ela mesma começou a achar que não foi uma boa ideia convidar Henrique. Parando pra pensar, percebeu que os meninos não queriam isso e que o fato deles não terem concordado prontamente com a ideia já devia ser motivo suficiente para voltar atrás, mas, infelizmente já era tarde demais, ela já tinha mandado o convite pra ele...

Ou talvez não fosse assim tão tarde. Enquanto arrumavam as malas pra viagem, o telefone do apartamento tocou e Flora atendeu. Era Henrique querendo falar sobre o convite pro aniversário. Flora não sabia de nada, então ficou muito surpresa. Às vezes as Chiquititas ainda esqueciam de pedir permissão pra tia antes de tomar algumas decisões... Ela perguntou a Janete o que estava acontecendo e, depois da menina explicar e assumir o telefone, Flora ficou pensando em como essa ideia dela tinha sido impensada e maluca e no que diria para a sobrinha depois que ela desligasse o telefone.

Felizmente para a maioria das pessoas, Henrique disse que não iria ao aniversário, que entendia que a família de Davi ia estar lá e que tudo já tinha sido marcado antes e não queria incomodar. Ainda assim, agradeceu pelo convite e disse que teria outras oportunidades para ficar com seus filhos. Flora ficou bem aliviada com o desfecho da ligação, assim como Janete. E então perguntou o porquê da menina ter convidado ele. Quando ela explicou que se sentia culpada e só estava tentando ajudar, a tia disse:

— Janete, esse assunto não tem a ver com você, é entre os meninos e os pais deles. Eles tão resolvendo entre eles o tanto de tempo que os três vão passar com o pai biológico e vai dar tudo certo, você não tem que se meter nisso!

— Eu sei, mas é que... eu queria ajudar de algum jeito, eles já nos ajudaram tanto!

— Entendi. — Flora suspirou. — Eu sei que os meninos fizeram muita coisa por vocês enquanto eu tava... fora... Acontece que, diferente do caso de vocês, eles têm um adulto responsável pra cuidar da situação, é totalmente diferente. Além disso, eu tenho certeza de que eles sabem que podem contar com vocês sempre que precisar, então você não precisa forçar a barra desse jeito, sabe?

Janete fez que sim com a cabeça e perguntou:

— Eu fui mesmo intrometida, né? Eu devia ter pensado melhor antes... Eu só espero que eles consigam ter uma boa relação com o pai biológico. 

— Pois é, mas ainda tá muito cedo, eles mal se acostumaram com ele...

— Eu sei... eu não costumo agir sem pensar, não sei o que deu em mim!

— Bom, pelo menos tá tudo bem agora, né? E eu sei que você só fez isso porque tem um coração enorme.

Janete sorriu como se estivesse ouvindo as palavras mais bonitas do mundo. Flora não era de dizer palavras bonitas e tal, mas o que disse foi de coração. Ela ainda não conseguia entender como Janete conseguiu perdoá-la tão fácil, sendo que ela abandonou as sobrinhas no dia do aniversário da menina. Até tinha chegado a achar que ela voltaria a pensar nisso no aniversário do ano seguinte, mas Janete realmente não guardava nenhum rancor e sua única preocupação era que todos ficassem felizes em seu dia especial.

***

Mesmo que Henrique não fosse mais à festa, Davi ainda teria que contar a seus pais a respeito dele. Não teria coragem de falar com o pai primeiro, afinal, foi bem difícil pra ele aceitar os meninos como seus netos, então era melhor começar por dona Nina. Ligou para ela um dia antes de ir ao Vilarejo dos Sonhos.

Percebendo a melancolia na voz do filho, ela foi logo achando que eles não iam mais passar o fim de semana lá, que Janete tinha mudado de ideia sobre a festa ou, pior, que tinha acontecido alguma coisa ruim, alguém estava doente ou algo assim. Davi disse pra ela não se preocupar porque não era nada disso. Então, suspirou, e contou toda a história de como Henrique reapareceu na vida de seus filhos. Dona Nina ficou triste pelo filho. Ela ficou comovida com a história da vida de Henrique, mas, ainda assim... Ela não sabia direito como funcionava a adoção de crianças, então achou que eles iam ter que morar com o pai biológico agora, o que com certeza faria Davi ficar com um vazio muito grande, mas tentou consolá-lo.

Quando contou a notícia ao marido, ele ficou chocado. Porém, achou que seria mais sensato mesmo que eles ficassem com o pai "de verdade" deles, afinal, Davi estava prestes a se casar e poderia ter outros filhos com Clara. Não levem seu Zé a mal, ele já aceitou os meninos como netos, o único problema é que ele é racional e prático demais. Por sorte, sua esposa não é assim, então dona Nina disse que, pelo amor de Deus, ele nunca deveria dizer aquelas palavras a Davi! O homem achou que era um exagero, mas acabou prometendo que não ia dizer nada. Mas ainda queria entender essa história direito com o filho.

No dia seguinte, quando os viajantes da cidade chegaram, a fofoca já rolava solta no Vilarejo dos Sonhos. Na medida do possível, dona Nina alertava as pessoas pra não fazerem perguntas demais pra Davi e pros meninos e deixá-los sem jeito, mas sempre tinha alguém que fazia alguma pergunta inconveniente. Imagina como seria quando a imprensa e a Internet toda soubessem disso??? Como se já não fosse confuso o suficiente para os meninos... Janete pediu desculpa pra eles, não conseguia deixar de se sentir culpada por isso. Porém, mesmo se não tivesse convidado Henrique para o aniversário, Davi iria ter que falar dele para os pais, então o Vilarejo todo ia ficar sabendo de qualquer jeito. 

Aliás, seu Zé chamou Davi para uma conversa, o que o fez se sentir de novo como um menino que tinha medo do pai. Porém, ao invés de autoritário como antes, seu pai estava se esforçando para ser compreensivo. Ele sabia que Davi tinha uma vida muito diferente da dele, mas queria entender qual era a dificuldade em deixar os três meninos com o pai deles e pronto. Dona Nina achou melhor participar da conversa, pois temia que o marido dissesse alguma coisa que deixasse seu filho mal, então poderia mediar o diálogo.

— A sua mãe me contou o que aconteceu com o pai dos meninos e eu acho que deve ter sido muito difícil... Eu também tive que passar anos longe do meu filho e foi muito difícil pra mim!

Davi e Nina ficaram muito comovidos com o que disse Zé. Por mais que Davi fosse o seu filho, ele estava se colocando no lugar de Henrique por ter se identificado em certo aspecto com a situação dele, não tinha a ver com o preconceito em relação a filhos que não são de sangue como sua mulher e seu filho estavam pensando. Davi, emocionado, acabou novamente se desculpando por ter ficado tanto tempo longe. E, finalmente, ele também estava se colocando no lugar de Henrique e deixando de vê-lo como um vilão.

Sendo assim, explicou ao pai direitinho que, como os meninos não sabiam que tinham parentes vivos e ele os havia adotado, legalmente eles eram seus filhos, além de que se amavam como se fossem mesmo pais e filhos de sangue. Porém, ele não iria impedi-los de se aproximar do pai biológico e agora isso não seria apenas por medo de perder a guarda deles, mas, sim, porque estava entendendo de verdade a importância dos meninos se relacionarem com ele.

Quanto às crianças, elas também teriam algumas conversas durante esta viagem que mostrariam a elas diferentes perspectivas da atual situação. 


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