Os Cuecas e as Chiquititas escrita por SnowShy


Capítulo 45
Sessão de filmes


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, oi, pessoal!
Espero que gostem do capítulo de hj!



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Davi seguiu o conselho de Clarinha de se divertir com as crianças, então estava inventando atividades diferentes para fazer com elas. Um dia, ele resolveu fazer uma sessão de filmes. Levou os seis numa locadora e pediu que cada um escolhesse um filme de sua preferência. Em casa, eles assistiriam a todos os filmes, mas a ordem em que assistiriam seria sorteada.

Joaquim achava que o filme que havia escolhido devia ser o primeiro a ser assistido porque era o melhor de todos, então faria isso acontecer de qualquer jeito. Cada criança escreveu o título de seu filme num papelzinho, mas Joaquim escreveu o dele em dois, deixou um dos papéis em cima da mesa com os das outras crianças e ficou segurando o outro com a mão fechada por baixo da mesa para ninguém ver. Era o plano perfeito! O único problema é que, Joaquim não sabia, mas Sandy estava observando toda essa presepada que ele tava fazendo.

— Davi, eu posso começar o sorteio? — Perguntou Joaquim.

— Acho melhor você não deixar, Davi! — Disse a menina. — O Joaquim tá tentando trapacear.

Todos os olhares se voltaram para o menino.

— Que trapaça, o quê? — Disse Joaquim. — É um sorteio, não dá pra trapacear, quem escolhe é a sorte...

— É claro que dá pra trapacear! — Respondeu Sandy. — E você sabe muito bem como fazer isso, né?

— Que absurdo! Como você pode me acusar assim sem provas?

— Ah, você acha que eu não tenho provas?

Sandy se levantou, foi para o lado de Joaquim, pegou o braço do menino, tirou o papelzinho da mão dele e leu em voz alta:

— Naruto 1: Confronto Ninja no País da Neve, o filme mais chato de todos!

— Eu não acredito que você ia fazer isso! — Disse Téo.

— Dedo-duro! — Joaquim exclamou para Sandy, que deu um sorrisinho de "você mereceu!".

— Que coisa feia, Joaquim! — Exclamou Davi. — Mas, de qualquer forma, a sua trapaça não ia dar certo, porque quem vai sortear todos os nomes sou eu.

— É justo, já que você foi o único que não escolheu nenhum filme.

— Exatamente, Samuca.

A discussãozinha foi esquecida pelos outros, mas Joaquim ficou com muita raiva de Sandy, e ela, por sua vez, não deixava de pensar no absurdo que ele tentou fazer.

Davi ia começar o sorteio, quando a campainha tocou. Estranho, eles não estavam esperando ninguém... O homem foi atender e ficou surpreso quando viu que era Clarinha. Ela nem havia avisado que já tinha voltado de viagem! Os dois se abraçaram e ele a levou para dentro da casa.

Os meninos ficaram muito felizes quando a viram, foram logo abraçá-la e convidá-la para a sessão de filmes. As meninas ainda não a conheciam, mas também ficaram felizes, pois já tinham ouvido muito sobre ela. Teve um dia, no início das férias (enquanto as Chiquititas ainda estavam comportadinhas), que até fizeram Davi contar a historinha deles dois, aquela que ele contou pros meninos, sabe? De quando eles começaram a namorar na adolescência e tudo mais... Clarinha também ficou feliz em ver as crianças e queria conhecer as Chiquititas. Elas foram apresentadas e, logo de cara, a mulher já começou a perceber a diferença nas personalidades delas: viu que Janete era muito tímida e que as outras duas não eram nem um pouco.

Apesar de também ter ficado muito feliz com a chegada da namorada, Davi ficou um pouco preocupado. E Clarinha sabia bem o porquê. Era aquela história de ele não querer que ela achasse que tinha a obrigação de cuidar das crianças com ele. Por isso ela não estranhou quando Davi perguntou se podia conversar um pouco com ela em outro cômodo.

— Crianças, vocês se importam de esperar um pouco pra gente começar o sorteio?

Todas responderam que não e Téo perguntou:

— Eu e a Lê podemos preparar a pipoca enquanto isso?

Davi concordou, então este e Clarinha foram para o quarto dele, Téo e Eleanora foram pra cozinha e Joaquim, Sandy, Samuca e Janete continuaram na sala.

***

Agora eu vou contar o que aconteceu com cada um, começando pela dupla da cozinha, que é a menos complicada.

Eleanora e Téo, enquanto faziam a pipoca, falavam sobre Clarinha. A menina perguntou se o amigo achava que a mulher podia ser mãe deles algum dia e ele disse que sempre pensava nisso, mas que Davi achava que ainda era muito cedo para pedi-la em casamento.

— Mas depois de um tempo pode acontecer... — Disse Eleanora. — Vai ser legal vocês terem uma família completa!

A menina estava realmente feliz pelos amigos, mas no fundo, beeem no fundo, sentia um pouquinho de inveja por não ter nem pai, nem mãe e, no momento, nem tia pra cuidar dela e das irmãs. Téo percebeu que ela estava um pouco triste e perguntou se era porque sentia saudade dos pais. Ela balançou a cabeça, afirmando que sim, então ele perguntou como eles eram. Eleanora começou a contar como seus pais eram legais e o que ela e suas irmãs costumavam fazer com eles e começou a se sentir um pouco melhor. Era bom lembrar dessas coisas, apesar da saudade.

No quarto, Davi e Clarinha tiveram uma conversa um pouco longa. O homem dizia que já tinha tudo sob controle, graças ao conselho dela, e que ela não precisava se preocupar e, principalmente, que não precisava ter deixado o Vilarejo por causa disso. A mulher, por sua vez, dizia que já tinha feito tudo o que podia fazer no interior, até daqueles festivais esquisitos da cidade ela já tinha participado, e não precisava passar o mês inteiro lá. Além disso, ela queria muito ficar com Davi e com as crianças, então, se eles não podiam ir pra lá porque não tinham conseguido autorização da tia das meninas, Clarinha voltava pra cá e isso não era nenhum sacrifício, muito pelo contrário.

Custou até que a mulher conseguisse convencer Davi de que ele não precisava se sentir culpado por "estragar" as férias dela e entender que realmente não  precisava cuidar das crianças sozinho e que ela estava lá por livre e espontânea vontade e também porque adorava crianças. Depois de convencido, ele acabou ficando realmente feliz e agradecido pela presença dela.

Mas enquanto isso não aconteceu, Sandy e Joaquim discutiram na sala. Obviamente, não era a primeira vez que discutiam naquelas férias, mas nas outras vezes haviam sido apenas discussões pequenas por motivos bobos que eles já esqueciam depois de um tempo. Agora, a discussão havia começado por um motivo bobo como as outras, mas acabou de um jeito diferente.

Logo que Davi e Clarinha foram para o quarto, Sandy começou a implicar com Joaquim por causa do sorteio, dizendo que ficaria de olho pra ele não aprontar e tentar trapacear de novo enquanto os adultos não estavam vendo. O menino, sem paciência, começou a falar que ela não tinha nada que ter dedurado ele e que ele não podia mais trapacear porque Davi é que ia fazer o sorteio. Então Joaquim começou a dizer o quanto Sandy era chata e ela começou a falar o quanto ele folgado. Eles ficaram insultando um ao outro por um tempo e Janete e Samuca, que estavam com eles, não sabiam o que fazer para que eles parassem.

Os dois teimosos acabaram voltando para o assunto do sorteio.

— Eu aposto que você já tá arquitetando algum plano mirabolante aí pra trapacear de novo... — Acusou Sandy.

— Então me fala que plano é esse, porque nem eu sei!

— Até parece... Você sempre tem um plano pra tudo.

— Ah, tipo o plano que eu tive pra trazer você e as suas irmãs pra cá? Você preferia que eu não tivesse pensado nisso? Acho que ia ser melhor pra todo mundo, mesmo!

Joaquim disse tudo muito rápido, com raiva e sem pensar direito. Sandy ficou paralisada na mesma hora. Aquelas palavras foram como uma facada no peito dela. Teve vontade de chorar, mas se segurou. Janete a levou para outro lado da sala e Samuca foi falar com Joaquim, que já estava arrependido pelo que acabara de dizer, apesar de ainda estar com raiva de Sandy.

— Você tá maluco de falar essas coisas pra ela?! — Disse Samuca, sussurrando, mas com uma voz firme.

— Você acha que os adultos escutaram?

— Isso é o de menos, olha como a Sandy ficou! Você falou como se fosse ruim as Chiquititas estarem aqui ou como se elas tivessem devendo alguma coisa pra gente por isso, sei lá...

— Ah, eu falei por falar, é claro que eu não acho isso!

— Pois é, mas não foi o que pareceu...

Enquanto isso, Janete dizia para Sandy que, por pior que tenha parecido o que Joaquim disse, provavelmente foi da boca pra fora.

— Mas vocês têm que parar de ficar brigando por qualquer besteira, senão um dos dois vai acabar ofendendo o outro de verdade na raiva...

— É tudo culpa minha. — Respondeu Sandy. — O Joaquim tem razão. Ele ajuda a gente e eu fico brigando com ele...

— Calma, também não precisa ficar se culpando! É só esquecer isso e não brigar mais...

— Eu sou uma mal agradecida! — Continuou Sandy, ignorando o comentário da irmã — Se não fosse por ele, a gente nem ia ter onde morar agora!

Nessa hora, Davi e Clarinha chegaram na sala e as crianças agiram como se estivesse tudo bem. Se tinha uma coisa que os Cuecas e as Chiquititas sabiam fazer devido a tudo o que passaram, era disfarçar qualquer coisa na frente dos adultos. Depois, Eleanora e Téo chegaram com a pipoca e Davi e Clarinha fizeram o sorteio dos filmes. O primeiro sorteado foi O Rei Leão, o filme de Téo. O de Joaquim acabou sendo o último escolhido e é preciso dizer que o menino não se incomodou nem um pouco com isso, pois não estava mais com a menor vontade de assistir.

***

Clipe musical: "Da Água pro Vinho" por Sandy.

***

A sessão de filmes acabou sendo muito divertida. Mesmo que algumas pessoas não gostassem de alguns filmes, os comentários que faziam acabavam sendo muito engraçados, então todos desfrutavam do momento. Joaquim era o que fazia mais piadas, apesar de no fundo estar mal pela briga com Sandy. Ele e a menina estavam sentados muito longe um do outro e nem trocavam olhares. Não sentiam mais raiva, só estavam envergonhados, mesmo. Ele, pelo que havia dito, ela, por se sentir uma mal agradecida. Samuca e Janete, que eram os únicos que sabiam da discussão, perceberam esse distanciamento, mas os outros, não. Quer dizer, Clarinha até percebeu, pois estava prestando muita atenção em todas as crianças, mas, como não conhecia Sandy direito ainda e não fazia ideia de como era a relação dela com Joaquim, imaginou que talvez eles só não fossem tão próximos um do outro.

Já era noite quando assistiram ao último filme. Clarinha foi para casa logo depois e Davi disse às crianças que já era tarde e elas precisavam dormir. As Chiquititas, lá no porão, resolveram conversar bem baixinho, pois não conseguiriam dormir logo sem colocar a fofoca em dia hehe. Elas precisavam falar sobre quem haviam acabado de conhecer. Todas gostaram de Clarinha.

— O jeito dela me lembrou a mamãe. — Disse Sandy.

— Nossa, verdade! — Janete concordou. — Eu nem tinha pensado nisso, mas agora que você falou...

Então Eleanora contou sobre a conversa que havia tido com Téo. Seria muito mais tranquilo se as crianças da sala estivessem falando sobre o mesmo assunto que eles naquela hora...

Janete percebeu que Sandy não estava com nem um pouco de vontade de falar sobre a discussão com Joaquim e achou melhor não tocar no assunto. A mais velha, então, continuou falando de Clarinha:

— Apesar de tudo, eu acho que a gente tem que tomar cuidado com ela.

— Por quê? — Perguntaram as mais novas. 

— Porque, pelo que eu tô vendo, agora o Davi não vai mais ser o único adulto que vai passar tanto tempo com a gente, ou seja, temos que tomar ainda mais cuidado com o nosso segredo.

Eleanora concordou, mas Janete não disse nada. Até já havia comentado com Samuca que não tinha mais tanta certeza se queria esconder sua situação dos adultos, afinal, as férias já estavam quase acabando e elas não faziam ideia do que ia acontecer depois, de para onde iriam...

Enfim, as meninas foram, de fato, dormir, mas Sandy não conseguiu. Ela não parava de pensar na discussão. Já que não dormia de jeito nenhum, resolveu ir pra sala. Será que Davi e os meninos ouviriam se ela ligasse a televisão? Hum... melhor não arriscar. Então só ficou lá sentada no sofá, pensando na vida.

Joaquim também tinha insônia, mas era tão desligado que nem se deu conta do motivo. Achou que fosse sede, então saiu do quarto para tomar água. Acendeu a luz da sala e viu a menina.

— Sandy? O que você tá fazendo aqui? — Perguntou, sussurrando.

— Não consigo dormir. — Ela respondeu baixinho e sem olhar nos olhos dele, pois ainda estava envergonhada.

Ambos ficaram um tempo sem dizer nada, até que Joaquim foi pra perto do sofá e disse que queria pedir desculpas. 

— Pelo quê? — Perguntou Sandy, confusa, pois achava que ela devia desculpas a ele, não o contrário.

— Pelo que eu disse hoje à tarde... Eu não quero que você ache que você e as suas irmãs tão devendo alguma coisa pra gente por ficarem aqui — ele disse, lembrando-se do que Samuca havia falado. — A gente ajudou porque quis, e eu não me arrependo disso.

Sandy ficou tão surpresa, que ficou por um tempo olhando pra ele sem saber o que responder.

— Então... você aceita as minhas desculpas? — O menino perguntou.

Ela, então, sorriu e disse:

— Claro que sim!

A resposta fez Joaquim sorrir também. Depois, foi a vez de Sandy se desculpar por ter ficado brigando por besteira com ele. 

— É, você foi bem chatinha, mesmo! — Joaquim disse com um tom de brincadeira, o que mostrou que não estava mais com raiva dela.

— Não que você não tenha dado motivo, mas, sim, eu fui...

— Acabei de lembrar que eu ia tomar água... Você também quer?

Sandy assentiu e o seguiu até a cozinha.

— Eu não entendo você, Joaquim... — Ela disse, pensativa, enquanto ele pegava a garrafa de água e os copos.

— Por quê?

— Como você pode às vezes ser tão chato e às vezes tão fofo?

Joaquim ficou muito desconcertado ao ouvir isso, mas tentou disfarçar fazendo uma piadinha:

— Você prefere que eu seja chato sempre? Tá bom, então pega sua própria água...

Ela riu e de fato foi colocar sua própria água no copo, apesar de que Joaquim já estava prestes a fazer isso por ela. Nem ele entendia por que, mas às vezes um sentimento de altruísmo vindo sabe-se lá de onde se apoderava dele quando se tratava de Sandy.

— Eu também não te entendo, sabia? — Joaquim falou.

— Ah, é? Por quê?

Talvez pelos sentimentos que ela provocava nele...

— Não sei... — Foi o que Joaquim disse depois de um tempinho pensando.

Sandy o olhou, confusa. Ficou pensando se havia alguma possibilidade dele gostar dela, mas não disse nada sobre isso, claro. Apenas riu com uma cara de "então tá, né?".

Depois de tomarem água, os dois colocaram os copos na pia (não lavaram pra não fazer barulho) e Joaquim guardou a garrafa. Desejaram boa noite um pro outro, então ele foi para o quarto, ela foi para o porão e ambos conseguiram finalmente dormir bem.


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