Clipe musical: "Me Dá Um CH" por Sandy, Janete e Eleanora.

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No final de semana, as Chiquititas pensaram e conversaram muito sobre o que Téo havia lhes falado e decidiram, por fim, que pediriam desculpa a tia Flora e tentariam deixá-la feliz, mas, desta vez, sem quererem nada em troca, a não ser a felicidade da tia. Sendo assim, elas nem tocariam no assunto da banda por um bom tempo, ou seja, não contariam o real motivo para terem feito tudo o que fizeram anteriormente. Elas haviam desistido da banda? Claro que não, porém não queriam pensar no assunto tão cedo e muito menos falar a respeito. Era melhor esperar as coisas se acalmarem.

Na noite de domingo, as meninas prepararam umas surpresas para Flora. Uma delas, foi uma macarronada deliciosa para o jantar. A tia mal pôde acreditar no que via... elas estavam mesmo tentando comprá-la de novo??? As garotas explicaram que não era nada daquilo, que só queriam o perdão dela. Disseram o quanto foram egoístas e o quanto estavam arrependidas por terem tentado suborná-la.

Para provar de coração que, desta vez, só queriam vê-la feliz — aí vem a segunda surpresa — entregaram-lhe uma carta escrita pelas três, uma parte por cada garota, dizendo tudo o que sentiam. A carta era bem grande e emocionante. Por mais que Flora não fosse uma pessoa tão sensível, conseguiu se emocionar. Depois de saberem da história de vida dos Cuecas, Sandy, Janete e Eleanora haviam ficado muito gratas por terem alguém da família cuidando delas, ao invés de viverem num orfanato ou na rua... Nunca haviam dito nada disso para a tia, mas disseram na carta, além de, claro, cada menina pedir desculpas umas mil vezes e dizer várias outras coisas boas.

A tia, então, ficou contente e as quatro comeram a macarronada muito felizes. Por fim, chegou a última surpresa das Chiquititas: um bolo de chocolate com a palavra "DESCULPA" escrita com M&M's na superfície. Ao final da noite, Flora disse o que as sobrinhas mais queriam ouvir:

— Estão desculpadas.

A resposta foram três meninas gritando e pulando em cima dela para abraçá-la.

— Ai, tá bom, tá bom, já chega! Daqui a pouco a síndica aparece aqui pra reclamar do barulho!

Tia e sobrinhas foram dormir felizes e em paz naquela noite.

***

Segunda-feira, na escola, as Chiquititas contaram aos meninos tudo o que acontecera na noite passada, muito animadas. Porém eles não pareciam tão animados ao ouvi-las... nem mesmo Téo, que foi indiretamente responsável por tudo.

— O que vocês têm, hein? — Perguntou Sandy.

— Advinha quem também tá de castigo? — Foi a resposta de Joaquim.

— Você?

— Só ele, não, nós três — respondeu Samuca.

— Ih! Por quanto tempo? — Perguntou Eleanora, preocupada.

— Duas semanas — respondeu Téo.

— Ah, menos mal — disse Janete. — Achei que fosse por um tempão, que nem a gente...

— Só que a gente não tá assim pelo castigo, é por outra coisa...

— Que coisa? — Perguntaram as meninas.

Então eles contaram tudo: desde o motivo pelo qual estavam de castigo (a mentira que contaram a Davi) até a decisão dele de esperar uma resposta sobre a audição das Chiquititas só até aquela semana.

— Ai, não! — Exclamou Janete. — A gente não pode falar com a tia Flora esta semana! Logo agora, que conseguimos o perdão dela...

— É verdade — concordou Sandy. — Digam ao Davi que ela não deixou e pronto. A gente não precisa nem falar com ela pra saber a resposta.

— O quê?! — Exclamou Joaquim. — Vocês vão desistir tão fácil assim? Nem sequer tentaram falar com ela...

— Por incrível que pareça, o Joaquim tem razão — disse Samuca. — Vocês deviam pelo menos tentar. Se quiserem, a gente pode ajudar...

— É melhor vocês não fazerem nada — sugeriu Eleanora. — A gente não quer que fiquem de castigo de novo por nossa causa...

— Mas a gente não tá de castigo por causa de vocês, é porque a gente mentiu.

— Mas foi pra ajudar a gente — disse Sandy. — Enfim, é melhor vocês ficarem de fora dessa vez... Acham mesmo que é uma boa ideia a gente falar com ela? E se ela pensar que a gente só pediu desculpa pra ela deixar a gente ir na gravadora?

— Se ela pensar, problema dela — respondeu Joaquim. 

— Vocês vão falar a verdade — Téo complementou. — Se ela não acreditar, não precisam se sentir culpadas. Aliás, eu acho que vocês já deviam ter contado tudo antes...

***

As Chiquititas ficaram enrolando para contar sobre a gravadora para Flora, mas, na quinta-feira à noite (a última oportunidade, já que a última vez que veriam os Cuecas naquela semana seria na manhã seguinte), por fim, chamaram-na para uma conversa. Na verdade, elas haviam demorado tanto para falar porque queriam pensar cuidadosamente em cada palavra que iriam dizer, não podiam contar uma coisa daquelas sem uma preparação antes.

Enfim, as quatro se sentaram no sofá e Sandy começou:

— Primeiramente, tia Flora, nós queremos que você saiba que a gente não quer te pedir nada e que fomos muito sinceras em tudo o que dissemos no jantar surpresa de domingo.

— O que a gente quer agora — Janete continuou — é só explicar algumas coisas. A gente não quer se justificar nem nada, só dizer por que a gente fez aquelas coisas que você não gostou...

— Vocês querem dizer fugir de casa à noite, no maior perigo, pra ir a um evento na escola e depois ficarem tentando me deixar feliz pra eu liberar vocês do castigo que mereciam?

— É — respondeu Eleanora. — Sabe, isso da gente fugir pro show de talentos, que é o começo de todos os problemas... Tem muita coisa por trás disso... Ai, Sandy, você fala, você é a mais velha.

— Tá. Sabe, tia, a gente queria muito mesmo participar daquele show.

— Eu sei! Vocês provaram isso...

— Não, você não tá entendendo!

— Deixa que eu falo — disse Janete. — Desde que a gente era bem pequenininha, a gente gostava de brincar que era uma banda, as "Chiquititas". A gente sempre apresentava shows de brincadeira pro papai e pra mamãe e eles adoravam. A mamãe até compôs uma música pra gente.

Flora ouvia com atenção, mas não fazia ideia de onde as meninas queriam chegar com aquela história.

— Acontece que era mais do que uma brincadeira — Sandy continuou. — Ser uma banda era o nosso sonho e os nossos pais sempre nos apoiaram. Eles queriam que, em algum momento, a gente mostrasse o nosso talento pras outras pessoas, mas, até então, não tínhamos tido oportunidade.

— A gente ainda tinha esse sonho depois que os nossos pais morreram — Eleanora falou — e, bom... Naquela época que a gente não ia pra escola, sempre que podia, a gente ensaiava as nossas músicas e coreografias.

— E, depois que a gente voltou a estudar — continuou Sandy —, surgiu a oportunidade do show de talentos pra gente mostrar a nossa banda pra alguém que não fosse os nossos pais. Foi por isso que a gente quis participar de qualquer jeito.

— A gente sabe que não devia ter desobedecido — disse Janete. — A gente devia ter pensado melhor antes de se arriscar tanto...

— Deviam mesmo, né? Fazer uma coisa dessas só por causa de uma brincadeira de criança... Uma bobagem de sonhar em ser uma banda...

As meninas ficaram um pouco tristes com o comentário, mas decidiram ignorar e continuar com o que diziam. A próxima irmã a falar foi Eleanora:

— Mas ainda não acabou! A gente se apresentou no show de talentos junto com os Cuecas.

— Cuecas? — Perguntou a tia, estranhando.

— É aquela banda de três meninos que a gente vivia assistindo vídeos deles no YouTube ou na TV, antes do castigo, sabe?

— Ah... Aqueles que cantam aquelas musiquinhas chatas de criança que vocês ficam cantando o dia todo?

— Isso! Pois é, eles são da nossa escola. Da nossa sala, até. E a gente se apresentou com eles. Aí alguém gravou um vídeo da apresentação e ele viralizou na internet.

— Aí os meninos falaram com o pai deles, o Davi — disse Sandy —, que trabalha na Dó Ré Music, a gravadora da banda deles. Aí o Davi falou com o dono e eles disseram que a gente podia fazer uma audição lá e, se a gente fosse bem, a gente podia virar uma banda de verdade.

— Agora chega a parte em que a gente foi mais idiota do que nunca — disse Janete — e que a gente já pediu desculpa um monte de vezes. A gente ainda tava no mês do castigo quando eles marcaram essa audição, então a gente queria que, quando o castigo acabasse, a gente pudesse fazer de qualquer jeito... E foi por isso que a gente ficou tentando fazer um monte de coisa pra te deixar feliz. A gente queria que você ficasse de bom humor e que, quando o castigo chegasse ao fim, a gente pudesse ir à gravadora sem nenhum empecilho...

Flora estava tão chocada com o tanto de informação, que não falou nada, só esperou as meninas continuarem.

— Depois que a gente viu o quanto foi egoísta — disse Eleanora —, decidimos nem tocar mais no assunto com você e deixar pra lá essa coisa de banda, pelo menos por um tempo.

— É, só que aí — disse Sandy —, na segunda, os Cuecas disseram que o Davi falou que a gente tinha que dar uma resposta a ele, dizer se você deixava ou não a gente fazer a audição, até o final da semana. Apesar de saber que você não vai deixar, não podemos dar a resposta por você, né? Então, agora que você já sabe, a gente fala pra eles que você não deixou.

Tia Flora não disse nada por um tempo. Ficou processando tudo aquilo e, então, falou:

— Por que vocês não me contaram nada?

As meninas estranharam. Esperavam receber uma bronca, não aquela pergunta...