Joaquim apareceu do lado de fora da casa, segurando uma prancheta.

— Que bom que você chegou, Davi! É melhor que a entrevista seja pessoalmente com você.

— Que entrevista? Do que você tá falando? Quem são essas mulheres? O que tá acontecendo acontecendo aqui???

— Calma, você vai conhecer cada uma delas — Joaquim ajudou Davi com as sacolas do supermercado e os dois passaram pela fila de mulheres e entraram na casa.

Colocaram as compras na mesa para guardarem depois e Joaquim, voltando-se para as damas, disse:

— Senhoritas, este é o Don Juan, ao vivo e a cores. O nome verdadeiro dele é Davi e, caso não acreditem que ele seja músico de verdade, eu posso trazer o violão dele pra cá e...

— Joaquim! — Davi repreendeu o garoto.

— Ah, é, já ia esquecendo! Davi, uma dessas bonitas senhoritas terá a honra de ser a sua namorada e você tem a sorte de escolher qualquer uma que quiser. Sente-se — o menino puxou uma cadeira para Davi se sentar e chamou a primeira candidata.

Mas Davi, que estava mais perdido que cego em tiroteio, continuou em pé e disse às moças que havia sido tudo um engano.

— Eu peço o perdão de vocês por isso. O meu filho é muito brincalhão e eu sinto muito dizer, mas ele provavelmente só estava pregando uma peça em vocês...

— Não, Davi! Eu não fiz nada de errado. Fiz isso pro seu próprio bem.

— Me desculpem mesmo, moças! 

— Então não vamos nem ter a chance de te conhecer? Você parecia tão legal no metadesdalaranja.com — Perguntou uma delas.

Davi ficou mais confuso ainda e muito sem jeito, então Samuca e Téo, que estavam observando tudo, apareceram e deram um jeito de pedir educadamente que as donzelas se retirassem. Disseram que realmente Davi não sabia nada daquilo, que havia sido um engano e que tudo fora planejado por eles e Joaquim.

Quando as moças, tristes, se foram e os meninos ajudaram Davi a guardar as compras do supermercado, o homem quis um esclarecimento.

— Que ideia foi essa, Joaquim??? E vocês dois também tiveram alguma coisa a ver com isso? — A última pergunta foi para Samuca e Téo, que balançaram a cabeça, afirmando.

— A gente não teve nada a ver com essas entrevistas aqui em casa, mas concordamos em procurar uma namorada pra você num site — confessou Téo.

— E por que vocês fizeram isso? Por que acharam que eu precisava de uma namorada?

— A gente não achou que você precisava, só que você gostaria de ter uma — respondeu Joaquim.

— É, além disso, você só fica com a gente o tempo todo — complementou Samuca —, em casa e no trabalho, e ainda faz tudo pela gente... Seria bom você descançar um pouco, ter uns encontros, só pra variar...

Davi suspirou e disse:

— Tudo bem, a intenção de vocês foi boa, como na maioria das vezes. Mas vocês não podiam fazer esse tipo de coisa pelas minhas costas!

— É que era pra ser uma surpresa... — disse Téo.

— Acontece que essa uma questão muito pessoal... Eu sei que existem pessoas que começam relacionamentos pela internet e dá tudo certo, mas esse tipo de coisa não é pra mim, sabe? 

— Ah, então você quer que a gente encontre alguém da vida real pra você? — Perguntou Joaquim. — Já sei! Que tal a Letícia, da gravadora? Não sei como eu não pensei nela antes...

— Não, Joaquim, eu não quero que vocês encontrem ninguém pra mim! Eu tô muito bem assim.

— Então você tá solteiro por opção?

— Sim.

— Eu sabia! — Exclamou Téo. — Ele não se sente sozinho estando com a gente.

Davi sorriu e finalizou:

— Bom, eu espero que vocês tenham entendido que eu não quero namorar ninguém agora e não inventem de fazer mais nada parecido com o que fizeram! Entenderam?

— Sim.

— Entendeu, Joaquim?

— Claro, eu também respondi que sim. Mas Davi... agora eu fiquei curioso e queria saber uma coisa...

— O quê?

— Você sempre foi solteiro ou já teve alguma namorada?

Davi demorou um pouquinho, mas respondeu:

— Já, uma.

— Sério? Qual era o nome dela?

— Ah, não importa, já faz tanto tempo... Bom, eu preciso fazer umas coisas pra gravadora agora... — Ele se levantou e foi para o seu escritório.

— Ih... O término deve ter sido feio! — Disse Joaquim aos irmãos. — Ou ele ainda gosta dela, mas eles não podem ficar juntos... O que vocês acham?

— Ah, eu não sei, Joaquim — respondeu Samuca. — Pode ser qualquer coisa...

— Bom, eu acho que se o Davi não parece confortável falando disso, a gente também não devia falar... — opinou Téo.

— Pois eu acho que a gente devia tentar descobrir quem era ela.

— Joaquim, o Davi deixou bem claro que não quer que a gente se meta na vida amorosa dele — disse Samuca. — Além do mais, a gente tem que se preocupar com a tia das Chiquititas agora.

— Ah, verdade! Vamo entrar no site pra ver se mais algum pretendente apareceu por lá?

— Vamos, não, eu vou entrar. Você é o Téo ainda não fizeram aquele trabalho de história, lembram?

— Eu já tô quase terminando o meu — disse Téo e foi para o quarto terminar.

— Droga, eu já tinha me esquecido desse trabalho chato! — Disse Joaquim. — É pra quando, mesmo?

— Amanhã.

— Eita! — E o menino correu para o quarto para começar.

— E TRATE DE NÃO COPIAR O MEU!

— Ah...

***

Clipe musical: "Grava Essa Ideia" por Davi.

***

No recreio da segunda-feira, as Chiquititas analisavam as anotações que os meninos (Samuca) haviam feito sobre os pretendentes de Flora, enquanto eles ficavam observando, calados. Calados até demais...

— O que vocês têm hoje, hein? — Perguntou Sandy, que não aguentava mais o silêncio.

— Nada — os três responderam juntos.

Sandy os encarou, desconfiada.

— Ah, acho que já sei o que aconteceu! — Exclamou Janete. — O Davi descobriu sobre o site, não foi?

Os três afirmaram com a cabeça.

— E como é que foi? — Eleanora perguntou.

Os meninos contaram tudo e, ao terminarem, Janete disse:

— Ah, então não foi tão ruim. Pelo menos ele entendeu que as intenções eram boas e não deixou vocês de castigo nem nada... Deviam tá comemorando, isso sim!

— Acontece que a gente andou pensando — disse Samuca — e o Davi reagiu desse jeito, mas, mesmo assim, mostrou como não gostou nem um pouco da nossa atitude... E se a Tia Flora acabar não gostando do que a gente tá fazendo?

— Do jeito que ela é — complementou Joaquim —, é capaz de nunca, nem em um mundo paralelo, deixar vocês serem uma banda. E ainda deixar vocês de castigo até serem maiores de idade. Boa sorte pra você, Eleanora, que é a mais nova!

— Calma, a situação deles é bem diferente! — Disse Sandy. — A gente tá tentando amolecer o coração da Tia Flora, por isso a ideia do namorado. Já, com o Davi, vocês não tinham nenhum objetivo como esse... Eu ainda acho que é boa a ideia da gente arranjar um encontro pra ela.

As irmãs concordaram, mas os Cuecas ainda estavam meio assim... De qualquer forma, elas prometeram que, se algo desse errado, a culpa seria única e exclusivamente delas, mas, se desse tudo certo, os créditos seriam dados a eles porque, afinal, haviam feito praticamente todo o trabalho devido ao fato de as Chiquititas estarem sem internet.

***

No final da semana, as meninas já tinham escolhido o pretendente perfeito para Tia Flora: o Deus Grego. Ele era muito bonito (elas esperavam que a beleza não fosse só fotoshop) e parecia ser um cara bastante tranquilo, o que era ótimo, pois equilibrava com o temperamento de Flora. Os meninos, então, marcaram o encontro para o sábado à noite. As Chiquititas lhes deram seu endereço para que ele chegasse lá no apartamento e fizesse uma surpresa para a tia delas.

Enquanto o galã não chegava, elas ficaram agindo como haviam agido desde que começaram com o plano: fazendo de tudo para que a tia ficasse feliz com elas. Como os boletins do bimestre anterior haviam sido entregues ontem para os pais assinarem, as Chiquititas estavam todas animadas, mostrando seus boletins com todas as notas acima de 7.

— Não fizeram mais que a obrigação de vocês! Se tão na escola, é pra estudar, mesmo.

— Ah, mas vai dizer que você não sente orgulho de assinar esses boletins com essas notas todas azulzinhas? — Perguntou Janete.

— Sinto alívio, isso sim! Já basta todo o resto que vocês aprontam, imagina se ficassem de recuperação também...

— Engraçado... — disse Eleanora. — A senhora percebeu que nem o time de futsal nem o show de talentos prejudicaram as nossas notas?

— Muito engraçado! Eu não vou mudar de ideia, vocês ainda tão de castigo e ponto final.

— A gente sabe... — disse Sandy. — Mas sabe de uma coisa? Devia haver alguma comemoração por causa das nossas notas tão boas.

— Nem pensem nisso! Vocês não vão sair pra canto nenhum!

— A gente sabe, né, tia? Caso não tenha percebido, a gente tem maturidade suficiente pra entender que precisa sofrer as consequências dos nossos atos. Mas bem que você podia sair pra algum restaurante pra comemorar por todas nós, né?

— Humpf. Só falta dizer que vocês é que vão me dar dinheiro pra comida!

— A gente, não — respondeu Janete. — Outra pessoa.

Dim dom.

— EU ATENDO! — Eleanora foi correndo para a porta.

Flora, que já estava ficando confusa com a conversa das meninas, ficou ainda mais confusa (e até um pouco assustada) ao ver um bonitão parado na frente da porta do apartamento.