The Bitsmaster escrita por Junior Lopes 03


Capítulo 7
A torre do relógio


Notas iniciais do capítulo

E segue a aventura de Helena Cortez e Jennifer Simpson na mansão maldita...



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Enquanto eu estava chocada com a revelação de Jennifer, percebi que ela ainda chorava, voltei a mim e a abracei:

— Calma! – tentava reconfortá-la me segurando para também não me emocionar – Pelo menos agora você sabe a verdade, a gente vai conseguir um jeito de sair daqui e fazer justiça à morte do seu pai...

Percebemos que o cadáver do Dr. Walter Simspon estava segurando uma carta, como Jennifer estava muito abalada, resolvi pegar o papel e comecei a lê-lo:

10/11/1986

Esse é o terceiro dia que eu, Dr. Walter Simpson, estou aqui. Não vou durar muito tempo e antes que eu morra, registrarei isso: há duas crianças gêmeas que são umas verdadeiras aberrações – quando a senhora Mary Barrows deu à luz, fui chamado a esta casa, nasceram então duas crian... Não! Dois demônios! Ao nascerem, eles comeram minha mão direita... Eles eram doentes, seus corpos deformados, deveriam ter morrido, mas viveram... Eu deveria ter tentado... Respirar nesta sala é doloroso: o ar aqui já se foi... Os gêmeos estão num berço debaixo de uma estrela... Só rezo para que minha pequena Jen fique bem quando eu partir!

Dr. Simpson

Jennifer que tinha se acalmado voltou a chorar e, mais uma vez, a abracei e logo me pronunciei:

— Aposto que uma dessas crianças deformadas é aquele menino da tesoura que quis nos matar, agora quanto ao outro gêmeo eu não sei o que aconteceu...

Bati o olho mais uma vez na carta e estranhei a

“– 1986!? Será que o Dr. Simpson estava delirando a ponto de errar o ano?” – pensei.

Ignorei os meus pensamentos e olhei para Jennifer que ainda estava mal e continuei:

— Jennifer, sei que sua dor é grande, mas não podemos perder muito tempo em qualquer canto dessa casa, afinal um assassino, ou melhor, dois assassinos agora estão por aí...

Ela então se acalmou e partimos daquela câmara horrível, mas não antes da minha parceira lançar um ultimo olhar triste para o corpo de seu próprio pai.

Quando retornamos ao depósito, ouvimos um barulho alto vindo de uma das caixas que mexemos e, com horror, olhamos o garotinho da tesoura gigante sair da mesma, nós duas nem perdemos tempo, começamos mais uma vez a correr desesperadas daquele pequeno matador. Saímos do depósito e continuamos a nossa corrida pela sobrevivência naquele enorme corredor, porém com o desespero acabei tropeçando e Jennifer pareceu não ter percebido de imediato, quando tentei me levantar, o menino da tesoura já estava muito perto de mim e, num movimento rápido, ele me empurrou contra a parede me prendendo com seu enorme objeto de matança! Desesperada, dei um grito o que fez com que a atenção da minha parceira fosse chamada, ela, vendo que eu estava em apuros, se aproximou daquela tábua que tínhamos usado como ponte, pegou-a e violentamente desferiu um golpe na cabeça do garoto:

— Tome isso! – ela vociferou com um sentimento que não pude identificar, parecia ódio! Mas lembrei do que houve com o pai dela...

O pequeno assassino caiu inconsciente para o lado e eu só consegui agradecer à minha amiga:

— Obri... gado! – eu disse com a respiração acelerada.

Ela não respondeu o meu agradecimento, mas sorriu.

— Você tá bem?

— Sim, obrigado mais uma vez! – agradeci novamente. – Mas vamos sair daqui, ele pode acordar a qualquer momento!

E mais uma vez estávamos lá nós duas correndo: isso já estava virando um Need for Speed, só que em dois pés, de tanta correria...

Descemos então para o andar inferior, os cômodos que tinham nessa parte da mansão não tinham nada que julgamos importante: passamos por uma biblioteca que parecia abandonada e uma sala de música até que chegamos num cômodo estranhíssimo – aquilo parecia uma igreja com direito a um altar, um símbolo que lembrava uma estrela desenhada no chão e um corvo morto!

— Meu! Isso aqui parece satanismo! – Jennifer apontou perplexa.

— Na carta deixada pelo Dr. Walter – evitei falar “seu pai” para não deixar Jennifer triste. – dizia que Mary deu à luz a dois demônios, é bem capaz que ela mexa mesmo com essas coisas...

Nós duas então chegamos próximo daquele altar e notamos uma peça que tinha um encaixe que se ajustava no ídolo demoníaco que achamos naquela estátua do piso superior, encaixamos o ídolo e ouvimos um barulho: bem no centro daquela estrela desenhada ao chão, abriu-se um buraco, nos aproximamos e vimos que também tinha uma escada.

— Acho que o jeito é descer né? – Jennifer disse me olhando.

Sem muita cerimônia, desci aquelas escadas com minha colega vindo logo atrás. Quando terminamos a descida, estávamos numa caverna e começamos a sentir um perfume que nos era já familiar:

— É o perfume de Mary! – Jennifer sussurrou – Cuidado: ela pode estar aqui perto!

Dito e feito: ao olharmos um pouco para frente, de longe dava para ver uma figura caminhando, vestida totalmente de preto e exalando aquele perfume que descobrimos no começo da nossa jornada, rapidamente nos escondemos em uma das estalagmites (aprendi sobre isso nas aulas de Geografia) e notamos que aquela pessoa estava passando por um cão que parecia estar de guarda. De repente, Jennifer começou a fazer uma expressão de quem está começando a ter uma crise de tontura

— Eu acho que não estou me sentindo muito bem... A gente não come ou bebe alguma coisa faz tempo...

Para reanimá-la, esguichei um pouco justamente daquele perfume que Mary estava usando nela, espalhando o líquido pelo seu rosto, ela pareceu ter recobrado o seu estado normal e, notando que a figura de preto já tinha se afastado, prosseguimos a nossa caminhada. Ao chegarmos perto do cachorro, ele começou a rosnar ferozmente para nós duas, confusas e com receio, não sabíamos como agir naquele momento. Daí, mais um estalo na minha cabeça:

— Mary, quando passou por aqui há alguns minutos, estava usando uma roupa preta. Será que aqueles robes que pegamos lá em cima não dariam um jeito de enganar o cachorro?

— Bem observado! – Jennifer assentiu.

Vestimos então as roupas escuras, Jennifer passou primeiro pelo animal sem qualquer problema, no entanto, quando eu fui passar, o canino continuou a rosnar para mim.

— Eu não entendo! – eu falei com dúvida. – Como você passou e eu não?

Jennifer fez uma expressão pensativa e rapidamente ela falou:

— O perfume, Helena! O perfume de Mary!

Passei a dita fragrância em mim e, como minha colega previu, o cachorro parou de rosnar. Tiramos os robes (que eram bem quentes) dos nossos corpos e seguimos em linha reta. Observamos então uma pessoa deitada, parecia estar ferida, corremos até lá e para a nossa surpresa, se tratava da nossa última colega que tínhamos esperança de ainda estar viva: Lotte!

— Lotte, Lotte! – dizíamos nós duas preocupadas, se agachando para ver melhor nossa colega.

— Uh... uh... Jennifer... Helena... – ela dizia com dificuldade.

— Não fale nada, você parece estar muito ferida! – Jennifer falou tentando ajudar a amiga.

— Os disjuntores... na torre... do relógio... Liguem! – ela continuou, deu um suspiro e fechou os olhos.

— Lotte? Não! – Jennifer começou a chorar.

— Temos que ir... – tentei dizer algo e bancar a forte ao mesmo tempo.

Nós duas nos erguemos e seguimos mais por aquela caverna (com cautela, já que tínhamos medo de encontrar Mary naquele lugar), no caminho, reparamos que passamos por uma espécie de laguinho, mas como não sabíamos se aquilo era água mesmo, decidimos dar a volta, contornando-o; notamos também que à margem desse lago, estavam umas caixas com um cheiro muito forte, mas como queríamos chegar o quanto antes ao fim daquele lugar apenas seguimos até nos depararmos com uma grande cortina vermelha.

— Será que a saída deste lugar é por aqui? – questionei.

— Isso é o que verem... – respondeu Jennifer já dando um passo à frente e abrindo um pedaço daquela cortina, mas estranhamente ela ficou muda e voltou alguns passos para trás pálida, parecia que tinha visto o próprio demônio em pessoa!

Eu fiquei sem ação por uns segundos, mas eis que repentinamente a cortina se abre, revelando uma das coisas mais bizarras e horripilantes que vi na minha vida: um bebê gigante com o corpo todo deformado e a pele de um tom roxo!

— CORRE! – berrou Jennifer.

E foi o que fizemos, dei uma olhada para trás e ele vinha no nosso encalço... Entre passos apressados e tropeços, chegamos a um ponto em que ficamos entre a cruz e a espada: atrás de nós vinha o enorme bebê e à nossa frente, o lago que vimos antes (na pressa, nem nos atrevemos a dar aquela volta de novo):

— Vamos ter que pular nessa água! – disse Jennifer convicta.

— Não sabemos exatamente o que tem aí... – respondi receosa.

— Temos que arriscar, aquela coisa está vindo logo aí! – continuou ela – No três... 1... 2... 3!

E de mãos dadas, nós duas pulamos naquilo que, para o nosso alívio e saúde, era apenas água mesmo. Para nosso terror, o grande bebê também havia chegado naquele lago, não tivemos outra saída a não ser escalar uma espécie de pequena colina que nos tiraria de lá. Entre algumas quase escorregadas (se escorregássemos de verdade, seria morte certa nas mãos daquele monstro), conseguimos escalar com sucesso e, chegando ao topo, acabamos esbarrando naquelas mesmas caixas com aquele cheiro fortíssimo que, rolando abaixo, alcançaram a água causando alguma reação da qual nasceu um fogo ardente queimando aquela coisa gigante deformada! De fato, deveria ter alguma substância inflamável naquilo, o aroma não negava...

Aquele monstro começou dar gritos que poderiam deixar qualquer um surdo e aquela caverna começou a tremer. Desesperadas, corremos o mais rápido que pudemos.

— Acho que não podemos voltar pro começo da caverna onde tem aquele cachorro – observou Jennifer – ele não vai ser enganado de novo!

Então parei, olhei ao meu redor e percebi uma entrada que não lembrava ter visto antes.

— Olhe! – e apontei para o que estava enxergando – Não me recordo daquele caminho ali...

Corremos esperançosas até aquela fenda, entramos e chegamos num elevador, adentramos o mesmo e estranhamente o único andar que podíamos selecionar foi o terceiro, sem muita alternativa, apertei o botão correspondente ao número três e, assim, o elevador começou a subir.

De repente, o elevador parou bruscamente, mas o visor indicava que já estávamos no piso que escolhemos. Instantes depois, um barulho de algo rangendo acima das nossas cabeças chamou a nossa atenção e, rapidamente, um pedaço do teto foi removido e, num movimento rápido, o menino apareceu com a tesoura aberta, numa pose ameaçadora.

 – AAAAAAAAAAH! – gritamos.

Felizmente, a porta se abriu antes que ele pudesse fazer alguma coisa e saímos apressadíssimas dali. Corremos até uma escada a qual subimos rapidamente até o topo, lá, nos vimos num lugar com um grande relógio voltado para o lado de fora, um monte de engrenagens e uma caixa com dois disjuntores. Novamente, uma lâmpada iluminou nossas ideias, olhei para Jennifer que parecia ter entendido o que eu estava pensando e disse:

— É aqui que deve ser a torre do relógio! E esse disjuntores devem ser aquilo que Lotte disse sobre ligá-la!

Mal acabei a minha fala e o menino apareceu para nos amedrontar, então rapidamente ligamos nós duas, uma em cada disjuntor, as engrenagens da torre do relógio! Ao acionarmos todo aquele mecanismo, ouvimos as badaladas do relógio e, para nosso espanto, o garotinho largou a sua grande tesoura do nada ao colocar as mãos nas suas orelhas! Creio que o barulho característico da torre deveria irritá-lo.

— É por isso que aquela nota e a própria Lotte falaram tanto de religar as engrenagens daqui da torre! Era o segredo para nos livrarmos do demônio da tesoura! – Jennifer concluiu.

E, diante das nossas vistas, o menino caiu para sua morte nas engrenagens inferiores da grande torre do relógio, mas nem tivemos tempo para comemorar, já que Mary apareceu com uma expressão triste e irônica ao mesmo tempo, parecia estar muito maluca:

 – Bravo! Bravo! – ela dizia se aproximando e batendo palmas. – As duas assassinazinhas conseguiram matar meus dois filhos!

Nós nos assustamos a princípio, mas em seguida recuperamos a postura corajosa:

— Mary... Por que trazer eu e as meninas para cá? Qual era a sua intenção? – perguntei encarando-a desafiadoramente.

— Vocês descobriram tudo: meus filhos, Bobby e Dan, precisavam de comida... Carne humana! Sempre usei da desculpa da adoção para que eu conseguisse dar o que comer para eles... – ela respondeu numa naturalidade que me causaria medo se não estivesse já revoltada com toda essa história – A princípio era para adotar essa daí – ela disse apontando para Jennifer. – e as amigas dela que, aliás, deram uma bela de uma refeição para eles... – Jennifer e eu fizemos uma expressão raivosa. – e no seu caso, Helena, fiz algo muito mais simples: subornei aquela idiota da Margaret para te trazer para cá. Aquela história de o orfanato de Granite estar em crise? HAHAHAHA Ela te enganou!

OK! Aqui eu fiquei devidamente chocada, Mary estava jogando na minha cara que me comprou como qualquer pedaço de carne no açougue.

— Ah! Tenho que também revelar para vocês que o senhor Barrows não existe, sou eu mesma a dona de tudo isso aqui! – continuou ela – Mas agora as duas assassinas vão pagar caro pela morte dos meus bebês!

— E quem é você para falar de assassinato, Mary... Barrows? – falou Jennifer com uma expressão raivosa. – Uma mulher que deve ter vendido o próprio útero para o demônio para gerar essas coisas horríveis que mataram meu pai! – terminou quase gritando.

Mary, que também ficou com raiva após o que ouviu, chegou rapidamente até perto de nós duas e desferiu um forte tapa no rosto de Jennifer, mas esta não deixou barato, retribuiu o golpe que levou com um tão forte quanto! Foi tudo muito rápido: não tive tempo para separar as duas e quando dei por mim, elas rolavam pelo chão, mas como não dá para comparar a força de uma adolescente de apenas 14 anos com uma mulher adulta, a mãe dos gêmeos mortos conseguiu ficar por cima da minha parceira, tentando enforcá-la. Eu nem pensei duas vezes, parti para cima da senhora Barrows e consegui removê-la de cima de Jennifer, caí de bunda e tudo que vi foi Mary batendo o seu corpo na caixa de disjuntores que ligou a torre do relógio e em seguida, seu corpo convulsionando, os cabelos se arrepiando, os olhos se revirando, enfim, morrendo eletrocutada!

Jennifer que tinha se recuperado da briga disse sorrindo:

— Eu te salvei antes e agora você me salvou!

Nós nos abraçamos e andamos juntas até a saída da torre, estava de noite, chovendo e, esperançosas, olhávamos o horizonte até que Jennifer bruscamente se virou para mim:

— Helena! Tudo aqui não passou de um jogo, você está dentro do mundo dos jogos, aliás! Parece que você vai ter que passar por mais alguns para conseguir enfim voltar pra casa!

— O que? Jennifer... Eu não entendo... Como assim?

— Apenas me escute! Você foi retirada do seu mundo por um propósito que não posso te falar, apenas seja essa menina corajosa e disciplinada que você foi comigo nesta jornada! – ela disse firmemente.

Continuei sem compreender nada até que, de repente. vi tudo se desmanchar e Jennifer desaparecendo aos poucos.

— Adeus, Helena! Obrigado por tudo! – ela me disse sorridente e fazendo um aceno para mim.

E quando tudo se desmanchou e Jennifer sumiu, eu me vi começando a cair, logo comecei a gritar desesperadamente até que tombei em algo plano e desmaiei...

Quando acordei era ainda de noite e eu estava deitada em alguma coisa fofa, mas não era uma cama, era um gramado de cor amarelada. Eis então que surge um homem de cabelos castanhos como os meus, de barba, com uma expressão simpática e um sotaque que lembrava um pouco a língua espanhola:

— La señorita estás bien?


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Notas finais do capítulo

E Helena conseguiu concluir o 1º jogo pelo qual ela passou sã (será que tão sã assim depois de todo o terror? Rsrs) e salva! Qual será o jogo em que ela caiu agora?



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