Utopia escrita por Aislyn


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Tema usado: Decepção



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A campainha foi tocada três vezes seguidas, mostrando a urgência em ser atendido. A careta de desgosto ao ver quem abriu a porta foi perceptível, mas Mikaru resolveu ignorar, pois tinha assuntos mais sérios para tratar.

 

— Bom dia, Mikaru! Veio para o café da manhã? – o namorado de Takeo deu espaço para o empresário entrar, mas o que recebeu em retorno foi apenas um resmungo, enquanto o homem entrava no apartamento.

 

— Cadê o Shiro? – perguntou sem rodeios, olhando de relance para o outro, esperando que ele facilitasse sua procura.

 

— Eu estou bem, obrigado por perguntar! – pelo visto o loiro estava azedo como de costume. Hayato apenas revirou os olhos, ignorando o mal humor alheio – Ele está na sala separando uns papéis.

 

Outro resmungo veio como resposta e Hayato decidiu encarar como agradecimento, caminhando atrás do empresário, mas pegando a porta à direita do corredor, sendo impedido antes de entrar na cozinha.

 

— Izumi! Que horas ele chegou em casa ontem?

 

— O que? – o rapaz precisou de um instante para processar a pergunta, para ter certeza que depois daquela pequena demonstração de irritação, a questão estava mesmo sendo dirigida a ele – O Takeo? Eu não vi o horário, mas sei que era bem tarde. Ele comentou algo sobre ter esperado a chuva parar, mas eu estava com sono demais para prestar atenção.

 

— Hm… ponto pra ele… – murmurou para si mesmo, lembrando das reclamações do amigo. Se não tivesse sido um sonho, ali estava uma prova de que a relação não ia bem. Se o namorado estava na rua, numa noite chuvosa, o mínimo que Izumi poderia fazer era esperar acordado para ter certeza que Takeo chegaria são e salvo.

 

— Eu já vou levar café pra vocês. – o rapaz ofereceu gentil, recebendo um aceno de dispensa enquanto o empresário lhe dava as costas e caminhava para a sala.

 

* * *

 

Mikaru tamborilava os dedos no estofado do sofá, observando Takeo trabalhar por um instante que parecia a eternidade. Podia ter avisado antes de aparecer ali do nada, mas queria tirar aquela dúvida. E pegar o amigo de surpresa parecia uma boa ideia.

 

Quando Takeo finalmente guardava os papéis em uma pasta, seu namorado voltou à sala, trazendo algumas canecas, que Mikaru fez questão de ignorar. Não queria nada preparado por ele, para correr o risco de ter uma intoxicação alimentar, mesmo que com um simples café.

 

— O que precisava falar comigo? – o empresário ignorou a pergunta ao ver Takeo pegar a caneca que lhe era estendida, sorrindo agradecido para o namorado. A frustração alcançou níveis elevados quando eles sentaram lado-a-lado, aquele ex-vocalista abusado envolvendo o braço do amigo e apoiando a cabeça em seu ombro. E o sacana parecia não se importar nem um pouco!

 

Aquela proximidade o incomodou demais, ao ponto de mais uma vez duvidar do que aconteceu na noite anterior. Pelo visto, tudo não passou de um sonho. Takeo podia ter seus defeitos, ter a fama de galinha e ser um bom ator, mas não àquele ponto. Ele não poderia ter mentido tanto sobre seus sentimentos; sobre perder o interesse no namorado e estar em dúvidas sobre o que sentia em relação a ele.

 

— É particular. – retrucou enfim, esperando que o outro pegasse as canecas de volta e saísse da sala para dar privacidade aos dois, mas Takeo interferiu, defendendo o namorado, para seu desespero.

 

— Vocês brigaram de novo? Pensei que estavam começando a se entender.

 

— Aceitar a existência dele aqui não significa que confio o suficiente para contar da minha vida pessoal.

 

— Ele não vai contar da sua vida pra ninguém, Mikaru…

 

— Podemos conversar a sós ou não? – levantou-se do sofá, esperando apenas um sim ou não. O arrependimento por ter aparecido na casa do amigo estava começando a dar as caras.

 

— Tudo bem, vamos lá pra varanda.

 

* * *

 

O vento fresco da manhã foi capaz de acalmar um pouco os pensamentos de Mikaru, mas não tirou o peso de seus ombros. Não devia culpar Takeo pelo que estava sentindo, afinal era ele mesmo quem estava alimentando expectativas, sem saber em que realmente podia acreditar. O amigo não tinha culpa de seus devaneios.

 

— Até que horas ficou lá em casa ontem? – questionou num murmúrio, temendo que a partir dali, qualquer situação não passasse de algo criado por sua mente. E nem se considerava tão criativo para coisas que não se relacionassem com seu trabalho.

 

— Já estava quase amanhecendo. A chuva não quis dar trégua e eu não queria arriscar dirigir a noite. Espero não ter deixado nada bagunçado. – mas o sorriso que mostrou não tinha nada de culpado.

 

— Não deixou. Na verdade, não tinha rastro nenhum de que você passou por lá.

 

— Jura? Eu não sou tão organizado assim. – estendeu a mão, bagunçando os fios claros do amigo, encarando-o de soslaio – Então, o que queria falar comigo que não podia contar na frente do Hayato?

 

— É sobre o que aconteceu ontem… eu não lembro do que houve…

 

— Não lembra? – Takeo encarou-o sério, talvez preocupado pela primeira vez naquele dia.

 

— Bom, lembro… eu acho. Só não tenho certeza se o que lembro foi real.

 

— Eu cheguei ensopado, você foi me receber, emprestou um roupão enquanto minhas roupas secavam, a gente ficou no sofá conversando por um tempo. Confere?

 

— Certo… dessa parte eu lembro… – suspirou frustrado. Ele precisava perguntar diretamente, ou iria embora com aquela dúvida entalada na garganta.

 

— Você estava mais tranquilo ontem. Teve algum pesadelo pra ficar tenso assim?

 

— Não… dormi bem demais e isso que me assusta.

 

— Claro que dormiu bem! Eu estava de guarda! – sorriu sacana, um movimento do outro lado da porta da varanda chamando sua atenção – Quer perguntar mais alguma coisa? Hayato está ficando impaciente.

 

— Ele está preocupado em deixar você sozinho comigo? – Mikaru sorriu amargo, decidido a esquecer aquela história. Pelo visto não passava de um fruto da sua imaginação.

 

— Não, está preocupado com você! Se fosse uns anos atrás, ele poderia estar paranóico sobre você me atacar enquanto a gente está sozinho, mas hoje ele sabe que pode confiar.

 

— Eu não teria essa certeza. Se não ataquei foi porque você me pediu para não fazer.

 

— Sério? – Takeo encarou-o com um sorriso de canto, a mão novamente lhe dispensando um carinho, dessa vez no rosto – Sabe, ele nunca desconfiaria de nada entre nós dois.

 

— Porque nunca vai acontecer nada… – lamentou num suspiro, esfregando o rosto com força. O dia mal havia começado e estava se sentindo esgotado.

 

— Olha, eu preciso levar o Hayato para o trabalho e ir para o meu também. Posso te visitar no fim de semana pra gente conversar melhor?

 

— Faça como quiser. – deu de ombros, decidido a enterrar aquele assunto. Fora um sonho, nada além disso. Precisava procurar Katsuya, seu namorado, e conversar com ele, pedir para passarem mais tempo juntos e assim acabar com aquele vazio durante as noites.

 

Takeo acompanhou-o até a porta, mas o silêncio entre eles pareceu pesado. Mikaru queria gritar e perguntar se era verdade ou não, mas temia passar vergonha, temia ouvir a verdade e descobrir que talvez estivesse ficando louco.

 

Mikaru calçou os sapatos, pegando a mochila ao lado da porta, mas foi impedido de abrir a saída ao receber um abraço por trás, a cabeça do amigo pousando em seu ombro, os fios ruivos causando-lhe cócegas no pescoço.

 

— O que está fazendo? – a voz de Mikaru saiu num sopro, a respiração parecendo presa em seu peito.

 

— Me despedindo. – a risada baixa de Takeo causou-lhe arrepios na nuca – Te vejo no sábado. – e o soltou.

 

Não sabia o que aquele abraço queria dizer, mas será que Takeo tinha a menor ideia do quanto mexia consigo? Das reações que conseguia arrancar de seu corpo? Do quanto o deixava confuso e sem chão, desejando por mais toques?

 

Sobressaltou ao ouvir uma buzina atrás de si, erguendo a cabeça do volante e notando que o sinal havia liberado passagem para os carros. Estava dois quarteirões de distância do prédio do amigo, contudo, foi mais uma vez acometido pela dúvida; havia visitado Takeo e tiveram aquela conversa ou foi somente mais um devaneio? Teria que esperar o fim de semana para tirar mais aquela dúvida.


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Notas finais do capítulo

Continua ^^
*foge das pedradas*



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