Natsume seria liberado do hospital naquela manhã, após um último check-up com o médico. Seus parentes não estavam presentes, alegando que tinham trabalho para terminar, tendo indo embora logo cedo. Mas havia alguém lá para busca-lo; ou, melhor, duas pessoas lá para busca-lo! O casal Fujiwara que conheceu a pouco tempo estava lá para acompanhar sua saída do hospital.

O casal era composto por uma moça muito gentil e educada, chamada Touko, e por um homem sério e também muito educado, chamado Shigeru. Touko já havia falado algumas poucas vezes com Natsume e, quando foi hospitalizado, pode conhecer Shigeru, que havia vindo visita-lo junto com ela.

Eles eram aparentemente muito gentis e estavam convidando Natsume para morar com eles no interior. Eles pareciam tão sérios com o convite, pensando tanto apenas no bem estar dele e nada mais, que Natsume se convenceu de que nada seria melhor do que aceitar ir com eles. O misto de emoções havia sido tamanho que ele começou a chorar na hora, praticamente implorando que eles realmente o acolhessem.

Depois desse dia, a semana que passou no hospital foi preenchida por visitas da Touko, que confirmava que seu marido estava ocupado com o trabalho na maioria dos dias – houve um dia em que ele conseguiu sair mais cedo do trabalho para vê-lo. E, agora, os dois estavam ali com ele, de manhã em um dia da semana, no qual com certeza Shigeru deveria estar trabalhando, para acompanhar sua saída do hospital e leva-lo para casa.

Era um misto de estranhas novas sensações ter aquele casal tão sorridente e gentil o acompanhando na saída, indo até o apartamento onde estava ficando para ajudar a pegar o resto de suas coisas e o tirando do transe de sua despedida com um calor até então desconhecido para ele.

— Obrigado por cuidarem de mim. – Natsume cumprimentava seus parentes na porta antes de sair e, como em todas as outras ocasiões, ficou parcialmente travado de nervoso pela atmosfera tensa e, ao mesmo tempo, aliviada, que seus parentes sustentavam quando ele se mudava.

— Não se preocupe com isso. – mesmo com os parentes sorrindo ao responder, Natsume não conseguia deixar de associar aquilo com uma mentira.

— Takashi-kun, vamos indo. – ouvir seu nome ser chamado com tanta animação, do nada, e se virar para encontrar o sorriso de Touko foi um momento que ele nunca saberia descrever em palavras direito.

— Temos um trem para pegar ainda, Takashi. – Shigeru o chamou por seu nome, também sorrindo genuinamente assim como Touko.

— Sim. – sem pensar, deu as costas e foi na direção do casal, andando no meio dos dois o caminho inteiro.

O casal já o havia chamado por seu primeiro nome antes, mas apenas agora eu realmente estava conseguindo associar aquele... Aquele sentimento tão diferente que os dois transmitiam ao fazê-lo. Seus parentes sempre o chamavam de Natsume, mas não pelo seu primeiro nome. Como seria ficar com aquele casal agora? Pois eles o chamaram para vir morara com eles e se certificaram que, ao mesmo tempo que saísse do hospital, ele já pudesse ir. Eles mal se conheciam e o casal já o tratava naturalmente por seu nome, sempre sorrindo e nunca deixando suas gentilezas de lado.

Pensou consigo mesmo se em alguma casa já havia sido assim tão bem recebido. Não conseguia encontrar nenhuma memoria que fosse compatível e, nessa busca, um súbito medo lhe atingiu com força: Por quanto tempo isso ia durar? Certamente haveriam youkais na região, ele teria uma escola nova, o casal não deveria estar muito bem ciente de sua saúde frágil também e não conseguia lembrar de já ter ficado mais de um ano na casa de parentes.

Guardaria este medo para si e usaria como um guia para ter cuidado com o como se comportaria nessa casa nova. Mesmo assim a perguntava retornava: Como seria morar com o casal? Eles conversavam tão animados com ele no trem, Shigeru carregava uma sacola sua alegando que não deveria fazer muito esforço ainda, os dois estavam atentos a suas expressões faciais e gestos e davam um jeito de envolve-lo em qualquer que fosse a conversa que estivessem tendo na hora.

Era assim que se sentir acolhido parecia? Será que haveriam outras palavras para essas situações e emoções? Teria tempo de descobrir as respostas com eles? Ou tudo acabaria da exata mesma forma que ele já conhecia?

— Takashi-kun? – ele saiu de seus pensamentos ao ser chamado por Touko novamente.

— Sim. O que foi, Touko-san? – ela já havia feito questão de ele a chamasse por seu nome, desde que começou a visita-lo no hospital.

— Você não está se sentindo bem? – ela parecia mais do que genuinamente preocupada.

— Eu estou bem, apenas estava distraído pensando em várias coisas. – ele riu de leve e ela acompanhou.

Shigeru estava atento as conversas e participava sem falta, estando muito feliz por dentro com o carinho e felicidade que sua esposa estava apresentando e, tendo certeza, de que seus sentimentos não eram diferentes. Cuidar de Takashi não havia sido uma decisão por pena ou obrigação, mas sim por um gesto de gentileza e carinho ao rapaz tão educado, tímido, magro e aparentemente indesejado por outros que ele viu naquele funeral e conheceu melhor aos poucos.

Teriam muito tempo para se conhecerem cada vez mais a partir de agora e ele e Touko poderiam apoia-lo, ensina-lo e estar lá para ver suas mudanças e um sorriso normal, real e profundo, que tanto queriam vê-lo esboçar.

Os três caminhavam juntos no por do sol daquele final de tarde, lentamente indo na direção de sua casa, mostrando alguns pontos de referencia a Natsume e o prédio de sua nova escola ao longe. Foi um caminho até que longo, mesmo que tranquilo e sem youkais a vista. Natsume não queria desviar de sua conversa com o casal até que viu os dois pararem na frente de uma casa grande, bem preservada, com uma frente arrumada e uma sensação estranha de tranquilidade que ele desconhecia.

— Chegamos, Takashi-kun. – Touko foi bem curta em suas palavras e ela e Shigeru ficaram admirando a forma como o menino admirava aquela casa.

— Vamos entrar, Takashi? – Shigeru perguntou depois de algum tempo, para chamar sua atenção.

— Sim. – ele parecia bem nervoso caminhando pela entrada e, ao chegar na porta e ser convidado a entrar pelo casal, disse – Desculpe incomodar.

— Takashi, esta agora é sua casa também. – Shigeru estava muito sério, completando – O que você deve dizer quando chega em casa? – sua pergunta era acompanhada de uma expressão preocupada e esperançosa da esposa ao lado.

— Estou de volta. – ficando corado de vergonha, ele timidamente entrou ajeitando seus sapatos no hall.

— Seja bem-vindo. – o coro do casal falando juntos foi uma nova sensação calorosa e desconhecida que ele não sabia como descreveria.

Natsume entrou com os dois e foi apresentado a todos os cômodos da casa, inclusive seu quarto! Um quarto grande, já mobilhado, com suas poucas coisas arrumadas nas caixas de mudança em um canto e já recebendo o primeiro convite para se preparar para jantar, pois logo ficaria pronto.

Com o tempo Natsume pode responder suas questões, entendendo que aqueles sentimentos eram as reais emoções de ser acolhido, compreendido, receber carinho, ter um espaço para se organizar e pessoas para se poiar sem medo. Emoções que, graças ao casal tê-lo encontrado e nunca desistido de ter sua presença por perto, ele agora conhecia.