Ninguém mais sabia o que fazer. Na tentativa de ativar a magia tabu, Kaito quebrou parte de sua chave, Akiho ficou agoniada ao perceber que causara problemas para Sakura e ainda não estava calma, a mãe de Shaoran, Meiling, Wei e Eriol estavam na cidade, o avô de Sakura, sua família e amigos não sabiam como acalma-la e nem Shaoran conseguia mantê-la animada por muito tempo.

Kaito viu que sua magia lhe custaria Akiho e, mesmo que tarde demais, impediu sua execução. No entanto, ele não conseguiu salvar as cartas do baralho dos sonhos e das estrelas. Os dois decks estavam com ele para que pudesse usar a magia dela em seu todo, mas, sem ser seu poder, não pode fazer nada para salva-las do choque das magias de tempo e espaço que estavam em curso no momento.

Na casa de Sakura, enquanto ela tomava um banho, Shaoran estava em seu quarto depois de conversar com Touya e Fujikata. Os dois também não sabiam como ajuda-la e perceberam que Shaoran estava se torturando em pensar no que poderia ter feito ou fazer de diferente por ela.

Na escrivaninha, ela pegou o livro das estrelas e sentiu seu frio. Segurando-o com firmeza, ele implorava por poder ajudar Sakura de alguma forma e que as cartas voltassem, mas não teve resposta. Suspirando deprimido, colocou o livro de volta no lugar e ouviu um leve som passageiro.

Nada parecia ter feito aquele som, porem uma pequena vibração o direcionou ao livro que estava aberto. Ele estava trancado desde o ocorrido com as cartas, porem reabriu! Talvez algum sinal ou chance? Ele não esperou para ver e abriu para encontrar uma carta virada; ao revela-la, soube o que fazer. Seria tudo ou nada!

— Sakura! – ele acabou nem se tocando que ela estava de roupão por ter acabado de sair do banho.

— Shaoran!? – surpresa e vermelha de vergonha, ela não entendia e ficou paralisada ao reparar no que ele tinha em mãos.

— Eu acredito em sua magia, mas, acima de tudo, eu acredito em você. Olhe nos meus olhos e me deixe te ajudar, por favor. Não perca o que sempre lhe deu forças de vista! Sinta no seu coração o que você jamais irá perder! – finalizando, ele lhe estendeu a carta que segurava.

Sakura chorava segurando a carta sozinha. Em seu coração os sorrisos de seus amigos e familiares passava quente e reconfortante, cada momento de carinho com suas cartas lhe preenchia, o amor de cada passo em seu relacionamento com Shaoran aquecia e dava coragem e as lágrimas retiravam o peso de sua tristeza. Ela ajoelhou e foi amparada por Shaoran.

Os dois juntos ali, ele ergueu seu rosto para si, enxugando suas lagrimas, dando a palma de sua mão como apoio, acariciando sua pele de leve e mantendo os olhos dela fixos nos dele, o tempo não parecia avançar até que ela se acalmou. Ele a ajudou a ficar de pé e juntou suas mãos em volta das dela.

— Sakura, diga com todo seu coração! – ele lhe pediu com firmeza.

— Tudo vai ficar bem! – finalmente em dias ela sorriu do fundo de seu coração.

O plano estava armado! Uma magia grande seria realizada, ao por do sol, no corredor central do templo Tsukimine. Lá todos se reuniram para ver o que aconteceria, Eriol cuidaria de colocar uma barreira protetora e a mãe de Shaoran manteria o fluxo de magia no entorno estável.

Naoko, Rika, Chiharu, Yamazaki, os familiares dela e Sonomi foram os primeiros a chegar. Em seguida a mãe de Shaoran veio com Meiling em trajes cerimonias, Eriol e Mizuki vieram, Ruby Moon e Spinel Sun se transformaram, Kaito e Akiho vieram com suas vestes e Momo transformou-se na serpente negra ali mesmo.

Quando Tomoyo veio e pediu que todos abrissem caminho para Sakura passar, ninguém podia prever o que aconteceria. Com uma mão erguida e segurando a de Shaoran, ela vinha com ele a frente e Yue e Kerberos vinham atrás. Seus olhares determinados e passos firmes silenciavam o momento. No final do caminho ele soltou sua mão e deu dois passos para o lado, para que os guardiões pudessem passar.

Palavras eram desnecessárias, o vento sequer dava sinal de passar, o por do sol vermelho no horizonte prevalecia e sequer um inseto ou pássaro dava sinais de cortar o silencio. Ela parou longe e se posicionou de lado com Yue e Kerberos à sua frente.

— Yue-san e Kero-chan, vocês estão prontos? – a pergunta era desnecessária, mas valeria para dar-lhe forças.

— Sim. – curvando-se para ela, em um único movimento gracioso, sem nenhum sinal de hesitação ou dúvida, ambos responderam.

— Chave que possui o poder das estrelas, revel sua verdadeira forma perante mim. Liberte-se! – ela recitou o feitiço das estrelas com seu círculo correspondente aos pés.

Concentrando no potencial absoluto de suas magias, Yue e Kerberos fundiram seus poderes aos da chave e de Sakura. Ela curvou sua cabeça, de olhos fechados e com a única carta restante em mãos. Aquele único momento no tempo, ninguém jamais esqueceria!

Usando o vestido branco e longo, com mangas caídas, longas e cortadas até os cotovelos, no braço direito uma pulseira dourada, fina e com pedras vermelhas, no esquerdo enfeites semelhantes no braço e ombro, no pescoço uma grossa gargantilha no mesmo desenho ondulado e, no topo dos cabelos, um laço rosa se destacava.

Em sua mão esquerda ela segurava um bastão de seu tamanho, com as bases superior e inferior enfeitadas em dourado com pedras vermelhas – sendo no topo, o enfeite similar ao sol, no topo uma grande estrela se apoiava na lua e duas asas majestosas se estendiam ao lado. Em sua mão direita, a carta estava erguida e impossível de ser identificada.

Nem uma palavra era dita e o silencio via o poder dela florescer impossível de se deter. O cento do céu escurecia, as estrelas incontáveis apareciam, o sol e a lua se erguiam em lados opostos do horizonte e seu poder harmonizava com o entorno. Abrindo seus olhos, erguendo seu rosto as estrelas e a chave ao infinito, a magia teve início.

— O Sol e a Lua regem os elementos, o tempo e a vida. As Estrelas preservam a memória e cortam a escuridão do espaço. Os Sonhos lembram, eternizam e refletem o coração. Sobre a proteção do Sol e da Lua, as Estrelas iluminam o caminho que guia os Sonhos.

Neste ponto da magia, Shaoran sacou sua espada e Tomoyo colocou a sua frente uma caixa ornamentada com o círculo dos sonhos de Sakura. Ele fez com que a caixa se abrisse e ergueu, com o feitiço de vento, o livro das estrelas até o topo do bastão, que Sakura mantinha erguido.

— Aqueles que seguem neste caminho, que compartilham esta força e que vivem sobre a mesma esperança, ouçam minha voz! Venham mais uma vez ao meu lado, seres que dividem o caminho do meu ser.

Ela atirou a carta que segurava, revelando esta ser HOPE, e um brilho pérola intenso preencheu seu entorno. Da luz que se esvaia, todas as cartas apareciam mais uma vez, um livro novo se sustentava sobre Sakura; uma chave de cabo pérola, de seu tamanho, dividindo a base superior o sol e a lua juntos brilhavam em dourado, uma joia vermelha na base inferior e uma grande estrela de cristal azul, com o desenho interno similar ao de um prisma, era sustentada por asas brancas; e Yue e Kerberos estavam ao seu lado sorrindo satisfeitos.

Incapaz de colocar tão fortes sentimentos em palavras, Sakura esboçou seu mais profundo e belo sorriso, em uma única frase curta que emocionou seu baralho tanto quanto seus espectadores.

— Bem-vindas de volta!

Unindo seus poderes e aquele forte sentimento, as personificações voltaram a forma de cartas e seguiram em ordem para o livro novo – este semitransparente, brilhante como um cristal, carregando a estrela azul dos sonhos no topo da capa, adornos pequenos e dourados, intercalando o sol e a lua nas bordas e o nome ‘SAKURA’ escrito em rosa. Abrindo a parte interna, a magia que recitara estava escrita detalhadamente.

Ela havia conseguido! No final, com certeza, sua magia mais poderosa jamais falharia: Tudo vai ficar bem. A celebração daquela grande conquista foi longa e muito comentada por aqueles que a presenciaram.