Rubro escrita por BrunaAffonso


Capítulo 3
Capítulo 3: Cerimonia




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A pior parte de parte da academia é ter que ser social. Qual é, em toda a minha existência era somente Tomás e eu. Como eu ia conseguir conviver com outros vampiros? Ou com meios-vampiros? Pior, como é que eu ia ter uma colega de quarto?

— Aqui, querida. — A senhora Hermine sorriu ao chegar em frente a uma porta. Ela era uma bela mulher (dãr, ela era uma vampira, o que eu esperava?), cabelos negros e olhos verdes encantadores, tinha uma pequena cicatriz em forma de S próximo à boca, bem sinistra. — Esse prédio é do dormitório feminino da nossa espécie, o dos dampiros fica no próximo anexo e você é autorizada a freqüentá-lo a qualquer hora. Os outros dois anexos são os masculinos, docinho, e é permitido visitas até as oito.

E me tratava como se eu fosse uma criança. Okay, eu fui mudada com quinze anos e meu cabelo castanho escuro me fazia parecer uma adolescente infantil, mas eu aposto que sou mais velha que ela. 

Eu só sorri e peguei a chave da sua mão. Ela foi embora e eu fiquei encarando a porta.

Estava destrancada.

O quarto era grande, espaçoso, e decorado num estilo jovial. Havia duas camas de solteiro cobertas com edredons laranja e dois travesseiros convidativos em cada uma. Ao fim da cama, havia uma espécie de armário embutido. Na cama já ocupada havia escovas, maquiagem e jóias, porém, acima de tudo, muitas, muitas boinas coloridas. Ao lado de cada cama havia um criado mudo já com abajur. Só havia uma janela e ela era enorme. A cortina era azul petróleo e bem fechada. A única luz no quarto era a do abajur da minha colega de quarto.

Tirei o cabide com meu uniforme de cima da cama, e joguei-me lá. Fiquei olhando para as peças. Camisa branca social com botões, gravata e saia preta – jaleco opcional.

— Que maravilha, a prisão tem uniformes... — Murmurei para mim mesma.

Quase pulei quando ouvi a porta se abrir.

— Ops, desculpa. Eu não sabia que a colega de quarto tinha chegado. — O garoto tinha aparência de dezenove, no máximo. Cabelo curto e preto. Seus olhos eram negros, entorpecentes. Usava o mesmo uniforme que eu teria que usar na Academia.

Não, ele não usava saia.

Era uma calça preta. Sinceramente, eu achava que poucos caras poderiam ficar lindos naquele uniforme, mas aquele garoto ficava perfeito. De tirar o fôlego.

Ah, e ele era um vampiro.

— Eu sou o Filipe. — Ele disse ao se aproximar e estender a mão.

Apertei sua mão e vi que ele usou mais força do que o necessário. Um vampiro jovem. Brilhante.

— Melissa.

Ele sorriu. — Desculpa invadir o seu quarto. Quando Liana chegar, você pode avisar que eu passei por aqui?

— Sim, eu aviso. — Ele sorriu de novo.

— Obrigado.

Filipe saiu do quarto. Eu franzi o cenho. Será que eu era a única vampira antiga ali? Aterrorizante.

Sentei na cama e abri minha gaveta no criado mudo. Meus CDs estavam lá, meu Ipod, enquanto meus livros estavam numa pilha no armário embutido da cama. Havia um envelope branco.

Uma carta.

 

Minha bela,

 

Não sabes como é difícil ficar longe de tu assim, mas é o certo e o melhor para ti, então nós temos que aceitar. Pedi para a diretora Lênis providenciar que tuas coisas fossem devidamente arrumadas. Espero que tenham feito um bom trabalho.

Eu sei que vais te sair bem. Tu sempre foste uma aluna brilhante, teimosa, porém brilhante. Sei que vais te adaptar rapidamente a academia. Criei-te livre de preconceitos, e tu sempre trataste os Dampiros com o respeito que eles merecem. Não acho que há mais alguma regra proeminente. Claro, há as regras mais simples, porém sei que vais obedecê-las.

O que achou do teu quarto? Tem uma bela vista para o bosque. Ah, aliás, sei que não devia ter feito isso, mas já que fiz, aqui vai, recolhi informações sobre os teus professores e sobre a tua colega de quarto. Não me repreenda por isso. Eu sou teu pai e é a primeira vez que te tenho longe – estou no meu direito de espionagem. A sua colega de quarto se chama Liana Brizard, vampira francesa, tem duzentos e catorze anos. Pelo que investiguei, ela mesma percebeu que estava na hora de ser uma vampira de verdade e ter um dampiro. Entendeu bem essa parte? VAMPIRA DE VERDADE. Tu devias aprender isso e parar de reclamar.

Percebi que conheço todos os teus professores. Tu terás aula com Dampiros e Vampiros. Isso será bom para exercitar teus sentidos. Sei que tu és boa em diferenciar as duas raças, mas será uma boa prova.

Nunca perguntei isso, mas sabes manejar um florete? Nós já praticamos com montantes e cimitarras, mas nunca pensei no florete. Terás aula de defesa com uso de armas humanas. Basicamente vais estudar esgrima e pistolas de longo alcance.

Não surte com lógica, é mais ligado à filosofia do que com matemática. É enfatizado mais para os dampiros, não se preocupe.

Hipismo vai ser interessante, sei que vais amar sua professora.

Defesa pessoal é talvez a mais importante. O professor não é muito gentil, se é que me entende.

Tecnologia vai ser fácil para ti, e o professor é um tanto divertido.

A última aula tu escolhes. Suas opções são canoagem – os dampiros sempre lotam essas aulas -, pólo aquático e uma aula só de esgrima.

Tuas aulas normais são essas, e como dampiros precisam dormir, tu terás aulas noturnas direcionadas a nossa espécie.

Anatomia talvez seja um pouco complicada pra ti por causa da professora. Já viste por aí a Moema? Aquela mulher me assusta.

O que acha de astronomia? Irônico, não?

A propósito, não irrites o professor de literatura. Digamos que ele é um pouco estressado.

Dança é algo fácil para os vampiros.

Eu sei que és quase mestra em história, mas deixe o professor Nereu ensinar Mitologia, certo? Ele vai ver que tens potencial.

Sei que vais te sair bem.

 

Com amor, teu pai,

 

 

Tomás Vaz Lancastre.

 

— Oi. — Eu ouvi uma voz amigável falar.

Ergui minha cabeça da gigantesca carta e vi uma vampira com aparência de no máximo vinte anos. Tinha cabelos pretos lisos até depois dos ombros, usando uma franja, e olhos escuros reluzentes. As unhas pintadas de um vermelho vibrante, combinando com a boina vermelha que usava. Eu sorri.

— Oi.

— Sou a Liana. — Ela disse indo até o outro lado do quarto.

— Melissa. — Liana começou a remexer a sua gaveta.

— Aqui. Hermine pediu para te entregar o seu horário. Você vai entrar na turma do terceiro ano. — Ela me estendeu o papel e eu o peguei. — O sexto tempo você escolhe.

 

Dia:

 

Primeiro tempo

Lógica – Professor Minosso

 

Segundo tempo

Defesa Pessoal – Professor Donaldo

 

Terceiro tempo

Técnicas de armamento – Professor Maximilian

 

Quarto tempo

Tecnologia -  Professor Honorino

 

Quinto tempo

Hipismo – Professora Tácita

 

Sexto tempo

Esgrima – Professor Maximilian

Canoagem – Professor Mem

Pólo Aquático – Professora Josefine

 

Noite:

 

Primeiro tempo

Dança – Professora Jade

 

Segundo tempo

Literatura – Professor Gudemberg

 

Terceiro tempo

Mitologia – Professor Nereu

 

Quarto tempo

Astronomia – Professora Bartira

 

Quinto tempo

Anatomia – Professora Moema

 

— Uau. — Eu exalei.

— Parece muito, mas você se acostuma. Importa-se se eu puser música? — Liana perguntou.

— Não. — Balancei a cabeça e comecei a folhear os livros da academia.

Ela colocou Il Divo. Para uma vampira de duzentos anos, ela até tinha bom gosto musical.

— Brasileira? — Me perguntou.

— Meus pais eram, mas eu nasci na Áustria. — Respondi fechando o livro. — Francesa, certo?

— Certo. — Ela sorriu. — Mudei na Revolução. Nunca descobri o nome do meu criador. Você sabe o do seu?

— Tomás Lancastre. Ah, aliás, o Filipe veio aqui e pediu para avisar.

Eu quase pude ver Liana corar.

— Hmm... Obrigada. Então, você veio para receber instrução ou por causa de um dampiro? — Liana perguntou deitando na cama.

— Ambos. O meu criador acha que já é hora de ter um.

— Antes eu não sabia sobre os dampiros. Quer dizer, algum idiota me criou e me abandonou em meio a uma revolução. Eu vivi quase como uma selvagem. Até que eu conheci a professora Josefine. Ela cuidou de mim e me explicou sobre tudo. Eu já tinha cem anos naquela época.

— Não consigo me imaginar sem Tomás. — Eu disse, baixinho. Do que eu reclamava? Liana nem teve um guia, antes de Josefine. Eu era afortunada. E reclamava por ser obrigada a vir pra cá.

— Agora não consigo me imaginar sem ela. Nós morávamos numa pequena vila da França quando ela recebeu o convite da Academia. Viemos para cá e eu conheci o Filipe. — Liana sorriu. — Qual a sua história?

— Meus pais morreram na Grande Guerra e eu fui mandada para um orfanato. Um ano depois fomos obrigados a sair de lá por ameaças dos Aliados e conheci Tomás na fuga. Eu estava morrendo de fome no meio da estrada e ele me resgatou e cuidou de mim. Depois ele me explicou o que era e eu quis ser como ele.

— Primeira grande guerra?

— Eu tenho noventa e cinco anos como vampira. — Assenti.

— Por que ele te trouxe pra cá, Mel? — Liana perguntou

— Caçadores de vampiros. Eu fui atacada três vezes e ele decidiu que eu precisava de um dampiro.

— Eu demorei muito tempo para aprender sobre os dampiros. — Liana disse olhando para o teto. — Filhos de vampiros com humanos. Mestiços mais fortes que os pais, sejam eles humanos ou vampiros. Mestiços que juraram destruir a hipocrisia da Rosa Negra.

— Tomás me disse que um Rosa Negra matou a última rainha dampira enquanto ela decidiu, por livre arbítrio, proteger o seu pai. Foi então que o juramento começou.

— Três mil anos atrás... — Liana sorriu — Você está pronta? — Ela levantou-se — Parsifal vai começar a cerimônia.

Franzi o cenho.

— Cerimônia?

 


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