Você Partiu Meu coração escrita por Typewriter


Capítulo 2
Nataanael


Notas iniciais do capítulo

Boa leittura, pessoal



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751695/chapter/2

Pelo canto do olho vi Berenice abaixar a cabeça e suspirar logo depois de piscar três vezes consecutivas para conter as lágrimas que também brilhavam em seus olhos.

"Planejei por seis meses te pedir em casamento, nesse final de semana, no dia dos namorados, se eu soubesse que você me traía não teria planejado tal pedido por dois meses." quando finalmente falei meu tom era amargo , em uma clara demonstração do quanto a descoberta de sua traição me feriu.

"Natanael..." a voz dela transmitia insegurança, tristeza e dor e , ao olhar para ela, notei que as lágrimas escorriam por seu rosto.

Constatar isso quase desencadeou meu próprio choro,mas me recusava a chorar ali na frente de Berenice, assim como também não diria mais nada devido ao fato de que simplesmente nenhum de nós conseguiria conversar sobre aquilo de forma racional naquele momento, por isso, expressei isso em alto e bom som:

"Se discutirmos esse assunto agora vamos dizer e ouvir coisas que mais tarde provocaria na gente um terrível arrependimento, por favor saia."

Durante alguns instantes Berenice permaneceu parada, chorando em um silêncio tão profundo que caso as lágrimas cada vez mais intensas não escorressem por seu rosto, eu duvidaria que ela compreendeu os significado das últimas palavras que eu praticamente grunhi para ela antes de vê-la sair pela porta.

Assim que ouvi o barulho da porta da frente da pizzaria bater, indicando que Berenice não me ouviria, xinguei:

"Sua filha da puta! Sua vadia! Sem coração! Por que não terminou o namoro comigo? Doeria muito menos em mim!" extravasei aos berros tudo aquilo que quis falar para ela, enquanto sovava a massa de pizza, dando vazão à toda minha raiva e frustação e era melhor gritar com as paredes do que com Berenice, pelo menos naquele momento.

Às quatro e meia da tarde, quando os funcionários e César costumam chegar,o forno já estava aceso e boa parte do mise en place para o serviço daquela noite estava praticamente todo pronto.

"Você e Berê brigaram." tal constatação de César fez com que eu desse um salto para longe da bancada onde trabalhava olhar o relógio e começar a escutar os burburinhos vindos do vestiário.

Meu sócio fez menção de falar mais alguma coisa, mas pensou melhor e ficou calado, fato que agradeci mentalmente, pois aquele não era um bom momento para chorar pelo leite derramado, como minha avó dizia.

Trabalhar duro naquele dia foi a melhor coisa que poderia ter feito, pois a pizzaria não abriria no dia seguinte, pois no dali dois dias seria o Dia dos Namorados e o movimento da pizzaria, naquela data seria uma das mais movimentadas do ano.

Levei uma pizza calabresa para o meu apartamento e, enquanto a assava no forno do fogão, fui tomar um banho rápido, para retirar o cheiro de fumaça do meu corpo.

Quando finalmente entrei sob os jatos de água quente senti que as lágrimas, até então contidas, escorriam pelo meu rosto, mas chorar pela traição da mulher que eu amo, sim, ainda amo Berenice, por mais que doa, só aumentou a raiva, a frustração e a dor em mim.

Coloquei sabonete líquido numa esponja - um hábito que adquiri de Berenice - e passei-a com força pela minha pele com força e desesperadamente, na vã esperança que de, além do cheiro de fumaça, aquele ato tirasse de mim a sensação do toque de minha namorada, desde o mais simples roçar de dedos até o corpo dela pressionado contra o meu enquanto  fazaímos amor.

O tiro saiu pela culatra e tais memórias apenas ficaram muito mais vívidas em minha mente conforme eu lavava os meus cabelos, praticamente cravando minhas unhas em meu couro cabeludo, antes de fechar a torneira do chuveiro.

A forma como passei a grande e felpuda - outra mania que peguei com Nice - pelo meu corpo não foi gentil, muito pelo contrário. Depois de seco passei creme de pentear em meu cabelo e o penteie.

Já em meu quarto abri a primeira gaveta do guarda-roupa peguei para vestir uma cueca samba canção - meu pijama costumeiro - antes de ir para a cozinha verificar a pizza, que ainda não estava assada.

Estendia a toalha no varal da área de serviço no momento em que ouvi o som do interfone soar no pilar da bancada que separava a cozinha da sala de estar, andei lentamente, pois não estava com a menor vontade de receber visitas e tinha plena ciência de que era uma visita, visto que não pedi comida para entrega.

"Boa noite, seu Natanael, o César está aqui na portaria e disse que não vai embora até ' você o deixar entrar." seu Benício disse simplesmente, parafraseando as palavras de meu melhor amigo, com as exceções dos palavrões.

Sentei na banqueta alta próxima ao interfone e mordia língua para conter um xingamento. César,, desde que nos conhecemos, sempre foi cabeça dura e eu tinha certeza absoluta de que ele era capaz de acampar na portaria, caso eu não permitisse sua entrada em meu apartamento.

"Tudo bem, seu Benício, pode deixar o César entrar." disse após um longo minuto de silêncio, após ser tirado de meus devaneios quando o porteiro  pigarreou outro lado da linha.

A primeira coisa que notei ao abrir a porta para César foi que ele segurava um cooler em cada uma das mãos.

"Trouxe dois coolers de cerveja trincando de tão geladas que estão, vamos beber todas essa noite, já que não temos trabalho amanhã." eu sabia que aquilo era um simples aviso e ele não aceitaria não como resposta.

"Estou assando uma pizza tamanho família de calabresa no forno." disse enquanto o assistia se jogar no sofá e abrir um dos coolers e pegar duas garrafas de Skol Beats, abrindo uma e jogando outra para mim.

Peguei a garrafa por reflexo e girei a tampa abrindo-a e tomei um gole antes de desligar o forno e pegar a forma com luva e colocar a forma sobre a bancada de mármore negro, deixando-a esfriar enquanto tiro a luva e me sento no sofá ao lado de meu melhor amigo para pouco depois tomar mais um gole da garrafa.

"Você só chegou tão mais cedo ao trabalho quando Valesca, sua falecida namorada morreu e eu sei que Bere não morreu, liguei para e desliguei assim que a ouvi atender a chamada." César esclareceu, como se fosse preciso esclarecer o fato de que Berenice estava viva. "Então, quão feia foi a briga?" questionou direto e deu um gole em sua garrafa ,esperando uma resposta minha.

"Não brigamos, ainda não, pelo menos." respondi. "Mas noite passada fui até a casa dela levar a pizza de brócolis com bacon e passar um tempo com minha garota, mas quando subi conseguia ouvir os gemidos de Berenice vindos do quarto, segui o barulho e a porta do quarto dela estava entreaberta, então além de ver Laerte, o primo dela transando com minha garota e depois a ouvi dizer que não poderia mais fazer isso e o cara disse que duvidava muito, porque eles transam desde que nossa primeira fez e que eu não a satisfaço como ele, aí ela disse estava comigo , mas que ele era um vício difícil de largar e eu fiquei em choque por algum tempo observando e ouvindo aquilo antes de sair correndo e pegar minha moto que deixei lá semana passada ao invés do meu carro." contei para ele num fôlego só antes de virar todo o conteúdo existente na garrafa de uma vez só.

"Cara, você deveria ter me escutado há cinco anos atrás. Eu disse que era cedo demais, Valesca estava morta há apenas dois meses quando você conheceu Berenice." eu sabia que César, para César, se tratava apenas de uma observação, não um julgamento. "Você mal teve a chance de sentir falta dela, droga, você pediu a Bere em namoro um mês depois de a conhecer e tudo o que ela sabe sobre Lesca é que ela morreu. Aposto que você não contou para ela que você estava lá, que Valesca te tirou da frente do caminhão, mas não conseguiu sair a tempo. Você foi um filho da puta com a garota desde o primeiro dia, porquê ela entrou nesse relacionamento com você de cabeça. Termine com Berenice e vá curtir, pega geral sem compromisso, como deveria ter feito anos." a tonalidade da voz de César ,e lembrou a de um general dando uma bronca e uma ordem num subordinado ao mesmo tempo.

Escutar aquilo foi pior que um tapa na cara, mas eu me limitei a concordar com a cabeça, pois sabia que meu melhor amigo tinha razão.

César levantou e eu ouvi alguns barulhos vindos da cozinha e algum tempo depois César apareceu com a pizza toda cortada numa bandeja de aperitivos, que foi posta sobre a mesa de centro antes dele se jogar no sofá e ligar a televisão para vermos o jogo de futebol e isso significa que o Corinthians deve jogaria, franzo a testa quando ele muda do Sportv para o ESPN.

"Odeio a voz do Galvão Bueno." ele diz simplesmente.

Assistir à uma partida de futebol com um corinthiano fanático é algo realmente divertido, principalmente quando eu não entendo nada desse esporte e meu melhor amigo xinga o árbitro toda vez que ele marca qualquer falta cometida pelo seu time.

Durante o intervalo do jogo nós simplesmente comemos e bebemos em silêncio.

Conheci César quando a gente tinha cinco anos e minha família se mudou para a capital do Estado, isto é, São Paulo, porque meu pai tinha passado num concurso de promotor ou alguma coisa assim.

Até hoje dou risada quando ele olhou para mim e perguntou se eu era branco porque não tomava Todynho e eu respondi perguntando se ele só comia chocolate, desde então nos tornamos inseparáveis. Um passava cola para o outro até o colegial, depois eu fui cursar gastronomia e ele administração de em empresas. Quando ele me contou desesperado que a pizzaria do pai entraria em falência eu comprei metade, juntos nós reerguemos os negócios.

Negócios, eis um tema que meu pai e eu sempre discordamos, pois ele queria que eu cursasse direito e continuasse com a advocacia da família, como meu tio, ou conseguisse algum cargo público alto, como ele, tal pensamento trouxe à mente a conversa que tive sobre isso com meu pai:

"Natanel, gostaria de saber qual das faculdade de direito você pretende cursar, meu filho." meu pai disse entrando no meu quarto ainda de terno e gravata, eram oito horas da noite e ele acabou de chegar do tribunal.

"Eu quero fazer gastronomia, pai, quero ter um restaurante." disse num fôlego só, pois sabia que ou eu dizia aquilo de uma vez por todas ou não diria nada.

"É muito legal você ter um hobby filho, mas você precisa de uma profissão." papai disse frisando o fato que ele não considerava cozinhar uma profissão e sim um passatempo.

"Não é apenas um passatempo, pai." falei me sentindo frustrado.

"Boa sorte em conseguir pagar a faculdade e se sustentar sem a minha ajuda, pode sair da minha casa agora. ele disse com uma tranquilidade de quem comenta sobre a mudança a mudança climática que o tempo sobre de um dia para o outro.

"Pois bem, saia da minha casa, agora, Natanael." a voz de Jacinto, meu pai, soou mordaz.

Na época eu ainda tinha dezessete anos e Olavo, meu avô paterno, me acolheu em sua casa e bancou meus estudos e a minha carta de motorista.

São Paulo sempre foi uma cidade chuvosa, não é à toa que é considerada a Terra da Garoa e eu me mudei de uma casa de no bairro Jardim Europa para outra casa no Jardim Europa.

E foi ali que conheci Valesca, a filha da governanta, que estudava na Universidade Federal de Juiz de Fora em Minas Gerais.

Ela era mais velha que eu, quando completei dezoito anos em agosto, ela completou vinte anos em dezembro, logo que eu chegou para passar as férias.

"Você só faz faculdade de gastronomia, sério?" ela me questionou chocada, quando contei-lhe que só estudava.

"Ora, eu não tenho nenhuma qualificação profissional." argumentei.

"Ah, fala sério! Você é filho de um promotor público e neto de do dono de uma das maiores firmas de advocacia de São Paulo, dúvido que não fale, pelo menos, inglês fluentemente." ela retrucou indignada.

"Sim, eu falo inglês fluente." concordei, ocultando o fato de também falar alemão, espanhol e japonês - sendo que esse último idioma aprendi vendo anime.

"Promete que quando tiver sua carteira de motorista definitiva você vai arranjar um emprego." pediu antes de me dar um selinho demorado, o que me fez concordar com a cabeça imediatamente.

No último dia de férias dela eu a levei numa sorveteria na rua Augusta e eu estava desatento, guardando o dinheiro na carteira antes de sentir a mão direita de Valesca em meu braço esquerdo me puxando para a calçada e, então a vi perder o equilíbrio e cair no meio da rua, e, no instante seguinte um ônibus passou sobre a cabeça dela, tal visão fez tudo ficar escuro antes de eu desmaiar.

Acordei no hospital e vomitei no momento em que vovô contou que Valesca morreu.

Chorei o velório e o enterro inteiro, que ocorreu dois dias depois, aliás eu chorei a semana inteira, mas assim que peguei minha carteira de motorista definitiva fiz uma entrevista para trabalhar de entregador naa pizzaria do pai de César e foi contratado.

"Vô, eu consegui a vaga!" exclamei assim que ele atendeu ao telefonema.

"Isso é ótimo, meu rapaz, essa noite vamos ao cinema para comemorar., venha para casa, saímos assim que você estiver pronto. " meu avô Olavo disse antes de desligar o telefone.

Cheguei em casa poucos minutos depois, guardei a moto na garagem e entrei correndo na casa, devido ao meu entusiasmo que só parei ao trombar com meu pai.

"Tenha modos, moleque." ele disse com a voz cortante.

"Desculpe, pai." depois abaixando a cabeça.

"Não fale assim com assim com o garoto." ouvi vovô repreender meu pai.

"Posso falar com ele como eu quiser, ele é meu filho, pai." a voz dele ficou ainda mais cortante.

"Você o expulsou de casa e eu o acolhi, por isso, não tem direito algum de falar com Nael dessa forma, principalmente em minha casa." o tom de vovô deixava claro que aquilo não era um tópico aberto para discussão. "Sube, tome banho, durma um pouco, saímos para comemorar seu primeiro emprego, como entregador de pizza,daqui três horas, pois surgiu um imprevisto na firma e precisarei passar lá e resolver o assunto em questão."

Enquanto subia as escadas de madeira nobre, seguindo as instruções de meu avô ouvi papai dizendo, em alto e bom tom, que era uma vergonha que um Cabral trabalhasse numa função tão baixa quaando daquela e a última coisa que ouvi, antes de bater a porta de madeira entalhada com o brasão da família e caravelas, foi vovô dizendo que seu primeiro emprego foi de entregador de leite.

Maneei a cabeça de um lado para o outro ao ouvir os estalos dos dedos de César tão próximo ao meu rosto, voltando à realidade.

"Cara, você ficou tão quieto que achei que tinha dormido, mas aí vi que você está tomando da mesma cerveja vazia desde o início do intervalo, achei melhor ver se estava vivo ainda." ele disse simplesmente antes de me entregar outra garrafinha de cerveja gelada.

"Lembranças inconvenientes." falei dando de ombros, logo depois de tomar um longo gole da bebida.

Em seguida o apartamento ficou em silêncio, isto é, se o som da televisão e os xingamentos ocasionais do meu amigo, nos momentos em que - segundo ele - Corinthians, seu time do coração, era roubado pelo árbitro.

Perdi a conta de quantas garrafas entornei naquela noite, mas lembro que por pouco não vomitei no meu banheiro antes de me deitar e dormir tão profundamente, quanto César já tinha feito no quarto de vistas algum tempo atrás.

Um dos principais motivos pelos quais eu não bebia tanto, nem com tanta frequência era a solidão noturna, a qual inevitavelmente me acordava durante a madrugada com um aperto no peito, como um cão que rasga a bola de futebol de uma criança ao brincar com o objeto. O outro motivo era, sem dúvida, a dor de cabeça dilacerante que acompanhava a dor da solidão.

Levantei e caminhei cambaleante até a cozinha onde enchi um copo com água do filtro de barro tomei um comprimido de Aspirina, que empurrou goela abaixo ao beber um grande gole de água, antes de desejar ardentemente houvesse um remédio para esse vazio que rasga meu peito toda vez que me embebedo.

Ao voltar para meu quarto me jogo na cama de ferro e ouço o estrado chacoalhar com o movimento, mas o ignoro pegando o telefone celular, que deixei sob o travesseiro e disco rapidamente o número de Berenice - apesar de tê-lo apagado da agenda de contatos do aparelho ainda não o apaguei da minha mente.

"Nael, está tudo bem?!" a voz dela soa preocupada comigo e isso me traz um pouco de conforto, afugentando a escuridão da solidão como uma vela acesa num dia de tempestade depois que a energia elétrica acaba.

"Estou bêbado." respondo com a voz enrolada.

"Eu também." ela concordou, do outro lado da linha.

"Talvez eu não devesse estar te ligando às..." digo fazendo uma pausa para olhar o rádio-relógio sobre o criado-mudo ao lado esquerdo da cama, a fim de conferir o horário. " Três e meia da manhã, mas conversar com você me faz bem, sinto sua falta."

"Eu também, Nael." ela concorda com um suspiro e a ouvir dizer aquilo faz meu coração falhar uma vez antes de bater com força contra minha caixa torácica.

Saber que Berenice sente minha falta fez meu peito se inchar de orgulho, como se eu a tivesse marcado de alguma forma e antes mesmo que me desse conta voltei a falar com ela.

"Você partiu meu coração, mas meu amor não tem problema, não" afirmei sem ter certeza do que aquilo significava pouco antes de César acender a luz ao entrar no entrar em meu quarto, tomar o telefone celular de minha mão e desligá-lo.

"Não acredito que você ligou para ela e a perdoou. Você está bêbado, cara! Ninguém deveria fazer esse tipo de telefonema para a ex-namorada estando bêbado!" ele ralhou comigo antes de sair dali com meu celular na mão.

Eu me joguei na cama com minha mente ainda enevoada pelo álcool tenta entender desvendar o que eu falei para Berenice, frustrado e sonolento, joguei um dos travesseiros da cama em meu rosto, a fim de bloquear a luz acesa e - com alguma sorte - conseguir dormir o bastante para não ligar novamente para ela quando acordasse, isto é, se César me devolver meu celular.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Você Partiu Meu coração" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.