E agora? escrita por calivillas


Capítulo 7
Uma boa noite




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Laura

 Mais tarde, eu e minha irmã fomos convocadas para ajudar no jantar, fazia parte da rotina do lugar, aquela história de comer o que se colhe. É claro que minha irmã não gostou nada daquilo, não estava acostumada a trabalhos domésticos, no entanto, todos os outros hospedes estavam lá para ajudar a picar, descascar, amassar, arrumar a mesa, e tanta gente deixou o trabalho, ao mesmo tempo, divertido e confuso. Não entendia como poderia dar certo, mas acabou dando e o jantar saiu, inesperadamente, delicioso e todos nós comemos com prazer, entre conversas, brincadeiras e risos. No fim da noite, o grupo se dirigiu para a sala da casa grande, onde se reuniam para trocar ideias, como disse Luzia, regados por cafezinho, aguardente e broinhas de milho, porém, eu fui sequestrada antes de chegar lá. Nathan me puxou pelo braço e me desviou do caminho, sem que ninguém percebesse.

— Vamos! – cochichou no meu ouvido, aquilo fez um arrepio percorrer a minha espinha, era um bom presságio.

Ele me levou até o estacionamento e entramos em uma dessas picapes rurais bem grande.

— É da fazenda e melhor para esse tipo de estrada – ele explicou.

— Deixa eu fazer uma pergunta – disse, enquanto ele ligava o carro.

— Faça.

— É sempre assim, você escolhe uma das hóspedes para dar em cima e leva para sair?

Ele me deu sorriso torto, enquanto seguimos pela estrada escura, iluminada apenas pelos faróis do carro.

— Só quando tem uma solteira e bonita como você.

— Fala sério! – Não sabia se ficava lisonjeada ou ofendida.

Ele deu uma gargalhada.

— Para falar a verdade, quase nunca me meto com as hóspedes. Não é do meu feitio, nem Tim aprovaria.

 Prestei atenção naquele “quase”.

— Você leva o Tim muito a sério.

— Ele é meu patrão, apesar de ser só um emprego temporário, só venho para aqui, nos feriados e nas férias, para ajudar com a fazenda e os hóspedes, principalmente, agora, com Tim viajando.

— Então, você é o responsável por evitar que as mulheres solteiras e sozinhas fiquem entediadas?

— Não mesmo, moça – Ele deu um sorrisinho safado, que me deixou ainda mais em dúvida.

— Então, esse Tim é um cara legal? – Mudei de assunto. Queria a opinião dele a respeito do meu suposto pai.

— Eu gosto muito dele, é um cara bacana, um tanto bonachão, mas muito determinado. Um bom patrão, bastante justo, mas, às vezes, muito teimoso.

— E quem, não é?

Ele entrou na pequena cidade, quase uma vila, com casas humildes, com cachorros ladrando nos portões, algumas galinhas caipiras fugitivas, no meio da rua, e um tosco comércio, crianças brincando no meio da rua. Após alguns metros, o carro parou de frente a uma birosca bastante rústica, com algumas mesas e cadeiras de madeiras na calçada.

— É aqui? – Tentei não parecer tão surpresa.

— Desculpe, mas não temos nada melhor por esses cantos, a vida aqui é muito simples, mas, não poderíamos conversar, direito, lá na fazenda.

— Não faz mal, já estive em lugares bem piores - Dei de ombros. Ele me deu um daqueles sorriso de fazer molhar a calcinha. Isso não ia acabar bem, ou pelo contrário, isso poderia acabar muito bem. Eu andava bem carente, ultimamente, quem sabe, Nathan fosse o remédio que eu precisava. Mas, calma! Não comece de novo, achando que um homem é a solução da sua vida! Apenas se divirta, sem cair no mesmo erro de sempre.

Quando entramos no lugar, onde só havia homens de aparência um tanto rudes, senti todos os olhares sobre mim, era a única mulher ali, mas não liguei, só queria conhecer melhor aquele indivíduo ao meu lado. E nos conhecemos, falamos, falamos e falamos, regados por muita cerveja, por fim, ele insistiu que eu experimentasse a aguardente local.

— É muito boa, feita aqui mesmo na região, totalmente, artesanal.

— Você quer me embebedar para tirar proveito de mim?

— Não sou esse tipo de homem, moça – Ele bancou o ofendido.

— Estou só brincando. – Então, eu provei, aquilo desceu queimado e caiu no meu estômago como uma pedra. – É forte!

— Sim, eu sei – E me deu um sorriso divertido. - Você e sua irmã são bem diferente.

— Somos muito mesmo. Alexia sempre foi toda certinha e sensata, sempre pensando no que é melhor para o seu futuro, quanto eu sou a ovelha desgarrada da família, sentimental e impulsiva.

— Você não parece uma ovelha desgarrada.

— Você não sabe de mim. Já está ficando tarde é melhor voltarmos – disse, já estava falando demais, além disso, queria ficar sozinha com ele, de fato.

— É, acho que está ficando muito tarde, mesmo – Percebi que os olhos dele brilharam.

Ele pagou a conta e voltamos para o carro, que não andou nem 200 metros, antes de ele parar e desligar o motor em uma estradinha de terra, cercada de mato e mergulhada na escuridão, foi a dica para pularmos no pescoço um do outro e começarmos a nos beijar e beijar como desvairados. Nunca um homem me beijou tão bem, as mãos fortes dele me seguravam, as nossas bocas não se desgrudavam, a coisa começou a esquentar bastante, quase entrando em ebulição. Então, ele se separou, gentilmente.

— Acho melhor voltarmos para a fazenda, moça – falou com a voz rouca, sacudi a cabeça, concordando.

— Também acho – respondi, ofegante, sem muita certeza.

Alexia

Logo depois do jantar, Laura desapareceu, deve ter saído com o tal de Nathan, espero que aproveite bem a noite, pois, com certeza, será bem melhor que a minha, com essa conversa chata, que não me interessa, dessa gente que mal conheço, não consigo prestar atenção, nem sei do que estão falando, porque meu pensamento está bem longe daqui.

Por fim desisto daqui tudo, nem sei porque estou perdendo o meu tempo ali, assim, dou uma desculpa que estou cansada, digo boa-noite e vou em direção ao meu bangalô, pensando que só queria tentar falar com o meu marido, outra vez. Deveria ter um telefone por aqui em algum lugar, afinal, isso é um hotel, não uma prisão. Então, como um milagre surgiu a oportunidade, quando passei diante da pequena sala, que fazia vez de recepção, estava vazia àquela hora da noite e, ali, bem no canto sobre a mesa, havia um telefone daqueles antigos. Precisava aproveitar essa chance única, olhei em volta e não havia ninguém por perto, entrei, com cuidado, e encostei a porta bem devagar, sem fazer barulho. Com o coração aos pulos, peguei o fone e teclei o número que sabia de cor, contando que Maurício atenderia o número desconhecido, imaginando que fosse algum cliente. Tocou uma, duas, três vezes, até ele atender.

— Alô.

— Maurício.

— Alexia!

Silêncio.

— Por favor, Maurício, não desligue. Eu só precisava ouvir sua voz, estou morrendo de saudades, não aguentou mais a sua falta.

— Alexia, ainda é muito cedo para...

— Eu sei que fui uma estúpida, uma idiota por botar tudo que temos a perder, mas eu te amo e...

— O que está acontecendo aqui? – Ouvi aquela voz ríspida ao meu lado, olhei em sua direção e uma mulher com cara de muito brava estava me encarando. – A senhora sabe que não pode usar o telefone da recepção, sem autorização.

— Desculpe, mas era urgente – falei para ela. – Maurício preciso desligar agora.

— Alexia, o que está acontecendo aí? Onde você está?

— Não posso falar agora. Adeus, Maurício. Foi muito bom ouvir a sua voz – desliguei apressada.

— A senhora não sabe das regras do hotel? – a mulher olhava para mim, com os olhos em fogo.

— Sei, mas como falei, era muito urgente. Boa noite, vou dormir agora – e passei por ela direito para o meu claustrofóbico bangalô, feliz, pois a bronca havia valido a pena, porque, enfim, eu havia conseguido falar o que sentia para o meu marido, mesmo que só por um breve instante.


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