E agora? escrita por calivillas


Capítulo 11
Escolhas e arrependimentos




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Alexia

Maurício percebeu que eu o estava observando e olhou para mim, paramos no meio do caminho, ao nosso redor, o vazio, sem barreiras, sem proteção, sem ninguém, olhos nos olhos, em silêncio, apenas nós dois e muitas magoas e perguntas. Foi ele quem começou:

— Por quê, Alexia? Por que você tinha que pôr tudo a perder?

— Eu não sei, Maurício. Não sei o que aconteceu, não quero me desculpar, mas, eu estava infeliz e frustrada, cansada.

— Infeliz? Frustrada? Cansada de quê?

— De tentar ser perfeita, em casa, no trabalho, para você, para todos. Cansada de sempre dar o máximo de mim.

— Eu nunca pedi isso a você.

— Não, mas, é o que todos esperam. Eu precisava fugir de mim mesma, por algum tempo, ser outra pessoa. Uma pessoa um pouco inconsequente e egoísta.

— Valeu a pena?

— Por um breve instante, valeu, eu me senti livre, mas, logo em seguida, eu pensei em você, em nós, no que tínhamos, e me arrependi, por isso, revelei a verdade, para tirar esse peso da minha alma.

— E você se sente melhor agora? Mais leve, após revelar a sua traição?

— Se for para perder você, não. Deveria ter continuado na mentira.

 - E viveríamos assim, com esse imenso segredo entre nós?

— Com o tempo, se tornaria uma tênue lembrança, uma mera ilusão.

— Não posso continuar com isso, Alexia. Não posso viver assim, pois, toda vez que olhar para você, vou me lembrar da sua traição.

 - Eu lamento muito, Maurício. Mas, não posso apagar o que aconteceu.

— Eu também lamento, Alexia. Mas, não consigo continuar.

Ele virou as costas e começou a andar em direção a casa principal.

Laura

Sai do quarto, lá fora, o lugar estava deserto, o ar parado e preguiçoso, não encontrei viva-alma durante o meu caminho, só ao longe, ouvia o mugido de uma vaca e latido de um cão. Cheguei na casa grande, subi as escadas que dava na varanda e na entrada principal, parei na porta, não podia ter mais sorte, pois, logo ali, sentado em um sofá de palhinha, estava Tim, relaxado, com um copo na mão e uma garrafa de aguardente na mesinha da frente. Era um rei no seu castelo.

— Procurando por Nathan, moça? Ele foi ver um cavalo doente, deve voltar mais tarde. Os outros estão lá embaixo na cozinha, tomando café.

— Não, na verdade, não estava procurando por ninguém, apenas dando uma volta, para passar o tempo.

— Então, se não está fazendo nada, pegue um copo, ali, no armário, e venha aproveitar essa aguardente das boas, feita aqui mesmo na região, por uns compadres meus.

Eu não sou muito fã desse tipo de bebida, porém, não podia deixar essa oportunidade passar, fui até o armário e escolhi um copinho, no meio de uma coleção considerável.

— Bela coleção! – disse, enquanto fechava o armário, sentava na cadeira ao lado dele e oferecia o copo para ele encher com uma boa dose.

— Eu coleciono há muito tempo, desde que comprei essa fazenda.

 - Você não parece um homem do campo – falei e tomei um pequeno gole, aquilo ardia que nem fogo, tinha que pegar leve.

 - E não sou, eu nascia e cresci em São Paulo, mas quando era jovem, vinha passar as férias aqui. Essa fazenda pertencia ao tio de um amigo, que nunca ligou muito para o lugar. Ele alugava para nós que gostávamos de ficar aqui, aproveitando a natureza, tomando banho de rio, conversando em volta da fogueira durante longas noites.

— Foi aqui, que conheceu minha mãe? – Não podia perder essa chance, ele parou por um segundo, pensando.

— Foi, ela também, vinha muito para aqui.  Acho que ela era amiga de uma parente do dono da casa, não me lembro muito bem. – Ele tomou um grande gole, quase esvaziando o copo, serviu-se de mais. – Só me lembro que eu a achei muito metida quando a conheci. Bonita, mas metida. Depois, vim descobri que ela era só muito tímida.

— Minha mãe tímida?! Isso para mim é novidade.

— Mas, era, naquela época.

 - Conte mais.

— O que você quer saber?

— Sei lá! – Dei de ombros, com um dissimulado desinteresse. – Vocês ficaram amigos?

— Amigos? Pode se dizer que sim, éramos um grupo bem unido, nos divertíamos muito, juntos. Foram os melhores verões da minha vida.

— E, depois, nunca mais se viram?

— Quem? Eu e sua mãe? Sim, voltamos aqui uns três ou quarto anos seguidos. Então, nós nos formamos, nos tornamos adultos e a mágica acabou. Muitos anos depois, descobri que o tio desse meu amigo havia morrido e a fazenda estava abandonada. Tinha ganhado um bom dinheiro no mercado financeiro, então, resolvi comprar essas terras e reformar tudo, vinha e ia daqui para lá, por muitos anos, até resolver abrir esse hotel.

— Eu sei. Nathan me contou.

— Nathan é um linguarudo.

— Ele tem um grande orgulho de você.

Ele é um bom garoto, a melhor parte da minha vida.

Foi nesse momento que Alexia entrou, com uma expressão transtornada.

— Vocês viram Maurício? – perguntou.

Alexia

Não pude acreditar quando entrei naquela sala e encontrei Laura e Tim bebendo e conversando com velhos camaradas, no entanto, naquele momento, estava muito aflita, procurando pelo meu marido, com medo que ele tivesse ido embora para sempre da minha vida.

— Não, não vi. Há algo errado? – Laura respondeu com ar preocupado.

— Não, apenas nos desencontramos.

— Não se preocupe, moça, pois, o seu marido não vai a lugar nenhum. Uma das caminhonetes da fazenda está estacionada logo atrás do carro dele, não dá ele sair sem que a gente saiba.

Respirei aliviada, afinal, Maurício não teria chance de fugir, assim tão fácil.

 - Sente-se aqui e tome uma aguardente conosco, moça – Tim me convidou, mas, não estava a fim, só queria continuar a minha busca.

— Não, obrigada – Porém, Laura me olhou com uma cara de desaprovação, que tive que aceitar. – Mas, posso ficar aqui um pouquinho.

— Tim estava falando sobre a nossa mãe, quer dizer, como ela era quando eles vinham passar as férias aqui. – Laura me pôs a par do tema da conversa, que eu já desconfiava, enquanto me sentava em uma banqueta junto a ela. – De como a nossa mãe era tímida.

— Nossa mãe tímida? Não é possível!

— Sim, pois ela era – Tim confirmou.

— Então, ela mudou muito com o tempo. – Não escondi o meu sarcasmo, Tim me encarou de um jeito reprovador.

— Fale-nos mais sobre aquela época – Laura quis contornar a situação.

— Éramos jovens, românticos e sonhadores, tínhamos a vida inteira pela frente, nós julgávamos os donos do mundo, mais espertos que todos, mal sabíamos que a vida, que nos esperava por trás daquela porta, não seria como imaginávamos.

— Por que você acha isso? – provoquei, acho que descontava minha frustração nele.

— Porque quando fazemos algumas escolhas, não podemos voltar atrás, mesmo que quiséssemos, então, vivemos com o peso dessa opção certa ou errada pelo resto das nossas vidas – Ele esvaziou o copo em um único gole.

 Olhei abismada para ele, era como se falasse aquilo para mim, como se soubesse da minha história.

Naquele momento, Maurício entrou pela porta adentro, com o semblante visivelmente alterado.

— Alguém pode tirar aquela caminhonete da frente do meu carro? – Ele se dirigiu a Tim, de uma maneira ríspida, ignorando a mim e a minha irmã.

— Você vai a algum lugar, meu rapaz? – Tim perguntou, de um jeito manso.

 - Eu vou embora, por isso, preciso liberar meu carro – Maurício parecia cada vez mais irritado.

— Lamento, não posso ajudá-lo, meu rapaz, não tenho ideia com quem esteja a chave da caminhonete – Tim confessou, enchendo outra vez o seu copo, com o líquido cristalino. – Terá que esperar Nathan regressar, talvez, ele saiba de alguma coisa.

Maurício travou a mandíbula, eu conhecia muito bem esse gesto, ele não queria dá uma reposta malcriada

— E onde ele está?

— Foi ver um cavalo doente – Laura respondeu.

— Já que não pode fazer nada, sente-se e tome um gole conosco – Tim o convidou.

 Indeciso, Maurício olhou para Tim e, em seguida, para mim.

— Eu não tenho um copo – disse, resignado, sentando-se no sofá, ao lado de Tim.

— Tome o meu – Laura ofereceu a ele, que aceitou.

— Estamos falando de escolhas e arrependimentos – eu o instiguei, queria ver sua reação, ele me deu um olhar duro e virou o resto da bebida em um único gole, fez uma careta, se fosse em outra situação em riria, mas, não agora.


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