Sede de Poder escrita por Mermaid Queen


Capítulo 28
Capítulo 28: Melanie não é uma vadia egoísta dessa vez


Notas iniciais do capítulo

mais um capítulo especial com um ponto de vista diferente, dessa vez da nossa heroína mais inesperada



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Melanie acordou de súbito, olhou em volta e percebeu que havia perdido o horário.

Isso havia se tornado recorrente desde que a vadia egoísta da Lindsay resolvera abandoná-la. Ótimo, ela não precisava de uma colega de quarto idiota. Quer dizer, precisava quando o alarme tocava e Melanie simplesmente o desligava e esquecia de se levantar. Lindsay sempre a acordava.

Mas era só pra isso que ela servia, então dane-se.

E não é como se perder a aula de Habilidades Vampíricas fosse fazer alguma falta a ela. Tipo, ela podia dar aula para os professores se quisesse. Dã.

Melanie vestiu as roupas de líder de torcida, porque teria treino depois da aula de Literatura e a estúpida da Lindsay não levaria mais a roupa para ela poder se trocar. Dá pra acreditar que Lindsay havia chamado Melanie de vadia egoísta?

— A única vadia egoísta aqui sempre foi você, Lindsay – Melanie resmungou enquanto se vestia. – E isso estava claro desde o começo. Eu não vi porque estava tentando gostar de você.

Ela tinha algum tempo até a próxima aula já que acordara atrasada para a primeira, então se deitou de bruços na cama e pegou o celular. Abriu o Twitter e começou a rolar o feed.

Vídeos de gatinhos. Revirou os olhos. Não dava a mínima para animais.

Lindsay e Mónica segurando tacos de bilhar em um bar próximo. Estúpidas. Não sabiam jogar bilhar e a própria Melanie as havia ensinado a fugir da escola em dias de semana, e nunca se postava foto. Quer mesmo dar a Olivia as evidências para te colocar de castigo? Se bem que Olivia andava meio sumida…

Um GIF de Katherine Flores. Melanie nem mesmo a seguia no Twitter. Já via as caras idiotas dela e do irmão dela o suficiente.

Mais vídeos de gatinhos… esse era até que fofo, então ela deixou um like.

Espera.

Melanie voltou para o GIF de Katherine.

Tinha viralizado. E Katherine estava desaparecida havia semanas, esqueceu? E…

Ela clicou no GIF e pesquisou por vídeos semelhantes. E os comentários das pessoas. E a repercussão. E as visualizações no Youtube. E as páginas de fãs de vampiros, todas usando fotos de Katherine no perfil.

— Puta merda – sussurrou Melanie, olhando para a tela do celular. Jack precisava ver aquilo.


Melanie saiu correndo do quarto e encontrou os corredores vazios. Antes de sair procurando por Jack sem rumo, resolveu tentar rastreá-lo. Fechou os olhos e se concentrou em todas as mentes que apareciam para ela. Quando finalmente ouviu a voz familiar de Jack, identificou-o no escritório.

Não era todo mundo que podia ler mentes ou rastrear pessoas daquele jeito. Geralmente, você só conseguia mexer com essas habilidades vampiras meio “superiores” se alguém mais velho te ensinasse, e eles não ensinavam. Não na escola, pelo menos, porque se ensinassem as coisas sairiam do controle.

Melanie sabia porque a família dela era de uma longa tradição de vampiros. É claro que eles a ensinariam. E suspeitava que Katherine e Evan estavam aprontando já havia algum tempo, quando percebeu que alguém os havia ensinado a fechar a mente para invasores. Suspeito.

Mas aí eles sumiram e ela meio que esqueceu. Não ligava muito para nenhum dos dois.

Desceu as escadas correndo e entrou no corredor estreito que dava na sala dele. Estava prestes a tocar a maçaneta, mas parou ao ouvir a conversa.

— … estratégia do Serpente – disse uma voz vagamente conhecida. – Usar Katherine para manchar o governo.

— Não só jogar os vampiros contra o governo, mas o mundo todo – concordou a voz de Jack.

— E quando o governo estiver vulnerável, ele ataca com o exército. Precisamos avisar Sta…

Melanie escancarou a porta, interrompendo a conversa antes que eles percebessem que ela estava lá. Os dois pararam de falar e olharam para ela imediatamente.

— Então, essa era a proposta sobre as aulas de spinning— disse o outro cara.

Melanie estreitou os olhos e o reconheceu como o instrutor da academia. Não conseguia se lembrar do nome dele, mas sabia quem ele era porque ela estava lá, tipo, sete dias por semana. Não dá pra saber o nome de todo mundo. Fala sério.

— Obrigado, Chris – disse Jack, naturalmente. Como se não estivesse falando sobre conspirações mundiais dois segundos atrás. – Entrarei em contato quando tiver uma resposta sobre as aulas. Precisa de alguma coisa, Melanie?

Conta outra. Melanie ergueu as sobrancelhas e suprimiu a gargalhada que queria dar depois de ela pegar os dois no pulo.

Chris assentiu para Jack e se levantou.

— Vejo você mais tarde, Melanie – disse, antes de sair.

Melanie o cumprimentou com a cabeça e ocupou o lugar de Chris. Precisava escolher bem as palavras, agora que descobrira que Jack sabia de tudo e mais um pouco. Ela pegou o celular e desbloqueou a tela e mostrou a Jack.

— “Garota vampira” é o segundo tópico mais comentado do Twitter hoje. Tem vídeo dela levando tiro. Rosnando e mostrando as presas. Tipo, você sabia que ela podia levar um tiro?

Jack suspirou e pareceu cansado. Esfregou os olhos.

— Você veio aqui para me informar ou tem alguma sugestão?

Melanie ficou com vontade de socar a mesa e respirou fundo. Mas mudou de ideia e socou mesmo, deixando Jack sobressaltado. Aquele ar sarcástico que ele sempre reservava para ela, achando que ela não ia notar, levou-a ao limite.

— Os vampiros foram expostos para a porra do mundo inteiro – sibilou ela. – Tem centenas de contas fantasma postando vídeos da Katherine cometendo crimes no nome do governo vampírico. E você quer que eu dê uma sugestão? Eu quero saber o que você vai fazer.

Ela tinha um probleminha com figuras de autoridade, é claro. Mas quem poderia culpá-la? Ninguém gosta de figuras de autoridade.

O cansaço nos olhos de Jack foi substituído por uma faísca, que poderia ser raiva ou esperança ou o que fosse, mas Melanie gostou.

— Estou tentando entender o que isso significa – disse Jack, encolhendo os ombros.

— Você sabe o que isso significa! – insistiu Melanie, querendo que ele falasse sério com ela. – Sequestraram o irmão dela. Katherine está sendo chantageada!

— Eu confiaria minha vida a essa garota – respondeu Jack. – Sei que ela não está fazendo aquilo por dinheiro ou poder. Mas ainda não sei por que ela foi a escolhida. E o que o governo tem a ver com isso tudo.

Melanie engoliu em seco. Jack insistia em contar mentiras.

Teoricamente, ela podia hipnotizá-lo, mas nem ela era tão inconsequente assim a ponto de hipnotizar um vice-diretor. Mas havia outra pessoa que ela podia tentar manipular…

— Claro, Jack, eu entendo – murmurou ela, com um falso ar desolado. – E todo mundo já deve estar falando disso a essa altura… Fale comigo se souber de algo – completou, já se levantando. – Estou muito preocupada.

Jack confirmou com a cabeça, e Melanie saiu da sala. Revirou os olhos quando deu as costas para ele.

Não sabia se ele engoliria a história de ela estar preocupada, mas grande bosta se não engolisse. O que ele ia fazer?

Na realidade, nem ela própria sabia por que estava tão interessada sobre essa história.

Bom, logicamente não era o governo. Por que eles filmariam as próprias ações sujas? E não tem como uma pessoa prever que vai ser atacada e esconder uma câmera no ângulo perfeito. Então com certeza alguém queria sujar o governo, como Chris e Jack estavam dizendo.

E só tem um motivo para alguém atacar o governo. Criar instabilidade política.

Caramba, ela era uma detetive incrível. Tipo, Nancy Drew, por que você está chorando?


O treino das líderes de torcida estava meio murcho, principalmente porque o time de futebol que treinava ao lado estava murcho. Dois atletas desaparecidos. Isso deixava Melanie bastante irritada, já que ela estava completamente eletrizada pelas descobertas da manhã.

E Lindsay e Mónica ainda por cima não estavam olhando na cara dela. As duas piranhas estavam fazendo um complô, aparentemente, desde que Lindsay saíra do quarto de Melanie e fora dividir o quarto com Mónica e Bella. Uma mudança extraoficial, e Melanie esperava que as duas estivessem bem desconfortáveis dividindo uma cama.

— Eu nunca confiei nela – Bella baixou a voz para Melanie enquanto elas iam para o almoço. – Lindsay sempre teve a maior cara de falsa. E Mónica sempre teve mania de grandeza. Até demorou para elas tentarem pegar o seu lugar.

Melanie não estava ouvindo de verdade, apesar murmurando de acordo enquanto pensava em como abordaria Chris. Ela sabia que Bella estava cagando para ela também, e só queria terminar do lado vencedor. De quem era mais popular.

Enquanto comia, Melanie pensou em matar a aula da tarde para ir abordar Chris na academia vazia. Desistiu rápido dessa ideia, porque não queria dar motivos para Jack suspeitar dela. Se tinha uma coisa de que ela não precisava, essa coisa era ter Jack na sua cola.

E então, com um sobressalto, ela se levantou da mesa e começou a se afastar em direção aos dormitórios. Era ridículo que ela não tivesse tido a ideia de revistar os quartos deles antes. Teria que passar pela brasileira se quisesse xeretar nas coisas de Katherine, mas não seria um problema.

Ela cruzou os corredores da ala masculina e recebeu cumprimentos de garotos com caras de bobos. Quase ficou lisonjeada pelo efeito que causava neles.

Deu uma olhadinha para trás antes de baixar a maçaneta da porta do quarto de David e Evan, mas a porta não cedeu e Melanie trombou o ombro com ela. Trancada, claro. Como se ela nunca tivesse estado ali dentro antes.

Facilmente se teletransportou para dentro do quarto e ficou um pouco chocada pela forma como tudo parecia intocado. Como se eles só tivessem saído para ir à aula, e fossem voltar dali a pouco.

Chegou à escrivaninha de Evan e começou a remexer nos cadernos. Reconheceu a letra torta dele e revirou os olhos. Melanie podia até reconhecer que era péssima, mas Evan era o maior babaca. Era bom que aquele pacto de sangue dele com Katherine durasse, senão ela descobriria por ela mesma com quem estava lidando. Se é que já não deveria ter descoberto depois daquela aposta ridícula.

— Mas isso agora é problema de outra pessoa – disse em voz alta para si mesma, encolhendo os ombros. – Não é mais problema meu… fala sério!

O que interrompeu o diálogo de Melanie com ela mesma estava ali, preso sob a capa dura de um caderno. Um endereço de Nova York. Escrito com uma letra que não era a de Evan, e nem a de David.

— Até que foi fácil – murmurou, enfiando o papel no bolso de trás.

Como uma deixa, o sinal tocou, indicando o fim do almoço. Melanie se teletransportou de volta para o próprio quarto e arrumou as coisas para a aula, já mentalizando os próximos passos.


A aula de literatura finalmente acabou, e Melanie praticamente saltou da cadeira. Teletransportou-se para o quarto de Katherine assim que chegou ao corredor, para que não desse tempo de a brasileira chegar lá antes dela.

Felizmente, esse quarto não estava trancado. Melanie não se lembrava de já ter estado lá alguma vez.

E, diferente do quarto de David, o quarto de Katherine parecia uma cena do crime.

Melanie notou manchas de sangue no carpete e na parede e até na cabeceira da cama de Katherine, com um aspecto de que tinham sido esfregadas sem sucesso. Ela não entendia como ninguém ficara sabendo do banho de sangue que acontecera naquele quarto, e como a outra garota ainda conseguia dormir ali.

O coração dela bateu forte de preocupação pela primeira vez desde que começara a mexer naquela história. Na verdade, se ela parasse para pensar, pela primeira vez desde muito tempo. Melanie não tinha lá muitas preocupações.

Katherine não parecia ter fugido. Aquele monte de sangue confirmava a hipótese dela de que Katherine tinha sido sequestrada. E que estava sendo chantageada, ou ameaçada, ou o que quer que fosse para estar cometendo aqueles crimes.

Mas, assim que deixou o quarto, descobriu que talvez fosse a única que pensava assim.

Enquanto se encaminhava para a academia, a fim de confrontar Chris, começou a ouvir o nome de Katherine Flores acompanhado de uns adjetivos bem venenosos. E, além disso, as pessoas estavam assustadas.

Melanie as ouviu perguntando umas às outras o que havia acontecido com Katherine. Se ela havia se tornado uma assassina. Louca por sangue.

Quando finalmente chegou à academia, ela estava verdadeiramente preocupada. Que sensação horrível no peito era aquela? Sem condições. Precisava resolver aquilo ou ela morreria.

Quando Chris a viu, ele sorriu, mas o sorriso não chegou aos olhos. Os olhos dele estavam cheios de nervosismo.

— Oi, Melanie! Veio mais cedo hoje?

— Corta essa – Melanie falou bruscamente, pegando-o pelo braço e conduzindo-o até atrás do balcão da entrada. Bateu a mão com o papel sobre a mesa. – O que você sabe sobre isso?

Chris arregalou os olhos depois de ler. Em seguida, ele se recompôs e olhou lentamente para ela.

— Acho que nunca estive em Nova York – disse, dissimulado.

— Chris, eu o ouvi falando com Jack – Melanie falou, depois de respirar fundo. – E encontrei esse endereço no quarto dela. E todo mundo está falando sobre ela na internet, especulando e apostando que ela está em Nova York. Ela estava planejando ir para lá, mas foi sequestrada antes? O que tem lá?

Chris suspirou. Pela primeira vez, a encarou sem aquela máscara de falsidade de antes. Parecia cansado.

— Isso não é brincadeira para você brincar de investigar, Melanie – disse ele, sério. Olhou em volta antes de continuar, como se pudesse estar sendo observado. – Estou arriscando meu pescoço por ter essa conversa com você aqui. Sugiro que queime esse papel e finja que não sabe de nada, porque estamos falando de conspiração com o governo aqui. Gente que pode te fazer sumir num piscar de olhos.

Um calafrio percorreu a espinha dela, mas ela não se deixou abalar. Melanie vinha de uma longa e tradicional linhagem de vampiros, muitos deles membros do governo por gerações, e…

É, ela entendia o que ele queria dizer. Sabia bem com quem estava lidando.

— Não vou deixar isso quieto – ela falou com ousadia. – Ou você me deixa ajudar, ou eu vou sozinha até esse lugar. – Ele tentou falar, mas ela não o deixou. – Se eu também sumir, o sangue vai estar nas suas mãos. E se tentar me impedir, vai ter que me prender. E quero só ver o que você vai falar para o meu pai quando ele vier tirar satisfação.

Chris engoliu em seco. Era um blefe, claro. Ela jamais falaria com o pai, que estava envolvido até o pescoço com os assuntos do governo. Só estava confiando em Jack porque ele era padrasto de Katherine.

Melanie queria mesmo ajudar. Ela não estava se reconhecendo naquele momento.

Ficou olhando para Chris, esperando pela reação dele. Quando ele suspirou e baixou os olhos, Melanie soube que havia vencido.

Chris se aproximou dela e sussurrou:

— Já esteve em Nova York? É capaz de se teletransportar para lá?


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Notas finais do capítulo

a heroína chegou, e ela calça louboutin



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