Sede de Poder escrita por Mermaid Queen


Capítulo 25
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

faz literalmente dois meses que eu não posto um capítulo, mil desculpasssssss



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A noite estava bem fria, mas Katherine não sentia nada e não achou que isso se devesse ao suéter. Achou que parecia frio típico de madrugada, com umidade e uma solidão estranha, mas não fazia ideia de que horas eram. Também não sabia que dia era. Podia estar presa naquele quarto por meses, e nem saberia.

Katherine deixara o carro morrer em um semáforo, e as buzinas dos carros de trás serviram para deixá-la ainda mais nervosa. Felizmente, depois disso, o GPS a levou para áreas menos movimentadas, e ela começou a adentrar bairros residenciais. Pensando bem, ela não sabia se isso era bom ou ruim.

Pensando um pouquinho mais, ela sabia sim. Era ruim.

Ruas completamente desertas, postes de luz piscando e a sensação constante de que estava sendo seguida. Ela queria acelerar e fugir dali, mas tinha medo de errar as indicações do GPS e se mantinha devagar.

Ouviu um barulho metálico, e achou que o carro havia sido atingido por algo. Freou bruscamente e o cinto de segurança fez um vergão em seu pescoço. Começou a olhar nos retrovisores, e aquela parte obscura da mente dela já começou a criar imagens de Alex com um taco de beisebol e a mandíbula quebrada querendo vingança.

Sem se controlar, Katherine começou a afundar no banco, esperando que Alex abrisse a porta e a puxasse pelo braço, arrancando-a do carro com violência. Com o carro parado e a agonia aumentando cada vez mais, ela não conseguia mover um músculo.

Outro barulho metálico e os olhos de Katherine se encheram de lágrimas. O peito já tremia com os soluços quando um movimento chamou a atenção dos olhos dela, e ela virou a cabeça rapidamente para encontrar…

…um gato?

Um gato pulando entre latas de lixo.

Pensando bem, o barulho era mesmo distante. Não parecia com um carro sendo atacado por um adolescente problemático, parecia só com um gato batendo em latas de lixo.

Katherine piscou e as lágrimas escorreram. Respirou fundo para os soluços acalmarem, mas as lágrimas continuaram caindo. Com uma última olhada no retrovisor para se certificar de que não havia nenhum Alex, e depois de uma encarada rancorosa na direção do gato, ela deu partida no carro e seguiu o caminho.

Lembrou-se de si mesma falando para Evan que Alex já não a assustava mais. Olivia tinha razão, ela era patética. Patética a ponto de estar chorando por causa de um gato ridículo e de acreditar nos próprios delírios. Arrependeu-se de chamar o gato de ridículo também. Coitado.

Depois de alguns minutos, o GPS mandou encostar. Ela obedeceu e parou o carro, olhando com desconfiança para a casa a que o endereço correspondia. As luzes estavam acesas, mas era a única casa da vizinhança com as luzes acesas, então. Talvez fosse mesmo madrugada.

Katherine desceu do carro e ficou embaixo de um poste, sem saber o que fazer. Olhou a casa e umedeceu os lábios. Guiada pelo desespero, foi andando em direção à entrada, subiu as escadas da pequena varanda e simplesmente bateu à porta.

Nada.

Impaciente, ela tornou a bater. Tentou controlar a respiração e pensar no que iria falar, mas não conseguiu fazer nenhum dos dois. Ouviu o som de passos nas escadas, passos pesados. Sem perceber, ela se afastou um pouco.

A maçaneta girou e Katherine engoliu em seco. Um velhinho apareceu na varanda olhou para ela com uma expressão confusa. Ela abriu a boca, tentando encontrar algo para dizer, mas não precisou.

O olhar dele desceu para o peito dela, e a expressão dele clareou.

— O governo – disse ele, erguendo as sobrancelhas. – Não o esperava depois desses anos todos, nem a uma hora dessas, e nem com essa cara toda à mostra.

Katherine resistiu ao impulso de baixar os olhos para a estampa do suéter.

— Eu peço que o senhor me acompanhe.

A voz não falhou como ela esperava. Só saiu mais grave.

— Staham com os seus horários estranhos… - murmurou ele. No entanto, sorriu e os olhos azuis se apertaram. – Espere enquanto eu vou vestir alguma coisa. Não quero encontrar o presidente usando pijamas!

Ele falou em tom de piada e saiu rindo sozinho, deixando Katherine na varanda. Era um vampiro, pelo menos. Era tranquilizador saber que Serpente não a estava mandando sequestrar humanos, mas somente para a consciência dela. Estava lidando com um vampiro, um vampiro que estranhamente achava que ela vinha em nome de Staham e do governo.

Enquanto o vampiro de pijama não aparecia, Katherine correu até o carro, abriu o porta-luvas e pegou uma das cordas que Olivia mostrara para ela. Fechou a porta com um barulho metálico. As mãos estavam tremendo. Não queria ter de usar aquilo.

Katherine segurou a corda com firmeza, até os nós dos dedos ficarem brancos. Tinha de confiar em si mesma, se Serpente achava que ela era capaz de fazer aquilo. Se Roberto achava, ela podia, mesmo que não concordasse.

Os pensamentos de Katherine foram interrompidos quando alguém bateu a cabeça dela contra o carro. Um cotovelo forçou as costas dela, prendendo-a na porta que acabara de fechar. Em choque, ela só conseguiu bufar e tentar retomar o controle da respiração enquanto o gosto de sangue invadia sua boca.

— Não sei quem você é – sussurrou o velho.  O hálito quente se chocava com a orelha fria dela. – Mas vai se arrepender de ter vindo até aqui.

Katherine levou alguns segundos para conseguir se orientar dentro da situação e engolir a dor. Jogou o cotovelo para trás com força e o sentiu se afundando na barriga do velho. Ele gritou de surpresa e dor e dobrou o corpo.

Aproveitando o momento, Katherine chutou o ombro dele para trás. Enquanto ele caía, ela se jogou sobre ele e começou a amarrar os pulsos com a corda. Amarrou os pés dele também. Ao tentar colocá-lo de pé, ergueu o velho o suficiente para tirá-lo do chão.

— O que é você? – murmurou ele, com a voz trêmula. – Não é só vampira. Tem algo a mais.

Ela se tornara algo que também não conhecia, e aquela parte nova estava crescendo. Katherine estava ficando mais forte.

— Tem, né – ela rosnou, sentindo o corpo explodindo de adrenalina. Tentou não pensar. Já se formava uma enorme lista de coisas em que ela queria evitar pensar. Abriu o porta-malas enquanto segurava firmemente a corda e os punhos do velho com a outra mão. – Vamos para o carro.

— Se você se teletransportar, encontro todo mundo que você ama e passo todo mundo na faca.

As palavras eram amargas na boca dela, mas acreditou nelas para que o velho acreditasse. Ele a encarou com medo genuíno e então baixou os olhos.

Colocou o velho no porta-malas e fechou a porta sem dizer mais nada. Cuspiu o sangue que se acumulava na boca e já se misturava à saliva. Felizmente, o frio parecia amortecer a pele dela, o que camuflava a dor da pancada no carro. Ao menos era nisso que ela gostava de pensar, e não na Substância. Ela ainda sentia dor e frio como as outras pessoas. Tinha de sentir.

Katherine deu a partida no carro e seguiu para o próximo endereço. Não havia espaço para remorso. Não quando as pessoas dependiam dela.

Não sabia o que Serpente pretendia com a imagem do governo, algo não encaixava. Ainda que as pessoas dessa lista confiassem no governo, aquilo faria sentido. Facilitaria o trabalho dela. Mas a reação do velho falava o contrário.

Encostou o carro no meio fio e checou o endereço para garantir que estava no lugar certo. Desceu e se encaminhou para a casa já com as cordas na mão dessa vez. Quando passou pelo porta-malas, lançou um olhar de advertência para o velho, que a observava através do vidro.

Katherine caminhou pela varanda da casa que correspondia ao endereço e bateu à porta. Levou alguns minutos para que uma mulher jovem a atendesse, com olheiras e um roupão felpudo.

Assim que pousou os olhos sobre o símbolo do governo, ela deu um passo para trás.

— Will! – chamou, olhando para trás. – Will, venha até aqui agora.

Katherine ficou parada, sem saber o que fazer. Se esperava Will chegar, ou se atacava a mulher enquanto estavam sozinhas.

— Não sei o que vocês querem aqui – rosnou a mulher. – Já falei para nos deixarem em paz!

Alguém falou algo dentro da casa. Provavelmente Will.

— Surdo – resmungou a mulher. – Espere aqui, vou chama-lo. Fique fora.

Katherine deu um passo para a frente e tapou a boca da mulher com uma mão. Com a outra, puxou-a para fora da casa e a prendeu contra a parede. A mulher soltou uma lufada de ar.

Força demais, Katherine pensou. Mas não sei controlar.

Ela amarrou as mãos da mulher e a deixou deitada de bruços na varanda.

— Se você gritar – Katherine ameaçou. – Will não vai ter a mesma sorte de ser só amarrado. E se não estiver mais aqui quando eu voltar com ele, pode dizer adeus.

A mulher assentiu com os olhos aterrorizados. Katherine sentiu nojo de si mesma, mas sabia reconhecer a satisfação que vinha com o poder. Era um sentimento perigoso.

Entrou na casa com cautela, mas percebeu que havia algo de errado. Katherine sentiu vontade de ir à praia e abrir a janela da casa para poder ouvir os pensamentos de Will e encontrá-lo, mas sabia que a casa não estava mais lá. Depois da morte de Evan, só sobrara destruição.

Will surgiu no corredor com uma faca de cozinha. Essa não, pensou Katherine.

— Quem é você? – berrou ele.

— Não vim para machucar você – disse Katherine.

Ela deu um passo hesitante para frente, na direção dele, com as mãos baixas e os ombros inclinados para frente. Tentou mostrar que estava desarmada, mas não funcionou. Will ergueu a faca no ar, gritou e correu na direção dela.

— Vocês já tiraram tudo de mim!

Quando Will enfiou a faca no braço de Katherine, a frase que ele gritara ficou ecoando na cabeça dela pelo que pareceram dez minutos, mas não devia passar de cinco segundos que ela levou para processar o que acontecera. Só teve tempo de desviar, porque o destino daquela faca era o peito dela.

A adrenalina era tanta que mal sentiu dor. Katherine escapara da morte por alguns centímetros.

Apenas pensava em fugir, mas precisava acabar com aquilo. Assim que conseguiu erguer a cabeça, desferiu um soco na boca de Will com o punho direito. Assustou-se com o barulho que o corpo dele fez ao bater no chão.

— Forte demais – murmurou ela para si mesma ao vê-lo desmaiado. – Forte demais. De novo.

Katherine agachou e ergueu o corpo dele com facilidade. Apagou as luzes do corredor e fechou a porta atrás de si ainda com Will no ombro. Quando chegou à varanda, viu que a mulher tentava se arrastar em direção às escadas, mesmo com as pernas e as mãos amarradas.

— Mandei ficar quieta – disse Katherine.

A mulher olhou para ela, parecendo só notar a presença dela naquele momento. Katherine colocou Will no chão e pegou a mulher, levando-a para o carro primeiro. Colocou-a sentada no banco de trás, e depois voltou para pegar Will. Deitou-o com a cabeça no colo da mulher.

Quando finalmente se sentou ao volante novamente, respirou fundo. Só havia mais um endereço. Ela estava quase lá.

Uma dor começou a incomodá-la, e Katherine olhou para baixo. Freou bruscamente quando viu a faca ainda presa no braço, e ouviu o barulho do corpo do velho batendo contra os bancos.

— Merda – sussurrou ela, olhando para a faca sem saber o que fazer.

Tirar a faca do lugar parecia uma péssima ideia. E ela também não teria a coragem para fazê-lo. Talvez pudesse deixar lá, sequestrar as pessoas que faltavam e então Olivia e Roberto fariam alguma coisa. Precisavam dela viva. Fariam.

E Katherine não queria nem pensar em como iria sequestrar outra pessoa – ou outras – e enfrentar outras possíveis brigas com uma faca enfiada no braço.

Bom, pelo menos era o braço esquerdo. Continuou dirigindo.

Brigas eram horríveis. Ela não queria brigar de novo. Era uma sensação gostosa aquela que vinha depois de vencer, mas ela sentia culpa por gostar. Mas também não podia ignorar que o velho não hesitou para meter a cabeça dela na porta do carro.

O último endereço era em um prédio. Não era um prédio tão grande, mas Katherine torceu para que tivesse elevador. Ela estava indo para o quinto andar e um dos braços estava meio inutilizado. E possivelmente teria que carregar um corpo.

Ela trancou o carro por fora e fechou as janelas. Ficou com medo da mulher ou do velho gritarem, mas também ficou com medo de demorar muito e matar três pessoas asfixiadas.

Não, Katherine, pensou, ralhando consigo mesma. Pare com essa loucura. Ninguém mais vai morrer.

Felizmente, havia um elevador.

Katherine chegou ao quinto andar e se surpreendeu com a escuridão. Tateou os bolsos em busca do celular, mas não havia nenhum. Quando o elevador se fechou, ela se viu no corredor com um medo aterrorizante do escuro. Havia um pontinho de luz vermelha entre as sombras. A câmera do elevador, provavelmente.

— Concentração – murmurou para si mesma. – Você está quase lá.

Aos poucos, ela começou a se acostumar com a escuridão. Viu o contorno da câmera, a linha da porta, e vislumbrou as formas do corredor quando o elevador se abriu.

Ela caminhou com confiança para a porta de número 502, tentando ignorar o contorno da faca no braço, quase se perdendo em algum ponto da visão periférica dela, mas ainda lá. Bateu na porta com firmeza, esperou, bateu de novo.

Sem resposta.

Invasão a domicílio? Seria preocupante se não fosse a segunda que ela cometia na mesma noite.

Tendo isso em mente, Katherine girou a maçaneta. Como era de se esperar durante a madrugada, a porta estava trancada. Seria difícil arrombar? Ou seria como nos filmes? Ela teria que descobrir.

Ela deu dois passos para trás e se jogou contra a porta. A dor no ombro foi excruciante. Fervilhou de ódio do pai por colocá-la naquela situação, e mais ainda por não ter outra saída além de tomar distância de se jogar de novo.

E quando o ombro bateu na porta, a dor foi pior que da primeira vez. Mas Katherine atravessou direto. A porta se abriu como se estivesse presa por fita adesiva, e não uma tranca de metal. E nem fez tanto barulho assim.

Katherine pisou no carpete do apartamento, esfregando o ombro, satisfeita consigo mesma. Foi caminhando, cautelosa como se não tivesse acabado de derrubar uma porta. A janela da sala estava aberta, e a iluminação da rua banhava o apartamento suavemente.

Ela entrou no corredor e observou. Havia duas portas: uma delas estava aberta, e dava no banheiro. A outra, levemente encostada, deveria ser o quarto. Katherine conseguia ouvir um ronco.

Hesitante, empurrou a porta.

Havia somente um cara ressonando no quarto. Dormia profundamente, para o alívio dela. Era todo musculoso, e Katherine não gostou muito. Não se sentia exatamente em condições de enfrentar alguém daquele tamanho, e não tinham sido dadas muitas opções a ela.

Aproximou-se lentamente, pensando no que fazer.

Como se ela tivesse pensado alto demais, o homem abriu os olhos. Olhou primeiro para ela, depois para a faca no braço dela e, sem hesitar, puxou a faca e a arrancou.

Katherine gritou e caiu de joelhos no chão. Agarrou o braço enquanto sentia uma dor insuportável, mas não pode ficar parada por muito tempo.

O homem já havia se levantado da cama, e brandia a faca com aparente habilidade. Para piorar, era jovem. Teria no máximo uns vinte e cinco anos. Ela estava prestes a virar carne moída.

— Quem é você? – berrou ele, andando em volta dela. – O que está fazendo aqui?

Katherine sentiu uma ardência, e percebeu que as presas de vampiro haviam surgido. Instintivamente, ela rosnou para o homem, expondo as presas. Como um vampiro assustador de filme. Funcionou.

O homem arregalou os olhos, mas não deu nenhum passo para trás.

— O que houve com você?  – sussurrou, parecendo assustado.

Ela não entendeu a pergunta. Não sabia se ele entendia que ela era uma vampira, ou se era algo a mais que o assustava. De qualquer forma, a exposição das presas e a descarga de adrenalina que ela sentira com aquilo fora quase como um interruptor dentro dela. O quarto parecia mais claro agora, e a dor nos dois braços diminuíra. E quando o homem ergueu a faca no ar e desceu o braço na direção dela, Katherine parecia ver tudo em câmera lenta.

Agarrou a mão dele e roubou a faca de volta. Deu uma cambalhota e cravou a faca na coxa dele, o que o fez cair no chão urrando de dor. Aproveitando o momento em que ele estava indefeso, Katherine desferiu um soco em seu rosto. Não foi forte o suficiente para desacordá-lo, mas serviu para deixá-lo tonto e sem muita resposta.

Katherine amarrou seus braços e o colocou em pé. Faria aquele homem andar, porque já se sentia atingindo os próprios limites.

Ele obedeceu, zonzo, e foi seguindo os passos dela. Ela fechou a porta do apartamento dele e chamou o elevador.

Olhou para a câmera do elevador, para as manchas de sangue que espalhara por toda parte, para o rapaz desacordado, e balançou a cabeça. Aquilo ia dar uma merda que ela nem imaginava. Mas também, que importância tinha?

As portas do elevador se abriram e Katherine continuou carregando o homem até chegar ao carro, onde o colocou no banco do carona e recebeu só alguns murmúrios sem sentido e olhares vagos em resposta.

Quando finalmente deu a partida no carro, sentiu um enorme alívio. Ela havia conseguido. Terminara com tudo em poucos minutos. E os outros passageiros do carro estavam quietinhos. Graças às ameaças de morte, pelo amor de deus.

Ficou pensando no que faria depois, depois de tudo. Se o pai a libertasse. Era prisioneira do próprio pai? Era uma coisa muito estranha. Alguém daria queixa do desaparecimento daquelas pessoas? Se sim, o fariam à polícia humana ou à polícia vampira? Se existisse uma polícia vampira.

Dirigir agora havia se tornado leve e agradável. Katherine quase sentia bom humor depois de vencer o que considerava os doze trabalhos de Hércules. A lista de crimes dela só aumentava, é claro, mas ela poderia sentir a culpa por isso mais tarde. Por enquanto, havia somente a satisfação por estar viva e por ter sido capaz de manter David e Mary vivos.

O GPS a afastava da cidade e a mandava para uma área mais afastada, com cada vez mais plantações pela estrada. Esquisito e assustador, mas ao mesmo tempo revigorante. O sol nasceria dali a pouco, a julgar pela cor do céu. E que gostoso seria correr naqueles campos.

Se a polícia humana a prendesse, ela poderia fugir. Era só se teletransportar para onde quisesse. Até onde eles iriam para pegá-la? Gente pior já tinha escapado com menos esforço e menos poderes sobre-humanos.

— Vire à direita – disse a voz do GPS.

— Seu desejo é uma ordem – respondeu Katherine, alegremente.

— Vamos todos morrer – grunhiu a mulher no banco de trás.

— Ninguém vai morrer – respondeu Katherine, fazendo cara feia pelo retrovisor. – Estão todos em óóótimas mãos. As minhas mãos.

Ela tirou as mãos do volante e mostrou para a mulher, que gritou. O carro patinou na pista, e Katherine agarrou o volante novamente. Achou engraçado.

Soltou uma gargalhada e fez uma curva um pouco brusca. A mulher gritou de novo.

— Quer parar de gritar? – pediu Katherine, olhando para trás. – Estamos nos divertindo aqui.

— Você está sangrando – rebateu ela.

— Ninguém está sangrando – insistiu Katherine, sorrindo para ela pelo retrovisor.

Mais algumas curvas e uns quilômetros de estrada de terra depois, ela finalmente avistou um portão que correspondia ao endereço do GPS. Parou o carro e buzinou.

— Chegamos! – Katherine anunciou, sentindo-se zonza.

Estava ficando tonta havia um tempo, mas agora estava com dificuldade de formar as palavras. Tentou apertar o volante, mas seus dedos escorregaram. Estava tudo molhado. Tateou a porta em busca da maçaneta. Não encontrou.

O corpo dela, todo mole, caiu para frente. Katherine aconchegou a cabeça no volante, e se incomodou com o barulho ensurdecedor na buzina, que não parava.

— Cala a boca, Hércules – resmungou de forma quase ininteligível.

E perdeu a consciência.


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Notas finais do capítulo

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