Sede de Poder escrita por Mermaid Queen


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

a história vai ficar maneira me da uma chance



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Quando Rachel foi embora, Katherine se deitou na cama e se enrolou na coberta, buscando conforto nos pandas.

Apesar de ter se divertido com Rachel, terminava o dia bem chateada. Se Katherine já estava acostumada a ser colocada em segundo plano pela família, dessa vez eles tinham se superado. Não sabia se estava mais incrédula por causa de Ellen, ou por David ter deixado Emma falar daquele jeito com ela e Rachel. Pelo menos Jack tinha sido legal, e ele era a pessoa com menos obrigação de ser legal com ela.

Ele era o padrasto. Se ele fosse um escroto, Katherine ainda podia culpar Ellen por ter arrumado um marido escroto. Mas quem ela culparia pelos próprios familiares escrotos? Ela mesma?

Ela revirou os olhos e foi tomar os remédios antes de dormir. Preferia tomar antes de dormir porque eles andavam deixando-a um pouco tonta, e ela não conseguia lidar com a tontura na hora de ir para a escola.

A noite não serviu para deixá-la mais conformada, e Katherine acordou com a mesma tristeza com que fora dormir. Pelo menos o despertador a fez se lembrar de Rachel, e um esboço de sorriso surgiu em seus lábios.

Katherine desejou não ter que se levantar, mas acabou cedendo. Tomou banho e depois trançou os cabelos de novo nas duas tranças embutidas, porque gostou da ideia. Desceu meio arrastando os pés, e se sentou à mesa de má vontade.

— Bom dia, Kate – cumprimentou Jack, quando ela apareceu na cozinha.

Katherine se limitou a lançar um olhar para ele. Jack ergueu as sobrancelhas e as mãos, em sinal de rendimento.

— Dia ruim. Saquei – murmurou ele.

David entrou na cozinha e apontou para Katherine. Ela olhou para ele com as sobrancelhas erguidas.

— Katherine, você não vai mais fazer isso – falou ele, com a voz bem alta. – As coisas não vão mais ser do jeito que você quer!

Ela olhou para ele e se colocou de pé devagar.

— Você não tem direito nenhum de gritar comigo! – rebateu ela, erguendo a voz nas últimas palavras.

— E que direito você tem de tratar a minha namorada mal? – David gritou de volta. – É a primeira vez que eu trago ela em casa, e você faz aquele escândalo! Você não tem respeito por ninguém! É uma deslocada que sempre quer ser o centro das atenções.

— David, eu não acho que… - Jack começou a dizer.

— Você conhece essa garota faz uma semana, David, e já tem mais respeito por ela do que teve por mim a sua vida inteira! – gritou Katherine, interrompendo Jack. – Vocês não me tratam como alguém da família! Vocês têm vergonha de mim! A mamãe tenta escolher o que eu visto, o que eu falo e como eu me pareço, e você nem se importa se eu existo ou não!

— Eu não sei como aquele filho da puta do Alex te aguentou. Não sei como a Rachel te aguenta todos os dias!

Katherine cerrou os punhos com tanta força que sentiu as unhas cortarem a palma das mãos.

— Se eu acabar que nem o papai, vocês vão ficar aliviados! – berrou ela, e saiu da cozinha com lágrimas nos olhos.

Ela subiu as escadas batendo os pés e com a vista embaçada pelas lágrimas. Bateu a porta do quarto com força, querendo gritar, mas somente se jogou na cama, de volta aos pandas.

Chorou com o rosto no travesseiro, abafando o som e molhando a fronha toda. Sentia uma dor de abandono que queimava o peito, misturada à dor das saudades do pai. Ele nunca a deixava de lado, até que a abandonou. Em um piscar de olhos, sem aviso, o mundo dela desmoronou, e ela tinha vontade de fazer o mesmo.

Ellen, como sempre, estava no estúdio de gravação. Provavelmente falando alguma baboseira sobre suplementos. Katherine sabia que ela não ouvira nada porque não fora se meter a favor de David, então devia estar se isolando no mundinho dela, que abafava o som do resto da casa.

Bom, pelo menos ela não iria para a escola. Estava de volta à cama. Mas soluçava e desejava nunca ter nascido, se era tão indesejada assim, então o desfecho não era tão bom quanto ela pensava.

O som da maçaneta chamou a atenção dela, e sem seguida David enfiou a cabeça pelo buraco da porta.

Katherine sentiu um fogo subir pelo peito, o calor da raiva se espalhando pelo rosto dela e deixando-o vermelho, e ficou com vontade de gritar ou jogar um sapato na cara dele. Decidiu fazer os dois.

— SOME DAQUI – berrou, e tacou o tênis que encontrou próximo da cama. – NÃO QUERO TE VER NUNCA MAIS!

David fechou a porta a tempo de o tênis não acertar a cara dele, e tornou a abri-la.

— Trégua internacional de dez segundos?

O pai deles, Roberto, usava a trégua internacional de dez segundos quando eles brigavam e queria que os irmãos fizessem as pazes.

— Se você mencionar o papai nessa conversa de novo – ameaçou ela. – Eu vou desistir de me matar e vou te matar.

— Trégua normal então? – insistiu David.

Katherine levou a mão à nuca e esfregou uma marca de nascença que tinha ali, coisa que fazia desde criança quando queria se acalmar. Passar a mão sobre aquela manchinha vermelha circular já a impedira de se meter em problemas, e Katherine esperava que funcionasse agora para impedi-la de socar a cara do irmão.

— Não – respondeu ela secamente. – Você me odeia. Eu te odeio. Pode ir embora.

— Eu não odeio você, Katherine – disse ele, e ela se abaixou e ergueu outro tênis no ar. – Calma. Sem essa.

— Eu estou avisando.

David ergueu as mãos no ar, em posição de rendimento. Katherine limpou o rosto com as costas da mão, mas deixou escapar um soluço.

— Eu vim em paz. Mesmo. Sinto muito por ter falado do Alex. Eu errei de verdade.

Katherine ergueu a sobrancelha.

— E me desculpa por ontem.

— Pelo quê? – perguntou ela, sem acreditar nele.

David baixou a cabeça e encarou os próprios pés.

— Sobre a Rachel. E o que Emma disse para ela. Jack me falou que ela ficou chateada.

— Ah, sobre a sua namorada ter sido homofóbica. Lembrei. E aí?

— E aí, nada. Estou pedindo desculpas.

— E você vai falar com ela? Vai pedir desculpas para a Rachel?

David abriu a boca, e depois hesitou. É claro que ele não ia falar nada com Emma. Ele nem devia ligar de verdade, e só devia ter aparecido no quarto porque Jack deu uma bronca nele. David nem ligaria se Katherine sumisse.

— Enfim, já entendi. Desculpas aceitas – disse ela, querendo acabar logo com aquilo.

— Mesmo? Só isso?

— É, David. Não muda nada – Katherine respondeu, querendo acrescentar que ele ainda não se importava com ela e nunca se importaria, mas não teve coragem de dizer nada. Ele ainda esperava o quê? Um prêmio por pedir desculpas?

David revirou os olhos e saiu do quarto. Katherine revirou os olhos e saiu da cama.

Encarou a si mesma no espelho do banheiro e abriu a gaveta do armário sob a pia, puxando de lá o estojo de maquiagem. Era a única coisa boa que viera de Alex, se é que ela podia chamar aquilo de bom. Katherine aprendera a cobrir absolutamente qualquer coisa com maquiagem.

Depois que estava minimamente apresentável e sabia que David já tinha saído de casa por causa do barulho do escapamento que parecia uma explosão, ela desceu as escadas. Estava preparada para ir de ônibus para a escola, porque não ia deixar que o idiota do David — ou pior, a idiota da namorada dele — tivesse o gostinho de tê-la vencido.

Mas, para sua surpresa, encontrou Jack sentado na sala.

— Você não trabalha, não? – perguntou ela, cruzando os braços.

— Eu posso chegar atrasado de vez em quando – respondeu ele, naturalmente. – Estava esperando você descer.

— Como você sabia que eu ia descer?

Katherine estava planejando a ida para a escola como um grande momento de revelação e ressurgimento das cinzas após gritar a plenos pulmões que iria tirar a própria vida e subir para o quarto chorando e ainda encarar o irmão cínico, porque normalmente ela não teria forças para levantar da cama. Mas Jack onisciente estava lá no sofá sem parecer nem um pouco surpreso.

— Eu leio mentes – respondeu ele simplesmente.

Ela apenas assentiu com a cabeça. Katherine sempre se arrependia quando dizia que Jack era irritante, porque depois ele tinha os momentos de redenção. Mas aí ele a ajudava a se lembrar do quanto ele era irritante, e o peso na consciência ia embora.

Jack foi até o carro em silêncio, e Katherine o seguiu. Ela colocou o cinto de segurança e o observou dar a partida e engatar a marcha, achando esquisito o silêncio todo. Ela dissera umas coisas bem pesadas no café da manhã para ninguém falar sobre isso.

— Então, Kate…

Lá estava. Ela já até sabia. “Você não deve dizer essas coisas” isso, “Por favor não se mate, sua família vai ficar triste” aquilo, “Você ainda tem a vida inteira pela frente” aquele outro, “É só uma fase” para terminar com chave de ouro.

Jack deu um sorrisinho de leve, e Katherine ergueu as sobrancelhas. Talvez ele pudesse mesmo ler mentes.

— Vou marcar outra consulta com a psiquiatra – disse ele, e talvez ele não lesse mentes afinal. Mas era mais compreensivo que as outras pessoas. — Quem sabe ela até possa diminuir seus remédios, já que as suas crises de ansiedade estão diminuindo.  Acho que você precisa conversar com alguém que consiga te entender, só isso.

Katherine sorriu de leve.

Jack sempre sabia a coisa certa a dizer.


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Notas finais do capítulo

gente a kate é uma jovenzinha muito triste !!! não desiste da história pra descobrir quem é alex e o que aconteceu com o pai dela



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