Minha Vida Sem Cristina escrita por Matheus Cardoso
— Mãe, aconteceu alguma coisa. – disse Leo, entrando na sala onde a mãe estava, dando mamadeira para Letícia.
— Como assim? – ela perguntou.
— A Cris ainda não chegou... Liguei para ela umas dez vezes e mandei várias mensagens, ela não atende e não me responde!
— É o trânsito, Leo! Calma! Já, já, ela está aí!
— Eu marquei com ela meio dia e são dez para as duas! Aconteceu alguma coisa e não é trânsito!
A mãe se sentou, pensou e disse:
— Você já ligou para a casa dela?
— Já! Liguei, mas ninguém atende! Os pais dela deveriam estar em casa!
— Você tem o telefone da Érica?
Érica era o nome da mãe de Cris. Leo responde balançando a cabeça negativamente.
— Eu acho que eu tenho... – disse Carmem, a mãe de Leo, olhando em seu celular . – Achei! Aqui... Vou ligar! Segura a Letícia rapidinho.
O telefone chamou duas vezes e ela atendeu.
— Alô? – Érica disse.
— Oi, é a Carmem, a mãe do Leonardo. Nós queríamos saber o porquê do atraso da Maria Cristina...
Érica começou a chorar descontroladamente.
— O quê houve? – Carmem perguntou.
— A Maria... A Maria Cristina e o pai... Eles sofreram um acidente de carro e estão indo para o hospital agora. – ela respondeu em meio a soluços.
— Meu Deus! Não acredito!
— Pois é... Desculpe, vou ter que desligar, estou dirigindo. – avisou Érica.
— Tudo bem, tchau.
— Tchau.
Carmem sentou no sofá e encarou o filho.
— Mãe, que cara é essa? O quê houve?
— Leo... Coloca a Lê no quarto, ela já dormiu.
Assim, ele o fez e quando voltou, ouviu:
— Aconteceu uma coisa horrível.
— Meu Deus! O quê aconteceu com ela, mãe?
— Filho, fica calma, tá? Vai dar tudo certo...
— Mãe, fala logo o que aconteceu! O quê houve com a Cristina?
— Ela e o pai sofreram um acidente de carro.
Pronto. Um tiro certeiro no coração de Leo. Ele se jogou no sofá e começou a chorar.
— Me diz que é mentira, mãe! Me diz! ME DIZ! Como ela está?
— Calma, Leo! Nem a mãe dela sabe! Ela está indo para o hospital!
— Hospital? Nós vamos também! – ele disse, se levantando e puxando o braço da mãe.
— Eu nem sei qual é o hospital e como vamos até lá?
— Mãe, liga para ela de novo enquanto eu peço um táxi.
— E a sua irmã? Não vou leva-la para um hospital!
— Chama a tia Eleonora para ficar com ela rapidinho.
Eleonora era a irmã de Carmem e morava a duas quadras dali.
Carmem descobriu o nome do hospital e ligou para a irmã que logo, chegou lá. O táxi chegou à porta da casa deles quinze minutos depois. Leo perguntou ao taxista quanto tempo demoraria, ele respondeu:
— Sem engarrafamento, no máximo em meia hora.
...
Érica chegou ao hospital, aflita. Foi direto para a recepção e perguntou sobre o marido e a filha. A recepcionista chega uma enfermeira que estava auxiliando os médicos.
— Boa tarde. A senhora é parente do Roberto e a filha?
— Sim, eu sou a esposa dele e mãe da menina. Como eles estão? O que aconteceu?
— Bom... O carro onde eles estavam despencou do viaduto e infelizmente, quando fomos socorrê-los, seu marido já estava sem vida. A maior parte do impacto foi nele... Foi morte instantânea. Eu sinto muito.
Érica se sentou em um banco e chorou. Chorou tanto que a enfermeira precisou interromper para continuar a falar:
— Já a sua filha, ela sofreu com o impacto também. Bateu a cabeça e sofreu uma hemorragia cerebral. Ela precisará ficar em coma para evitar lesões no cérebro. E fraturou o fêmur também.
— Eu quero vê-la.
— Não pode. Ela está no centro cirúrgico. Estão cuidando de tudo... Não se preocupe.
— Não se preocupe? Meu marido morreu e minha filha está na UTI e você fala para eu não me preocupar? – Érica gritou.
— Desculpa, senhora. Foi só o jeito de expressar... Com licença.
A enfermeira saia enquanto Leo e a mãe chegavam ao hospital. Logo, encontraram Érica, que explicou tudo o quê acontecendo.
— O Roberto morreu? Meu Deus! – exclamava Carmem.
— A Cristina... Hemorragia cerebral? Eu tenho que avisar a Aline e Daniel. – disse Leo, ligando o celular.
Logo, ele mandou um áudio no grupo contando o ocorrido. Daniel e Aline avisaram que iriam para lá também.
Quase uma hora depois, os dois chegam e abraçam o amigo. Cumprimentam Érica e Carmem.
— Eu ainda não estou acreditando no que você me falou, Leo. – disse Aline.
— A Cristina, a nossa Cristina... – balbuciou Daniel.
— Hoje era para ser um dia comemorativo, é o nosso aniversário de um ano de namoro. – murmurou Leo.
— Ela ia te dar um violão, Leo. Para você, finalmente, tocar. – contou Érica.
— Sério? – ele perguntou, colocando as mãos no rosto. – Eu ia dar para ela um vestido e um anel que ela viu em uma loja uma vez e disse que queria.
— Que fofo! – exclamou Aline.
— Pena que esse violão nem existe mais, deve estar todo quebrado. E ela juntou dinheiro por um bom tempo. – contou Érica.
Leo começou a chorar naquele momento. Carmem, Aline e Daniel tentavam consolá-lo enquanto Érica contava a família sobre a morte do marido e com a ajuda de alguns familiares, realizaria o enterro no dia seguinte.
— Queria que houvesse algo que pudéssemos fazer. Me sinto uma inútil em ficar aqui, só esperando. – disse Érica.
— Será que já podemos vê-la? – perguntou Aline.
— Vou perguntar a enfermeira. – disse Leo.
Leo se levantou e foi até a recepção. Uma enfermeira apareceu logo depois e disse que só três poderiam ir. Érica, Leo e Daniel foram. No caminho, ela explicou:
— A Maria Cristina ainda está inconsciente, mas seus sinais vitais estão melhorando. Os médicos estão com ela agora, verificando o estado dos pulmões para ver se ela consegue respirar sem aparelhos.
— Então, isso quer dizer que ela vai acordar? – perguntou Érica.
— Não exatamente... Se ela conseguir respirar sem os aparelhos, será um grande avanço, mas nem tudo estará resolvido.
— Entendo.
Eles entraram na UTI e foram diretamente, onde Cristina estava. Havia vários aparelhos ligados nela, sua pele estava pálida e seus cabelos ressecados. Érica se aproximou e acariciou a testa da filha.
– Oi, meu docinho.
Leo pegou a mão direita dela e beijou. Percebeu que ela estava com a pulseira que ele havia dado para ela e pensou no que ela falaria para ele em relação a ela. Alguns segundos depois, a enfermeira avisou que já estava na hora de eles irem. Na volta, eles contaram como Cristina estava.
— Gente, eu sei que isso vai parecer ofensivo, mas eu preciso falar... Não podemos ficar aqui o tempo todo nesse hospital. Eu adoro a Cris, muito, ela é minha melhor amiga, mas a vida continua, sabe? Isso é uma dica para vocês, dona Érica e Leo. – disse Aline.
— Você tem razão, Aline. Mas, vamos visita-la todo dia. – concordou Leo.
Aline assentiu e Érica convidou todos para o enterro do marido que seria no dia seguinte.
Carmem sugeriu a Leo que ele fique com os amigos para distrair a mente, ele concordou e os três foram para o shopping que era perto dali.
Durante o caminho até a praça de alimentação, Aline disse:
— Ah, eu esqueci de dizer para vocês... Dia 30 é aniversário da minha prima Isabelle, lembram dela?
— Vagamente. – respondeu Daniel.
— Então, ela vai dar uma festa na casa de show de um amigo dela. Vai ser aqui perto e queria que vocês fossem comigo.
— Na antevéspera de ano novo? Fala sério, Aline! – exclama Daniel.
— O quê que tem? Poxa, vocês são os únicos amigos homens que eu tenho...
— E?
— Casais pagam a metade do preço até meia noite.
— Você vai usar um de nós como desculpa para pagar menos? Leo, o que você acha disso? – exclamou Daniel.
Leo estava em outro mundo. Nem sabia sobre o que os amigos estavam conversando. Daniel explicou a situação e Leo disse que não estava com cabeça para festas.
— Leo, sabemos que o acidente da Cris está mexendo muito com você, mas você vai ter que viver... – dizia Aline.
— Ai, Aline, falando assim, parece que ela morreu.
Leo encara os dois, diz que vai para a casa e que os viria em breve.
— Viu o quê você fez? Custava ficar quieta? Eu vi o estado da Cris, ela está horrível!
— Eu não falei nada demais, Dan! Eu sei que ela está em coma, internada, mas não podemos ficar tristes o tempo todo... Vem cá, você vai na festa comigo, né?
— Só com uma condição. – respondeu Daniel, chegando na praça de alimentação.
— O quê? Eu faço tudo!
— Me paga um Big Mac.
Aline suspirou e disse “tudo bem” enquanto caminhou até a fila do McDonald’s.
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