Lágrimas de Fogo escrita por TopsyKreets


Capítulo 5
Recomeço




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751386/chapter/5

Lágrimas de Fogo

 

Hospital Geral de Echo Creek

(Lá e de volta outra vez)

 

— Passamos tempo demais dentro desse hospital – Disse Tom.

 

Star ouviu, mas preferiu não responder.

Num dia, estava com Marco no baile de formatura.

No outro, ele estava em coma – na UTI.

 

O remorso batia mais pesado no estômago do que nunca.

Enquanto ela se divertia com Tom no quarto do príncipe, Marco lutava numa maca pra sobreviver.

Não podia deixar de se sentir culpada com a situação.

 

Pensara, por um momento, que rever a melhor amiga poderia melhorar seu humor.

Isso, é claro, foi antes de Janna lhe acertar com um tapa no rosto.

Star nem tentou se defender. Se quer, desviar. Sentia que merecia.

 

Instantes depois, Tom tentou se colocar entre as duas, mas levou um tapa também.

— Isso é sua culpa! SUA CULPA! – Berrou Janna.

 

Janna Ordonia ainda estava com o vestido do baile.

Um vestido verde perolado, mas curtinho que o da Star.

Sua maquiagem estava toda borrada. Na mão que não usara para esbofetear o casal, trazia consigo em terço de oração.

 

Ela passara a noite toda no hospital.

Chorando e rezando.

 

Por Marco.

 

....

 

— Eu não sabia – Tentou argumentar Star – Não tinha como eu saber....

— Não tinha como saber?!

O que você acha que aconteceu depois que você terminou com ele, em público, em cima de um palco?!

 

A princesa não respondeu.

Janna continuou.

— Ele saiu de lá vaiado! Humilhado!

Tentei conversar com ele, mas não me ouviu.

Estava destruído.

No caminho pra casa, tentou se esconder da chuva numa lojinha e....

Teve um assalto....

 

Ela passou a mão nos olhos vermelhos antes de prosseguir.

Depois de uma noite em claro, até mesmo falar se torna uma tarefa complexa.

— Ele não deveria estar naquela lojinha.... Era pra estar no baile.

Com você.

 

No fundo, queria falar mais.

Esbravejar mais. Dar mais um ou dois tapas na princesa. Mas estava cansada demais.

Optou, portanto, e largar os dois no corredor do hospital e sair do estabelecimento.

 

O príncipe do submundo encarava o chão.

O lugar era muito limpo, mas ainda podia ver gostas de sangue de Star2, mesmo depois de semanas.

O sangue seco da segunda princesa se mistura ao sangue recente de Diaz.

 

Era deprimente. Assustadoramente deprimente.

— Melhor nós irmos embora – Ele disse.

Sua magia não vai funcionar nele, porque....

— Eu sei – Replicou Star – Mas ainda preciso fazer uma coisa.

Fica aqui e me avisa se alguma coisa acontecer.

— E onde você vai?

— Vou falar com a Janna.

— Então é melhor se preparar. Ela vai te bater de novo.

— Vou trocar umas palavras com ela, mesmo assim.

 

....

 

Do lado de fora, Janna sentara na calçada, tentando não chorar ainda mais.

Quando a amiga se aproximou, sentando-se ao seu lado, ela nem se mexeu.

Continuou de cabeça baixa, olhando para os próprios saltos.

Sempre imaginaram que no dia seguinte ao baile de formatura, as duas estariam com seus pares, tomando café da manhã numa lanchonete próxima, ou devorando batatas fritas no Burger King.

 

Contudo, Janna não conseguira um par e Star abandonara o dela.

Engraçado como funciona as prioridades na mente das pessoas. Um dia antes, os vestidos que elas escolheram eram de vital importância.

Agora, em frente ao hospital, eles estavam empoeirados e amassados.

 

Mesmo assim, não davam a mínima.

— Sabe que ele teria seguido você, não sabe? – Comentou Janna, da forma mais fria que conseguiu com sua voz rouca – Teria te seguido, até o fim do mundo.

— E isso seria perfeito pra mim – Concordou Star – Mas seria péssimo pra ele.

Quando ele melhorar (e eu sei que vai), Marco vai ficar muito mais feliz na Universidade do que morando comigo em Mewni. Eu já baguncei a vida dele demais.

— Isso é verdade.

— Você não precisava ter concordado tão rápido, mas.... É sim.

Um dia ele vai se esquecer de mim. E talvez seja o certo a se fazer.

 

....

 

— Tem uma coisa que eu não entendo – Disse Star – Se gostava tanto dele, porque nunca disse nada, antes?

 

A garota sentia vontade de acertar a princesa de novo, mas se conteve e fez como sempre, voltando ao seu modo natural e zombando de tudo e todos.

Sua zona de conforto.

— Eu não gosto dele!

Só gosto de rir às custas dele. Zoar, espalhar boatos que ele é gay.

Perturbar, irritar....

— Afastar toda e qualquer garota dele?

— É! Quero dizer, não! Não tem nada a ver, eu....

Não me faz ficar vermelha, agora!

— Tudo bem, não toco mais no assunto.

— Hummm.... Está tão óbvio.... Assim? – Murmurou Janna, completando o constrangimento total.

— Só um pouquinho.

 

Deixando-se amolecer, ela deixou que a loira a abraçasse.

Assim como Tom, Janna também tinha hábito de ceder a Star.

Hábitos.

— Não ficou tão incomodada quando ele namorava com a Jackie – Comentou a princesa.

— Puuuutz, a Jackie era a garota mais popular da escola. Eu namoraria com a Jackie, se tivesse a chance!

Mas você era minha amiga. Achei que notaria, caramba.

— Desculpa. Mesmo.

 

Segurando as mãos de Star, ela já não estava mais com raiva, ou decepção.

Só com medo do rapaz jamais sair daquele hospital de novo.

— Pode cura-lo?

 

Star balançou a cabeça.

— Magia de cura só funciona quando se tem amor.

Não é exatamente o que o Marco sente por mim, no momento.

Mas sei que vai acabar tudo bem. E você deveria estar lá do lado da cama, na hora em que ele acordar. Isso deve causar uma boa impressão, imagino.

— Porque você fala como se não fosse ficar? Você e o garoto de chifres vão a algum lugar?

— Queira poder dizer que não, mas.... Sim, nós vamos.

Viemos para te dar apoio moral. Depois, precisamos voltar pro submundo.

Eu e o “menino de chifres” vamos casar, em breve.

Temos muito o que preparar.

— Uau. Então, é sério mesmo entre vocês dois?

— É sim. Mas e quanto a você?

Universidade, também?

 

Janna balançou a cabeça. Era a única notícia positiva em meses.

Stanford. Estrou matriculada no próximo semestre.

— Ei, não é para onde o Marco vai?

 

A jovem Ordonia não respondeu diretamente.

Só deu uma piscada e devolveu com uma indireta.

— Não sei do que você está falando, princesa.

Não tenho ideia.

— Hu-hum.

Sei que não faz.

Melhor voltarmos, então.

 

A meio caminho de volta ao quarto de Marco, não falaram muito, mas Janna fez questão em mencionar um assunto.

— Não vou receber um convite para o casamento?

— Aí depende. Vai me bater de novo?

 

Janna deu de ombros.

— Claro que vou.

Melhores amigas fazem isso.

Se abraçam se batem e são madrinha de casamento uma da outra.

Melhor se acostumar, senhorita Buterfly.

 

....

 

Tom, Star e Janna ficaram juntos por mais umas horas.

Conversaram com os pais de Marco. Com os médicos.

Quadro estável. Logo, ele acordaria.

Foi um baita tiro de revólver, mas ele era durão na queda.

Na escola, Marco Diaz passara de nerd, rei do baile, fracasso total – a herói.

 

Em tempo recorde.

Nada mal.

 

Antes de irem embora, Star lhe deixou um bilhete.

Algo tocante, em que dizia que sentia muito. Que ele era especial, e não merecia sofrer sozinho.

Um dia, ele e Star teriam uma conversa franca a respeito.

Mas não tão cedo. Não no momento.

Por ora, distância era o melhor remédio.

 

Em todo caso, o rapaz ainda tinha a família e Janna.

E foi Janna a primeira coisa que Marco viu, quando acordou dias depois.

Ainda sentia dores, estava repleto de faixas.

Cirurgias para retirada de balas não eram das mais complexas, mas ainda eram cirurgias.

A garota não pôde deixar de notar a surpresa no rosto dele, quando acordou.

 

 

Marco esperava qualquer uma, menos ela, sentado ao lado da cama.

Um pouco confuso, tentava repassar os acontecimentos ressentes.

 

Star2. Baile. Tiro.

Ah, certo. Levei um tiro. Doeu.

Espera, a Janna me trouxe pro hospital?

 

— Bom dia, majestade! – Ela disse.

Achei que ia ficar dormindo a tarde toda.

 

Ele a analisou de cima a baixo.

O vestido verde-perolado estava um farrapo e a maquiagem, tão borrada que mais parecia símbolos de guerra.

— Bom dia, eu acho.... Há quanto tempo está aqui?

— O mesmo que você.

 

Marco ficou verdadeiramente surpreso com a resposta.

— Uau. Não achei que.... Se importava tanto....

— O que? – Ela interrompeu – Não achou que eu me importava com você?!

Sou sua amiga de infância. Meu Deus.

— Você me odeia.

— Não! Claro que não! O que te deu essa impressão?

— Você me disse. E várias vezes.

 

Ela corou, ficando vermelha da cabeças aos pés.

Talvez tenha exagerado na sua zona de conforto, que era basicamente amolar os outros.

Inclusive as pessoas que ela amava.

 

Ô, hábito maldito — Janna pensou.

— Posso ter.... Me expressado mal – Ela respondeu, um pouco sem graça.

— Durante anos...?

— É, durante anos. Eu me importo com você. Desculpa.

 

Embora a dor fosse constante (e se mover doía ainda mais), Marco esboçou um sorriso com o canto da boca.

— A última garota que me disse isso me largou por um demônio.

— Só que eu não vou a lugar algum. Prometo.

 

Segurando em suas mãos, Janna tentava transmitir todo o sentimento que podia, naquele instante.

Ele apreciou o gesto.

 

Estava estranhando, mas apreciava.

— Sabe, não disse isso ontem, mas....

Você fica bem nesse vestido.

— E você fica bem sem camisa.

Gosto de cicatrizes.

 

....

 

Quando saiu do hospital, uma semana depois, Janna não saiu do lado do rapaz.

Nem quando ele finalmente tomou coragem de ler a carta da Star.

Ela deu apoio e ele devolveu esse carinho.

No primeiro dia em Stanford, eles deram o primeiro passo para o futuro, juntos.

Assim como fizeram Star e Tom.

 

....

 

Porque no fim, o final feliz chega.

Pode não ser da forma que você queria.

Ou com quem você imaginava.

Mas se houver empenho o bastante, ele chega. E nada mais importa.

 

Toda a dor, todos os tapas ou tiros de revólver.

Todas as batatas fritas desperdiçadas, sangue, lágrimas derramadas ou escutas em molares.

 Por isso, corra atrás e dê uma chance a si. Dê uma a quem você menos imagina que te faça feliz e....

 

De repente, você pode se surpreender.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lágrimas de Fogo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.