Lágrimas de Fogo escrita por TopsyKreets


Capítulo 3
Coração Difuso




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Lágrimas de Fogo

 

Nos dias seguintes, Tom se trancara em seu quarto e não recebera visitas de ninguém.

Tinha pisado na bola, quase provocara a morte de alguém e colocara seu próprio reino em perigo.

Não importava o quanto sofresse, nada podia fazer para mudar a situação.

 

Sem Star2, não tinha nada.

Fome. Disposição.

Em breve, poderia ficar sem o próprio reino, inclusive.

 

Como sempre, o buraco é mais em baixo.

 

A situação só passou a melhorar quando Star (a nossa primeira e agora, única), decidira lhe fazer uma visita.

Estava com o coração apertado desde o incidente no Burger King e não conseguia pensar em mais nada, desde então.

Havia muitos pontos a serem considerados.

 

Tom ainda a amava. Com uma intensidade irracional e, ao mesmo tempo, pura.

Inesperado, considerando que se trata do príncipe do submundo.

Mais inesperado ainda era Star que não conseguia tirar o rapaz da cabeça, mesmo quando achava que não deveria estar pensando nele.

Na noite anterior, tinha sonhado com Tom a levando para o baile da escola, o que era loucura já que era óbvio que iria com Marco.

Tinha que ser com Marco. Era seu namorado. E isso não mudaria.

 

Ou mudaria?

 

Em frente a porta de Tom, ela se esbofeteou quando esse pensamento sorrateiro lhe veio à mente.

Não, não. Marco é seu namorado.

Tom é seu amigo.

Ajude-o e volte para Echo Creek. Só isso. Sem decisões estúpidas, princesa — Pensava consigo.

 

Depois de tanto insistir, o jovem demônio finalmente abriu a porta e deixou que a princesa entrasse.

 

....

 

Em seu quarto, Tom voltou a se jogar na cama.

Star sentou ao seu lado.

— Sabe o que eu quero mais nesse mundo, princesa?

 

Mas Star não respondeu. Não teve coragem. Vendo o olhar aflito da garota, ele mesmo decidiu responder à sua pergunta.

— Chorar. Eu quero poder chorar.

Mas não posso. Não dá. Se eu tento, a lágrima evapora antes de sair dos olhos.

Por isso demônios são tão bons em serem maus. Não podem expressar tristeza profunda.

Só raiva.

 

Sem avisar, ele lançou uma bola de fogo no abajur da mesinha de cabeceira, vaporizando o objeto.

— Viu? – Ele disse – Sou bom em destruir. Amar, nem pensar.

— Que isso, Tom, você não pode....

— O que?! Ficar amargurado, para sempre?!

Eu errei. E feio. O povo precisava de mim, e eu errei.

Fudi com tudo.

— Não entendi. Como assim, o povo precisava de você?

O que está acontecendo?

— Guerra. Só isso.

 

.....

 

— Estou prestes a completar dezoito.

— Eu sei, daqui a um mês.

— É. E eu já deveria estar casado para manter o trono do submundo na nossa família.

— O que?

 

Tom levou as mãos a cabeça, em sinal de pura angústia.

Pensava e revirava a mente, procurando uma saída para o problema.

Infelizmente, nada lhe ocorria.

— Eu devia me casar até completar dezoito.

Garantir que a família que tem capacidade de gerar descendentes e herdeiros.

Meu pai tinha planos, princesas para casamentos arranjados.

Mas eu disse: “Não pai, confia em mim, eu dou um jeito” ....

 

Engolindo o orgulho, ele continuou.

—  Só que eu só amo você, Star.

Quando você disse “não”, fiquei mal. Muito mal. Daí eu tive a ideia do universo alternativo e....

Quase matei uma versão sua, e pra quê?!

Eu perdi você.

Eu perdi ela.

Coloquei o submundo em segundo lugar, e agora condenei a todo mundo.

 

Star colocou a mão do ombro do rapaz.

O submundo tinha problemas, como qualquer reino, mas em algum ponto da jornada, Tom decidira carregar todos nas costas.

— Não pode se culpar por tudo – Explicou Star.

O que pior pode acontecer?

— Lei dos demônios.

Quando o filho mais velho do rei completa maioridade, ele tem que assumir o trono.

Mas tem que ser casado.

Se não puder, o povo vai ter que escolher um novo rei.

E se isso acontecer, a guerra vai recomeçar.

— Guerra?! O submundo está em paz há décadas!

— Meus pais garantiram isso. E eu garantiria. Não posso dizer por outra pessoa.

Muitos aqui têm interesse na guerra com outros mundos. E daqui a um mês, um desses malucos vai acabar assumindo.

 

Buraco. Muito mais em baixo.

 

Mesmo parecendo um pouco condescendente da parte dela, Star sentou - se no colo de Tom e o abraçou novamente.

— Tem algo que eu possa fazer?

— Pode.... Me fazer chorar?

— Posso fazer isso por você. Ajuda?

— Não, mas eu aprecio o sentimento.

 

Então, Star chorou.

Chorou por Tom. Por Star2.

Por tudo.

 

Queria fazer mais. Muito mais do que apenas expressar tristeza.

A questão é: ela faria?

 

....

 

Os dias se passaram devagar, muito devagar.

A princesa não conseguia parar de pensar nele.

Tom queria que o povo fosse feliz.

Mas não queria abrir mão da própria felicidade.

 

Com Star2, ele conseguira momentaneamente ambos. E tão rápida como alcançara, perdera.

Como ajudar Tom?

Como poderia ajudar Tom a ser feliz?

Tom, Tom, Tom, Tom, Tom, Tom…

 

Os sonhos com o príncipe do submundo não diminuíram.

Parando para pensar melhor, Star nunca se importara tanto com ele.

Não quando namoraram, pelo menos.

Ir para outro universo, por causa dela?

Até que era meigo.

Ser demônio e se importar com a paz?

Gentil.

Ficar lindo de colete e gravata?

Checado. E ele tinha a quem puxar.

 

....

 

Seu pensamento estava tão focado que sentia algo lhe fugindo.

Algo importante que a princesa devia estar prestando atenção.

No namorado, Tom?

 

Não, espera! Marco!

Meu namorado é o Marco. Não o Tom.

Nota mental: não confundir.

Tom, Tom, Tom, Tom, Tom, Tom…

 

Realmente tinha algo que a princesa tinha que focar.

Se não Marco, o que seria?

Tom, Tom, Tom, Tom, Tom, Tom…

 

— Star! – Gritou Janna, chamando sua atenção – Vocês venceram!

São o rei e rainha!

— O que?

— O baile, doida! Vocês venceram rei e rainha do baile!

Vai, vai, vai!

 

Ahhhhhh.

O baile. Eu estou no baile.

Espera, ganhei o concurso de rei e rainha?

 

Abruptamente, Star fora jogada a realidade.

Estava no baile de formatura com Marco.

Tinham sido eleitos rei e rainha do evento. Nunca considerava mesmo que ganhasse.

Não depois da quantidade de vezes que tinha destruído a escola.

Unicórnios, vampiros, Pugs.... Tinha explodido o lugar tantas vezes que não se lembrava mais.

E agora, estava subindo no palco para ser coroada.

 

....

 

Marco Diaz estava de smoking impecável, sapatos lustrados.

Em algum ponto que não se recordava, ela se maquiara e pusera um vestido preto e deslumbrante para o evento.

Star sabia que se vestir e se maquiar era algo quase mecânico.

A princesa podia fazer dormindo. Ou com metade do cérebro – o que parecia ser o caso atual.

Quando se deu conta do que estava realmente acontecendo, ela já tinha recebido sua coroa de “rainha”.

 

Uma pequena rodela de plástico que as meninas almejavam e babavam, desde o maternal. E quando eu digo todas as garotas, quero dizer TODAS mesmo (incluindo até alguns caras).

Assim que recebeu a sua, Marco não podia estar mais feliz.

Estava no palco, com a garota que amava.

Ela entrara inesperadamente na vida dele, mas não podia ter funcionado de uma forma melhor.

Star era inteligente, dedicada, charmosa e, mesmo instalando uma escuta em seu molar (e um GPS, em um lugar ainda desconhecido), uma boa namorada.

 

Nada podia dar errado.

 

....

 

Finalmente, o breve discurso do “rei”.

Antes de começar, ele se aproximou e beijou Star na testa.

As meninas na frente do palco suspiraram.

 

Marco pode ouvir o grito solitário de Janna o chamando de gay lá no fundo do salão, mas decidiu ignorar.

— Eu agradeço a todos por hoje.

Principalmente a uma pessoa aqui.

 

E dito isto, segurou a mão direita de Star com suas duas.

— Star, eu te amo.

De um dia para o outro, você mudou o meu mundo.

E agora você é o meu mundo....

 

Ele a agarrou pela cintura e roubou um beijo apaixonado – o que fez com que todos os demais alunos (exceto Janna Ordonia) fossem a loucura e aplaudissem de pé.

Janna apenas revirou os olhos.

 

....

 

— DISCURSO, DISCURSO, DISCURSO!!!....

 

O público foi unânime. E a princesa de Mewni não perderia a oportunidade de dizer o que sentia.

 

 

Pegando o microfone das mãos de Marco, ela se posição, olhou fundo nos olhos dele e antes de começar, apenas pensou:

 

Não estraga tudo, não estraga tudo, não estraga tudo, não estraga tudo....

— Marco, eu....

 

De repente, ela congelou.

— Marco, eu....

Eu....

 

Desculpa.

— Marco, eu quero terminar com você – Ela respondeu, por fim.

 


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