Jasmine - O labirinto dos Reis escrita por Breave Black


Capítulo 1
Capítulo 1




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Jasmine mal havia acabado de voltar da longa e cansativa viagem quando foi avisada sobre um mensageiro aguardando na cabana do capitão. Sentia-se esgotada, cada músculo do seu corpo doía devido a tensão dos últimos dias, mesmo assim só conseguia pedir em seu interior que  não fosse um mensageiro da cidade. 

Ela não havia tido bons pressentimentos naquele dia, mas tinha a esperança que não passassem de sentimentos bobos, ela não podia estar mais enganada.

Disparou em direção a cabana para saber qual era o assunto da vez. Por onde passava as pessoas a cumprimentavam e depois cochichavam sobre seu semblante preocupado. Seus passos apressados, sem dúvidas, chamavam a atenção.

— Você– apontou para um garoto que estava deitado em baixo de uma sombra, ele levantou em um pulo, sem parar de andar fez sinal com o dedo para que o garoto a acompanhasse. – O capitão já voltou de viagem?

Ele engoliu a seco discretamente.

— Sim, senhora. Voltou há dois dias. – falou com a voz firme, porém baixa.

— Vá chamá-lo. – ordenou.

Antes que Jasmine piscasse, estava caminhando sozinha novamente. Não conseguiu deixar de notar a atitude ligeira do garoto, ele estava sendo anotado em sua lista mental nesse momento.

Não demorou muito para que chegasse a casa do capitão. Cumprimentou Demétrius com a cabeça e entrou. Ali estava o mensageiro, suado e cansado, com as roupas sujas e a barba desajeitada, ele havia corrido para chegar até ali. Foi então que ela os viu. O indicio que não queria encontrar, os sapatos de couro claro que eram caros e feitos na cidade.

Não houve como seu coração não acelerar, mesmo que ela não percebesse.

O capitão chegou logo em seguida, tão preocupado quanto ela. Eles trocaram leves acenos de cabeça e se voltara ao mesmo tempo para o mensageiro, porém não falaram nenhuma palavra. Era inegável como os dois se pareciam.

O mensageiro entendeu sua deixa, empertigou-se para falar.

— Jonathan foi preso. – disse o homem sem rodeios, ele estava bastante assustado com os dois o encarando, queria apenas acabar com aquilo.

Em um instante pareceu que todo o do planeta resolveu desaparecer. Aquilo não podia estar acontecendo. Jasmine não demostrou nenhum sentimento, mas internamente seu coração estava aos pulos.

— Foi preso por quê? – apressou-se o capitão frente ao silêncio de Jasmine.

— Roubo. – falou o mensageiro secando um suor que descia pela sua testa.

— Roubo. – repetiu Jasmine mais como uma afirmação.

Irresponsável, por que não podia facilitar sua vida? Jasmine apoiou-se na mesa para que ninguém percebesse seu nervoso.

Ele não tinha ideia do que aconteceria com todo mundo se colocassem as mãos nele, não se importava com a quantidade de gente que se esforçava para vê-lo seguro, muito menos para o quanto de trabalho que isso dava. Ele não se importava e mesmo assim não podia culpá-lo, a culpa não era dele. Foi Jasmine quem quis que fosse assim.

— Inacreditável. – Ela colocou a mão na testa reforçando sua frustração. Não havia mais nenhuma outra palavra que pudesse dizer sem que fosse considerada inapropriada.

 - Vamos deixar ele lá. – O capitão certamente conseguiu a atenção de todos.

— Tem razão. – Pronunciou Jasmine ponderando sobre aquilo. Se retirasse o garoto do método tradicional, o rei desconfiaria e o seu disfarce seria arruinado. Precisava pensar em um plano muito bem.

— Não podemos deixar por muito tempo, os prisioneiros por roubo são obrigados a trabalhar, logo seu cabelo irá crescer o que poderia ser um problema. – disse o capitão também pensativo.

Os cabelos loiros reluziam como sol em uma terra onde as pessoas possuíam cabelos pretos como carvão. Não só loiros como encaracolados, veriam que era um estrangeiro na certa e a estranha mistura não passaria despercebido pelos guardas que são extremamente observadores. O rei não era amigável com estrangeiros em sua terra. Mas por algum motivo eles conseguiram esconder um bem embaixo de seu nariz por dezoito anos.

— Jasmine, Jhoni será fugitivo, não poderá mais viver na cidade. – completou o capitão.

— Vamos dar um jeito, sempre damos. – era um excelente esconderijo, ela lamentou-se.

O mensageiro pigarreou.

— Creio que não poderá deixá-lo na cidade, Senhora. O Rei irá caçá-lo e outros continuarão procurando por ele nas redondezas. É provável que peçam ajuda aos países vizinhos. – o mensageiro falava com cautela.

— O Rei? – Perguntou Jasmine exasperada.

Jasmine o fuzilou com olhar e o mensageiro sentiu um bolo formando em sua garganta.

— Ele fugiu depois de roubar a Duquesa Anabel. – falou o mensageiro de uma vez, como se aquilo dependesse da sua vida ao mesmo tempo em que temia preocupar Jasmine.

Era tarde de mais, ela já estava preocupada.

Ele era inconsequente, sabia que não podia chamar atenção e rouba justamente da mulher mais importante do reino, depois do rei, que assim como ele, menosprezava todos que tivessem abaixo de sua classe social. 

Como se já não tivesse muito com o que se preocupar, agora Jonathan estava fora de seu alcance e fugindo da guarda real. Seu cérebro começou a trabalhar imediatamente, havia tanta coisa com que lidar e ainda precisava preocupar-se com o mau comportamento de Jonathan. Jasmine sentiu como se fosse dez anos mais velha.

— Demétrius. – chamou Jasmine.

O homem que esperava na porta entrou assim que foi chamado, ele se certificou de que ninguém os escutaria.

—Volte à cidade, quero que reúna os aliados, farei uma reunião com eles depois. – disse ao mensageiro que concordou sem a contradizer – Demétrius, preciso que busque Dinorá o mais rápido possível.

Ele sentiu-se lisonjeado, pois Dinorá era a pessoa mais importante no mundo para Jasmine, ela não daria essa missão a quem não confiasse.

— E Jonathan? – ele perguntou de modo afável.

— Eu mesmo cuido dele dessa vez. – já a sua voz não era nada afável. – Leve o mensageiro para que descanse e de os suprimentos necessários. Depois parta. – disse a última parte para o mensageiro.

 O mensageiro pode perceber no seu tom de voz a urgência da mensagem, não haveria tanto descanso quanto planejou.

— Irá sozinha? – questionou o capitão preocupado.

 Ela pode perceber que entraria em uma discussão se dissesse que sim, realmente não queria fazer isso agora.

  Jasmine caminhou até a porta e abriu as cortinas pesadas. O garoto ainda estava parado lá, com um ar curioso e a postura ereta, ele serviria. Mandou que entrasse.

— Vou com ele. – disse Jasmine de uma maneira que não fosse contestada – Satisfeito?

— Não. – respondeu o capitão com um suspiro, ele falava um guerreiro com o qual ela pudesse lutar e não um garoto que mal sabia segurar uma espada, ou atirar de arco e flecha.  Mas ele também não queria discutir.  Ir com uma companhia a faria sentir-se responsável e não ousaria fazer nada muito extremo. Assim ele esperava – Por que não vai com Demétrius então? – ele perguntou a ela enquanto limpava seus óculos, que por causa do deserto estavam sempre sujos.

— Quero que ele vá ainda hoje. Precisamos resolver também os assuntos da cidade antes que mais problemas apareçam. – ela virou-se para o menino- Vá com Demétrius, ele vai instruí-lo sobre o que fazer. Iremos partir amanhã antes do nascer do sol. Esteja pronto.

Ele assentiu com um brilho em seus olhos, estava feliz por ser útil na primeira vez em sua vida.

— Preciso conversar com você sobre os Abrus. – ela dirigiu-se ao capitão. Nathan e Demétrius entenderão sua deixa e saíram antes que ela começasse falar. Apesar de Demétrius participar da politica dentro do acampamento, uma ordem de Jasmine era lei – Antes disso, como foi sua viagem até Victoria Carolina?

— Não precisamos discutir isso agora Jasmine, tem bastante coisa para pensar até amanhã. – disse sentando-se desde que chegou. O capitão não era velho, porém já não era tão novo como antes, em momentos como esse suas cicatrizes de guerra pareciam pesar e deixá-lo com dor. 

— Não gostei de seu tom de voz, imagino que deva ser bem pior do que imaginávamos. – ela disse o encarando com aqueles olhos âmbar amendoados, assim como os dele.

Ele assentiu.

— Estou preocupado com alguns movimentos... Mas agora estou mais preocupado com a segurança de Jhoni. Ele ficará mais protegido perto do nosso povo. – disse tentando se livrar da conversa.

— Tenho dúvidas quanto a isso. Parece que os Abrus do nordeste querem romper a aliança conosco, minha espiã disse ter visto guerreiros do povo de Victoria Caroline infiltrados nos novos grupos de caça. – ela puxou uma cadeira e sentou-se a sua frente– Gente da cidade pai, no meio do deserto.

Jasmine não costumava chamar o capitão de pai, soava estranho aos ouvidos dela e certamente aos ouvidos dele também. Ao menos ela conseguiu a sua atenção.

O capitão esparramou-se na cadeira e sentou jogando as pernas em cima da mesa. Típico ato de um pirata que ainda não largou as manias e, a essa altura, não iria largar mais.

— Acho que vi alguns Abrus do Nordeste junto com a guarda de Victória Carolina também. Não consegui descobri o que eles estão tramando, mas tenho algumas suspeitas. - O capitão deu um longo suspiro, não era comum não descobrir algo e isso deixava tanto ele quanto Jasmine intrigados.

Era algo preocupante, o que mantinha a segurança do acampamento era o medo do deserto que os povos da cidade sentiam e também a barreira que os do Abrus, um povo canibal e extremamente agressivo, fornecia a eles.

— Já vimos isso acontecer uma vez. – ela se lembrou da última guerra em que o povo da cidade resolveu atravessar o deserto. Foi uma luta longa e sangrenta, onde todos os lados tiveram muitas baixas, baixas importantes - Não vou deixar acontecer novamente.

— Não vamos. – ele garantiu com a voz firme, ela sabia que ele dizia a verdade– O que vai dizer aos aliados na cidade?- O capitão realmente não queria falar sobre outros assuntos que não fosse Jonathan.

— Precisamos deixá-los alertas sobre a possível ameaça... - o capitão torceu o nariz antes que ela tivesse terminado.

— Não os deixe alarmados, ainda não sabemos o que estão tramando. Poderia haver uma confusão. – Jasmine estava franzindo o nariz, acontecia sempre que era contestada, mas sabia que ele tinha razão.

— Sim, senhor. – não gostava de ser contestada, mas sabia ouvir – De qualquer modo, eu precisava reuni-los. Está chegando cada vez menos suprimentos e cada vez mais refugiados. 

Sem dúvidas estavam desviado o suprimento do acampamento, isso prejudicava todo o seu povo que acabava tendo que fazer racionamento. Era um povo sofrido, a maioria escravos, ela não deixaria que tivessem que passar por uma vida ruim de novo. Queria que todos fossem livres e que todos estivessem bem. Era difícil, mas possível.

Ela recebia todos que chegavam ao acampamento, porém alguém estava fazendo uma conta muito errada.

— Suspeita de alguém? – Perguntou o capitão, apenas por perguntar. Se conhecer bem Jasmine, ela já tinha certeza de quem estava fazendo fraudes.  

— Sim, tenho algumas.

O capitão assentiu.

 - Trás Jonathan para casa e a gente cuida do resto depois.

Ela fez um aceno com a cabeça e saiu em seguida.

Ela precisa encontrá-lo primeiro. Queria esconder seu nervosismo e guardar seus sentimentos só para ela. Uma liderança forte era o que todos precisavam, isso ela aprendeu na prática, o medo representa fraqueza. Não era ruim senti-lo, mas era muito ruim demonstrá-lo.

Ambos sabiam que ela colocaria a cabeça no travesseiro e não pregaria os olhos à noite toda, nem mesmo o capitão conseguiria fazê-lo. Mas eles precisam reaver suas forças, pois não sabiam quando poderiam descansar novamente assim que Jonathan pisasse no acampamento.

— O mensageiro já partiu. – avisou Demétrius a Jasmine assim que ela chegou a sua casa.

Ela concordou com a cabeça. Era ao menos uma boa notícia, torceria para que ele chegasse a Palácia do Sul em segurança, e que ele não atravessasse o caminho de nenhum dos Abrus.

Ela retirou os lenços que seguravam seus longos e encaracolados cabelos negros.

Antes de ir, Demétrius se estendeu na saída.

— Tenha cuidado, Jasmine. – ele disse antes de ir.

— Eu sempre tenho. – ela respondeu, mas ele já havia sumido feito uma sombra.


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Notas finais do capítulo

- Se gostaram ou não, não esqueçam do feedback da autora, ela agradece e fica muito feliz :) <- olha a carinha sorridente



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