Guilda Do Alvorecer: O Reino Caído escrita por Mandy, TenshiAkumaNoLink


Capítulo 17
Capítulo 16 - Mestre Ou Carrasco? - Will




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Após mais ou menos uma hora de caminhada, eu e Henry chegamos à Torre de Wyzen-har, onde eu deveria receber meu treinamento. A torre era uma construção isolada, localizada em uma clareira na Floresta Das Trevas, afastada da base da guilda, e tinha mais ou menos uns seis andares. A construção de formato cilíndrico era coberta por heras, que cresciam ao longo dela. Assim que nos deparamos com a construção, o pequeno garoto parou e me disse de forma animada: 

— Chegamos! Ah, esse lugar me trás tantas lembranças! - Comentou Henry, nostálgico.

— Você também foi treinado aqui? - Perguntei. 

— Não, eu descobri esse lugar com alguns membros da nossa Aliança, anos atrás. Daí nos empenhamos em restaurá-lo. - Contou ele, animado. 

— Que legal! Hum, você tem alguma ideia de quem vai ser o meu mentor?

— Não faço ideia. - Respondeu ele. 

— A Lily Reyes também não ia entrar pra equipe? Por que ela não veio? 

— Ah, ela vai entrar na Aliança, mas acho que ela vai treinar com a Sesê. - Respondeu Henry.

— Sesê?

— A Serena, a minha amiga que te mostrou a guilda quando você chegou. 

Ah, a garota que parecia a personificação da tristeza. Faz sentido Lily treinar com Serena, uma vez que ambas trabalham com magia negra. 

— Entendo. Fico curioso pra saber que tipo de pessoa será meu futuro mentor… - Comentei, pensativo. 

— Eu também. Quando nos encontrarmos outra vez, me conta! Ah, eu preciso voltar para a base agora. Boa sorte, Will! 

— Obrigado. - Agradeci e ele partiu.  

Não muito depois do rapazinho sumir em meio a densa floresta, uma figura feminina saiu da torre. Não muito alta, a mulher de longos cabelos negros usava uma máscara metálica com um desenho vermelho no lado esquerdo. Trajava vestes cinzas e usava uma capa vermelha. Em tom ríspido, ela falou.

— Está atrasado! É um péssimo começo para quem acabou de começar por aqui. Sou Shao-Yen, e serei sua mestra. Entre logo, vou lhe mostrar seu novo quarto. 

— Me desculpe. - Falei, e enquanto tentava acompanhar seus passos rápidos, me apresentei. - Me chamo William Wood, mas pode me chamar só de Will…. 

— Você deverá estar de pé todos os dias às 7:30 da manhã para o café e para os treinos. Se você se atrasar, terá que treinar mesmo sem comer. - Entramos na torre e antes que eu pudesse dar uma olhada pelo primeiro andar, ela chamou a minha atenção para segui-la pela escada que seguia em espiral, colada na parede. 

No segundo andar havia uma porta, e mais adiante havia a sequência da escadaria. Shao-Yen me disse:

— Essa é a porta do meu aposento. Não entre sem autorização, eu irei saber se o fizer, e lhe garanto que não vai gostar nem um pouco de me ver irritada.

— Certo. - Respondi, pensando “Mas essa já não é você irritada? Fica pior ainda?”

Subimos para o terceiro andar e paramos diante de uma porta. Shao-Yen apontou para ela e disse: 

— Esse será seu aposento enquanto residir aqui. É simples, mas confortável. - Ela pegou uma chave do molho de chaves que retirou do bolso e abriu a porta. - Me avise se tiver algum problema. - Completou em um tom mais ameno, no entanto eu não consigo me visualizar relatando nada para aquela misteriosa senhorita irritadiça. Eu normalmente tentaria usar meu charme para amenizar o clima, mas a simples presença dela me deixava apreensivo.

O aposento era como ela dissera: Simples, mas parecia confortável, e também era bastante limpo. O quarto era grande, e mesmo com vários móveis dentro dele, dava a falsa impressão de estar meio vazio. Uma cama de solteiro ficava bem em frente a janela, e tinha uma pequena mesinha de madeira com uma gaveta, e sobre ela um lampião. À minha direita tinha uma escrivaninha com alguns pergaminhos, tinteiro e alguns livros. Uma pequena estante com uns dez livros ficava do lado oposto à mesa, e tinha um vaso de flores em cima, e ao lado da estante, um gaveteiro. 

— Largue suas coisas aqui e venha comigo. Há mais coisas para ver. 

Subimos mais um lance de escadas e ela me falou: 

— Nessa sala você poderá se lavar se precisar. 

— Certo.

No andar seguinte, ela parou e me disse: 

— Nesse andar fica a biblioteca. - Além das estantes, havia uma mesa com um lampião ali. - Temos poucos livros comparado ao que há em Dyron, mas temos alguns exemplares interessantes também. Se quiser estudar um pouco, sinta-se a vontade para vir até aqui.

— Obrigado. 

— Bem, é isso. 

— E o último andar? 

— É o laboratório. Não deve entrar lá sob nenhuma hipótese.

— Por que não?

— Eu estou trabalhando em algumas substâncias mágicas perigosas. Se você se bater em algum frasco ou algo do tipo, pode acabar com queimaduras severas, na melhor das hipóteses.

— Oh, entendo. - Comentei pensativo, imaginando o que seriam e pra que serviriam tais substâncias perigosas nas quais ela estava trabalhando. 

— Você tomou café da manhã? - Perguntou-me ela. 

— Sim, eu fiz uma refeição antes de deixar Dyron com o Henry. - Respondi. 

— Então podemos começar seu treinamento. Vamos até o pátio. 

Descemos até o pátio e lá ela se voltou para mim e disse:

— Seu treinamento será dividido em algumas etapas: Preparo físico, imunidade, magia básica, e treinamento com alguns tipos de armas. Paralelamente à todas as fases, você terá aulas de conhecimento teórico, como religião, geografia, história, economia, e de idiomas, como Ísalo, Mytrio e Sunáro. Como eu já havia explicado, deverá estar de pé às 7:30, para tomar café da manhã, depois iremos começar os treinos, e faremos uma pausa para o almoço.

— O que seria um treino de imunidade? - Perguntei, curioso.

— Você será preparado para poder usar poções e passar pela iniciação. 

— Iniciação? 

— Isso mesmo. É necessário para reconhecer você como um membro oficial da Aliança. 

— Achei que era só passar pela arena. 

— Não é. 

— E qual a utilidade das aulas de religião?

— Algumas nações, como Tellus, consideram a religiosidade algo importante. Se você pegar algum trabalho por lá, pode ser um conhecimento importante. É necessário para evitar gafes culturais que possam te levar a irritar os contratantes e possíveis fontes de informação. Mais alguma dúvida? 

— Não, nenhuma. 

— Irei testar você para sabermos os pontos que precisamos trabalhar mais. Primeiro… - Então ela estalou os dedos e uma saca de tecido apareceu em sua mão. Ela passou para mim, segurando com facilidade, mas quando eu a peguei, quase derrubei-a no chão, pois não estava esperando por algo tão pesado. 

— O que diabos é isso!? - Exclamei. 

— Uma saca com pedras. - Respondeu secamente.    

— Certo, mas pra que é isso?

— Você deverá correr 20 voltas ao redor da torre com isso nas costas. - Respondeu ela, como se isso não fosse nada demais. 

— O QUÊ!? - Falei um pouco alto demais. 

— Alguma objeção? - Perguntou ela, de forma ácida. 

— Não, não. - Respondi, não conseguindo evitar pensar “Onde foi que eu me meti?” 

— E estou pegando leve com você já que é o primeiro dia… 

ISSO é pegar leve? Estremeci só de imaginar o que tinha por vir. E ela gritou para mim: 

— Se derrubar isso, terá que refazer do zero. E eu tenho a tarde toda para fazermos isso, se necessário. 

Ah, que maravilha! 

Me vi agradecendo aos deuses pela circunferência da torre não ser tão grande assim, mas mesmo assim me vi sofrendo para fechar a 15ª volta. Quando parei no lado oposto para tomar um ar, acreditando que ela não podia me ver, ouvi:

— Para de fazer corpo mole e corra! 

— Ah, droga! - Resmunguei um tanto alto, e pude ouví-la dando risada. 

Com dificuldade, fechei as vinte voltas sem derrubar o saco de pedras uma única vez sequer. Larguei a saca aos pés dela e me sentei no chão, tentando recuperar o fôlego. 

— Seu tempo não foi tão ruim pra uma primeira tentativa. 

— Que bom!

— Velocidade: 4/10. Vejamos força. - Ela conjurou uma alabarda com um estalar de dedos e disse - Tente erguê-la. 

Peguei-a, mas ao tentar equilibrá-la, me atrapalhei e quase caí. 

— Força definitivamente não é o seu forte, mas também não é tão ruim. Meu último aluno nem tirou ela do chão.

— Como alguém consegue lutar com isso? 

— Muito treino, e também é mais uma questão de jeito do que de força. 

— Eu não estou habituado com armas pesadas. 

— Que armas geralmente usa? 

— Arco e espada curta são os que estou mais habituado, mas posso também usar funda, dardos, adaga, e arremessar facas. 

— Você é mais de atacar à distância? 

— Sim. 

— Então vejamos - Ela estalou os dedos novamente, fazendo surgir um alvo a 50 metros. - Tente acertá-lo. 

Prendi a corda do meu arco, preparei a flecha e acertei  o centro do alvo. 

— Não foi uma distância ruim para acertar com um arco curto. 

— Então tentarei colocar um alvo mais longe. - E um novo alvo surgiu a 100 metros. 

— É quase no limite do alcance, mas tentarei o melhor. - Preparei a flecha, mirei o alvo e acertei próximo ao centro. 

— Esse foi um tiro difícil, mas você foi bem. Vejamos agora com a espada curta. - Ela retirou a espada da bainha e disse. - Quando estiver pronto…

Prendi o arco as costas e retirei minha espada da bainha também. 

— Estou pronto. 

Ela partiu para o ataque em uma velocidade sobre-humana, fazendo uma corte na diagonal, do qual eu me esquivei por pouco, e depois desferiu um novo golpe na horizontal, do qual eu desviei novamente. Eu não podia continuar assim, não podia me esquivar pra sempre, tinha que dar um jeito de atacar. Tentei atacá-la entre as costelas, mas ela aparou o golpe a tempo, e tentou afastar a minha lâmina de seu corpo. Aproveitando que tinha prendido meu foco nisso, ela me deu uma rasteira, me levando ao chão e quando fiz menção para me levantar, senti o metal gelado tocando meu pescoço. 

— Se isso fosse um duelo real, você estaria morto. Teremos que trabalhar isso. - Ela guardou a lâmina e estendeu a mão para me ajudar a me levantar. 

— Obrigado. - Agradeci, enquanto limpava a terra da roupa. - O que temos que fazer agora? 

— Vamos fazer uma pausa, ou você ainda vai sucumbir de exaustão. Eu irei preparar algo para o almoço. Acredito que você vá querer se limpar, já que está encharcado de suor e suas roupas estão cheias de terra. Quando terminar, me encontre no primeiro andar. 

 

—________________________________________________________

 

Após eu terminar de me lavar e colocar roupas limpas, desci até o primeiro andar, onde me sentei à mesa com Shao-Yen. A refeição consistia em carne, batatas assadas, alguns vegetais, ovos cozidos e arroz. Olhei para a montanha de comida no prato que ela me entregou, me perguntando como eu conseguiria comer tudo aquilo, e como se ela tivesse lido minha mente, disse:

— Seu treinamento exigirá bastante energia, então é bom estar bem alimentado. 

— Ah sim. - Respondi, começando a comer. Assim que experimentei a comida, não pude deixar de exclamar. - Essa comida é provavelmente a melhor coisa que eu já comi! 

— Fico feliz que tenha gostado. - Embora ela dissesse estar feliz, sua voz não passava nenhum entusiasmo. - Mas não fique mal acostumado. Vai ter que ajudar com o almoço nos outros dias. 

— Sim, claro. Você não vai comer? - Perguntei, notando que só tinha um prato na mesa. 

— Eu já comi. - Respondeu ela. 

Acho que eu deveria tentar quebrar o gelo e usar a oportunidade pra conhecer minha mentora que passaria os próximos meses comigo. Então perguntei:

— Shao-Yen é uma deusa, não é? Da Sunaria?

— É a deusa do desejo. Ela é popular na Sunaria, embora originalmente seja uma deusa dos povos de Läc Th’Ros.

— Desejo tipo...romântico? 

— Desejo num geral. Na mitologia local, ela era conhecida como uma deusa que colocava diante de você a chance de ter aquilo que você mais deseja ter: dinheiro, amor, filhos, entre outras coisas. No entanto, ela lhe mostrava o caminho perverso, e se você o seguisse, era cruelmente castigado, mas se fosse capaz de se conter, você recebia a graça almejada. Há uma lenda em que Shao-Yen se mostrou como uma mãe com um bebê diante de uma mulher que sonhava em ter filhos, mas não conseguia tê-los. Para saber se a moça era digna de sua benção, Shao-Yen pediu para a mulher cuidar da criança por alguns instantes, e ela roubou o bebê. No entanto, o bebê era um demônio transfigurado, e assumiu a verdadeira forma durante a noite e matou ela e o marido. 

— Que horror! Isso foi um tanto... perverso. - Comentei horrorizado. 

— Da parte da mulher, foi sim. Ninguém a obrigou a tomar a decisão errada, ela a tomou porque quis.   

— Mas ainda assim, é um pouco pesado…

— Eu acho que a história nos mostra que toda ação tem uma reação. Às vezes o caminho fácil acaba custando caro, então você deve tomar a rota mais longa e fazer as coisas do jeito certo para não machucar a si mesmo e aqueles que ama. A lenda era geralmente usada pelos habitantes de Läc Th’ros para fazer com que as pessoas não infringissem a lei, então em algumas regiões, ela também era considerada a deusa da justiça. Quando sua lenda veio para o continente de Valora muitos lhe atribuíram o título de deusa da vingança, principalmente em Tellus, pra ser exata. Isso fez com que  ela não ganhasse muita atenção, em outras nações, exceto na Sunaria, que costumava ser colônia de Shao-Yen, ou Xiao-Yen, nação do continente de Läc Th’ros . 

— Por que seus pais lhe colocaram esse nome? - Indaguei curioso. Fiquei me perguntando o que levaria alguém a colocar um nome tão diferente e de uma deusa como essa na própria filha?

— É uma longa história… - Falou ela, tentando desviar do assunto. - E temos que terminar a refeição para voltar ao treinamento. Quando mais cedo terminarmos, mais cedo poderá descansar. 

— Sim, claro. - Falei, voltando a comer enquanto pensava se algo pior poderia estar por vir.  

Ao fim da refeição, seguimos até a biblioteca, e ela indicou a cadeira e disse: 

— Sente-se. Farei uma teste para saber a extensão dos seus conhecimentos para ter certeza do que precisa estudar mais. Economia, idiomas, religião, história, geografia, entre outros. 

— Certo. Hã, eu consigo falar um pouco de sunáro, mas não posso ler no idioma nem escrever, e não entendo nada de ísalo. Meu mytriano escrito é bom, uma vez que eu estudei para ser um escriba e frequentava as aulas no templo de Gor’Khy em Yarzeth.  

Ela retirou um livro da estante e abriu em uma página qualquer e disse: 

— Veremos se seu mytriano é bom mesmo. Leia em voz alta. - Disse ela em tom seco. 

— “O estramônio é uma planta bastante comum, que costuma infestar pomares, jardins e lavouras. Ela possui componentes tóxicos que fazem mal tanto a humanos quanto aos animais.” 

— É o suficiente. Precisava ter certeza, já que educação ainda não é o forte de Mytra e o último aluno que eu tive me disse que sabia ler e quando eu lhe dei um texto, se enrolou todo. - Explicou ela. 

— Quem foi o seu aluno? 

— Seu nome era Valentim, e vinha de uma família de comerciantes falidos. 

— E onde ele está? - Eu não vira nenhum Valentim entre os membros dos Engendradores que foram me parabenizar após a vitória na arena. 

— Ele faleceu. - Respondeu ela, e pude perceber uma certa tristeza em sua voz. 

— Sinto muito. - Eu e a minha maldita curiosidade. O que eu tinha que ter perguntado?

— E você também não vai durar muito se ficar perdendo o foco nos estudos. - Falou com a acidez de sempre. “Ela se recuperou rápido”, pensei. Ela então desenrolou um pergaminho que estava na mesa e me disse. - Faça essas atividades, e apenas pule o que não souber responder. 

— Entendido. 

—________________________________________________________

 

Minha primeira aula após os testes foi de ísalo. Fui até a biblioteca, como Shao-Yen me instruirá no dia anterior antes de eu ir dormir, e a encontrei me esperando lá e ela fez menção para que eu sentasse na cadeira diante da mesa cheia de pergaminhos.

— Para trabalharmos seu conhecimento de idiomas e de religião, trouxe alguns cânticos de Sunya em ísalo. - Shao-Yen me entregou um pergaminho com um cântico e outro vazio. - Esse cântico é bem simples e possui algumas partículas básicas usadas no idioma, é perfeito para uma introdução da matéria. Não terminaremos numa aula só, claro. 

— Certo!

— Vá anotando o que achar importante. - Falou ela, apontando para o pergaminho na mesa. - Começaremos com as partículas de intensidade. As partículas de intensidade são colocadas ao final da palavra e pronunciadas como se fosse parte dela, como em Isalys.  Lys é uma partícula de intensidade, seria algo como “o mais, ou o maior”. No caso, Isa é a palavra que significa “sábio”, sendo num todo “o mais sábio”, e era também um nome de uma guerreira de Sunya. O nome do reino foi uma homenagem a ela. 

— E o que seria para menos? - Indaguei, curioso.  

— “Rin”. - Respondeu ela. - Também era usado para se referir carinhosamente à crianças, por exemplo. Voltando ao Lys, se você olhar no seu texto, notará que o Lys é usado com bastante frequência. Cânticos religiosos usam muito as partículas de intensidade do idioma. 

— Verdade. - Comentei enquanto analisava o texto. 

— Há também as partículas de tempo. Temos “zur” pro passado, “nor” pro presente e “wi” pro futuro. Elas são colocadas após o sujeito da frase. Por exemplo, se você olhar no final do cântico, na antepenúltima linha, diz “Naenor”, que é “Eu agora” 

— Nae seria “eu”?

— Sim. Mas veremos os pronomes depois, para não confundir você. Voltando à partícula de tempo, é importante lembrar que a partícula só será colocada diretamente ao fim do sujeito se ele for um pronome. Se o sujeito for um nome próprio, ao invés disso será colocada uma aspa simples entre o nome e a partícula, como por exemplo “Sunya’Zur”, “Sunya’Nor”, “Sunya’Wi”. 

— Desculpa perguntar isso… - Comecei, temendo a sua reação com a minha pergunta. - Mas pra que irá servir eu conhecer uma língua que não possui quase nenhum falante vivo mais? 

— Boa parte dos feitiços foram criados por magos de Isalys, então os feitiços são escritos nesse idioma, assim como a maioria dos textos sobre magia. Antes da queda, Isalys possuía a melhor academia de magia e fazia vários estudos combinando tecnologia a magia. 

— Incrível! - Exclamei. - Me pergunto como um reino assim caiu. 

— Há várias histórias sobre a queda. Uma diz que Vorsêris fez um pacto com Lunalia e com Wyn Hai’Zür, e que os soldados mortos se levantavam para continuar lutando. Eles eram como mortos andantes, não tinham consciência, e não ficavam mortos por muito tempo sem serem queimados ou derrotados com uma lâmina sagrada. 

— Parece assustador, mas pouco provável. - Comentei, e ela assentiu. 

— Acho mais provável algo assim ser feito com magia proibida do que com ajuda de divindades. Imagino que deuses tenham mais com que se preocupar do que guerras humanas. Enfim, outra diz que enquanto Isalys preferiu proteger suas crianças e as mandou para se refugiarem em Mytra, Vorsêris mandou crianças para a guerra, com pouco ou nenhum treinamento, resultando em um exército maior. Além disso, a população de Vorsêris era muito maior na época. Meu mestre contou-me que Isalys passou por uma praga que matou quase um terço da população. Vorsêris declarou guerra a Isalys para aproveitar que Isalys estava enfraquecida enquanto Vorsêris estava no auge tanto de forma econômica como militar. Sunaria e Tellus aproveitaram o caos instaurado pelo continente, e venderam armas e enriqueceram graças à guerra, e se tornaram as potências que são hoje. 

— Até hoje não entendo o envolvimento de Mytra na guerra. - Comentei, pensativo.

— Houve dois motivos: O primeiro foi que Vorsêris usou o território de Mytra para chegar em Isalys sem a permissão do rei Valdorg, que inicialmente estava neutro na guerra. Os soldados de Vorsêris passavam causando problemas para a população local, e houve muitas denúncias do povo acusando-os de abusos e agressões. Com isso, a população irritada pediu que o rei intervisse. 

— Eu nunca havia ouvido sobre isso. - Falei interessado. 

— E o segundo motivo foi que Lorde Vaern, o homem mais leal ao rei de Isalys, era ninguém menos do que o filho primogênito do rei Balzark, e irmão do Valdorg, seu sucessor. Ele deveria ter assumido o trono, mas era um mago, e por isso foi excluído da linha de sucessão. Ele fora enviado para ser protegido do rei de Isalys assim que sua magia se manifestara. Como era muito querido por todos, mais tarde, ele passou a intermediar nas relações diplomáticas entre Isalys e Mytra, então havia uma série de tratados de assistência mútua entre as nações.

— Me bateu uma dúvida: Se Vorsêris estava usando Mytra para atravessar para Isalys, por onde eles viam, como eles o faziam? Que eu saiba, a única saída ao sul é por Ignikor, habitada por draconianos, e que só recentemente passaram a ser amistosos com os humanos. 

— Antigamente, havia uma passagem pelas montanhas, no sudeste de Mytra, que era possível fazer uma travessia mais rápida, e era usada geralmente para fins comerciais. Com os problemas causados por Vorsêris, Mytra destruiu a passagem. 

— Oh, sim. 

— Você parece se interessar bastante por história. - Observou ela.  

— Ah, sim. Meu antigo mentor costumava dizer que conhecer o passado é necessário para que os erros não sejam repetidos no futuro. 

— Palavras sábias. Mas deveríamos estar focando na matéria atual. Vamos voltar para o ísalo. Como eu ia dizendo…

 

FIM DO CAPÍTULO 16


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