Apartamento escrita por MJthequeen


Capítulo 5
Cinco


Notas iniciais do capítulo

Oie!!
Depois de muito tempo, finalmente essa fic está finalizada!! Tô muito feliz.
Obrigada todo mundo que acompanhou essa pequena jornada, eu me diverti muuuito escrevendo e vi que mts de vcs tbm!! Comédia é algo difícil e pessoal, então estou mega satisfeita de ter alcançado um número legal de pessoas.
Obrigada por tudo!!
Quem curtir meu estilo, hoje eu provavelmente vou postar uma GaaHina, colegial :) é só me seguir pra saber das atts!!
Obrigada e ótima leituraa



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CINCO

Sasuke abre a quarta porta do segundo armário, aquele que fica mais próximo ao chão, só para comprovar o que já esperava: ele tem dois pacotes de macarrão instantâneo sabor tomate, seu legume/fruta favorita, e um pacote de macarrão de verdade. São as únicas coisas no armário “posso facilmente fazer isso”; todo o resto, espalhado nos outros armários numa tímida compra do mês, é difícil demais para Sasuke Uchiha cozinhar.

E isso pode incluir, às vezes, ovos. Meio que depende do dia... e da vontade do seu fogão.

Ele dá uma olhada de canto pro eletrodoméstico, como se o desafiasse para um fight, e decide pegar leite e deixar o miojo de canto. O Uchiha até tinha salvado um daqueles posts que viu no Facebook, “mil pratos SUPER SIMPLES para se fazer com miojo”, mas todos sabem que, 1, NUNCA É SIMPLES, e, 2, a gente só salva por salvar, porque fazer a receita que é bom...

Faz três horas que Sasuke desmarcou o encontro com Karin, a prima de Naruto que tinha se tornado sua amiga colorida ocasional. Isso quer dizer que, há três horas, Sasuke iria se encontrar com seus amigos na boate, ficar casado com Karin a noite toda, beber bastante e todo esse tipo de coisa que torna uma noite mais do que agradável. Quando liga o fogo e coloca o leite para ferver, aproveita a mão livre para desbloquear o celular e dar uma olhada na conversa, ainda duvidoso de si mesmo.

Só Deus sabia o motivo, mas fora Sasuke quem cancelara tudo. Ele franze os lábios e tenta se lembrar se estava sob efeitos de entorpecentes. Ou álcool. Nunca confie em um universitário com vodka em casa. Infelizmente para Sasuke, a vodka está fechada. E qualquer doce, bala, ou coca que ele tinha em casa eram a versão legal: doce de goiaba, bala 7belo e coca-cola. Ele faz uma careta para si mesmo.

Por que raios tinha cancelado sexo com Karin, então?! Sexo! Com a Karin! Se Ino de repente fosse atropelada, um raio caísse na cabeça de Sakura e Temari morresse afogada, ela seria a garota mais gata do grupo. Hã... É claro que todos só perceberiam isso depois da fase de luto, mas enfim. É apenas a verdade.

Tudo bem, ele pensa, enquanto se senta no sofá de frente à televisão. Passar sexta-feira no seu apartamento, bebendo café com leite, assistindo um desses infinitos programas sobre malas extraviadas ou ex-namorados presos em uma casa juntos, não é exatamente a atividade preferida de ninguém – nem dele. E, nessa noite, não importou quantas mensagens Naruto mandou. Quantos áudios, levemente bêbada, Ino tinha enviado, música eletrônica no fundo. Nem seus amigos encherem seu aplicativo de mensagens com frases como “você está ficando velho” – hã, talvez Sasuke tenha encontrado um cabelo branco na parte do meio do cabelo e comentando com alguém, com uma leve preocupação – ele não se rendeu! Logo daria 2hrs da manhã e o Uchiha continuava no seu bom e velho apartamento, a televisão dois volumes mais baixa do que normalmente, para não acordar ninguém.

— Ei, idiota, abre logo! – Sasuke pisca duas vezes, franzindo o cenho, quando ouve alguém bater na sua porta. Essa é a voz de...? – Sasuke? Qual é, abre ai, emergência!

O Uchiha quase cospe no café, sentindo a dor de cabeça voltar. Ele não tinha mesmo um segundo de sossego, tinha? Esse definitivamente era Naruto, batendo na sua porta sem parar. Céus, ele não sabia que não podia fazer isso em um prédio?

— Mais que... – Sasuke suprime um palavrão, deixando o copo no chão. Emergência, Naruto disse. Era bom que a casa dele estivesse pegando fogo ou que um dos babacas dos seus amigos tivesse sido atropelado ali na sua rua. Se todo mundo estivesse são e salvo, era Naruto que se machucaria.

O Uchiha abre a porta só para dar de cara com um Uzumaki em condições muito apresentáveis, obrigada. Não parecia que a casa estava pegando fogo – o que era uma pena

 — Ei, amigão! – Sem esperar um cumprimento de volta, Naruto passa os braços pelos ombros tensos de Sasuke, que fica imaginando se já é a hora de dar um chute no estômago do amigo e empurrá-lo para longe.

— Naruto, cai fora – ralha, sem mover os braços. Naruto se separa dele com o rosto contrariado. O cheiro de desodorante masculino e álcool se misturam no nariz do Uchiha. – Porra, você bebeu? Você não vai ficar de ressaca aqui.  – Dã, é claro que ele bebeu, Sasuke. Ele te convidou. O Uchiha ainda consegue se lembrar da última vez que deixou Naruto dormir no seu apartamento e acordou com o banheiro totalmente vomitado. Muito que bem.

Antes que Sasuke feche a porta na cara dele, o loiro ergue o braço e o pé, impedindo o movimento.

— Ei! Isso é jeito de falar com seu amigo? Deixa eu entrar, pelo menos.

— Não.

— Qual é, Sasukinho, você vai machucar meus sentimentos assim – Naruto afina a voz e começa a mandar beijinhos para Sasuke. O Uchiha não consegue conter um rubor nas bochechas; maldita hora que ele e Karin tinham decidido transar na casa do loiro, primo dela, e o maldito ouvira um dos apelidos carinhosos que a ruiva gostava de usar.  E isso já fazia o quê? 3 anos?

Caralho, Naruto não se lembrava do que tinha comido no dia anterior, mas para lembrar esse tipo de coisa ele era o novo Einstein! Fazia até rizoma, o maldito. 

— Eu tô te falando, Naruto, eu vou te arrebentar...

— É sério, eu preciso falar com você! Juro que é rápido!

Sasuke está prestes a gritar outra negativa, sabendo muito bem o que isso quer dizer, quando a porta no outro lado do corredor, de frente para sua, se abre. É Kurenai, rosto amassado e bobs no cabelo. Ela encara o Uchiha mal humorada e, na mesma hora, Sasuke puxa Naruto para dentro.

— Boa noite, Senhorita Kurenai. Lindos bobs. – Ele sorri, suando frio, dando uma piscadela para a mulher. Ela cruza os braços e arqueia a sobrancelha. – Por favor, não reclama com o síndico.

A mulher volta para dentro de casa com um audível “humpf” e fecha a porta com mais força do que é necessária. Sasuke continua encarando a madeira, um pouco arrependido de não ter deixado Naruto entrar de uma vez.

— “Lindos bobs”? Caralho, Sasuke, eu reclamava só por causa disso.

O Uchiha fecha a porta e volta seu olhar para Naruto, que já está tirando a jaqueta laranja e deixando-a no balcão.

— O que você quer? – Bem, não dá mais para expulsá-lo. Naruto não é tão sem noção assim de aparecer na porta dele se não for algo realmente significativo, não é? Sasuke volta a pegar o copo, ao mesmo tempo em que Naruto vem na sua direção, sorrindo. 

— Mano, você tá perdendo! A noite tá animal, sério – ele começa, rindo. Sasuke até poderia pensar que é a bebida falando, mas Naruto é assim sóbrio, também.

— Ahan. E o que você tá fazendo aqui então?

— Porque, cara, PQP, você não vai acreditar em quem eu encontrei na Lounge. Lembra da Shion? Aquela menina da nossa sala...

— Não.

— A que sentava atrás da Sakura!

— Hm...

— Tá lembrado?

— Não.

Naruto fecha a cara e parece muito, muito tentado a socar o amigo. Ele tosse e respira fundo, tentando se concentrar no que quer que esteja fazendo ali. Senta-se no apoio do sofá de Sasuke, que está encostado ao móvel, imaginando quando o Uzumaki vai embora.

— Tá, enfim. Ela tá linda. E muito gostosa, sério. Sasuke, ela veio dançando no meu colo e eu quase não me aguentei.

Sasuke arqueia as sobrancelhas.

— Ok, e eu com isso? Quer que eu termine o trabalho?

Naruto ri, as marcas nas suas bochechas super destacadas.

— É, vai sonhando. – E abana para Sasuke, que até que dá um sorriso de canto. Ninguém pode dizer que ele não é engraçado. – Enfim, eu ia levar ela lá para casa, mas você sabe como tá desde que o tarado começou a namorar sério – O loiro faz uma expressão de nojo e Sasuke tenta não rir.

Os pais de Naruto tinham morrido quando ele ainda era pequeno e o único parente ainda vivo era o padrinho do seu pai, também seu padrinho – padrinho-vô, digamos. Jiraya cuidou do afilhado desde sempre, na casa dos pais de Naruto. É claro que ele era ótimo e Naruto não imaginava expulsá-lo ou qualquer coisa do tipo, mas ao mesmo tempo amava a casa por causa das lembranças dos pais e não queria ter que deixá-la tão cedo. Só era ruim porque o velho trazia mulheres quase todo dia e Naruto, sinceramente, não conseguia levar ninguém lá assim. 

— Leva ela para um Motel.

— Qual é, Sasuke, é final de mês! Eu tô quebrado!

Sasuke revira os olhos.

— Você teria dinheiro se não fosse para o bar todo dia, já pensou nisso?

Naruto encosta a testa no sofá, fingindo uma cara de choro.

— Não acredito que perdi meu melhor amigo para os 40 anos! – Outra vez, o Uchiha revira os olhos. Ele nunca deveria ter contado sobre o maldito fio branco. Naruto ergue o rosto, sorrindo. – Vai, Sasuke, colabora.

— Você não vai usar meu apartamento de motel, cara – Sasuke fecha a expressão, é a vez dele de estar com nojo. Tudo bem que ele tem um quarto de hóspedes, mas mesmo assim. A casa era sua! Não queria mais ninguém transando além dele debaixo desse teto, ok?

Quando abre a boca para repetir o bom, velho e sonoro “NÃO”, Naruto coloca as mãos nos seus ombros.

— Ei, você me deve uma! Umas, na verdade. Olha, eu não queria apelar, mas lembra aquela vez que fomos dar uns tapas e o Itachi chegou na hora?! Eu que escondi!

Sasuke arqueia a sobrancelha para ele.

— É claro, a ideia foi sua! Eu nem queria.

— Outra coisa que você me deve, então. Você seria o maior chato se não fosse por mim!

— Você é péssimo em ameaçar. Vai fazer o que? Contar pro Itachi que a gente usou maconha quando tinha 16 anos? No mínimo ele ia perguntar se você nunca parou, já notou seu nível de retardo? – E ele balança a cabeça e o olha como se dissesse que o Uzumaki é um grande idiota. 

Naruto fica vermelho, percebendo que a tal ameaça não ia adiantar.

— Tá, você vai mesmo me fazer ir mais fundo?

— Na real, eu queria que você fosse até a porta. Tem como?

O Uzumaki morde o lábio inferior, mas logo não consegue se conter em risinhos suspeitos. O Uchiha não pode deixar de encará-lo de forma estranha. Ok, ele e Naruto têm anos de amizade, certo, mas o que ele teria de tão ruim assim? Sasuke não fazia nada de muito estranho.

— Eu vou enviar aquele vídeo para a Tayuya.

Sasuke pisca, sem entender. Só alguns segundos, até que ele se lembra muito bem de que vídeo Naruto está falando, cheio de risinhos.

— Você não... – Sasuke fica pálido. Quase azul. Naruto não consegue conter as risadas. – Eu te odeio, caralho, Naruto. Você tá me chantageando para transar no meu apartamento!

— Qual é, cara, quase nosso! – Naruto levanta as mãos, como se pedisse desculpas, e então começa a listar. – Olha, eu sei onde fica a chave reserva, às vezes eu trago uns engradados, já te mandei pizza sem você nem pedir!

— Você tava me devendo 40 reais, animal.

— E? Eu podia ter pagado em dinheiro, mas paguei em pizza! – Se os olhos de Sasuke pudessem soltar lasers, Naruto sabia que teria morrido agora mesmo. Ele faz um pequeno bico e junta as mãos na frente do rosto. – Vai, Sasuke, por favor! Eu juro que vou arrumar o quarto depois. E que não vou pedir mais nada por pelo menos 1 mês.

Sasuke coloca os dedos no osso do nariz, fechando os olhos com força. Inferno.

— 1 ano.

— 1 década, mano! Mas eu planejo ter filhos daqui uns 8 anos, então aí você não vai poder ser o padrinho, né. Ou eu posso falar para minha esposa te pedir... – O loiro coloca a mão no queixo, pensando. Sasuke o olha de canto.

— É, boa sorte em encontrar a esposa. Você vai acabar engravidando alguém e se casando logo para os pais dela não descobrirem.

— Eu hein, imbecil. Por que você tem que ser tão negativo? – Naruto segue Sasuke quando esse entra no próprio quarto e abre o guarda-roupa.

— Onde essa garota tá, de qualquer forma?

— No meu carro, na sua vaga extra.

— O Itachi comprou a vaga extra para quando ele vem ficar aqui. – O Uchiha faz uma careta mal humorada. Infelizmente, ou felizmente, Naruto era uma pessoa muito apessoada, e todos os porteiros gostavam muito dele. No fundo, está imaginando a cara da menina em ter que esperar lá embaixo... É cada uma. 

Naruto olha para os lados, como se procurasse alguma coisa, e logo depois volta a encarar o amigo.

— Ah é? Não tô vendo ele aqui. – O próximo movimento do loiro é se desviar do chinelo que Sasuke jogou na sua direção e olhá-lo ofendido. – Ei, você podia ter me machucado!

Sasuke não responde, voltando a encarar o guarda-roupa num suspiro. Puxou um jeans lá de dentro e o vestiu.     

— Sem tocar no meu quarto – diz, procurando uma camisa e finalmente a vestindo. Vai deixar a porta trancada, mas, mesmo assim... Ele se vira para Naruto e aponta um dedo para ele. – E sem sexo no meu sofá! Eu juro, Uzumaki, você vai comprar um novo se fizer isso.

Naruto levanta as mãos em rendição.

— O apê é seu, mano, todo respeito do mundo. – E ri, mas Sasuke não está achando a mínima graça. 

— O pessoal ainda tá na Lounge? – pergunta, procurando sapatos. Naruto se senta na cama dele, levemente desarrumada, mas é só Sasuke se virar com seu olhar de laser que o Uzumaki se levanta na hora e ri de nervoso.

— O Gaara e o Kankuro vão ficar até aquele lugar fechar, você os conhece – E Naruto começa a imitar o que deve ser Kankuro, abraçado num garrafa imaginária e rodando para lá e para cá. Sasuke até ri. – As meninas tinham sumido. Sabe, às vezes acho que a Sakura se esconde de mim!

— Ah, você acha? – Ironiza Sasuke, mas Naruto não parece notar nada. O Uchiha balança a cabeça e ri para si mesmo, passando uma última mão na roupa e colocando um pouco mais de desodorante e perfume; esse último sem deixar Naruto ver, porque aparentemente perfume era demais para a heterossexualidade dele e rendia muitas piadinhas. – Ótimo, eu estou com eles. Se tudo der certo, só volto amanhã depois das 10hrs. Se eu voltar antes, vê se some daqui antes das 8hrs, entendeu? Se eu acordar e vocês estiverem tomando café da manhã, Naruto, eu mato os dois.

— Ih, Sasuke, eu vou deixar ela cansada demais para acordar às 8hrs – O Uzumaki solta, malicioso, fazendo movimentos sexuais contra o sofá de Sasuke e imitando uma falsa cara de desejo. O Uchiha não sabe se fica com nojo ou se ri da idiotice.

— É, tá bom – ele balança a cabeça, procurando as chaves e checando a carteira. Não estava nos planos sair, mas fazer o quê. Não era ruim beber com os amigos; e era sexta-feira, afinal! – Você realmente vai conseguir deixá-la exausta em 5min.

Naruto fica vermelho até o último fio de cabelo loiro. Más lembranças, más lembranças.

 — Ei, eu tinha 16 anos, ok? E a Kim era muito gostosa, isso não ajudava! – o Uzumaki cruza os braços, mal humorado. Sasuke está zombando dele com o olhar, como se dissesse “ah, tá”. O Uchiha prende o relógio no braço e finalmente vai até a porta, olhando com um olhar questionador quando Naruto não o segue. Ele não tem que buscar a menina? – Vou dar uma arrumada no quarto, abrir um vinho seu. Vai, eu sou romântico.

Sasuke volta a balançar a cabeça.

— Você vai pagar isso depois – diz, se referindo ao vinho, e Naruto revira os olhos. – Tchau.

— Ei, antes de você ir, uma gata sua vizinha nova. E você nem para apresentar, hein? 

O futuro engenheiro pisca, sem entender. Vizinha nova...? É então que a ficha cai. Ela já não era tão nova para ele, mas Naruto não aparecia por ali já tinha um tempo. Está falando de Hinata Hyuuga, sua vizinha do oitavo andar.

— Você viu a Hinata? Essa hora?

Talvez Naruto estivesse bêbado demais para perceber a hora que era e para notar, também, que era um pouco estranho que outros vizinhos não estivessem dormindo. Ele volta a colocar a mão no queixo, pensativo.

— É, no elevador. Ela tava subindo. Décimo segundo andar. Esse não é o último...?

 O Uchiha pensa por um momento e balança a cabeça, antes de fechar a porta atrás de si. Naruto o xinga mentalmente, por nem dizer tchau outra vez. Um tchau só já cansava os bons modos do Uchiha, aparentemente. Então o loiro segue para o quarto, sorrindo por nunca ter excluído aquele vídeo de dois anos atrás. 

 

 

— Sasuke? Aqui, Sasuke, para câmera. – A voz alterada pode ser ouvida, apesar da câmera trêmula, provavelmente de celular, apontar para a camiseta e queixo de um garoto branquelo, copo meio cheio na mão.

A câmera treme e foca no rosto do garoto, que encara a máquina como se não soubesse o que é isso.

— Naruto seu... seu babaca, para de... para de filmar – ele tenta dizer, entre um soluço ou outro. A voz só ri.

— Não, não, vamos enviar para a Tayuya! Aqui, Sasuke, fala para ela o que você me disse. – A câmera vira para o rosto de Naruto, sorrindo como bobo. Ele com certeza também está bêbado. – Tayuya, você vai amaaaaaar isso! – e volta a filmar o amigo, que agora parece... triste.

Sasuke está lacrimejando?

— Tayuya – começa ele, choroso, segurando o copo. – Tay, eu sou um babaca. Volta para mim. – E Sasuke começa, literalmente, a chorar! A câmera treme entre ele e uma menina bonita no outro lado do bar. Sasuke segura as bordas do celular, para voltar o foco em seu rosto. – Eu faço o que você quiser! Eu topo fazer a tatuagem... A tatuagem! Tay, eu te amo.

— Tatuagem? – a voz de Naruto repete, um pouco assustada. – Cara, ela te pediu uma tatuagem?!

— Eu vou tatuar assim, ó, assim, Tay, “Eu te amo, Tay, by: seu ursinho” – Sasuke mostra o lugar no antebraço onde vai fazer a tatuagem e encara a camisa branca, voltando a chorar.

— Ursinho? Eu hein, que isso, Sasuke.

— Amorzinho, eu te amo. Sério. Eu não... – ele soluça, tentando se controlar. A câmera volta a focar na menina bonita. – Porra, Naruto, fica quieto!

— Ih, mals, cara. Achei que tinha acabado.

— Linduxa, eu amo você. Eu nem contei para ninguém que... que nosso primeiro encontro, lembra? Do nosso primeiro encontro. – soluço e risada. – Eu não sabia que você tinha intolerância à lactose! E tinha queijo no seu pão! Você teve uma crise de gases – Sasuke olha para o chão de olhos arregalados, como se se lembrasse. – Meu deus, aquela noite foi horrível.

 — Cara, acho que você não deveria lembrá-la disso...

Sasuke engole a bebida e volta a soluçar. Os olhos também voltam a se encher de lágrima.

— Tay, volta para mim! Volta para mimmmm. – Pede, se jogando no bar e voltando a chorar. A câmera desvia outra vez para a garota, inclinada num decote, e dá zoom nos peitos dela. O foco só volta para o garoto moreno quando ele...

— É mais do que desejo é muito mais do que amor – Sasuke começa, tirando o rosto dos braços, para olhar para a câmera com muita intensidade.  – Eu te vejo nos meus sonhos. E isso aumenta mais a minha dor

— Hã... Sasuke, para de cantar, as pessoas estão olhando.

— Eu me apaixonei pela pessoa errada

Ninguém sabe o quanto que estou sofrendo

Sempre que eu vejo ele do seu lado.

Nesse momento a câmera sai do rosto choroso de Sasuke e começa a rodar.

— Porra, Sasuke, devolve meu celular, devolve!

— Tay, eu te amooooo, te amo muuuuuito.

— Que saco, larga isso, larga... AI, VOCÊ ME MORDEU?

 

 

Sasuke dá uma boa olhada nos números no painel. Digo, uma ótima olhada. Ele encara os símbolos, sabendo muito bem que seu destino é a garagem, onde vai entrar no carro e dirigir até a Lounge, uma das boates da cidade – uma das melhores. Ele junta as sobrancelhas, arrumando o último botão da camisa. Quando ergue sua mão para, enfim, apertar um botão, vai automaticamente ao número 12.

Os motivos são simples, é claro. Já é madrugada. O que Hinata foi fazer no último andar, em plena madrugada? Ele não se lembrava de ninguém particularmente amigável que morasse no décimo segundo andar – e, de qualquer forma, seu prédio era formado principalmente de velhos e famílias, então, honestamente, ele não via o que a garota poderia querer no apartamento de alguém em plena meia noite. Ok, ele pensa, quando o painel indica que chegou ao décimo andar, não é problema dele. Hinata não era uma criança, e eles nem sequer eram próximos.  Já fazia, o quê? Duas semanas que não a via? Então ninguém podia parar por ali e dizer que eles tinham intimidade o suficiente para Sasuke se preocupar.

Bem, mas do que adianta pensar isso, agora? O elevador acabou de se abrir e Sasuke dá um passo à frente, pouco impressionado com a falta de luz. Ele não imaginava que as pessoas dormiriam com o corredor sempre acesso, de qualquer forma. Quando sai do elevador, dá uma olhada nos dois lados. Como esperado, não há ninguém. Hinata não veio para esse andar. Sasuke suspira, se perguntando o que estava esperando... Se ela tinha mesmo vindo, provavelmente estava dentro de um dos apartamentos, com alguém. Ele dá meia volta e chama o elevador de volta.

Enquanto espera, dá mais uma olhada no corredor. Na verdade, para o fim dele. As escadas. O Uchiha junta as sobrancelhas. A porta do elevador finalmente se abre, mas Sasuke já está longe. Ele sobe as escadas devagar, sabendo que elas dão para o terraço. 

É tiro e queda: sob o céu escuro, sem estrelas e sem lua, Hinata está encostada numa das grades, fumaça saindo de sua mão direita. Ele arqueia as sobrancelhas, um cheiro que ele conhecia no ar; ela está de pijamas. 

— Caramba, saímos de uma comédia ruim e entramos num filme Noir. 

Surpresa, Hinata arregala os olhos. Obviamente não estava esperando alguém, pois parece muito vermelha agora – ou é o que Sasuke imagina estar vendo, pois, hm, está escuro. 

— Sasuke – ela murmura, parecendo aliviada de não ser alguém estranho. – O quê está fazendo aqui? 

Ele franze a testa. Sério? Se aproxima mais dela, até que também esteja colado na grade. A última vez que tinha conversado com ela, foi durante a reunião de condomínio. Já ia fazer duas semanas, e desde então não tinha a visto – o que foi muito esquisito, pois se acostumara com a presença Hyuuga por aí. Com ela olhando feio para o pivete Konohamaru, ou revirando os olhos toda vez que ouvia Chiyo reclamar.

 Que garota doce. 

Ele sorriu com os próprios pensamentos. 

— Eu que te pergunto. O que faz aqui essa hora, de pijama, e… Fumando? – questiona, agora um pouco surpreso. Não tinha imaginado Hinata fumando, honestamente; não combinava com ela. 

Hinata arregalou os olhos para o cigarro e o jogou no chão imediatamente, pisando em cima. 

— Ah! Eu n-não fumo. 

— Diz Hinata, de 16 anos, para seu pai extremamente bravo, enquanto segura um maço de Derby na mão. – Sasuke diz, voz de narrador, e logo depois ri da cara feia que ela faz. Era como um esquilo zangado, então era muito bonitinho e nem um pouco ameaçador. 

— É sério, eu não fumo. Só estou estressada e minha amiga Tenten deixou isso numa das gavetas, então… Não sei, ouvi dizer que é bom… – ela olha com ressentimento para o cigarro pisado, como se só agora tivesse se tocado do que tinha feito. 

— Cuidado, o próximo passo é convidar seus amigos para dar um rolê na tabacaria – continua ele e Hinata revira os olhos. O idiota não estava nem lhe ouvindo. Ela se encosta mais à grade, um leve bico nos lábios. 

Sem querer, os olhos do Uchiha dessem para o corpo dela, reparando como o pijama parece curto demais para o frio noturno. A pele da coxa dela está quase totalmente exposta e ele franze os lábios.

— Estressada, você disse? 

— Kiba me ligou, de novo – murmura, desconfortável. Ah, o ex. É claro. Ele controla a vontade de revirar os olhos, mas é quase inevitável. Hinata ri sem graça. — Eu sei. Deve estar escrito "otária" na minha testa. 

— Ou "canil". 

Ela solta outra risadinha, que flui como sinos. Sasuke se mexe desconfortável, o seu jeans deve estar apertado, só pode ser isso. 

— Você encucou com essa história dele ser veterinário, hein? 

Sasuke dá de ombros e se cruza os braços, olhando-a com paciência. 

— Se tudo o que você quer é ser chamada de cachorra, eu tenho certeza que posso fazer isso. – E, sem perceber, seu tom de voz tinha sido muito mais profundo e cortante. Uau. 

A Hyuuga ri, mas suas bochechas de repente estavam muito avermelhadas. 

— Uau, que tentador – ironiza, jogando seu cabelo para trás. Está totalmente solto e ele precisa desviar os olhos, pois começou a pensar sobre sua pequena tara em cabelo longo. Para esquecer os pensamentos, ele sorri de canto. 

— Algumas garotas morreriam para ouvir isso de mim, sabe. – Sua voz é pouco modesta e, deixando outro risinho escapar, Hinata arqueia a sobrancelha. 

Desde que ele entrara no terraço e chamara sua atenção, ela obviamente tinha reparado como ele estava arrumado; não era boba. Era sexta-feira, estava de madrugada e dali eles podiam ver as luzes brilhantes do centro da cidade, a madrugada apenas começando para todas as pessoas bêbadas em festas. Bom, ela não estava bêbada. 

— Ah, é? E por que não está com elas? 

Despojado, ele dá de ombros. 

— Ocupado com minha vizinha do oitavo andar – e descruza os braços, tranquilo. – Você acredita que ela está morando sozinha, é advogada e mesmo assim não consegue matar uma barata? – Sasuke diz, muito suave. A sua vizinha ainda está vermelha, como um grande tomate. Um tomate fumante. 

— Você não deveria cuidar da vida da sua vizinha… – retruca a Hyuuga, outro biquinho se formando. Sasuke não pode resistir e se aproxima mais um passo dela. 

— É um pouco difícil, pois eu estava me preparando para sair e a encontro sozinha, no meio da madrugada, escondida no terraço e fumando como uma adolescente. É o tipo de coisa que deixa alguém preocupado. Me deixa. 

Hinata não se move um único centímetro, mesmo o sentindo tão perto. 

— Se está ajudando-a com segundas intenções, não é um gesto altruísta… – murmura, sem tirar os olhos do dele. Então ele realmente estava indo encontrar alguém, ou os amigos. Isso explicava porque estava tão cheiroso; não que ele não fosse normalmente, mas… Hinata morde o lábio inferior. – Não sou nenhuma criança. 

— É claro que não. Crianças não fumam… Ou bebem. – E ele chuta delicadamente a lata que ela estava tentando esconder atrás das pernas. Para isso, Sasuke precisou colocar a perna no meio das delas e Hinata fecha os olhos com força. Ah! Achava que ele não tinha visto. Agora realmente parecia uma adolescente bebendo pela primeira vez. – Dá para sentir o cheiro da porta. 

Ainda sentindo a canela dele entre as suas, Hinata sorri amarelo. Era exatamente a cor que os dentes de Tenten ficariam se ela continuasse com o cigarro de um lado para o outro, tenta se lembrar. 

— Em minha defesa, ninguém fica bêbado com uma cerveja colorida. 

Sasuke ri de canto, vendo-a abrir o olho lentamente, como se ele fosse um pai muito bravo. Ela parece mais jovem. 

— Qual é, Hyuuga. Já, já vai me falar que fez a primeira tatuagem – sussurra, numa falsa advertência. Hm, uma tatuagem escondida. Aquilo sim podia ser interessante… – Uma pimenta na virilha? Um coelhinho no bumbum? Diz que sim

— Deixa de ser bobo – diz, mexendo a cabeça, envergonhada e achando engraçado. Não, ela ainda não tinha chegado ao ponto de fazer uma tatuagem, embora agora, vendo a cara dele, a ideia de fazer um coelho na bunda parecia até agradável. 

— Não é só o ex te incomodando, é? 

Hinata franziu os lábios outra vez. Como o Uchiha sabia? Talvez ele tivesse prestado mais atenção nela do que tinha imaginado – era engraçado, ela pensou. Às vezes tirava o lixo mais cedo do que precisava, só para ver se encontrava Sasuke no elevador e conferir se ele tinha algum comentário maldoso para fazer sobre as outras pessoas do prédio. 

Às vezes, até se pegava andando mais forte, lá em cima, do que realmente precisava. Torcendo para que ele viesse reclamar. Que coisa idiota. 

Incomodada, Hinata acariciou os próprios braços. 

— Não. É meu pai, também. Ele anda insistindo mais que o normal para eu voltar a morar com ele, diz que minha irmã está com saudades, todo tipo de coisa – explica, mal humorada. Quando termina, um suspiro cansado a acompanha. – No fundo eu sei que ele só quer voltar a controlar minha vida, mas é difícil ter que imaginá-lo sozinho pelos cantos… 

Sasuke fica em silêncio um segundo, imaginando o que dizer. Hã… Seus pais estavam mortos há bastante tempo; Itachi, seu irmão mais velho, só faltou dar uma festa quando ele dissera que ia se mudar! No caso, ele realmente comprou a decoração e convidou as pessoas, mas Sasuke conseguiu sumir com as bebidas e cancelar as strippers algumas horas antes, o que jogou os planos do seu irmão recém formado na faculdade para o alto. Os caras quase se juntaram para bater em Itachi ao saber que a curtição tinha sido cancelada. 

Ela, no entanto, estava passando pelo exato contrário. 

— Hinata, seu pai precisa de um choque intenso para entender que você não é mais uma menina – Sasuke disse, muito convicto disso. – Vamos dar uma lição nele: damos uma puta festa na sua casa, cheia de drogas e bebidas, e aí mandamos vários vídeos para ele. Pessoalmente, eu também acredito que algumas fotos suas transando ajudariam com o tratamento, mas isso é opcional. 

Chocada, Hinata começou a rir, totalmente surpresa com a resposta dele. Sasuke até tentou manter o rosto sério, mas desistiu depois de alguns segundos. 

— Meu Deus, você saiu diretamente de American Pie ou o quê? – murmurou, entre risos. – Isso tudo daria um infarto nele, isso sim. Sasuke, ainda não estou querendo matá-lo, sabe. 

Ele deu de ombros. 

— Tudo bem, acho que só as fotos transando já ajudariam, tem razão. Se você precisar de alguém, eu estou totalmente disponível – comentou, como se dissesse "bom dia". Hinata corou ainda mais, ainda dando risada. 

— Nossa, como você é gentil. 

Ele a observa dando risada em silêncio, mas logo fica sério, cruzando os braços outra vez. 

— É claro que eu estava só brincando, mas uma parte é verdade. Ele realmente não pode controlá-la, Hinata. Não pode deixar que ele viva sua vida por você. Suas escolhas são suas – Sasuke a encarou firmemente, notando até mesmo algumas sardas tímidas que apareciam perto do nariz. Apesar de ter fumado, Hinata não cheirava a nada além de sabonete e algo muito feminino que ele já não sabia identificar. 

Ela sorriu docemente, deixando de rir para olhá-lo melhor. 

— Obrigada, Sasuke. Você tem razão. 

— E se você precisa de motivos para continuar onde está, eu até posso te apresentar alguns amigos meus, tem um grupo grande de garotas e… 

Hinata estreitou os olhos. 

— Está me chamando para um encontro? – perguntou, achando graça. Sasuke deixou de falar, sentindo-se quente naquela camisa. Ele estava falando demais, era a madrugada. Ela estava muito envolvida, certamente era a bebida. 

— Depende da sua resposta. 

— Medo de ser rejeitado? – brinca, se aproximando dele só mais um pouquinho. Por causa disso, a coxa da perna dele, que ainda está entre as suas, se encontra com as coxas dela. Sasuke consegue sentir o calor através do jeans, mas não tem coragem de desviar os olhos do dela. 

— Vai que você me denuncia pro Danzou por assédio – brinca, vendo-a sorrir. – Você mora no andar de cima, mulher, imagina só o inferno que você poderia tornar minha vida. 

— Como? 

— Sei lá. Aula de sapateado. 

Hinata morde o lábio inferior. 

— Você não ouviria nada se estivesse no andar de cima, comigo – murmura, imaginando se tinha bebido mais que uma latinha. Sasuke se perguntava a mesma coisa; mas será que realmente importava? 

— Isso é um convite para aula de sapateado? Por que eu n… 

Antes que ele pudesse concluir, Hinata grudou seus lábios com os dele, passando as mãos sem cuidado pelo pescoço, acariciando os ombros fortes. Sasuke correspondeu sem pressa, uma das mãos entrando pelo pijama, fazendo desenhos livres com a ponta dos dedos, acariciando toda pele que encontrava. Sua coxa tinha encontrado o ponto interessante entre as dela. 

Mais que interessante. 

Sasuke imaginou se eles levariam uma advertência por barulho, mas isso não o incomodou nem um pouco. Na verdade, a meta daquela noite seria ganhar uma advertência enorme por barulho indevido. A velha Chiyo teria muito do que reclamar, Kurenai acordaria com olheiras enormes e Konohamaru soltaria uma exclamação ao ver um dos dois saindo do apartamento do outro. 

Amém. 


 

Aê, Sasuke, valeu por emprestar o apê, você é foda. 

Te devo uma!! 

Mas aí, quem se divertiu essa noite foi sua vizinha de cima, né. Fiquei até com dor de cabeça!! 

Você é foda por aguentar esses bagulhos!! Agora sei porque anda tão estressado, né, deve ser um saco ficar escutando e não fazer nada kkkkkk

Cê sabe que tô zoando 

Obrigado, irmão. 

 

 


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Notas finais do capítulo

Obrigadaa



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