O Segredo escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 2
Yaoinote


Notas iniciais do capítulo

O Yaoinote não me pertence. Ele pertence à Kaline Bogard, que permitiu seu uso como relíquia nessa fic. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751121/chapter/2

Uma sensação estranha o acometeu, logo pela manhã. Como um calor que se espalhava pelo peito, parecido com uma teia que se entremeava e se espalhava, a partir do coração para o restante de seu corpo.

Sensação esta acompanhada por uma estrondosa dor de cabeça, acompanhada de flashes na qual ele dançava sobre a mesa do que se parecia com um bar (mas poderia muito bem ser a entrada no hotel onde acontecera um lual na noite anterior) junto com o garoto da cara pintada que havia lhe chamado a atenção ontem.

Pell tentou se lembrar do ocorrido, o gosto amargo de bile em sua boca evidenciando que todo o conteúdo estomacal já havia sido esvaziado, e que agora não restava nada além dos espasmos dolorosos e de um desejo intenso de secar as águas cristalinas dos lagos que ficavam próximos aos Dragões-de-Komonyah segundo um pequeno anúncio de passeio que haviam recebido assim que chegaram ao quarto.

Ele não sabia em que momento, Chaka e ele tinham decidido descer para a festa ou exatamente em que momento ela havia começado. Mas fato é que em um desses momentos, entrara voando pela janela, cantando um ritmo Ragatanga de alguma cantora desconhecida da qual nunca ouvira falar na vida.

Finalmente, lembrou-se que teria que agradecer à Chaka por ter permitido que ele ficasse com a cama. Assim que conseguisse abrir os olhos, é claro.

− Céus... – murmurou baixinho, sentindo que o cérebro queria derreter para fora dos ouvidos quando escutou um murmúrio que poderia muito bem ser um rosnado ou um resmungo.  

Um rosnado-resmungo que ele conhecia muito bem.

Somente então, sentiu o peso de um braço que envolvia fortemente sua cintura. E as dores pelo corpo então! Não queria nem começar a falar sobre elas e nas áreas onde começavam. Pouquíssimo convencionais para um homem seguro de sua...

− Ah não...

A lembrança veio de vez, explodindo atrás de suas pálpebras. Dos pedidos libidinosos, dos seus gritos que eram esganiçados como os piados de uma ave e tão estrondosos que poderiam derrubar uma parede.

− Fique quieto, Pell. – A voz de Chaka ressoou, confirmando aquilo que Chaka mais temia.

− Ah não...

Desnorteado, Chaka se sentou na cama, resmungando alguma coisa ininteligível quando finalmente se deu conta do que havia acontecido: ele e Pell, nus na mesma cama, arranhões espalhados pelos dois corpos, penas e pelagem escura para todo o lado. Igualmente, as memórias foram invadindo a mente de Chaka, da bebida que haviam compartilhado, da noite divertida de jogos e dele correndo como um cachorro louco atrás de um frisbee enquanto Pell sobrevoava os céus e eles terminavam rolando colina abaixo, se beijando.

Se beijando!

E fazendo outras coisas que Pell não sabia se queria se lembrar.

− Pell? Isso foi alguma espécie de sonho maluco? – perguntou com a voz rouca, o ritmo da Ragatanga explodindo em seus tímpanos.

− Acho que não, Chaka. – O guardião de rapina respondeu, horrorizado. Com a certeza de que na noite anterior, perdera a única virgindade que ainda lhe restava com o seu melhor amigo. E sequer se lembrava disso.

X

Pell realmente precisou das pomadas de queimadura na recepção depois de ter tomado aquele banho. Mas estava com a pele manchada de chantilly e outras coisas que não tinha certeza se queria saber. Seus pulsos estavam doloridos, avermelhados como se algemas tivessem sido colocadas ao redor deles. E uma vaga lembrança em sua mente o fazia crer que sim, que isso tinha acontecido.

A parte de passar a pomada havia sido terrível, tanto para ele quanto para Chaka. Havia um desconforto horroroso instalado entre os dois, que não podia ser medido em palavras. Como nenhum dos dois conseguia falar a respeito do assunto, decidiram resguardá-lo por um tempo, pelo menos até que conseguissem se lembrar do ocorrido.

No entanto, ainda havia aquela estranha sensação que se espalhava pelo peito de ambos. Um calor ardente (como a chama da juventude!) que não havia ido embora nem mesmo depois das duas aspirinas que tinham engolido para a ressaca.

Como, apesar disso, não queriam perder nenhuma parte do passeio que estava programado pela ilha, os dois resolveram que conversariam sobre aquilo tudo mais tarde, pegando carona em um ônibus que os levaria para perto do local protegido pelos Dragões-de-Komonyah.

X

− A operação Yaoinoite foi um sucesso, mamãe! – O jovem urso comunicou, observando através das câmeras a movimentação no quarto de Pell e Chaka. Pois o quarto podia não ter ar-condicionado ou condições minimamente favoráveis, mas câmeras ocultas? Sim! Em todo lugar!

Yaoinote, meu pequenino. Yaoinote.— corrigiu com carinho. – As gravações estão boas para estudos posteriores?

− Sim, mamãe! Em perfeito estado! – O sorriso cheio de dentes se fez mostrar. – Devo acompanhar eles no tour?

− Hum, depende do que quer dizer com acompanhar. O que você pretende?

− Queria brincar com os dragões, mamãe! – exclamou ele, em um pedido que evidenciava claramente o quanto desejava aquilo.

− Não vai deixar eles comerem ninguém? Não quero problemas de canibalismo aqui. – pontuou, ajeitando as lentes dos óculos escuros. – Deixaremos isso para a doida da Kori Hime.

− Não! Não, mamãe! Eu jamais faria isso! – Explodiu na gargalhada, o corpo vibrando através da risada reverberada. – Talvez só alguns pedacinhos.

− Só alguns pedacinhos. – Kaline concordou, brincando em sua cadeira giratória. Como aquela ilha era maravilhosa!

X

O clima mais quente do que na noite anterior, obrigou Pell a usar protetor solar e roupas que protegessem mais daquele calor. No deserto de Alabasta, embora o clima fosse seco, o deserto trazia ventanias agradáveis. Mas ali, parecia haver uma ausência de ar que dificultava até mesmo sua respiração. E a ressaca não ajudava em nada.

− Você está bem? – Chaka perguntou ao seu lado, oferecendo uma garrafa d’água ao outro guardião.

Pell ainda se sentia desconfortável na presença do outro, a cada flash da noite anterior que lhe voltava, como dele implorando para ser chamada de vagabunda enquanto cantava Boate Azul no karaokê com um gari loiro que se transformava em uma mulher sexy. Mas talvez fosse apenas sua imaginação.

− Ainda estou um pouco enjoado. O que foi que nós bebemos ontem? Nunca me senti assim. – Aceitou a água, sorvendo-a em pequenos goles e desejando que o ônibus parasse logo. O guia turístico contava sobre os locais da ilha, mas Pell não conseguia exatamente prestar atenção com o balanço do meio de transporte.

− Eu não tenho certeza. – Chaka suspirou baixinho, não tão melhor do que o companheiro. Também estava enjoado e um pouco abatido, mas o seu organismo, um pouco mais forte que o dele, o havia permitido resistir melhor aos efeitos do que quer que tivesse sido feito com eles. O outro casal, com o garoto da gola alta e o menino do rosto pintado não estavam ali. Talvez o tal cara de cachorro tivesse ficado realmente mal. – Mas não fomos os únicos afetados.

Isso era bem verdade, Pell notou, ao ver que ao redor, o clima parecia calmo, principalmente entre os homens. Fato que também chamou atenção de Pell, agora que ele havia notado.

− Ne, Chaka. – Endireitou a postura. – Você notou que não tem nenhuma mulher aqui com a gente além da guia? – Arqueou as sobrancelhas finas e delineadas.

Chaka, tapado demais para notar tais coisas, só o fez porque Pell havia evidenciado o fato naquele momento.

− É... acho que você tem razão. Talvez seja apenas no nosso ônibus?

Pell ficou desconfiado. Seria coincidência demais que apenas o ônibus deles contivessem homens? Ele achava que não.

− Chegamos! – A guia turística anunciou, enquanto era possível ver ao longe, as colinas cercadas por maravilhosas águas cristalinas e cachoeiras onde sobrevoavam os Dragões-de-Komonyah!

− WOOOOH! VAMOS, PESSOAL! EU QUERO COMER A CARNE DESSES DRAGÕES!

Diferente de todos os outros, Luffy parecia bastante animado com a ideia de interagir com aqueles estranhos dragões.

X

Ao decorrer do dia, a sensação de enjoo abandonou Pell e seu rosto adquiriu uma coloração melhor quando conseguiu comer algumas frutas que Chaka havia julgado seguras e que havia colhido do topo das árvores da ilha. Eram suculentas, Pell tinha que admitir. Algumas tão doces quanto os morangos mais frescos de Alabasta.

− Você parece um pouco melhor. – Chaka jogou algumas das frutinhas na boca, engolindo-as com uma sensação explosiva de prazer.

− Acho que meu estômago consegue aceitar comida outra vez. Obrigado, Chaka. – Pell abriu um sorrisinho sem jeito, o olhar baixo na direção de Luffy que tentava montar em um dos dragões sem sucesso. – E desculpe por hoje. Mais cedo.

Chaka encolheu os ombros.

− Eu entendo, sabe. Não é todos os dias que você acorda na cama com o seu melhor amigo. – Ele riu, mas Pell o conhecia o bastante para saber que algo o incomodava também. Bastante.

− Acha que não foi só a bebida? – Pell questionou. Essa pergunta vinha martelando em sua cabeça desde que havia conseguido se lembrar de mais algumas coisas a respeito da noite anterior. E aquela sensação... aquele calor que lhe envolvia desde que havia acordado. Não. Desde a noite anterior quando haviam entrado naquele quarto...

Chaka pareceu ponderar as palavras do amigo guardião. Tudo havia começado naquela ilha? Talvez antes disso? Ele não tinha certeza, porque sua cabeça estava enleada com pensamentos confusos!

− Acho que não. – Agarrou o peito, como que sentindo o coração querendo escapar dali a todo custo. Ao longe, Luffy gritava yahoo! Acompanhado de Usopp e Chopper que montavam com ele os dragões. Fosse de livre e espontânea vontade ou não. – Eu fiquei louco, sabe? Quando achei que você tinha morrido. Achei que morreria junto. Entendia o que você havia feito, que havia se sacrificado pelo reino. Infernos, eu faria o mesmo pelos nossos soberanos! Mas você tinha me deixado, Pell. Você tinha me deixado.

Sua voz falhou nas últimas palavras. Chaka não sabia o que o havia movido a dizer aquelas coisas, mas algo gritava dentro de seu peito dizendo que sufocaria sem aquelas palavras. Palavras essas que tocaram Pell profundamente em seu coração, despertando nele sentimentos que até então estavam adormecidos em seu âmago, soterrados pela certeza de que seria rejeitado.

− Chaka...

O que quer que fosse vir depois de seu nome, foi impedido de perseguir quando uma bola de fogo literalmente passou zunindo entre suas orelhas, que apenas permaneceram intactas por um milagre.

− LUFFY! VOCÊ DEU CARNE AOS DRAGÕES?! – A voz desesperada de Usopp ecoou por todo o local.

− Oe! Eu não! Acha mesmo que eu dividiria a minha preciosa carne com alguém?! – Luffy trincou os dentes, como que ofendido com a pergunta de Usopp. Naquele momento, a risada grotesca de um urso ecoou pelos holofotes de um dirigível que sobrevoava aquele ponto da ilha.

− Respeitável público, sejam oficialmente bem-vindos à Sunshine Island! Eu sou o grande anfitrião, aquele que vive entre os Dragões-de-Komonyah e que os recebeu assim que chegaram aqui! Aquele que os levará a outro patamar do se conhecer tão bem! – O megafone transmitia para todos o que o urso vestido de apresentador de circo, com um terno azul brilhante com lantejoulas dizia. – Tenho certeza que alguns de vocês podem estar se perguntando sobre as comidas e bebidas exóticas que foram servidas em nosso pequeno lual na noite anterior, mas já se perguntaram sobre o sentimento fisgante que queima bem no interior de seus peitos?! O nome disso, meus amigos, é amor yaoi!

− Amor Yaoi?! – Sanji cuspiu o cigarro ao lado de Zoro, que o encarava com estranheza. Pell reparou que outros homens também se encaravam assim e, novamente, aquela sensação queimou em seu peito ao olhar Chaka; o coração descompassado no peito.

− Sabem, − prosseguiu o urso. – alguns de vocês que vieram até aqui queriam apenas 31 dias de diversão e descanso, mas na Sunshine Island não é assim que as coisas funcionam! Aqui nós trazemos à tona a verdadeira essência de todos aqueles que nasceram para isso. E é para tanto que a relíquia desta ilha, o Yaoinoite, foi feito! – Uma voz feminina pareceu ecoar em um ponto que o urso polar carregava no ouvido. – Desculpe, mamãe. Yaoinote! Com o intuito de disseminar o amor entre casais masculinos homoafetivos, o Yaoinote cria entre homens que já possuíam certa afinidade para se apaixonarem uma ponte que os levará até lá! E a prova disso está aqui, meus amigos!

A mão do urso apontou na direção dos dragões.

− Esses Dragões-de-Komonyah não podem ser alimentados fora do horário e sabem por quê?! Eles ficam simplesmente malucos! Louquinhos de pedra! E comem tudo o que veem pela frente quando isso acontece! E, bem, querem prova maior de amor do que protegerem quem vocês amam?! Boa sorte, queridos! Nos vemos de volta no hotel!

− OE! URSO DESGRAÇADO! – Mas antes que Sanji acertasse seu Diable Jambe bem no meio da fuça dele, o urso desapareceu e os dragões, alimentados pelo que quer que tivesse sido dado a eles, fizeram uma parede ao redor dos homens. – Mas que porra! Marimo desgraçado, olha no que você nos meteu!

− Eu?! Foi você quem me fez vir até aqui, cook idiota!

Pronto, Sanji e Zoro estavam brigando enquanto Chopper e Usopp choramingavam sendo protegidos por Luffy.

Pell e Chaka, sabendo que os Mugiwaras sabiam se proteger, se alocaram de forma que conseguissem batalhar caso fosse necessário.

− Como você está se sentindo? – Chaka perguntou, um sorriso brilhando no canto dos lábios onde os caninos já repuxavam querendo se expor para a forma canina. – Prefere bater ou correr?

Pell estalou o pescoço, colocando-se ao lado do companheiro.

− Eu pego os dez da direita e você os dez da esquerda.

Aquele seria um ótimo aquecimento para a noite que estava por vir.

X

Durante 31 dias, Pell e Chaka observaram vários casais se formarem enquanto eles próprios exploravam a ilha. Acostumar-se com o chuveiro foi tão ruim que Pell passou o mês inteiro usando pomadas para queimadura, mas Chaka não pareceu se importar em buscar folhas de Babosa para fazer ele mesmo um emplastro que havia aprendido com Chopper para curar as costas do companheiro.

Depois de muita conversa, os dois haviam decidido tentar dar uma chance para aquilo que o Yaoinote havia permitido acontecer entre eles, e com o tempo perceberam que aquela havia sido a melhor decisão.

Nas festas da ilha, descobriram que Sanji e Zoro também tinham se assumido como um casal, bem como o garoto de cara de cachorro e aquele da gola alta com óculos escuros.

Pell não se atreveu a beber mais nada que parecesse minimamente suspeito, preferindo ele mesmo comprar as próprias bebidas fechadas.

E finalmente, quando voltaram para Alabasta, olhando para trás, Pell tinha um sorriso tranquilo no rosto.

− Em que está pensando? – Chaka questionou.

− Que foi bom vir para cá. Que me diverti ao seu lado e que o urso tinha razão a respeito das descobertas.

Chaka sorriu igualmente, entrelaçando os dedos aos de Pell.

− O que acha de tentarmos a Ilha Korassaum no próximo ano?

As sobrancelhas delineadas de Pell se arquearam e ele depositou um beijo suave sobre os lábios de Chaka.

− Me parece uma ótima ideia.

Entregaram seus bilhetes enquanto embarcavam no avião.

− A Operação Yaoinoite foi um completo sucesso, mamãe. Tivemos um total de 14 casais, embora algumas pessoas não tenham sido susceptíveis ao Yaoinoite.

− Alguns deles são resistentes. O caderno ainda está em estudo. – Kaline respondeu, observando de seu escritório enquanto o casal preferido por ela adentrava o avião. – Como vão as coisas na ilha Korassaum, Kori?

A risadinha baixa da amiga ecoou no canal de rádio.

− Vão perfeitamente bem, Kali. Perfeitamente bem.

Kaline precisava admitir que, para a primeira vez que abriam a ilha para um público tão grande, não havia sido tão ruim assim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sou a pessoa das referências e não consigo ficar longe delas, é mais forte que eu. Quando tive a ideia para essa história, quis logo utilizar ela. O Yaoinote acabou sendo algo que me veio naturalmente, eu simplesmente queria fazer Kaline se metendo na história!

Bem, não sei se vai agradar gregos e troianos, mas eu gostei muito de escrever essa história!

Espero que vocês gostem e deixem comentários! Agora só falta mais uma!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Segredo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.