HOLD THE LINE - Livro #01 escrita por Lyra


Capítulo 14
CAPÍTULO 14 - Where The Street Have No Name




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Um sorriso radiante e cheio de orgulho brotou sobre a face de Louise Henderson ao avaliar dos pés a cabeça a pequena criança que estava parada em sua frente no banheiro. Utilizando vestido rosa de babados com gola branca, peruca loira e maquiagem sutil bem parecida com a que utilizava no momento, Eleven estava irreconhecível, não lembrando em nada aquela estranha criança perdida que haviam encontrado alguns dias atrás durante a noite chuvosa em meio a Floresta das Trevas.

— Você está muito fofa, maravilhosa! — Elogiou Lola tocando com sutileza as bochechas da mais nova, a qual retribuiu com um sorriso tímido — Sabia que os anos treinando no meu irmão valeriam a pena. — Ela se afastou levando a mão no centro do peito por alguns segundos e abriu a porta do banheiro, sendo a primeira a deixar o ambiente apertado — Vos apresento a minha obra-prima!

Aguardando ansiosos em frente à porta do maior banheiro da casa dos Wheeler localizado no segundo andar e onde estavam os produtos de higiene e beleza das mulheres da família, os três pré-adolescentes cessaram a conversa que possuíam sobre as teorias envolvendo Will e olharam cheios de curiosidade na direção da mais velha. Apesar de não comentarem em voz alta diante de Lola para não a deixarem chateada, eles temiam que ela fosse incapaz de deixar Eleven apresentável para a ocasião, principalmente por raramente terem visto a mais velha utilizando maquiagens ou roupas que ornavam como a maioria das adolescentes vaidosas costumava fazer. O exemplo disso estava diante deles, pois naquela mesma manhã Lola tinha escolhido a pior combinação possível para sair de casa.

No entanto os três foram surpreendidos, ficando boquiabertos quando Eleven saiu do banheiro utilizando as antigas roupas de Nancy. A mais nova não estava apenas apresentável, como também uma graça. Mais uma vez Louise havia conseguido superar as expectativas que os pequenos colocaram sobre ela.

— Uau! — Comentou Dustin movendo seu olhar da El para a irmã, sorrindo orgulhoso com o trabalho da mesma. — Ela parece...

— Bonita. — Completou Mike antes que Dustin pudesse falar qualquer estupidez ofensiva sem pensar para Eleven ou Louise, algo típico de sua personalidade sincera. — Muito bonita.

O elogio sincero vindo por parte do Mike surpreendeu a todos, principalmente os rapazes que trocaram olhares debochados pelas costas do menino enquanto ele acompanhava Eleven até o espelho do corredor. Não era necessário conhece-lo bem para perceber um leve interesse romântico surgir de sua parte pela menina em sua frente. Aquele pequeno detalhe somado com o sorriso genuíno da menor ao vislumbrar o próprio reflexo deixou o coração de Lola aquecido.

— Muito bonita — Repetiu Eleven aceitando o elogio.

— Foi o que eu disse — Louise aproximou novamente da menina depois de todos terem vislumbrado seu trabalho como modista para poder ajeitar melhor a peruca. — Essa peruca é a única coisa que está me incomodando, mas o que esperar de uma fantasia de Halloween, certo?

— Desde quando você sabe fazer maquiagem? — Perguntou Lucas arqueando as sobrancelhas.

— E porque eu não saberia? — Rebateu Lola movendo os ombros com desdém — A mamãe e a senhora Wheeler me ensinaram, não é por que prefiro dormir a gastar meu tempo me arrumando para ir à escola que sou cafona o tempo inteiro. Só tenho prioridades.

— Falando em prioridades, devemos ir se quisermos achar o Will — Falou Mike tomando à dianteira.

Sem mais perguntas ou qualquer tipo de comentário, os outros o acompanharam pelas escadas até o andar térreo, não tardando em deixar a casa da família pela porta dos fundos e montar em suas respectivas bicicletas para prosseguirem com a busca por Will.

...

Pela primeira vez, em muito tempo, Louise estava ansiosa e extremamente animada para regressar ao colégio, mesmo esse sendo a escola de ensino fundamental de Hawkins. Estava empolgada com o futuro, tendo a chama da esperança em reencontrar Will com vida novamente acessa em seu coração. No momento as perguntas que giravam em sua mente sobre as coisas sinistras que aconteciam na pequena cidade eram incapazes de superar a alegria que era saber que o menino estava vivo em algum lugar e graças aos poderes de Eleven seria achado.

Apesar da quilometragem entre a casa do Mike e do colégio não ser extrema, como a maioria dos locais da pequena cidade interiorana, a pedalada pareceu durar uma eternidade para Lola. Ela não sabia dizer se esse fato vinha do nervosismo que sentia por terem novamente uma pista para seguir, ou pelos olhares curiosos que recebia dos moradores que cruzavam o caminho do pequeno grupo de ciclistas. Era óbvio que comentariam sobre eles em algum momento e chegaria aos ouvidos de sua mãe que estava na Rua com Dustin e os amigos do mesmo, principalmente por ser de conhecimento público que estavam matando aula devido o horário.

Para evitar o atraso na missão e chamar atenção desnecessária por estarem com duas pessoas que não faziam parte do corpo discente do colégio fundamental, o grupo ingressou na Middle-School pela entrada lateral, onde muito raramente existiam inspetores ou qualquer outro funcionário tomando conta.

Por Hawkins ser uma cidade pequena e extremamente pacata, pelo menos até alguns dias atrás, focar em segurança nunca foi prioridade. Seja para impedir entrada de desconhecidos no colégio, até evitar ladrões em lojas de eletrodomésticos. Nada de interessante acontecia na cidade e apesar de ter reclamado muito no passado sobre isso, Louise estava começando a sentir falto do tédio e da segurança das ruas.

— Certo, lembrem-se, se alguém nos vir, façam cara de triste — Alertou Mike quando passaram pela porta.

— E se perguntarem sobre a Lola? — Questionou Lucas com preocupação genuína sobre a presença da mais velha. — Ela devia estar no outro colégio.

— Minha desculpa é o Dustin — Falou a menina apoiando o braço sobre o ombro do irmão mais novo — Estamos de luto, esqueceu?

Os cinco estavam na metade do caminho para a sala de audiovisual quando ouviram a voz do diretor ressoar pelos autofalantes pendurados em pontos estratégicos nos corredores por toda a escola.

— Atenção alunos, haverá uma reunião em honra de Will Byers no ginásio — Anunciou a direção, o que fez Louise fazer caretas. — Não haverá aula no 4º período.

Mesmo sando que a intenção da escola era das melhores em programar a reunião para homenagear o aluno "falecido", Lola não concordava com tal gesto. Em sua concepção não fazia sentido oferecer tempo vago aos alunos que nem mesmo se importavam ou sabiam da existência de Will Byers, pois da mesma maneira que ela, Will e os outros garotos não eram tão queridos ou populares, a diferença é que tinham uns aos outros para se apoiarem.

— Está trancada. — Avisou Mike empurrando a porta da sala de audiovisual sem sucesso.

— O que? — Perguntou Lucas descrente fazendo o mesmo movimento que Mike fez anteriormente, assim como o outro não obteve sucesso.

— Bom, era meio óbvio — Disse Louise colocando as mãos nos bolsos e dando com os ombros. — Pelo menos temos a El. — Ela virou para a garota e apontou para a porta trancada — Acha que consegue abrir?

— É! — Concordou Dustin esperançoso — Com os seus poderes.

Para a infelicidade do grupo Eleven não teve tempo de responder a pergunta feita pelos irmãos Henderson, pois o professor Scott Clarke apareceu no corredor de modo inoportuno. O homem olhou confuso em direção as crianças, estando tão surpreso quanto o grupo.

— Meninos? Louise? — Ele levou seu olhar dos menores para a mais velha, avaliando a menina dos pés a cabeça por sua excêntrica combinação de roupas para a ocasião — Não devia estar no outro colégio?

— Eu soube da reunião e quis participar — Fingindo pesar no tom de voz, Lola baixou os olhos encarando o chão, típico comportamento que utilizava para implorar por pontos a mais quando empatava com outro aluno inteligente nas aulas. — Eu... Eu... — Puxando o ar pelo nariz, Louise abraçou com força o professor, afundando o rosto contra seu peito enquanto falava e fingia chorar copiosamente — Estou abalada, Will era um irmão para mim e agora ele se foi. Não consigo parar de pensar que meu irmão perdeu o melhor amigo e.... — Ela fez uma pausa dramática enquanto atuava majestosamente em seu choro copioso — Os meninos perderam um membro do grupo. Eu... Eu só queria um tempo com meu irmão e os amigos dele.

— Certo, Lola! — Levemente sem reação pelo abraço abrupto e atuação impecável da menina, senhor Clarke deu alguns tapinhas sem jeito nas costas de Louise e acariciou sua cabeça por segundos — Eu entendo, de verdade...

— Não, não entende — Interrompeu Lola com voz embargada. — Will era uma das poucas pessoas legais comigo.

— Hey, Lola! Hey! — O senhor Clarke a afastou pelos ombros, encarando seus olhos azuis acinzentados que estavam vermelhos e inchados cheios de lágrimas. Aquilo pegou até mesmo os rapazes de surpresa, os quais imaginavam que Louise estaria sem lágrimas e estragaria tudo caso o professor notasse que aquela tinha sido uma atuação exagerada. — Vamos fazer um acordo, está bem? Todos comparecem a reunião e vocês podem ter o Heathkit pelo resto da tarde — Ele retirou a chave do bolso da calça e entregou para Louise, a qual sorriu com o canto dos lábios ao pegar o objeto e limpou os olhos com a manga da jaqueta — Assim está melhor.

— Obrigada, senhor Clarke! — Agradeceu a mais velha se afastando e abraçando Eleven pelos ombros.

— Acho que não nos conhecemos. Como se chama? — Perguntou o professor curioso para a menina mais nova.

— El... — Eleven começou a responder, mas foi interrompida por Louise.

— Eleanor! Ela é nossa prima — Respondeu Louise antes que a mais nova pudesse dizer o número como nome de batismo.

— De segundo grau — Completou Dustin fazendo o número dois com as mãos.

— Ela veio para o enterro do Will. — Disse Lola voltando a fazer cara de choro.

— Bem-vinda à escola Hawkins, Eleanor. — Falou o professor com um sorriso simpático na face. — Pena que esteja aqui sob essas circunstâncias.

— Obrigada — Agradeceu Eleven desajeitada. Ela olhou do professor para Lola e em seguida para Mike, tentando compreender o tipo de mentira que os amigos estavam arquitetando.

— De onde você é exatamente? — Perguntou o professor insistindo em saber mais sobre a menina.

— Lugar ruim... — Respondeu Eleven, a qual foi interrompida por Louise pela segunda vez.

— Flórida — Lola sorriu nervosa — Temos alguns parentes em Miami e sabe como é.

— Ela odeia lá — Falou Dustin ajudando Louise na mentira sobre a falsa vida da "prima".

— Muito calor — Disse Lucas também ajudando com a mentira.

— Pois é! — Louise arqueou as sobrancelhas e assentiu com a cabeça.

— Vamos então? — Perguntou o professor apontando na direção da quadra do colégio.

— Com certeza — Concordou Louise sendo a primeira a tomar iniciativa na caminhada para o local da homenagem.

Estava sendo estranho para Louise caminhar por entre os corredores do colégio primário de Hawkins, apesar da caminhada ser curto caso comparado com o percurso que fazia em seu atual colégio para poder alcançar a quadra coberta, memórias de um passado aparentemente distante ingressavam em sua mente. Mesmo sem ter a intenção de voltar para o ensino fundamental, naqueles corredores ela era verdadeiramente feliz no colégio. O bullying era menor e seu grupo de amigos maior, as crianças estavam ocupadas sendo crianças e não pensavam em tornar-se a imagem de seus pais tão cedo. Ela tinha Jonathan, ela tinha Steve e ela tinha Nancy, suas três pessoas favoritas. Atualmente a única pessoa que possuí é Jonathan, o qual teme ter perdido depois da confusão do dia anterior e de seu movimento ousado.

— Lola... — Eleven chamou Louise enquanto segurava gentilmente em sua mão. Ao baixar o olhar, Lola notou que a menina a olhava com preocupação genuína.

— Estou legal — Disse a mais velha enxugando os olhos com a costa das mãos e sorrindo sem mostrar os dentes — Não se preocupe.

Para o completo desgosto do grupo as portas da quadra encontravam-se fechadas, o que significava que as homenagens para Will haviam iniciado e estavam atrasados para prestarem condolências ao amigo "falecido".

— Merda. — Sussurrou Lola diminuindo o ritmo dos passos para deixar outra pessoa passar na sua frente, ela não queria ser a primeira a abrir a porta, pois já chamaria muita atenção com suas vestes coloridas e por ser aluna do colégio vizinho.

Embora chamar atenção estivesse longe de fazer parte dos planos do grupo quando deixaram a casa dos Wheeler, sendo esse o motivo de terem arrumado Eleven como uma pré-adolescente "normal", graças ao senhor Clarke essa parte do plano tinha saído do controle. No instante que Dustin abriu a porta de entrada da quadra, o silêncio tomou conta do recinto e todos olharam curiosos na direção dos responsáveis por interromper o início do discurso de abertura do diretor.

— Abortar — Disse Dustin ficando constrangido com os olhares que receberam enquanto dava meia volta para escapar da reunião, porém antes que fosse capaz de deixar o lugar, Lucas o agarrou pelos ombros e o empurrou na direção correta.

O diretor prosseguiu com o discurso que fazia sobre a união que todos deveriam ter durante esse momento difícil que atravessavam, porém não parou de acompanhar com o olhar os atrasados até o instante que se acomodaram em meio aos outros alunos.

— A morte de Will Byers é uma tragédia inimaginável. Will era um aluno excepcional e um amigo maravilhoso de todos nós. É impossível expressar o vácuo que sua perda deixará na comunidade...

O discurso do diretor estava deixando Louise irritada, as frases soavam falsas na concepção da garota, não passando de um discurso genérico guardado na gaveta e pronto para ser utilizado no fatídico dia que um aluno viesse a padecer. No fundo ela duvidava que o homem soubesse quem era Will Byers antes dos noticiários reportarem seu desaparecimento e de suas fotos estarem estampando cartazes espalhados por todos os cantos da cidade.

Outra coisa que estava irritando a adolescente era o descaso dos colegas de escola do Will, quase nenhum deles estavam realmente chateados com a perda. Como havia imaginado antes de ingressar na "homenagem", muitos alunos conversavam aos sussurros sobre futilidades aos risinhos, outros desrespeitavam a memória do Will descaradamente, fazendo com que Lola apertasse o tecido da calça enquanto cerrava os punhos para não pular sobre o pescoço daqueles pequenos asquerosos.

— Aparvalhado — Disse Eleven olhando na direção dos bullys debochados.

O estranho xingamento fez com que Louise levasse a mão até a boca para abafar o riso. Essa estava sendo à primeira vez que escutava a mais nova ofender alguém e, provavelmente, com alguma palavra ensinada por Mike.

A reunião prosseguiu com a palestra da senhorita Sloan sobre as fases do luto e as formas como a mesma se manifestavam, Louise precisou de muito empenho para manter os olhos abertos durante os minutos que seguiram. Como Will não estava morto, para ela não tinha necessidade de prestar a atenção no que a mulher do grupo de apoio da igreja tinha a dizer. Louise ficou completamente aliviada quando o sinal ressoou anunciando o fim da palestra, a qual não passava de um circo armado para dizer que alguma coisa havia sido feita pela escola.

— Como você conseguiu chorar aquela hora? — Perguntou Dustin enquanto descia as arquibancadas ao lado da irmã mais velha.

— Notou que o colete do senhor Clarke é feito de lã? Existe um motivo pelo qual evito usar qualquer coisa feita com essa material — Louise cutucou a lateral do nariz com o dedo indicador e piscou para o irmão — Renite. Meu único medo era começar a espirrar, isso sim estragaria o plano.

— Hey, Troy! Troy! — A atenção dos irmãos voltou-se para Mike que estava alguns passos a frente, o menino estava determinado a chamar atenção dos babacas que riram durante quase toda a reunião da "morte" do Will. — Acha que isso é engraçado?

— O que você disse, Wheeler? — Perguntou Troy olhando torto para Mike, estando surpreso com a ousadia do colega de turma em enfrenta-lo diante toda escola.

— Vi vocês rindo lá. — Respondeu Mike virando o olhar para a arquibancada por alguns segundos — E acho que isso é errado.

— Não ouviu a terapeuta, Wheeler? O luto se manifesta de formas estranhas — Protestou o amigo do Troy tentando defender o comportamento do outro.

— Depois, que motivo eu tenho para ficar triste? Will está nas terras das fadas, certo? Voando por aí com as outras fadinhas. Feliz e gay. — Provocou Troy debochado, fazendo com que não somente o sangue do Mike fervesse de ódio com o preconceito, como o de Louise.

— Eu vou arrebentar a cara desse filho da puta — Ameaçou Louise fechando os punhos e indo para cima do mais novo de quase seu tamanho, porém foi impedida por Lucas e Dustin de tornar a ameaça real.

Para a surpresa de todos, principalmente do Troy, Mike estava focado em não deixar aquele comentário homofóbico sobre o melhor amigo passar batido. Quando o rapaz deu as costas para deixar a quadra com os demais alunos, Mike o empurrou com força, fazendo Troy cair de cara no chão e escorregar alguns metros para frente no chão liso. Como toda boa briga que se preze, o evento chamou atenção dos presentes gerando uma roda ao redor.

— Você está morto, Wheeler! — Troy reverberou levantando do chão, estando pronto para acabar com a raça do Mike.

— Ah, mas não vai mesmo! — Rebateu Louise estando pronta para descer porrada no menino mais novo para defender um dos protegidos.

Contudo a intromissão de Louise não foi necessária durante a briga, pois a mesma não chegou a acontecer. Antes que Troy pudesse dar o primeiro soco em Mike e iniciasse de vez a briga, ele parou congelado no lugar, como se alguma força sobrenatural o tivesse segurado. O olhar de Louise desceu para as calças do pré-adolescente congelado, a qual havia começado a mudar de cor devido a urina que escorria por sua perna.

— Olhem lá, Troy Mijão! Mijão, Mijão! — Anunciou Lola em alto e bom som enquanto ria. Rapidamente as pessoas ingressaram no coro, aderindo ao apelido ofensivo para o rapaz.

Apesar de Louise não ser fã de praticar bullying contra as outras pessoas, principalmente por passar na pele essa situação desagradável. Ela não permitiria que Troy continuasse desrespeitando Mike e seu grupo, principalmente por Dustin estar nele. Ninguém mexe com suas crianças, nem mesmo outras crianças. Se Troy não estava determinado a aprender por bem, ele aprenderia por mal a não ser um completo babaca.

— O que está acontecendo aqui? — Perguntou o diretor quando as risadas e o coro "Troy Mijão!" tomaram conta do ambiente.

— Ai merda! — Reclamou Louise sabendo que seria a primeira a ser alvo das broncas do diretor.

— Mike! Lolinha! Vamos! — Chamou Lucas agarrando ambos pelos ombros e correndo para fora da quadra com os amigos em seu encalço.

Os cinco só pararam de correr quando alcançaram a sala de audiovisual, estando focados em realizar a missão que vieram fazer. No instante que todos entraram no ambiente destrancado por Louise e Mike acendeu as luzes da pequena sala, a mais velha os trancou por dentro para que nenhuma outra pessoa pudesse interrompê-los naquela missão de vida ou morte.

— E agora? — Perguntou Dustin aproximando do rádio gigante e cercando Eleven como os outros estavam fazendo.

— Ela vai encontrá-lo. — Respondeu Mike ligando o aparelho de comunicação. — Certo, El?

— Espero que isso funcione — Falou Louise mordendo a cutícula enquanto assistia levemente afastada. Estava mais próxima da porta do que da mesa, pois se algo acontecesse estaria preparada para lutar ou atrasar qualquer inimigo enquanto os mais novos tentariam fugir.

— Está encontrando ele! — Avisou Mike enquanto Eleven fazia a sua "mágica" no rádio comunicador.

— Que doido! — Exclamou Dustin realmente surpreso com os poderes da menina.

— Calma. Ela só fechou os olhos — Falou Lucas continuando descrente sobre encontrarem o Will, soando o mais realista e pessimista do bando.

— Porra! — Louise foi incapaz de segurar o palavrão quando a única luz da sala estourou deixando todos na penumbra. De fato Eleven estava utilizando seus poderes, dessa vez em uma dimensão maior do que vista anteriormente.

Lentamente os quatro aproximaram ainda mais da menina, tentando ouvir melhor o que era captado por ela na estação de rádio. Ao invés de escutarem a voz do Will como ansiavam quando chegaram a escola, o som captado parecia de batidas pesadas contra madeira ou outro tipo de objeto duro.

— O que é isso? — Perguntou Dustin olhando assustado para cada um dos presentes na sala.

— Mãe? Mãe? — A voz do Will saiu pelo rádio surpreendendo todos.

— Não acredito! — Exclamou Lucas descrente.

— Mãe... — Disse Will do lugar que se encontrava. O menino parecia desesperado para encontrar a saída e com alguma coisa que estava por vir — Mãe...

— Will! — Gritaram os adolescentes pelo microfone da estação.

— Will, somos nós. Você está aí? — Perguntou Lucas aos berros, estando tão desesperados quanto os outros.

— Pode nos ouvir? Estamos aqui! — Avisou Dustin nervoso.

— A gente vai achar você, Will. Vamos salvá-lo! — Gritou Louise agarrando o microfone das mãos do Mike e o chacoalhando nervosa ao falar.

— Olá? Mãe? — Perguntou Will do outro lado do rádio.

— Porque ele não nos ouve? — Louise questionou aflita enquanto olhava para cada um dos meninos em sua frente.

— Não sei! — Respondeu Mike irritado pela falta de resposta do Will.

— Mãe? Mãe! — Choramingou Will estando completamente amedrontado. — Mãe, ele está vindo!

— O que está vindo? — Louise agarrou Dustin pelos ombros e esticou a mão para segurar a do Lucas, o qual aceitou o gesto apertando a mesma.

— É como em casa, mas é tão escuro. Tão escuro e vazio. E frio! — Disse Will contando sobre o local estranho que estava preso. — Mãe!

Pegando todo o grupo despreparado, os quatro foram surpreendidos com o estouro do aparelho em sua frente, o qual deu início a um pequeno incêndio enquanto as luzes voltaram a ficar acessas e Eleven regressou para a realidade que encontravam saindo de seu transe.

— Aí que merda, porra! — Reclamou Louise ao notar o estrago que haviam feito no item mais caro do colégio fundamental.

Agindo como a adulta responsável da situação e fazendo o que deveria ser feito, Louise retirou o extintor de incêndio que estava pendurado em lugar estratégico próximo a porta e o utilizou para apagar o fogo enquanto o alarme tocava anunciando o problema para toda a escola, assim as crianças e professores teriam tempo de esvaziar o colégio antes do fogo alastrar.

— El você está bem? — Perguntou Mike avaliando preocupado para a menina fraca sentada na cadeira — Consegue se mexer?

— Pega o carrinho de VHS — Disse Louise apontando para o carrinho utilizado pela escola para levar as fitas VHS de um lado para o outro, enquanto jogava de canto o extintor de incêndio, fazendo o objeto rolar pelo chão da sala.

Enquanto Lucas destrancava a porta para fugir, Mike e Dustin ajudaram Louise a retirar as fitas cassetes que eram utilizadas em aula do carrinho e colocaram Eleven sentada sobre o mesmo. Todos torciam para que ela recuperasse a energia vital antes de deixarem a escola, pois teriam de pedalar novamente para a casa do Mike e também para que demorasse em encontrar o foco do incêndio, Lola tinha quase certeza de que aquele incidente renderia uma fortuna para o bolso da família de todos os presentes e que suas economias teriam de ser usadas para pagar parte do rádio ao invés de gastar futuramente com a faculdade.

— Por aqui! — Falou Mike os guiando para fora da escola enquanto ajudava Louise a empurrar o carrinho.

— Vamos para sua casa, lá conversamos sobre o assunto — Disse Lola fugindo da escola com os meninos e Eleven desmaiada.

...

A preocupação principal do grupo quando chegaram seguros na casa do Mike era se certificar de que Eleven passava bem depois de ter utilizado de seus dons sobrenaturais para conseguir capturar Will. A menina mal teve forças para segurar-se em Mike durante a pedalada de volta para o "esconderijo", tendo de ser levada na cestinha da bicicleta da Louise pelo caminho mais comprido para não chamarem atenção desnecessária.

Louise fez de tudo para deixar Eleven o mais confortável possível no porão, ajeitando o sofá com almofadas da melhor maneira possível para que a menina pudesse recuperar suas forças. Enquanto isso Mike foi até a cozinha buscar comida que havia sobrado do almoço, trazendo salada de cenoura com ervilhas, purê de batata e um pedaço de bife duro da geladeira que havia sido esquentado de mau jeito no micro-ondas.

Mesmo estando ansiosos para conversarem sobre o evento, eles deixaram Eleven descansar por algumas horas. Sendo esse tempo suficiente para colocarem as ideias no lugar e formarem teorias que fizessem sentido. Apesar de que desde o desaparecimento de Will nada mais fazia sentido.

— O que o Will estava dizendo? — Perguntou Mike tentando refrescar sua memória, ele estava sentado em uma das cadeiras próxima do sofá e tão confuso quanto os outros.

— Como em casa... — Relembrou Louise deitada de costas no chão frio, ela jogava para cima uma bola de baseball que tinha encontrado no meio da bagunça, tomando cuidado para não derrubar o objeto na própria cara. — Mas escuro?

— E vazio — Completou Lucas sentado no banquinho com as mãos juntas na frente do rosto.

— Vazio e frio. — Falou Dustin sentado no último degrau do porão.

— Espere, ele disse frio? — Questionou Louise não lembrando dessa última parte nas palavras do Will.

— Não sei. A droga do rádio ficava falhando — Respondeu Lucas dando com os ombros.

— É como enigmas no escuro — Reclamou Dustin inclinando a cabeça para trás.

— Como em casa. — Insistiu Mike levantando da cadeira e perambulando de um lado para o outro do porão, tentando fazer aquilo ter sentido. — Como a casa dele?

— Ou talvez como Hawkins — Falou Lucas se envolvendo na teoria.

— Mundo invertido — Falou Eleven com a voz fraca e surpreendendo a todos que pensavam que ela ainda estava dormindo.

— Espera, o que? — Perguntou Louise parando de jogar a bolinha para cima e sentando no chão.

— Mundo invertido — Respondeu Mike respondendo a pergunta de Lola e repetindo as palavras de Eleven. Como se aquilo tivesse feito sentido na cabeça do Wheeler, o menino correu alguns passos até o tabuleiro que haviam utilizado na última partida de D&D e se acomodou na mesa — Quando a El nos mostrou onde o Will estava ela virou o tabuleiro, lembram?

— É meio difícil de esquecer, quase tive um treco naquela noite — Respondeu Lola levantando do chão e cercando Mike na mesa junto com os outros.

— Invertido — Disse Mike olhando para cada um dos amigos — Escuro. Vazio.

— Sabem do que ele está falando? — Perguntou Lucas encarando os irmãos Henderson.

— Não — Respondeu Dustin ainda sem compreender o que Mike queria dizer, Louise moveu os ombros estando confusa também.

— Pessoal, pensem um pouco. Eleven nos levou para encontrar Will e foi na casa dele, certo? — Insistiu Mike.

— Sim, e ele não estava lá — Respondeu Lucas desgostoso.

— Mas e se ele estivesse lá? E se não pudéssemos vê-lo? — Perguntou Mike fazendo com que um estalo de teoria surgisse na mente de Louise.

— Porra! Porra! — Exclamou a menina estralando os dedos e apontando na direção do irmão mais novo. — É... Aí, caralho! Está na ponta da língua, o Eddie estava me contando sobre a campanha que estava preparando semana passada, ele falou sobre esse lugar...

— O que? — Perguntou Dustin e Lucas confusos.

— Vou tentar explicar, vocês vão sacar o que quero dizer. — Ela tomou o tabuleiro da mão do Wheeler e o virou na posição certa — Isso aqui é Hawkins, a parte que vemos. — Em seguida voltou a colocar o tabuleiro de ponta cabeça — Mas isso aqui também é Hawkins, só que do mal. É onde Will está. É um mundo que não vemos, mas ele existe. Vale de alguma coisa.

— Vale das sombras — Recordou Dustin sorrindo um pouco mais animado por compreender o que a irmã estava tentando passar.

— Isso! — Comemorou Louise batendo palma e estralando o dedo — O Eddie estava falando muita coisa sobre essa campanha enquanto fumava e eu só queria comer em paz, nem prestei tanta atenção, mas é esse negócio aí. — Ela pegou o livro de D&D que estava no canto e procurou pela página que contava sobre o local, a qual começou a ler em voz alta — O vale das sombras é uma dimensão que é um reflexo sombrio ou um eco de nosso mundo. É um lugar de decadência e morte. Um plano fora de fases. Um lugar de monstros. Está bem ao seu lado e você não pode ver.

— Uma dimensão alternativa — Disse Mike compreendendo sobre o que se tratava.

— Mas... Como chegamos lá? — Perguntou Lucas preocupado.

— Você usa o andar das sombras — Respondeu Dustin recordando sobre o local narrado.

— No mundo real, idiota — Rebateu Lucas revirando os olhos.

— Não podemos andar nas sombras, mas talvez ela pode... — Falou Dustin, fazendo com que os três olhassem esperançosos para Eleven.

— Você sabe como chegar lá? No mundo invertido? — Questionou Mike, porém para a infelicidade do grupo, El meneou com a cabeça negativamente.

— Ai, meu Deus! — Reclamou Lucas frustrado.

— Não podemos desistir, principalmente agora que sabemos sobre o que se trata — Falou Louise fechando o livro e o colocando sobre a mesa onde os rapazes estavam sentados. — O que temos de fazer agora é descansar e colocar as ideias no lugar. El precisa de tempo e já está ficando tarde.

— Louise tem razão — Concordou Mike ajeitando os cabelos — Temos o funeral do Will para participar amanhã.

— O resto do circo continua — Disse Louise gesticulando para que Lucas e Dustin a seguisse — Vamos, vou deixar você na sua casa em segurança e depois iremos para a nossa.

— Lou, agora que você e o Jonathan estão... Você sabe... — Mike começou a falar, porém foi interrompido pela mais velha.

— Relaxa, não vou dizer uma palavra. Não quero dar falsas esperanças para eles, além de que soaria loucura e os colocaria em perigo — Louise suspirou com pesar, no fundo ansiava em contar para Jonathan sobre a descoberta relacionada ao Byers mais novo, de que ele estava vivo em outra dimensão — Segundo, eu e Jonathan não temos nada.

— Ainda, Lolinha — Disse Lucas sorrindo brevemente — Ainda...

— Eu preferia quando você me odiava, Lucas — Zombou Louise revirando os olhos e subindo as escadas — Vamos embora antes que a mãe do Mike chegue e comece com perguntas.

Os três montaram sobre as bicicletas que estavam escondidas no gramado e deixaram a casa da família Wheeler. Eles tiveram muitas emoções para somente um dia, mas pelo menos agora tinham certeza de que Will estava vivo e precisava ser resgatado do mundo invisível. A pergunta atual era "Como?"


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