A Taça - Oneshot escrita por Alison


Capítulo 1
Capítulo Unico.


Notas iniciais do capítulo

Bom, espero que gostem da leitura.



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"O sentimento da vingança é tão agradável, que muitas vezes o homem deseja ser ofendido para se poder vingar, e não falo apenas de um inimigo habitual, mas de uma pessoa indiferente, ou até mesmo, sobretudo em alguns momentos de humor negro, de um amigo."

Giacomo Leopardi

 

O homem lhe ofereceu uma taça de vinho, era o empregado. Ela pegou uma das taças e agradeceu como sempre fazia e depois de tomar um pouco ficou observando ali as pessoas que lotavam a grande sala da mansão de seu marido. Era sempre assim, todo ano no aniversário dele o local lotava. Claro que a maioria ali era amigo dele apenas por interesse pelo dinheiro que o homem esbanjava.

Muitos diziam que a verdadeira interesseira era ela, Joanne, já que enquanto Morrice completava seus cinquenta e sete anos, ela tinha apenas vinte e oito. A juventude dela ainda brilhava em seu rosto branco, seus cabelos loiros ondulados ainda eram maravilhosamente brilhantes e cheio de luz, seus olhos azuis feito o mar do caribe ainda enxergavam perfeitamente bem, diferente de seu marido.

Morrice por exemplo, era um homem de altura baixa, não devia ter mais de um e sessenta de altura. Em compensação sua barriga era enorme e crescia a cada ano que o obrigava ficar trocando de roupa todo os anos, não que isso fosse um problema, ele tem dinheiro suficiente pra comprar todas as roupas que existem na cidade. Seus cabelos já estavam caindo e só se mantinham pretos por causa de tinturas. Seus olhos apesar de serem um lindo verde esmeralda, não enxergavam mais sem o auxílio dos belos óculos banhando a ouro que ele usava.

Mas Joanne não era interesseira. Muito pelo contrário, tinha uma enorme história por trás desse casamento, uma história tão grande que á partes que nem mesmo a garota sabia. Ela se casou com o milionário por conta do desaparecimento de seu pai. Ela tinha junto dele uma vida muito difícil, eram pobres e mal tinham dinheiro pra comprar o pão de cada dia. Uma certa vez seu pai lhe disse que precisava sair da cidade, iria receber um dinheiro pendente que poderia até mesmo mudar um pouco da vida deles.

Ele nunca mais voltou. Joanne esperou por meses, mas a fome já começava a consumir de dentro pra fora e foi ai que Morrice apareceu. Ele lhe deu um espaço na mansão e como forma de agradecimento, Joanne casou com o homem.

— Está se divertindo, querida? – Morrice se aproximou de Joanne.

O homem á agarrou pela cintura. Sua mão foi abaixando até ele conseguir dar um belo aperto nas partes traseira da garota. Uma coisa era verdade, quanto mais passava os anos, mais Joanne se arrependia de ter casa com ele e mais abusado Morrice ficava. Isso tudo já estava virando um grande relacionamento abusivo.

— Você sabe que não me sinto à vontade com essas pessoas aqui. Os olhares me julgando estão por toda parte.

Morrice tirou na hora a mão. Entrou na frente dela com uma feição totalmente brava e crítica. Ela sabia que ali viria bronca. Já estava acostumada em ser humilhada pelo homem. Ele pensa que só por causa que ELE salvou sua vida, pode fazer o que quiser e tratar de forma que ele preferir. Ela não concordava, mas não tinha coragem de revidar. Mas seu coração, seu coração estava cheio de mágoas e rancor.

— Se não está gostando, vá para o seu quarto e não saia de lá! Não vou permitir que INSULTE meus amigos.

Geralmente ela ficaria apenas quieta e abaixaria a cabeça. Mas dessa fez ela estava farta e decidiu fazer algo diferente, não seria tão grandioso, mas seria um grande começo.

— E é isso mesmo que irei fazer. Aproveite essa festa com seus falsos amigos, Morrice. Eles só querem seu dinheiro e você é cego de não enxergar isso.

Virou de costas e deixou o homem surpreso com a reação. Caminhou até o empregado e deixou a taça de vinho que estava praticamente cheio ainda. Andou um pouco e chegou até o grande corredor dos quartos, só aquele corredor dava o tamanho inteiro de sua antiga casa, era ridículo de grande, pensava ela. Neste corredor era cheio de quadros, antigos e novos, comprados em leilões. O preço deles era um absurdo.

Chegou até uma das inúmeras portas. Aquela era a porta do quarto, quando entrou lá estava o quarto mais luxuoso que vocês poderiam ver. As paredes eram brancas extremamente limpas, Morrice fazia os empregados limparem toda semana! A cama era grande e luxuosa, o colchão era o sonho de qualquer senhora com problema na coluna e o travesseiro era o melhor remédio de dor de cabeça de tão macio que era. As cobertas eram quentes e macias, ótimas para um inferno rigoroso.

Em um dos cantos tinha um grande sofá, junto de uma poltrona, ambas tinham a cor branca assim como as paredes, um enorme tapete ficava em baixo deles, um tapete lindo marrom com muitos detalhes. E a frente tinha a televisão, a maior e mais cara da época. No teto estava o grande lustre de cristal provavelmente, era maravilhoso e belo de se ver. No canto direito tinha uma porta que levava ao closet enorme de Morrice, lá tinha roupas dele de anos atrás que ele se recusa a doar, mesmo que não sirva mais.

Sentou-se na cama, retirou os belos saltos que estavam usando que incomodavam demais seus delicados pés. Tudo que vinha na sua cabeça era o terrível marido que tinha e a imensa vontade de ter o pai de volta, pensava como seria sua vida se seu pai tivesse voltado. Não teria todo luxo que tem hoje, mas certamente teria uma vida decente e sem humilhação.

Será que seu pai havia a abandonado? Teria conseguido o dinheiro e a deixado? Não. Ela o conhecia bem, ele não teria a capacidade de fazer isso com a própria filha. Talvez ela devia aceitar que ele tinha tido alguma morte horrível no caminho... Foi assaltado ou algo pior.

Passou as mãos na coberta macia e não conteve uma lágrima que desceu pelo seu rosto. Como sofria! Ela só queria poder fugir dali, não aguentava mais a vida com aquele homem. O arrependimento era o sentimento mais presente em sua vida, não sabia mais como tirar ele de seu corpo.

Olhou para uma porta. Essa porta ficava a esquerda do quarto. Lá era um local onde ela era proibida de entrar, era o escritório particular de Morrice. Ficou encarando ali. “Por que nunca entrei lá?”. Na verdade, ela nunca teve curiosidade em entrar, sabia que não podia entrar ali, mas não sabia o motivo. A curiosidade que não tinha despertado já fazia dez anos, surgiu a tona. Levantou, e caminhou até a porta.

Colocou sua mão na maçaneta gelada, um arrepio surgiu por todo seu corpo. Coisa boa não seria. Coisa boa não encontraria. Tomou fôlego e girou, empurrou a porta com delicadeza revelando aos poucos o escritório de seu marido. Quando ela abriu tudo, a surpresa tomou conta de si.

Lá dentro tinha uma mesa simples com um caderno em cima dela, atrás uma poltrona negra bem confortável, mas o que a surpreendeu era o que tinha nas várias estantes que cobriam as paredes. Eram pedras, pedras preciosas. Diamantes, rubis, cristais. Tinha tudo lá! Será que era por isso que ele a proibiu de entrar lá? Tinha medo que roubasse tudo?

Ela foi observando cada joia, estava maravilhada. Era dali que vinha então toda a riqueza infinita dele? Era dali que ele tirava tanto dinheiro? Joanne estava totalmente perdida nos brilhos das joias, mas algo a fez parar de olhar pra magnitude aquilo. Ela foi até a mesa e pegou na mão aquele simples livro, ela via que ele era muito velho. As páginas já estavam estufadas, a capa estava toda acabada. Virou o livro pra ver se tinha algo, mas por enquanto nada. Então decidiu abrir.

Sentou-se na cadeira e começou a dar várias folheadas no livro. Descobriu então que aquilo era um diário, era o diário de Morrice! No começo ela soltou uma risada silenciosa, achou engraçado o fato dele ter um diário. Quanta infantilidade dele. Um homem de cinquenta e sete anos escrevendo um diário?

Começou a ler. Tinha diversas coisas, contava realmente o que Morrice tinha vivido. Ela leu a viagem pra praia que teve com ele, tinha também escrito quando ele comprou um dos carros mais caros do mundo, tudo praticamente era relacionado a dinheiro e as riquezas dele, tudo o que ela já sabia. Decidiu então ler as coisas mais antigas, uma ponta de curiosidade surgiu quando ela pensou o que será que ele teria descrevido quando a conheceu? Quando a acolheu em sua casa? Procurou ali as informações de dez anos atrás. Foi aí que achou finalmente. Mas o que ela leria a seguir não seria algo agradável.

— Hoje foi um dia especial... – Começou a ler.

“Foi especial pois estava pensando que iria finalmente ficar pobre, isso me deixava desesperado por dentro. Não tinha mais de onde tirar minhas riquezas, isso estava me deixado doente, até mesmo de cama as vezes, como a vida é injusta! Mas graças a deus! Eu consegui uma nova fonte de dinheiro, que nunca vai acabar, tenho certeza. Fiquei sabendo que o senhor Dorian foi buscar uma quantia em dinheiro que lhe deviam, eu pensava que era pouco até ver ele carregando um saco marrom nas costas no meio da noite. Fui rapidamente atrás dele e com meu taco de baseball eu consegui o nocautear, infelizmente foi tão forte que o matei, felizmente na verdade. Quando abri o saco, me surpreendi. ERAM PEDRAS PRECIOSAS...”

Joanne ficou sem reação. Não conseguia mais ler nada daquilo. Estava perplexa. Seus olhos já estavam cheio de lagrimas. Ela sabia que Morrice não era lá uma flor que se cheirasse... Mas matar o pai dela? Ela nunca que imaginaria aquilo, nunca! Ela não sabia como processar aquela informação.

Girou a página e percebeu que aquelas pedras eram uma herança que seria dada ao seu pai! Ela viu na folha que Morrice teve a capacidade de guardar até mesmo a carta do banco que entregou as pedras ao seu pai, na carta falava que as pedras pertenciam a uma tal de Julieta e que o desejo dela era que essas pedras ficassem com o herdeiro mais próximo dela e esse herdeiro era seu pai. Por isso ele saiu de casa tão feliz aquele dia! Ele estava feliz que tudo mudaria de verdade...

Viu que a próxima página era sobre ela...

“Agora que a garota está órfão, preciso dar um jeito nela. Vou dar apoio a ela nesse momento difícil é quem sabe posso conseguir coisas mais quentes com ela? Não é mesmo? Estou de olho nela desde que completou doze an...”

Ela mal conseguiu terminar de ler. Queria vomitar! Que homem ela foi se casar? Que monstro era aquele? Ela estava com raiva, seu coração batia muito forte. Tão forte que ela podia sentir ele bater, chegava até mesmo doer! Ela fechou o livro, tentando de recuperar. Levantou da poltrona e respirou muito fundo. Ainda não acreditará em tudo que tinha lido. Olhou para todas as pedras, as pedras que pertencia ao seu pai! A sua família e não aquele gordo imundo!

Se virou até uma em especial. Um diamante diferente, ele era vermelho, pequeno e muito bonito. Era o menor dali, mas provavelmente era o mais valioso e mais caro de todos, observou com atenção e colocou entre seus seios, o escondendo. Iria levar aquele consigo. Tudo que ela sentia se junto e o que ela mais queria agora era uma vingança. Vingar seu pai. Se ela fosse uma bomba, teria explodido nesse exato momento.

Saiu rapidamente do escritório, fechou a porta devagar pra não fazer nenhum tipo de barulho. Foi até onde tinha deixado seu salto e os calçou, pegou sua bolsa e a colocou de lado e saiu do quarto caminhando pelo corredor. A festa estava acabando, o pessoal estava indo embora. Ela viu seu marido conversando com uns outros rapazes, foi até ele mantendo a calma e o sorriso. Relou no ombro do homem que se virou na hora.

— O que foi?

— Vou lhe comprar um presente, volto logo, tudo bem? – Joanne sorriu.

O homem abriu aquele sorriso amarelo ridículo que tinha e concordou que ela devia mesmo lhe comprar um presente, ela então saiu da mansão e foi lhe comprar um presente. O presente que vingaria tudo o que ela tinha visto, vingaria seu pai.

***

Joanne voltou horas depois, em suas mãos tinha um belo vinho. O mais caro, o mais valioso e o preferido de Morrice. Quando chegou o homem a recebeu com um abraço violento e um beijo extremamente nojento. A garota pediu que ele fosse para o quarto, esperasse que ela levaria o vinho pra eles brindarem mais um aniversário.

A verdade é que Joanne queria colocar veneno no vinho, mas não foi capaz de achar um na cidade. Foi até a cozinha e colocou vinho na primeira taça e depois na segunda. Ficou olhando para o vinho cor de sangue quando sua mente deu um grande estalo, como ela não tinha pensado nisso? Pode não dar certo, mas ela tinha de tentar! Não tinha mais nada a perder.

***

Chegou no quarto com as duas taças de vinho em sua mão. O marido estava em sua poltrona grandiosa e bela do quarto. Estava lendo o jornal quando ela chegou em sua frente sorrindo.

— Olá, querido.

Ele sorriu, deu um belo sorriso com aqueles dentes pobres que tinha. Joanne estava com nojo gigantesco do homem. Não conseguia mais ver o rosto dele, não conseguia mais aguentar o cheiro dele, o rosto dele, nada! Ela só o queria ver morto! Queria que ele pagasse por tudo que fez e que Deus a perdoasse.

— Ah! O melhor dos vinhos.

— Exatamente, meu amor! Quero que você vire a taça como sempre faz! Adoro ver que aguenta tomar o vinho sem se quer relar a boca na taça e não fazer nem pausa pra respirar.

Joanne sorriu ao falar isso. O homem retribuiu o sorriso com gratidão. Então ela foi até ele e tirou seus óculos banhados a ouro do rosto do homem.

— É claro, minha querida. Depois você irá pular em mim como nunca pulou antes!

E então ela entregou a taça para o homem, ele a pegou e fez um sinal de brinde para ela. E como ela tinha pedido, o homem ergueu a taça, inclinou a cabeça e virou com tudo o vinho. Ela observava e logo viu, um objeto brilhante deslizar pela taça e cair com tudo na boca do homem. Ele engasgou.

— Jo... Joan..!

Ele tentava gritar. Algo tinha entalado em sua garganta, o homem estava desesperado. Ele iria se inclinar pra baixo, na esperança de vomitar. Mas a garota se levantou rapidamente, deixando sua taça na mesa, ela foi com tudo pra cima do homem e o fez ficar imóvel, reto! Segurou a garganta dele a apertando, ela sentia o que tinha o engasgado, ela estava o mantendo lá.

O rosto do homem foi ficando roxo. Estava perdendo o ar, tentava se soltar da garota, mas ela estava mais forte que ele, talvez por causa da raiva, talvez por causa de todos os sentimentos. Foram longos minuto e então ele parou de lutar, seus braços caíram e seus olhos se reviraram, ela o soltou e ele tombou pro lado e depois de alguns outros minutos, o diamante vermelho caiu da boca do homem.

Joanne foi até o telefone.

— É da polícia? Meu marido foi morto...


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Notas finais do capítulo

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