Scorpius chegou ao final da carta com um suspiro. Palavras recheadas de carinho e amor em suas entrelinhas, fazendo-o perguntas sobre quem eram seus colegas de quarto ou o que estava achando de Hogwarts. Ao final da pagina, a tinta negra havia assinado elegantemente o nome de Draco Malfoy.

Mas Scorpius sabia. Astoria era a responsável por sua criação, por lhe dar carinho, por lhe dar amor. Era um acordo silencioso: seu pai entraria com o dinheiro, o trabalho e o conforto. E sua mãe... bom, era aquela que havia pedido um filho.

Ao menos, era isso que Scorpius achava — não conseguia imaginar o pai entusiasmado com a ideia de seu nascimento. Só podia deduzir que nascera por insistência da mãe. Mas não achava que, se perguntasse, receberia qualquer resposta. Draco Malfoy era o homem mais calado que já conhecera.

“Seu pai é um homem assombrado, querido” sua mãe lhe disse, quando Scorpius estivera particularmente irritado com a indiferença do pai. Scorpius tinha cinco anos e só queria que o pai brincasse consigo e ele era tão distante. Parecia que nem estava lá “Assombrado pela guerra.”

“E daí?” ele lembrava de gritar em resposta “os pais de todo mundo que eu conheço estiveram na guerra, e nenhum é como ele.”

Astoria era uma mulher muito calma. Foi muito estranho observar a sombra que recaiu sobre o rosto da mãe naquele momento.

“Nenhum deles lutou na guerra sabendo que lutava pelo lado errado.”

No fundo, Scorpius sabia. Sabia das coisas horríveis que o pai fora obrigado a fazer e das tragédias e barbaridades que vira. Sabia também que, a partir de certo ponto, tudo que o pai mais desejava era fugir de tudo aquilo. E sabia também que ele teve motivos para não fazê-lo.

Mas, mais no fundo ainda, Scorpius achava o pai um covarde.

Rasgou um pequeno pedaço de pergaminho, respondendo a longa carta com um bilhete.

“Diga a mamãe que tudo está bem”