Yesterday escrita por Taidee


Capítulo 1
Capítulo 1 – Frio Envolvente


Notas iniciais do capítulo

Essa história se passa em um universo paralelo em relação a Star Wars e ao nosso, por isso mistura um pouco dos elementos dos dois mundos. Espero que gostem *-*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/750957/chapter/1

“- A previsão do Tempo para o nordeste dos Estados Unidos nesse fim de semana é de – 30º para o estado de Massachusetts, e de – 32º para Vermont. Um dos invernos mais rigorosos dos últimos anos, segundo os especialistas. – Dizia a voz da mulher no rádio carregada de muita ênfase

— Jane, isso me faz lembrar as histórias do meu pai sobre aquele 30 de dezembro em Bloomfield, quando os termômetros registraram – 46º, ‘Um homem de Vermont precisa ser tão forte quanto seus invernos’, ele dizia.

— Sem dúvidas, Adam, o que nos faz lembrar de trazer um alerta para os viajantes de não se arriscarem pelas rodovias, principalmente os inexperientes...”

A garota rangeu os dentes, não pelo frio, mas pelos comentários no rádio, que repetiam informações dispensáveis, já que bastava olhar pelo para-brisas do carro que qualquer idiota perceberia a loucura que era pegar estrada naquelas condições. Trocou de estação procurando qualquer outra coisa que pudesse lhe trazer um pouco mais de animo, sabendo, no entanto, que a maioria das rádios estavam dedicadas a relatar os problemas causados pelas baixas temperaturas daquele inicio de ano.

Yesterday / Ontem

All my troubles seemed so far away /

Todos os meus problemas pareciam tão distantes

Parou quando ouviu os acordes de uma das suas músicas favoritas. A melodia soou de maneira reconfortante e calma a lembrando o porquê de ter decidido estar ali, mesmo com todas as previsões contrarias. Era o aniversário da morte de Han, e como costume dessa época sempre ia até Boston visitar o tumulo daquele que mesmo por um curto espaço de tempo tornou-se umas das pessoas mais importantes da sua vida.

Suddenly / De repente

I'm not half the man I used to be /

Eu não sou metade do homem que costumava ser

There's a shadow hanging over me /

Existe uma sombra pairando sobre mim

Sussurrou aquela letra tão conhecida, que embalou muitas das suas noites no passado. Mesmo tendo crescido nas ruas e amadurecido nos orfanatos, seu gosto pela arte era muito peculiar, pois enquanto outras meninas queriam saber daquilo que estava na moda, ela gostava de coisas mais antigas, como se tivesse nascido em uma época errada. Devia muito dessa influência a Maz Kanata, a pequena anciã que a acolheu em seu orfanato aos 9 anos de idade. Uma garota mirrada, suja e briguenta, com dificuldades de fazer amizades, que encontrou naquela senhora a sombra de um lar, seja pelo cheiro de café que ela possuía, ou pelos pequenos olhos escondidos por trás de grandes lentes que sempre lhe fitavam com sabedoria quando se sentia perdida em seus devaneios. Essa época era sempre carregada de lembranças, e por mais forte que ela normalmente fosse, sentia que precisava ficar sozinha para lidar consigo mesma. Visitar Han, era a forma que possuía de encarar a realidade e seguir em frente mais uma vez, desse modo nada no mundo a faria mudar de ideia sobre o que precisava fazer. O clima, não se colocariam entre aquilo que já tinha decidido, por isso estava ali, mesmo sabendo das dificuldades.

O carro avançava de maneira lenta, a pista estava congelando, e a neve estava começando a cair mais e mais forte. Sua frustração crescia, por não poder fazer nada mesmo com tanta determinação e o que menos queria era admitir que fora uma péssima ideia fazer aquela viagem de quase 4 horas. Tinha saído direto do trabalho para a estrada, o sol já avia sumido e a noite tomado lugar, em condições normais não teria nenhum problema em dirigir sem parar até seu destino final, pois normalmente a rodovia era bem movimentada, mas naquele dia era como se todos tivessem se enterrado em tocas de castores prontos para sair somente quando o inverno acabasse. Logo teria que estacionar em algum Motel por questões de segurança, mesmo que já tivesse extrapolado todas elas. No entanto, o GPS apontava opções que estavam muito longe, e avançar estava ficando praticamente impossível. Guiou o veículo até o acostamento, procurando alguma construção de beira de estrada que pudesse lhe acolher, depois de 5km conseguiu avistar uma pequena luz bruxuleante que parecia estar vindo de alguma cabana. Estacionou o carro, e agora parecia que uma nevasca cairia por toda a noite, olhou pelo vidro na esperança de ver se era uma boa ideia descer ali, e com muito esforço percebeu o que parecia ser uma fumaça saindo por alguma chaminé, decidiu descer de uma vez e pedir abrigo naquela residência. Guardou seu distintivo em um compartimento escondido do carro ao lado de sua arma, pois não poderia de maneira nenhuma ser percebida como uma agente do FBI. Colocou sua identidade falsa na mochila, e apenas um spray de pimenta escondido em sua cintura; qualquer um lhe tomaria por uma garota normal que só possuía bom senso em se prevenir de estranhos.

Ao trancar o carro, correu para a varanda do chalé, com o frio cortando suas bochechas que ficaram rapidamente rosadas. A Luz que tinha visto antes era de um lampião pendurado na parede que estava praticamente apagando; o interior da casa parecia escuro, e ela não se surpreenderia se fosse quem fosse que morasse ali estivesse dormindo. Bateu com todas as forças que tinha na porta, por mais rude que isso procedesse, pois, o frio estava ficando insuportável, mas não ouviu nenhum ruído... Bateu mais repetidas vezes, e estava pronta para arrombar a porta se não houvesse escutado o barulho de alguém vindo em sua direção destrancar uma fechadura. De dentro do recinto um jovem, com aparente mau humor e de cabelos compridos, a fitou com olhar de acusação, sem dizer nenhuma palavra e sem se mover um centímetro. Era óbvio que Rey estava ali com o objetivo de se proteger da nevasca, porém o rapaz parecia querer uma explicação para o que parecia ser uma das piores audácias que alguém poderia cometer.

Hã, desculpe o incomodo— tentou falar sem tremer o queixo – mas eu estava em uma viagem até Boston e não consigo mais prosseguir devido ao mau tempo— O rapaz continuava a olhando de forma penetrante, a analisando o máximo que podia – Eu sei que é inconveniente, mas haveria a possibilidade de passar a noite em sua cabana? - A Neve caia agora ferozmente, e por mais contragosto que ele possuísse, resolveu ceder ao pedido da jovem.

Tudo bem...— Respondeu secamente abrindo mais a porta para que ela entrasse. Dentro estava quase tudo escuro, a única iluminação vinha do que Rey confirmou ser mesmo uma chaminé que não parecia dar conta de tornar o ambiente menos frio. Pela penumbra era possível perceber que o local não era muito grande, porém era charmoso; a sala possuía um sofá com duas chaise coberto por mantas e almofadas, uma poltrona de couro com uma mesinha ao lado em que repousava uma garrafa de cerveja, e um tapete felpudo no chão. O que para ela pareceu naquelas condições um lugar muito melhor do que o esperado, exceto pela aura de solidão que o ambiente emanava.

Agradeço pela sua hospitalidade – falou depressa tentando sorrir, mas tremendo o queixo — me chamo Rey, senhor...

Ben.

Senhor Ben, é um prazer— respondeu estendendo suas mãos como cumprimento - Eu realmente sinto incomodá-lo, mas eu já estava com medo de sofrer algum tipo de acidente nessa estrada.

— Não se preocupe, é só que não estou acostumado com visitas. – O rapaz tentou soar menos hostil, apesar de estar aborrecido. Seu hábito há anos consistia em passar alguns dias recluso na sua cabana durante o mês de janeiro meditando, ou tentando meditar. Na verdade, esse era um momento em que seus demônios batiam a porta da sua mente tornando-o uma pessoa muito mais instável do que normalmente era, por isso ele se excluía de suas atividades, fazendo questão de não trazer ao conhecimento de ninguém o seu paradeiro, e obtendo sucesso em todas as suas tentativas. “Agora não”, pensou. Entretanto, parece que não teria muito como evitar aquela garota meio molhada, meio tremula na sua frente devido a nevasca que caia, seria pior se algo acontecesse com ela pelos arredores chamando atenção da mídia ou de curiosos para a sua propriedade. – Você pode pendurar seu casaco ali naquele cabide, minha cabana não possui quartos ou camas, mas o sofá é confortável — A moça sorriu e suas bochechas vermelhas ficaram mais evidentes. Não poderia deixa-la perceber quem realmente ele era, e correr riscos, apesar de não garantir que teria sucesso nisso.

Muito obrigada

***

Finn, Finn... O que eu já disse pra você meu amigo?— Falava um homem bonito com um largo sorriso no rosto batendo nas costas do seu colega – Se você fica muito atrás elas perdem o interesse...

Calado Poe, ou eu corto a sua língua— Respondeu Finn com um semblante zangado, o que parecia divertir mais o seu colega.

“Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens, e estará sujeita a...”

— Merda!

— Cara, relaxa! Eu te entendo, também quero saber noticias da Rey, mas vai por mim aquela dali sabe se cuidar muito bem... – Disse Poe abrindo a porta do seu apartamento seguido pelo seu amigo. Ambos cobertos de neve, e cheios de fome e frio. O dia tinha sido cansativo, principalmente pelo pouco avanço das investigações no caso de corrupção do governo e da falta de notícias de Rey.

Bipibipi Pu— De dentro do quarto um pequeno dróide vinha rolando, parecendo extremamente feliz com a chegada dos dois ao apartamento.

BB-8 amigo, como foi seu dia?

Tupitu pibipibitu

— Ah, eu sei que foi um saco ficar trancado aqui sozinho, mas você precisava descansar, é igual aquela vez que eu fiquei gripado você não lembra?

— Bibubepi Biiiii— respondeu o dróide zangado com uma gotinha de óleo escapando do que parecia ser seu rosto de robô, estendendo uma de suas garrinhas de ferro que seguravam um lenço para secar os constantes escapamentos.

Idai que eu fui trabalhar mesmo assim? Isso é porque eu sou mais resistente ao frio do que você

Bi puuu— Respondeu o dróide em tom de deboche

Olha essa boca BB-8!

Quieto vocês dois o celular dela tá chamando – Vociferou Finn que avia sentado no sofá e ainda estava concentrando nas suas tentativas de saber noticias de sua amiga.

Alô?

— Rey!— o jovem deu um salto do seu acento ficando de pé assim que escutou a voz da moça, o que fez Poe rolar os olhos e sorri com a tão explicita forma com que Finn demonstrava seus sentimentos – Graças a Deus, eu e Poe estávamos muito preocupados com a sua falta de notícias!

Alguns mais do que outros— Comentou Poe ironicamente, o que fez seu amigo lançar para ele um olhar de reprovação.

Estou bem Finn, não precisa se preocupar, eu consegui um abrigo pra ficar a noite e esperar a tempestade passar.

— Um abrigo? O que isso quer dizer? Que você está escondida em alguma caverna ou coisa do tipo?

— Não, em uma cabana. Não estou muito longe de Boston e estou segura, não se preocupe.

Por mais que Rey quisesse lhe fazer crer que estava tudo bem, o rapaz não podia deixar de sentir que deveria ter ido com ela nessa excursão, mesmo sabendo que ela preferia visitar o túmulo de Han Solo sozinha. O maior obstáculo para impedi-lo de acompanha-la, no entanto, avia sido as novas pistas que ligavam o novo candidato à Presidência, Snoke, a negócios ilegais, que demonstraram ter sido inúteis apesar disso. Se soubesse que as pistas não levariam a nada, teria viajado para Boston com a amiga mesmo sem o consentimento dela.

Por favor, me liga quando chegar lá

Os dois se despediram pelo telefone deixando um Finn meio frustrado por não poder fazer mais nada, porém aliviado por pelo menos ter escutado a voz da garota. Olhou envolta e viu que Poe estava saindo de dentro da cozinha carregando umas cervejas e guardanapos, para eles comerem a pizza que tinham trazido, seguido por BB-8 que segurava o que parecia ser um copo de óleo quentinho. Finn voltou a sentar no sofá junto com eles.

Isso tudo me lembra – comentou Poe pegando um pedaço de pizza— aquele filme “Tempestade de Gelo”, sabe... O frio, o contexto político, a tensão sexual...

Espero que você não queira dizer com isso que me acha parecido com o Tobey Maguire – Respondeu Finn levantando uma sobrancelha.

Ah, não... Que isso... o Tobey não é tão sexy quanto você— Brincou Poe desviando de uma almofada que seu amigo lançava na sua direção.

***

A Neve caia fortemente, e o barulho do vento dava a impressão que um tornado poderia surgir a qualquer momento, apesar da previsão não ter falado nada sobre essa possibilidade. Rey estava sentada no sofá enrolada na manta e tremendo de frio. A lareira emitia um pouco de calor, mas mesmo assim ela sentia que seus dedos estavam congelando. A sua esquerda, escutava alguns barulhos do seu anfitrião mexendo no armário, atrás de algum tipo de aquecedor. Ela não entendia muito bem como alguém poderia morar em um lugar tão frio e meio escuro quanto aquele, sem quarto, e sem nenhuma televisão ou internet.

Isso deve servir— Ele disse carregando uma escalfeta antiga até a lareira para colocar brasas, em seguida foi até o sofá para coloca-la ao lado da garota – Não se preocupe era assim que as pessoas aqueciam os lençóis antigamente – Completou sentando na poltrona de couro.

— Eu sei, usávamos algumas no lugar em que cresci, foi uma alegria quando conseguimos trocá-las por aquecedores elétricos— respondeu Rey, tentando ser simpática, mas sem obter resposta em troca. Estava intrigada com aquele rapaz, alguma coisa nele lhe parecia familiar, principalmente os olhos, lembravam os de Han talvez? Cogitou, para logo considerar que estava vendo coisas de mais. Devia ser a sensibilidade que essa época lhe trazia - Hã, você não parece que vem aqui com muita frequência – Insistiu em puxar assunto

Ele virou o olhar rapidamente para ela dizendo:

E Você não parece uma pessoa muito prudente saindo de carro no meio de uma nevasca.

Eu só quis dizer que não é muito comum pra alguém do seu perfil morar em uma cabana aparentemente tão isolado

— Isso é porque você é uma estranha que não sabe nada sobre mim, eu poderia muito bem ser um psicopata

— Você é sempre assim tão simpático?

— Não, só com visitantes inesperados... —  Ele respondeu deixando a garota irritada com os rumos que aquela conversa estava levando, a fazendo se sentir mais culpada do que já estava se sentindo. Apesar de que ele precisaria de muito mais para conseguir intimidá-la, mesmo sendo mais alto e mais forte, ela sabia que conseguiria derrubá-lo se quisesse, talvez até matar se ele realmente fosse um psicopata.   

Eu já pedi perdão pelo inconveniente tá legal? Só queria saber um pouco mais sobre você já que vamos dormir juntos.

O rapaz franziu a sobrancelha e o canto da sua boca curvou levemente pelo comentário feito por ela, levando-o acha-la uma pessoa mais intrigante ainda.

Eu não sabia que essas eram as suas intenções – ele respondeu, parecendo sério, mas na verdade começando a achar interessante os rumos que essa conversa estava tomando.

A garota se deu conta da ambiguidade do comentário que avia feito tão logo ele saiu da sua boca, se arrependendo logo em seguida.

Não foi isso que eu quis dizer— Falou tentando parecer brava e enojada com a situação, mas na verdade estava com vergonha e arrependida – Você mesmo disse que não tem camas aqui. Por isso achei que você dormiria no sofá também— ela foi levada a pensar isso pois, tinha certeza que era lá que ele dormiria se ela não estivesse ali, principalmente porque o sofá possuía duas chaises.

Você pode ficar tranquila, eu não tenho interesse nenhum em mulheres estranhas.

Rey estava pensando agora que talvez fosse mata-lo ele sendo ou não um psicopata.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O comentário feito pelo Poe sobre o filme Tempestade de Gelo foi totalmente casual e com o objetivo de implicar com o Finn, está história não tem qualquer relação com essa obra. Eu realmente espero que tenham gostado o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Yesterday" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.