POV Camila

Voltar para casa nas festas de fim de ano era o que me motivava a trabalhar tanto durante o ano inteiro. Desde que me mudei para NY por causa da minha faculdade, eu só via a minha família nas festas de final de ano. Durante o ano letivo eu dividia um apartamento em um bairro de classe média com a minha amiga Demi.  Nos aproximamos muito no primeiro período da faculdade por causa de uma música que ela estava ouvindo alto demais (era uma das minhas favoritas no momento) desde então, viramos melhores amigas.

Meu primeiro ano morando longe dos meus pais foi bem complicado, já que tive que aprender a me virar e uma hora para outra. A saudade era muito forte, mas morar “sozinha” tinha as suas vantagens. Depois das festas de faculdade Demi geralmente levava algum veterano lá para o apartamento ou simplesmente não voltava para casa. Se morássemos com os nossos pais, claramente coisas desse tipo não aconteceriam.

Eu sempre fui mais quieta, então não saía muito com os garotos da faculdade. Focava mais em manter minhas médias azuis e atuar no tempo livre. Demi dizia que tínhamos que aproveitar enquanto somos jovens. Ela já se decepcionou tanto no amor que hoje em dia prefere não se envolver sentimentalmente com ninguém, apenas fisicamente. Está aí uma coisa que eu tardei para entender.

Finalmente desci do ônibus (após 12h de viagem) segurando a minha mala e fui em direção a um ponto de táxi. Entrei em um e dei o endereço da minha família. Seria um caminho longo, então coloquei meu fone de ouvido e dei play na música de um menino da faculdade que fazia covers para o youtube. Eu tinha me apaixonado pela voz dele assim que a Demi me mandou um link dele cantando kiss me do Ed. Aproveitei para responder as mensagens que estavam pendentes no WhatsApp.

Demi: Mila, avisa quando chegar, estou preocupada

Mila: Já estou no taxi, fica tranquila

Demi: Está fazendo frio aí?

Mila: Bastante! Como estão as coisas por aí?

Demi: Estou fazendo biscoitos de forno com o Joe, combinamos de passar o natal juntos.

Mila: Mas e a sua família?

Demi: Maddie está na Diney com a mina mãe e Dallas vai passar com o noivo

Mila: Por que não avisou? Poderia ter vindo passar com a minha família

Demi: Não quero atrapalhar. E relaxa, estou me divertindo muito com o Joe rs

Mila: Juízo

A família da Demi era muito complicada, seus pais eram divorciados e sua irmã mais velha morava com o noivo. Desde que Demi entrou para a faculdade ela havia perdido o contato com a irmã mais velha e com o pai. Maddie e Diana, sua mãe, ainda escreviam para ela aos finais de semana.

Olhei para as outras conversas do wpp e fui respondendo.

Dinah: Mila, tá aí?

Mila: Tô sim

Dinah: vai fazer alguma coisa no ano novo?

Mila: Devo passar com a minha família, pq?

Dinah: Vai rolar uma festa dos veteranos na faculdade e eles me encarregaram de chamar alguns calouros. Quer que eu coloque o seu nome na lista?

Mila: Dá a minha vaga para alguém que possa ir... E mesmo assim, sabe que eu não curto muito essas festas, vou mais por causa da Demi.

Dinah: Está na hora de se divertir um pouco, não acha?

Mila: Quem sabe na próxima J

Parei de responder as pessoas no WhatsApp e resolvi relaxar ao som da voz do menino da faculdade. O motorista do taxi ficou o caminho inteiro perguntando se a temperatura do ar estava boa ou se a estação de rádio era agradável. Foi quase impossível de dormir. Minha primeira missão ao chegar em casa seria tomar um belo banho e dormir por 12h seguidas.

POV Demi

Tirei os biscoitos do forno e coloquei na bancada que estava repleta de guloseimas para o Natal. Joe estava fazendo um suco de uva que parecia estar delicioso. Eu tinha conhecido ele no campus da faculdade no meio do ano, mas nunca tinha dado bola. Ele insistiu tanto em me conhecer melhor que acabamos nos tornando amigos, e depois de algumas festas, acabamos ficando várias e várias vezes.

—Cara, eu acho que está faltando açúcar –Joe disse fazendo uma careta ao beber o suco

—Pega no armário de cima –Respondi enquanto colocava os biscoitos em um prato.

—Adivinha? –Fez uma cara de deboche –Acabou outra vez.

—Não é possível, eu comprei semana passada –Respondi bufando.

Me dirigi até o armário para conferir e o açúcar realmente tinha acabado. Respirei fundo e procurei no fundo do armário por um frasco de adoçante. Encontrei um que estava bem no final. Sorri e me virei para o Joe.

—Parece que seremos fitness nesse natal –Entrei o frasco de adoçante e ele me envolveu em seus braços.

—Você sempre tem uma carta na manga –Selou nossos lábios –Sabe o que eu mais gosto em você, loirinha?

—O que? –Me fiz de manhosa e mordi sua boca.

—Que você banca a durona, mas no fundo precisa de um carinho.

Me soltei de seus braços e fui em direção aos biscoitos. Eu odiava quando falavam sobre sentimentos comigo, ainda mais sobre os meus. Eu só tinha chamado Joe para passar o Natal comigo para suprir a falta que eu iria sentir da minha família.

—Falei algo errado? –Indagou dando uma golada no suco.

—Não –Me aproximei deixando nossos rostos a milímetros de distância –Mas convenhamos que você não sabe nada sobre mim, e é melhor que continue assim –Selei nossos lábios –Quer biscoito?