Esses últimos meses têm sido de muita tensão e correria dentro de casa. É que quando você se casa, a separação é uma coisa que não passa nem de relance na sua cabeça. E eu fui pega totalmente de surpresa quando comecei a descobrir algumas pistas de traição do Jorge: eu me vi louca! Louca da Silva com 33 anos, dois filhos para criar e um casamento em pedaços. O motivo? Uma menina de 19 anos que ele conheceu no Bola Show— Jorge frequentava o Bola Show praticamente duas ou três vezes por semana, e não era para eu ficar tão surpresa assim ao descobrir que ele ia encontrar-se com uma tal de Laura. Ah! Isso eu descobri bem depois, viu? Depois de muita investigação. Na verdade não tinha nenhuma Laura na lista de contatos do celular dele... Mas tinha um número que ligava praticamente o dia inteiro e que fazia o Jorge se isolar de quem tivesse por perto para atender a esse telefonema. Será que ele queria que eu não desconfiasse? Eu desconfiei! E um dia, ele estava no banheiro quando o celular tocou no braço do sofá. Não deu tempo atender... Mas consegui ler o nome no visor: Júlio César da oficina. A partir daquele dia a pulga que já tava atrás da minha orelha se proliferou e eu comecei a prestar atenção em tudo o que Jorge fazia. Em tudo! Comecei a fazer mapa mental e lembrei que perto do banco em que ele trabalha – ele é gerente da agência Bradesco— tinha uma rua com várias oficinas e casas de peças. Eu juro a vocês que numa quinta-feira à tarde, quando terminei de encaminhar as redações pra editora em que trabalho – meu emprego é de Salvador, mas eu conseguia fazer tudo em Coité para deixar meus filhos crescendo no interior –, eu estacionei o meu carro nessa rua e entrei de oficina em oficina, procurando o tal Júlio César. Quando não havia, perguntava qual oficina tinha um Júlio César. Achei um Júlio. Devia ter uns 14 anos e quando eu perguntei se Jorge tinha deixado uma peça lá para que eu pegasse, ele me afirmou que não tem nenhum cliente Jorge-que-trabalha-no-banco: foi assim que eu descrevi o meu marido. Ex-marido. Falar assim hoje me conforta. É tranquilizador.

Depois desse dia eu imaginei ser coisa da minha cabeça... Achei que eu tava ciumenta demais e resolvi parar. Eu parei. As ligações não. Sabe o que foi mais estranho? Ele não querer levar o Luca junto com ele pra partida de sexta-feira à noite. Ahhhhh... Eu tinha que seguir o Jorge.

A semana se passou e na outra sexta-feira 17h da tarde ele estava calçando as chuteiras no quarto pra ir pro Bola Show e eu já estava com a chave de um Onix que eu tinha alugado pra ver onde era que ele ia. Pedi pra minha única irmã, Lavínia, levar a Gabi e o Luca pra casa dela bem mais cedo e só trazer quando eu ligasse pra ela. Eles tinham costume de dormir lá, tinham um vínculo muito forte com ela e com o filho dela, Luan, e então nem acharam esquisito. Eu estava livre e ao mesmo tempo cheia de raiva atrás de um homem que eu não conseguia confiar nem no ‘bom dia’ que ele me dava. Não me chamem de louca: mas eu segui o Jorge com muita cautela e filmei o momento em que ele entrou no edifício Babilônia. Minhas mãos tremiam muito, mas ainda não era uma prova tão concreta assim. Eu sabia que Jorge não conhecia nenhum morador dali, e se conhecesse, por mais que fosse uma visita demorada, ele não ia colocar o carro no estacionamento dos moradores. Eu não podia entrar, então voltei pra casa. Antes, fui devolver o carro e o dono da loja de carros ainda me fez o maior favor me deixando na casa de Lavínia. Eu estava uma pilha de nervos e não podia contar nada pra ninguém ainda. Só peguei Gabi e Luca e fui pra casa. Não consegui dormir direito e não demorou para que eu fosse atrás do síndico. Eu tinha que puxar alguma informação! E consegui! Consegui as faturas de pagamento de aluguel de SEIS meses com a assinatura de Jorge, mas o síndico disse com todas as letras que ‘quem mora no 201 era um casal: Jorge e Laura’. Eu voltei pra casa sem chão... E foi nessa mesma semana que eu surpreendi Jorge com o pedido de divórcio em mãos.

Acreditam que ele ainda teve a cara lisa de dizer que era mentira? Perguntou quem havia me contado uma barbaridade dessas e aí eu disse que ninguém tinha me contado. Eu tinha visto! As provas foram pro tribunal e a divisão de bens foi feita juntamente com os adicionais de danos morais pela traição ter se tornada pública e notória. 

E estamos aí... A primeira coisa que eu organizei foi essa mudança e espero não ter que voltar pra aquele cafajeste nunca mais na minha vida.

Hoje era o primeiro dia da minha paz de vida longe do Jorge e eu não queria me estressar com coisas bobas em momento algum. Foi por isso que não fui contra a escolha da Gabi em passar o réveillon na casa da amiga.

Sei que vocês até podem estar enjoados do meu monólogo, mas contar de um amor antigo faz mal? Não, né? Então... Jonas foi o meu primeiro namorado. Só que nós não nos levávamos a sério e vivíamos brigando... E foi numa dessas brigas que saiu uma conversa de que Catharina, uma menina de lá, estava grávida dele. E aí o amor acabou quando Jonas assinou o papel daquele casamento e passou a ser pai e deixou de ser o moleque que não perdia uma festa sequer. Eu tentei levar a vida e mais ou menos um ano depois eu também estava grávida da Gabriela. Casei com o Jorge, estudei, me formei, convivi com ele durante esses quase 17 anos e agora estou solteira de novo.

Foi inevitável sentir um arrepio na espinha só de imaginar a minha filha tão presente assim na família do Jonas. Ela e Lari sempre foram muito amigas, mas Gabi teve pouco contato com Eduardo e com ele – e foi um contato bem conturbado com aquelas briguinhas de escola. Todo dia era uma reclamação em cima desse garoto – e eu tive paz quando Jonas largou tudo pra trás e veio embora pra Salvador. Eu deixei a Gabi nas mãos do Eduardo e agora eu, definitivamente, não sei o que vai acontecer daqui pra frente.

Essa foto eu não consegui me desfazer. Jonas sempre foi muito especial. Na verdade eu ainda não consegui me desfazer de muitas lembranças com ele...