Papeis, livros, eu-lírico e eu te amo escrita por Tia Lina


Capítulo 6
Maximalista e Desorganizado


Notas iniciais do capítulo

Oláááááááá, enfermeira! Tudo bem com vocês? Confesso que gosto deste capítulo e eu nem sei dizer ao certo o motivo, só espero que gostem tbm, então

BoA leitura ^^

P.S.: Fiz um esquema do quarto do Steve para facilitar a imaginação (link lá nas NF)



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— E como foi o aniversário dos seus pais?

— Igual a todos os outros anos. – Bucky deu de ombros.

— Eles sempre fazem a mesma coisa todos os anos? – Steve uniu as sobrancelhas.

— Meus pais levam uma vida agitada e fora de rotina. – Deu de ombros novamente. – Quando meu pai decidiu ser o seu próprio chefe, há quinze anos, também abdicou de muita coisa. Nós acabamos nos acostumando com isso, foi o trabalho que ele mesmo escolheu, mas isso não o deixa com tempo muito disponível para minha mãe e eu, portanto eles preferem repetir esse jantar religiosamente em todo aniversário de casamento para se lembrarem que sempre haverá alguém do outro lado da porta para recepcioná-los. Sei lá, é meio fantasioso demais até mesmo para mim, mas, como disse anteriormente, têm funcionado por vinte anos, talvez eu não entenda nada disso.

— Nós só temos dezessete anos, não precisamos nos preocupar com nada disso agora, a ciência diz que vamos viver para sempre.

— Qual ciência? – Bucky uniu as sobrancelhas.

— A ciência das nossas mentes rebeldes e inconsequentes. – Steve riu. – Vem, vamos subir para o meu quarto, precisamos terminar logo esse trabalho.

Bucky o acompanhou de perto, não deixando de analisar as fotos espalhadas pela casa. Ao contrário da sua, a casa de Steve tinha um ar aconchegante e familiar, talvez fosse a isso que as pessoas se referiam quando diziam “meu lar”, não que Bucky se sentisse um estranho em sua própria casa, mas sua família quase não parava por lá, o que a deixava estúpida e milimetricamente organizada o tempo todo. Até as poucas fotos espalhadas pela sala pareciam pertencer a outras pessoas.

A casa de Steve, por outro lado, parecia berrar “aqui é moradia de uma família feliz e completa” e Bucky pensava que seria acolhedor morar ali. Ele desejou poder passar uns dias naquele lugar, visitando cada um dos cômodos, só para absorver um pouquinho daquela bagunça gostosa e quente.

E da mesma forma como a casa lhe pareceu agradável, o quarto de Steve também o era. Pouco menor que o seu e muito mais decorado, ele não trazia aquela calmaria quase insipida que o seu. Alguns cartazes de filmes de décadas passadas enfeitavam o lugar e suas duas estantes dividiam espaços apertados entre livros e CDs. Havia uma mesa de computador com alguns cadernos e anotações espalhados aqui e ali no canto do cômodo e na cama, um amontoado de roupas. Bucky queria tanto poder dar ao seu próprio quarto aquele ar de adolescência descuidada, mas quando estava lá, passava muito tempo jogado em sua cama, lendo algum dos seus livros.

— Por favor, não repara nessa bagunça hedionda, meu quarto não é tão organizado quanto o seu. – E lá estava ela. Aquela mão grande e bonita coçando sua nuca outra vez. Bucky riu soprado e negou com a cabeça.

— Não se incomode, eu gostei mais do seu quarto do que gosto do meu.

— Sério? – Steve uniu as sobrancelhas.

— Meu quarto é extremamente chato e vazio, o seu parece ter alguma vida morando nele. Eu gostei, é bem mais aconchegante aqui.

— Tem certeza de que não é um efeito colateral dos meus waflle? – Ele utilizou um tom brincalhão.

— Garanto a você que não. – Bucky riu soprado. – Então? Cadê a sua parte para que eu leia enquanto você lê a minha?

— No meu computador. – Apontou para a máquina. – Pode se sentar na cadeira, eu me ajeito aqui na cama mesmo.

Bucky retirou o seu notebook da mochila, o ligou e o entregou ao Rogers, depois se sentou na cadeira indicada por ele. O arquivo era o único em seu desktop, ele o abriu e se concentrou em sua leitura. Steve retirou as roupas do lado escolhido para se sentar e as amontoou ao pé da cama, colocou o notebook de Barnes no colo e sorriu levemente quando viu que a tela de fundo era um livro aberto. Olhou de relance para o moreno, que parecia entretido demais no que fazia para desviar a sua atenção para qualquer outro lugar.

Por que Steve nunca notara que o Barnes sempre se concentrava tanto assim quando estava realizando alguma leitura? Era adorável a forma como ele parecia entrar num universo particular e impenetrável, adorável era também a forma como suas sobrancelhas se uniam e seus lábios formavam um bico involuntário, Steve percebera isso da última vez em que parara para observá-lo. Sorriu mais uma vez para as costas do garoto antes de abrir o arquivo que ele lhe indicou e se dedicar à leitura. O silêncio era rei naquele quarto, os dois pareciam preocupados demais com suas próprias tarefas para prestarem atenção em qualquer outra coisa, então esse momento se dissipou quando Bucky encarou o loiro.

— Steve? – Chamou baixinho, observando o loiro erguer os olhos vagarosamente em sua direção, como se despertasse aos poucos de seu torpor até focalizar em seus olhos. – Você quer reler A Megera Domada?

Steve uniu as sobrancelhas e permaneceu um tempo em silêncio, apenas observando o moreno sem entender o que ele queria dizer com aquilo. Havia algo de errado em seu texto? Alguma falha? Algum equívoco quanto ao enredo e personagens? Bucky, percebendo a confusão nos olhos do loiro, começou a se explicar.

— Não precisa ficar consternado, é natural fazer exatamente essa análise na primeira vez que se lê esse livro, eu também fiz isso, por isso precisei reler para compreender o que é que o autor queria dizer. Você quer reler?

— Eu ainda não entendi o que quer dizer, Bucky. – Steve deixou o notebook de lado e caminhou até a mesinha de seu computador, ficando em pé ao lado do moreno.

Tentou ler o seu próprio texto, mas precisou se aproximar mais para conseguir, por isso projetou o seu corpo para baixo, apoiando uma das mãos na mesa e a outra no encosto da cadeira onde o Barnes estava sentado. Steve passou os olhos rapidamente no trecho que o outro estava lendo e uniu as sobrancelhas, encarando o moreno.

— Eu realmente não entendi o que quer dizer.

— Eu posso explicar, se não quiser reler. Na verdade, para mim tanto faz, desde que tenha uma compreensão adequada do texto e do que ele representa.

O Rogers ficou tentado a dizer que preferia reler o livro quantas vezes fossem necessárias até compreender, porém, por algum motivo, decidiu que queria ouvi-lo falar mais, gostava quando ele falava, principalmente quando era um assunto do qual ele parecia gostar tanto.

— Você poderia me explicar, por favor? – Steve se sentou ao pé de sua cama, o que fez com que Barnes virasse a cadeira completamente em sua direção. – Depois você me devolve o livro para que releia e tente enxergar com outros olhos, que tal?

— Muito bem. – Bucky suspirou com satisfação. – A primeira coisa que precisa ter em mente quando for ler A Megera Domada é que a obra foi escrita na Inglaterra do final do século XVI, mas é baseada em duas obras italianas da metade deste mesmo século. Independentemente de datas e autorias, outra característica fundamental que se deve ter em mente é que os casamentos da época eram realizados puramente por interesse político. As famílias se uniam para aumentar as posses ou manter aliados em conquistas. Conseguiu visualizar o contexto histórico? – Steve aquiesceu, era fascinante ouvi-lo falar, precisava admitir. Ainda mais fascinante quando ele realmente entendia o assunto. – Pois bem, tendo isso em mente, voltemos à obra e ao seu autor.

Bucky tomou fôlego e passou a mão nos cabelos, num gesto automático para tirar alguns fios que caíam em seu rosto, mas o loiro não conseguiu deixar de achar admirável. Steve quase sorriu com isso, mas achou melhor que deveria se manter sério enquanto Bucky falava, não queria dar motivos para desencorajá-lo.

— Shakespeare era fascinado pela Rainha Elizabeth I, principalmente porque ela reinava sobre a Inglaterra sem uma figura masculina ao lado. Alguns estudiosos dizem que Catarina foi inspirada nela, pela determinação e desafios que estabeleceu aos costumes obsoletos da Idade Média. Indagações à parte, também é preciso ter em mente que Shakespeare escrevia peças contestadoras, repletas de personagens e diálogos irônicos. Se prestar atenção nos diálogos de Catarina, do início ao fim, perceberá que a ironia é sua maior aliada. Honestamente, não acredito que exista um personagem mais irônico que Catarina nas obras de Shakespeare, mas a minha opinião e meu gosto pessoal não contam de nada nesse trabalho. – Deu de ombros, empertigando-se na cadeira conforme se empolgava. – O ponto é, se você interpretar A Megera Domada com a visão superficial que se faz do último discurso de Catarina, corre-se o risco de perder toda a riqueza da personagem e das indagações que ela impõe.

— Entendo o seu ponto, mas não é meio óbvio que ela se deixou “domesticar” como Petruchio nos deixa saber ao final? – Bucky sorriu de viés.

— E é justamente aí que se esconde a parte mais interessante sobre essa obra, Steve. – Bucky tomou um longo suspiro antes de continuar. – Sabendo que Shakespeare era grande fã de Elizbeth I pelas opiniões fortes, sabendo que Catarina é irônica do início ao fim em seus diálogos e sabendo que Shakespeare fazia uso de sua ironia para fazer críticas sociais, não é errado interpretarmos de uma maneira óbvia essa peça só porque um dos personagens se convenceu disso?

— Mas, Bucky, ela fez exatamente o que ele queria, eu ainda não entendo o seu ponto. – Steve uniu as sobrancelhas e cruzou os braços.

— Steve, o que é que a Catarina queria? – Ele questionou.

— Ela queria liberdade, o que, por acaso, ela perdeu quando se casou.

— Não, você está sendo literal novamente, eu vou perguntar de novo. O que a Catarina queria, Steve?

— Eu não faço a menor ideia. – Suspirou derrotado.

— Ela queria ser tratada da mesma maneira com a qual o pai tratava Bianca. Queria não ter que “vestir o personagem da megera intragável” para ter seus desejos realizados, mas sim que as pessoas realizassem seus desejos porque gostavam dela. E tendo essa informação, eu faço uma nova pergunta. Ela não conseguiu exatamente o que ela queria ao final do livro?

— De certa maneira, sim. – Ele deu de ombros. – Mas ela ainda se casou. – Ele riu soprado quando Steve formou um bico descontente.

— Tudo bem, Steve, para não se sentir mal, você não está de todo errado. O que ela queria mais que tudo era sua liberdade e poder tomar suas decisões por si só, mas estamos falando do século XVI e ela não era a rainha da Inglaterra, infelizmente era obrigada a seguir as regras sociais, ela acabou percebendo isso antes de se casar. – Bucky sorriu de leve. – Concluindo a minha explicação, se ela conseguiu exatamente o que ela queria sem que ninguém suspeitasse de que estavam realizando todos os seus desejos, a pergunta que deveria manter em mente enquanto fala sobre A Megera Domada é “quem domou quem afinal de contas?”

Steve ficou um momento parado, apenas observando Bucky após ele ter se calado. Ele não sabia exatamente de onde saíra aquela paixão que ele trazia no olhar enquanto falava sobre uma obra de mais de 600 anos, só sabia que gostara dela e que queria vê-la mais vezes, porque os olhos verdes do Barnes assumiam um brilho encantador enquanto falava. Steve sabia que teria que ler e reler essa obra, pelo menos, mais umas três vezes para enxergar tudo aquilo, e não ajudava em nada se tratar de uma peça de teatro, mas ele faria exatamente isso se fosse preciso. O loiro sorriu levemente ao perceber outra coisa durante toda aquela explicação apaixonada do Barnes.

— Eu acho que estou sob um efeito dos meus waffle.

— O quê? – Bucky uniu as sobrancelhas, sem entender nada.

— Eu só estava pensando em como é fascinante você saber tudo isso. – Steve sorriu um pouco mais largo e Bucky teve a certeza de que derreteria completamente até o final daquele dia.


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Notas finais do capítulo

https://twitter.com/GoliaSalles/status/956253412437438467

Quem aí quer um Bucky desesperadamente? o/

Alguém mais?

Amoras lindas da tia Lina, antes de me despedir, eu queria fazer uma pequena enquete com vocês. Estava pensando com meus botões e queria muito (bota muito nessa frase) escrever algo com Loki. É um dos personagens que mais gosto e eu não consigo parar de pensar em uma cena com ele. Cena essa que não cabe aqui e nem em Toská, porque é uma cena na qual ele é protagonista. Enfim... Nessa minha aventura, eu tenho o personagem do Loki todo estruturado e boa parte dos cenários também, o que eu não tenho são os outros personagens. Por isso queria saber de vocês se têm alguma sugestão pra mim ^^ Fico no aguardo da opinião sincera de vocês. Ah, sim, essa seria uma história que postaria às sextas-feiras ^^

Obrigada pela companhia e até segunda ♥



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