— Ei! — diz Patterson se aproximando do homem na sacada, concentrado em ponto qualquer ao longe. — O que está fazendo aqui?

—  Nada. — responde Roman se virando para olhar para ela. — Na verdade, percebendo que  eu não tenho muito parâmetro para natal. E também não me lembro de ter uma tradição para cumprir, por exemplo.

— Imagino que Shepherd não era a maior preocupada com datas comemorativas, não é? — Patterson encosta no parapeito da sacada, cruzando os braços e fitando a porta da sala, vendo pelas frestas da cortina o time todo reunido com os preparativos da noite de natal, conversando e rindo enquanto comem e bebem.

— Não. — Roman sorri de leve, mas no fundo era possível ver um tom de tristeza nele. — Os únicos natais de que me lembro, Jane e eu éramos crianças. No último tínhamos 7 anos. Ela comprou um presente para cada e entregou em um embrulho simples. Sem cerimônia nenhuma, depois de jantarmos no mesmo horário de sempre.

— Acho que ela não entendia muito de natais. — diz Patterson com as sobrancelhas unidas e um sorriso sem graça no rosto, até que sua expressão muda e seu sorriso se amplia.

— O que?  

— Vamos dar um jeito nisso.

— Como assim? — pergunta Roman observando-a pelo canto do olho, e terminando por sorrir também imaginando o que estava se passando pela cabeça dela. O sorriso de Patterson se amplia deixando claro que teve alguma ideia, já tem um plano todo traçado e que não vai aceitar não como resposta, e Roman sabe disso.

— Vem. —  Patterson estende a mão para ele. — Vamos fazer uma tradição de natal para você.

— Você está falando sério? — Ele a olha interrogativamente, sem acreditar no que ela estava propondo mas estende a mão, deixando-a no ar antes de colocá-la na dela.

— Espera um segundo.

Ela corre até a porta e entra. Cerca de 2 minutos depois ela volta com seu celular e algum dinheiro na mão.

— Pronto, vamos.

Sem mais esperar, Patterson pega a mão dele e o puxa em direção à escada externa de emergência.

* * * *

— Fecha os olhos! — exclamo pela milésima vez no curto trajeto desde que saímos da casa da Jane. — Não é para olhar.

— Eu quero saber para onde estamos indo. — pergunta ele ansioso, também pela milésima vez.

— Você vai ver quando chegarmos. — digo tentando soar séria e conter minha própria ansiedade.

— Patterson...

— Shhhhhh! — digo pegando rapidamente a mão dele que ia em direção à venda que eu havia improvisado com um lenço que estava usando. Ambos rimos, e eu sou obrigada a segurar a mão dele o trajeto todo para impedir que ele tire o lenço e estrague o meu plano. — Para de ser teimoso. Você fica parecendo uma criança, sabia?

— Será porque você está me tratando como uma? — ele ri balançando a cabeça para fazer o lenço cair.

— Então vou contar para a sua irmã mais velha e dizer que você está se comportando mal. — digo tentando controlar o riso e soar séria.

Ele para fingindo ter desistido de tirar a venda, mas de repente tenta driblar a minha mão. Felizmente sou mais rápida e seguro a dele com uma das minhas e o lenço com a outra.

Derrotado, Roman ri finalmente cedendo e relaxando no banco do táxi, mantendo um sorriso no rosto durante todo o trajeto. Uma criança curiosa e agoniada por estar vendada e sem saber para onde está indo. Sorrio balançando a cabeça ainda segurando suas mãos para o caso de ele tentar qualquer coisa.

Por sorte o trajeto é curto, e logo chegamos ao nosso destino.

* * * *

A decoração natalina conseguia deixar tudo ainda mais mágico. Luzes brilhando em todos os lugares, conferindo um brilho branco à coisas que em outros tempos passariam despercebidas, enchem os olhos e fazem um sorriso nascer involuntariamente nos lábios de qualquer um.

E é exatamente essa expressão que vejo em Roman assim que tiro o lenço de seus olhos.

Parados na entrada do parque de diversões, bem no corredor principal, temos uma visão incrível de boa parte do lugar. Nos cantos, as lojinhas e exibem cordões natalinos com enfeites. As portas carregam guirlandas e nos telhadinhos, uma falsa neve feita com feltro completa a decoração, já que ainda não havia nevado muito.

Mordo meu lábio sem conseguir conter a emoção por vê-lo tão maravilhado. Os olhos dele brilham, observando e absorvendo tudo, encantado. Um boneco de neve falso em cima de uma das lojas de cachecóis chama a atenção dele e Roman sorri.

— Acho que eu nunca estive em um parque de diversões antes. — diz ele ainda sem nem conseguir desviar os olhos das luzes.

— Todo mundo deve ter memória de um dia ou noite no parque. — digo sorrindo. — E é isso que estamos fazendo hoje.

Pela primeira vez desde que chegamos, ele me olha. Seus olhos verdes se fixam nos meus e eu posso jurar que a felicidade contida neles, era a minha também por estar proporcionando algo assim a ele.

— E então, o que vem primeiro? — questiona ele sorrindo, empolgado para explorar o parque.

Estendo a mão para ele sem dizer nada e ele a pega ainda absorto pelo parque.  

— Primeiro precisamos de um algodão doce. — digo visualizando não muito longe um carrinho vendendo. — Vem.