Across The Frontline escrita por overexposedxx


Capítulo 27
Capítulo 27 - Pequenas Grandes Conquistas




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Os dias passaram e, embora a volta gradativa das memórias trouxesse mais alívio e esclarecimento a cada dia, Emmett não tivera tanta sorte com a parte de sua cabeça que deveria lembrar-se mais claramente de Rosalie quando criança - e isso, para dizer a verdade, o incomodava grandemente. 

É verdade, ele ainda não se lembrava por completo de nenhum dos Cullen - e isso o perturbava em certa medida também. Mas, desde o dia em que haviam tido aquela conversa, quando pudera se lembrar das coisas mais gerais sobre eles, - do caminho com sua mãe para aquela grande casa onde ela passava roupas; da vista ainda maior que, como criança, tivera daquele jardim no que pareciam muitas tardes brincando; das silhuetas de Carlisle e Esme anos mais novos e a de um garoto que deveria ser Jasper -, os detalhes sobre eles em suas lembranças haviam amadurecido, ficando mais nítidos e vívidos, e permitindo que até mesmo contasse à família partes de memórias que haviam despertado para que eles a completassem com felicidade. 

O que, então, era um grande progresso em vista do que tinha sobre Rosalie em meio a todas essas coisas: lembrar-se de ouvir seu nome dito por um dos outros em algumas das lembranças.

Ou seja, um grande nada - Emmett achava. 

Mas, ele conteve sua ansiedade e, seguindo as palavras de Carlisle e Esme na mesma conversa de dias atrás - que sugeria que sua cabeça, contra todos os seus instintos e vontades, sempre soubera o que lhe era suportável e adequado em cada momento -, deixou de insistir tanto quanto pôde naquela tarefa exaustiva, confortando a si mesmo na expectativa da terapia daquela semana, e ocupando-se com a arrumação e papelada que faltavam para estar, de fato, inscrito na Academia das Forças Aéreas de Washington - depois do que passaria pelos testes de ingresso. 

Rosalie, por sua vez, já estava de volta ao estado normal com os pais, depois do estresse de dias atrás que havia seguido a conversa esclarecedora sobre Emmett, com todos presentes: é claro que ainda haviam coisas em sua cabeça que não exatamente haviam desaparecido desde então e que eram realmente, de alguma forma, inevitáveis, agora que pegava a si mesma envolvida naquele assunto e tentativa assim como Emmett, tentando lembrar de detalhes e dias de sua infância que o envolvessem. 

Mas, pelo desfecho que a conversa havia tido, a postura compreensiva que Emmett, que teria o mais justo e único direito de guardar algum remorso, havia assumido depois deste, e também por saber que ele não deveria ter que se preocupar com coisa alguma agora que estava se organizando com as coisas da Aeronáutica, Rosalie fizera o seu melhor para deixar aquelas ideias de lado - ao menos em voz alta. 

O que permanecera até que fosse chegado o dia da terapia semanal de Emmett e ele, após o intervalo de almoço que os dois haviam compartilhado, parecera pensativo demais para que ela simplesmente não dissesse nada ou tentasse distraí-lo, como de costume nos últimos dias.

Rosalie e ele estavam a poucos metros da porta de entrada da Cullen's, caminhando pela calçada larga sob a sombra breve de algumas árvores e lado a lado, com mãos que oscilavam para perto e longe conforme andavam, fazendo cócegas e desenhos invisíveis no dorso de suas mãos. Havia uma brisa leve diante do Sol de verão à pino que jogava para trás os cabelos da loira e o paletó do veterano, e remexia as folhas nas árvores, causando um farfalhar agradável. 

E essas teriam sido muitas coisas boas para se apreciar, como Rosalie tentava fazer, se não fosse a forma como Emmett parecia olhar para todas as coisas ao redor sem perceber nenhuma delas, a não ser a mão direita enfaixada que repousava na tala feita por Carlisle há dias.

—O que foi? - ela perguntou, enfim, não suportando a dúvida, e recebeu o olhar de repente desperto e confuso de Emmett no seu. - Com a mão. Tem algo de errado? Você está olhando pra ela a toda hora.

—Ah, isso? Não, tudo bem. - ele respondeu na mesma hora, olhando de relance para a mão e negando com a cabeça. - Só está incomodando um pouco, ficar com ela tão parada por tantos dias.  

—Hum, certo. - Rosalie desconfiou, arqueando uma sobrancelha antes de continuar olhando para a frente por alguns segundos de silêncio, quando preferiu insistir.  - Então, não está doendo? - e fez uma pausa, mas sem dar tempo para uma resposta. - Porque seria compreensível se estivesse. Afinal, essa é a mão que parece estar sempre metida em encrenca. - e olhou brevemente para a mão enfaixada dele, com um semblante impressionado de que o veterano, assentindo com um sorriso, achou graça.

—Parece mesmo, não? - ele riu com leveza, fitando a loira de relance, que não pôde evitar de rir enquanto assentia. - E sempre sendo salva por um de vocês. - e acrescentou, com um meio sorriso sincero, enquanto segurava a porta de entrada do prédio aberta para que Rosalie entrasse por ela primeiro.

A filha do meio dos Cullen, por sua vez, apenas estreitou os olhos para ele e negou com a cabeça como resposta, embora incapaz de evitar o sorriso que lhe veio à vista do rosto dele, que assumiu de volta o lugar ao seu lado enquanto andavam até o elevador.

—Como está se sentindo? - Rosalie quis saber, uma vez que estavam apenas os dois, finalmente, dentro do elevador. Emmett tentou relaxar os ombros enquanto olhava para as portas fechadas.

—Um pouco melhor, eu acho. - ele suspirou, cedendo um pouco com a cabeça. - Mas, é confuso ainda. Quero dizer, aliviou alguma coisa saber de tudo o que eles contaram, partes de que eu sentia falta e eu nem sabia. Mas, ainda não me lembro de tudo nitidamente, então não é o sentimento completo, sabe? - e então gesticulou, na ansiedade de demonstrar o que dizia, ao que Rosalie assentiu lentamente. - E também, há um pouco de raiva, ou algo do tipo, por ter me esquecido de vocês. Teria mudado bastante coisa ter me lembrado, ou ficar sabendo.

—É, eu sei. - Rosalie assentiu mais uma vez, unindo as mãos à frente do corpo, e pensou bastante antes de confessar. - Eu disse isso a eles também. Nós poderíamos ter conhecido um ao outro bem antes, por exemplo. - e então baixou a voz. - Talvez, ter estado juntos antes também.

—Ah, disso eu não sei, Rose. - ele contrapôs, sob um suspiro e cenho franzido, intrigando a loira, que teve de esperar até que atravessassem o centro do andar em direção à sua sala, para ouvir o restante do que ele queria dizer. 

—Acho que as chances de nos encontrarmos dessa maneira, mesmo mantendo contato, poderiam não ter sido grandes assim. - ele disse baixo assim que chegaram à porta, e fez uma pausa até que entrassem. - Você era uma pessoa diferente, não? - com isso, Rosalie deu um meio aceno, contrariada.

— Sim, e eu também. Muito imaturo boa parte das vezes, e especialmente com relacionamentos. - Emmett emendou, quase rindo consigo mesmo, mas também com alguma vergonha que o fez negar com a cabeça. - E você, acho que já estava um pouco mudada quando cheguei aqui, mas antes de se casar...? - ele quis sugerir, arqueando uma sobrancelha enquanto se sentava. 

—É, eu era um pouco... - Rosalie começou, ainda contrariada, e erguendo as sobrancelhas, deu de ombros. - Bem, um pouco teatral e talvez exigente demais, e um pouco petulante de vez em quando. - e se corrigiu rápido, alcançando sua mesa. - As pessoas dizem.

—Certo. - ele assentiu com ironia, rindo antes de continuar com seu raciocínio. - E além disso, eu ainda teria ido pra guerra de qualquer forma, e com esse tempo e essas características dos dois lados, nós provavelmente não teríamos nos entendido tão cedo. - e concluiu, deixando-se mostrar sua expressão perfeitamente convencida do que dizia enquanto se levantava e ia na direção da loira. - Não acha?

—Pensando dessa forma... - Hale respondeu, falsamente pensativa, de olhos nas mãos sobre a mesa, quando levantou o olhar e disse, contrariada e dando de ombros de novo, como se não fosse muita coisa. - Talvez eu não tenha pensado em todas essas coisas antes porque estava muito nervosa e ansiosa com tudo o que havia acontecido, tudo bem?

—Tudo bem. - Emmett respondeu com um sorriso, achando graça e entendendo o tom dela enquanto se aproximava, levando as mãos para tocar seu rosto quando estava perto o suficiente.

—Mas, me deixe perguntar só uma coisa: - ela o interrompeu de repente, dando um passo para trás, o que o fez parar, confuso. - com "acho que você já estava um pouco mudada", está querendo dizer que você quem ajudou no restante do "trabalho"? Da minha "evolução"? - ela fez aspas com as mãos, uma expressão de expectativa audaciosa no rosto.

—É, praticamente. - dessa vez, ele quem respondeu como se não fosse nada, e fingiu pensar antes de sacudir os ombros e olhá-la diretamente. - Eu te amoleci.

Ali, Emmett mal poderia conter o sorriso que lhe veio aos lábios pela beleza da expressão no rosto dela - uma realização perfeita da previsão que fizera há segundos, quando havia montado aquela frase de efeito proposital -, se não fosse pela vontade de vê-la ir ainda mais longe e reagir àquilo com seriedade.

—O que? - Rosalie reagiu indignada na mesma hora, e se afastou um pouco mais para continuar, com um sorriso contrariado nos lábios, mas seu tom sério e descrente permanecia. - Ah, você...! - ela apontava para ele, rindo com sarcasmo. - Você não me amoleceu coisa alguma!

Emmett então riu também, e perdeu-se no caminho para uma resposta mais longa, observando o rosto de Rosalie, agora exageradamente corado. Deveria ser proibido como ela ficava ainda mais impecável com toda aquela cor em suas bochechas e a atitude teimosa numa brincadeira como aquela.

Tão típico e, ainda assim, lhe soava agradavelmente novo: como a audácia familiar em seu peito, que alimentava a vontade de perturbá-la mais com aquela brincadeira, como fora tão frequente ao garoto que um dia fora e cujos pedaços parecia estar recuperando a passos árduos, completos por pequenos momentos - como esse.

—Ah, nem mesmo quando eu elogiava os seus recitais? - ele então fingiu certo desapontamento enquanto se aproximava dela, arqueando as sobrancelhas. - Porque senão, nem quero me lembrar.

—Não diga isso! - Rosalie o repreendeu na mesma hora, mas sem segurar o riso que lhe escapou da garganta e alongou seus lábios, e colidiu de propósito a mão fechada em punho com seu peito, coberto pelo terno.

Emmett sorriu com ela, em silêncio porque entendia o motivo da repreensão enérgica, e segurou a mão dela, que escorregava do terno ainda em punho, na sua. Os olhos em contraste pairaram um no outro, mas enquanto Emmett se deixava levar por todo o calor e reflexão que havia nos castanho-claros dela, Rosalie não se deixou fazer o mesmo nos azuis dele, que clareavam de forma paradisíaca ao redor mais próximo da pupila, num degradê perfeito com o restante.

—Eu queria mesmo me lembrar, e que se lembrasse também. - ela disse com sinceridade e num tom mais baixo então, desviando os olhos para as mãos juntas deles.

—Eu também. - ele assentiu, afagando a mão dela na sua, quando mudou de tom. - E vamos conseguir. Tenho fé nisso, sabe? Pelo menos agora eu sei, nós sabemos. - ele deu de ombros, com um sorriso otimista que atraiu o olhar de Rosalie. - E as memórias ruins podem estar sendo perturbadoras, mas de novo eu tenho vocês por perto. - então, pausou de novo, levando a mão livre não-enfaixada para o rosto dela, cujos traços analisou com carinho. - E bem, agora tenho isso também.

—Tem razão. - ela sorriu como ele, e inclinou a cabeça com o afago no rosto. - E eu acho que posso dizer o mesmo.

—Pode apostar que sim. - ele acenou com a cabeça e inclinou-se para alcançar os lábios corados dela com os seus.

E Rosalie deixou-se relaxar por aqueles segundos, contra toda a ansiedade que a ideia de alguém vê-los ali lhe provocava, apenas provando de toda a proximidade, e o calor dos rostos um no outro, e o carinho e a segurança de estar bem ali: o único lugar do mundo que importava agora.

Até que, para sua surpresa, Emmett afastou-se lentamente, afagando sua mão de volta como que para chamar atenção, e disse, sorridente e de repente apressado:

—Eu devia ir agora. Tenho que terminar algumas coisas antes de sair para a terapia. - ele explicou, com aquele tom otimista novamente, ao falar na terapia.

—Certo, é verdade, eu quase me esqueci! - a loira sorriu, surpresa consigo mesma, e levou uma mão ao rosto do veterano antes de esticar-se para deixar um beijo em seu rosto. - Vá, não perca tempo.

—Não estou perdendo, - ele não pôde evitar de dizer, e devolveu o beijo em seu rosto antes de se afastar de verdade. - mas já estou indo. Te vejo mais tarde. - foi a última coisa que disse antes de sair pela porta com um aceno sorridente de Hale.

(...)

Mais tarde naquele dia, Rosalie havia chegado do trabalho exausta e, finalmente, estava agora no andar de baixo após o banho, de cabelos agradavelmente úmidos caindo por suas costas e pés descalços enquanto checava o amontoado de correspondências deixadas sobre a mesa da sala de estar.

Ela passou por algumas cartas destinadas a Esme e outras a Carlisle, até chegar ao jornal que recebiam usualmente. Ali, ela se deteve sem pensar muito e sentou-se no sofá, atirando o restante das cartas de volta sobre a mesa.

Não haviam muitas manchetes exatamente novas na maioria das páginas e, na principal, nenhuma realmente inovadora que chamasse sua atenção: afinal, embora depois da Guerra as notícias políticas carregassem muita atenção e expectativa do povo, elas também acabavam soando, além de pouco inovadoras - o que era bom, muitas vezes -, exaustivas de se acompanhar diariamente quando haviam saído, do que parecia ontem mesmo, de um período turbulento cheio de notícias terríveis.

"Governo Inglês recusa a proposta de uma reunião dos Cinco Grandes."

"Novo protesto contra o bloqueio de Berlim."

"Bomba atômica no fundo do Pacífico? - Contra-Almirante Ellis Zacharias faz revelação inédita."

"Presidente Truman e auxiliares imediatos discutem relatório detalhado sobre a situação em Berlim."

"Gabinete Schuman cai diante de derrota na Assembleia Francesa."

"Argentina se declara contra o Plano Marshall."

Foram algumas das coisas em letras grandes, e algumas menores em negrito, pelas quais Rosalie passou os olhos rapidamente antes de folhear as demais páginas até chegar na de imóveis classificados.

Ela já estivera analisando aquela página por dias, mas algo sempre a interrompia ou ela não realmente achava um lugar que parecesse adequado o bastante para valer todo o processo que viria em seguida, até que pudesse visitar o lugar.

A verdade era que, além daquele não ser um assunto pelo qual ela se interessara um dia, Rosalie nunca havia feito aquilo antes, porque a casa em que morava com Royce havia sido algo como um presente de seu pai - que era dono da propriedade até então e a venderia se não fosse pelo casamento do filho -, então não havia participado de processo ou de escolha alguma. 

Além disso, ela sempre acabava pensando demais naquilo porque, bem, era da sua casa que estavam falando, a primeira apenas sua - era uma grande coisa! Ela queria escolher um lugar que lhe parecesse o mais perfeito possível nas coisas que importavam e, acima de tudo, em que pudesse se sentir num lar.

Ou talvez só estivesse sendo exigente consigo mesma e com os anúncios, e se preocupando demais também, como usual. 

E talvez um pouco de ajuda fosse bom.

—Mãe? - Rosalie chamou, olhando de relance na direção da cozinha. Com a demora de segundos, ansiosa, a loira quase a chamou de novo, quando ouviu um bater leve da porta e os passos em seguida.

—Me chamou, Rose? - Esme chegou apressada, os cabelos presos num coque enquanto esfregava as mãos na roupa. - Estava no jardim.

—Estava ocupada? - ela se preocupou de repente, sabendo que aquilo levaria tempo.

—Na verdade não, estava só checando algumas coisas no canteiro, como de costume. - ela disse com sinceridade e sorriu, juntando as mãos enquanto se aproximava, com um olhar interessado que foi da filha para o jornal em sua mão. - Do que precisa?

—Bem, eu estava checando os imóveis nesses últimos dias, você sabe. - Rosalie começou a explicar, apontando o jornal. - E ia fazer isso agora de novo, mas acho que não sou muito boa ou otimista em fazer isso sozinha. Então, eu meio que queria... - e olhou para a mãe com uma expressão que remontou à sua de criança. - Queria a sua ajuda.

—Oh, querida, é claro! - Esme exclamou com seu tom maternal na mesma hora, e correu para pegar canetas em algum lugar antes de se sentar ao lado da filha. - Eu fico mais do que feliz em ajudar, você sabe disso. - ela disse, sorrindo e apertando-a pelos ombros carinhosamente.

Assim, uma hora se passou entre ler todas as informações de cada anúncio meticulosamente, decidir se se encaixavam nas características necessárias, e depois, ainda assim, checar se valiam à pena ser destacados.

Ao final, haviam quatro anúncios circulados, alguns aos quais a mãe convenceu a filha com esforço, e para os quais sugeriu que ligassem na manhã seguinte, porque àquele horário da noite haviam mais chances de que não fossem atendidas - e assim, Rosalie provavelmente perderia o ânimo que havia ganho naquela pequena tarefa.

—Certo, vamos fazer isso pela manhã, então, e vou guardar isso no quarto. - Rosalie concordou e anunciou, animada, quando se virou para Esme, sorrindo. - Obrigada, mãe.

—Não há de quê, querida. Isso não foi nada demais. - Esme sorriu também, passando uma mão no rosto da filha com carinho, antes de se levantar. - Você está com fome? Estou achando que os garotos vão demorar, então se quiser jantar antes... - ela sugeriu, em expectativa.

—Bem, eu acho que consigo suportar, mas podemos fazer o que você preferir. - Rosalie olhou-a de relance e sorriu, enquanto organizava os papéis na mesa de centro.

Antes que Esme pudesse responder, no entanto, uma última carta a que não havia chegado antes sobressaiu-se do pequeno monte que a loira tentava ordenar, e ela perguntou então, subitamente e de cenho franzido, sem tirar os olhos do envelope.

—Mãe, - ela chamou e Esme se virou de volta, uma vez que já estava na direção da cozinha. - você por acaso viu essa carta hoje mais cedo? Ou Emmett, ele viu? - e quis saber, ansiosa, gesticulando em sua direção a mão que levava a carta.

A mulher mais velha, então, chegou um pouco mais perto para ler a escrita do envelope na mão da filha, com os olhos levemente estreitos pela estranheza daquilo.

—Não, eu não a havia visto até agora. E acho que nem mesmo Emmett, ele saiu apressado hoje de manhã, e - ela fez uma pausa curiosa, virando levemente a carta na mão de Rose. - está lacrada, não?

—É, está. - Rosalie afirmou então, analisando a carta lentamente, e negou com a cabeça. - É estranho, ele estava tão ansioso por isso, achei que teria visto. - e checou o remetente para depois fitar a mãe brevemente. - Tem algo a ver com a Academia das Forças Aéreas. 

—É realmente estranho. -Esme considerou, e logo suspirou. - Mas, ele provavelmente vai dizer algo quando chegar hoje e perceber que todas as correspondências estão aí. - então ela disse mais baixo e perto da filha, sorrindo de canto. - E, se me perguntar, acho que não se importaria em ouvir de você o que quer que essa carta tenha a dizer.

Com isso, o semblante de Rosalie suavizou-se por alguns segundos, enquanto ela encarava a carta, pensando sobre a sugestão indireta e, de certa forma, convidativa, que a mãe fizera de que abrisse a carta.

Para dizer a verdade, era mais pela ideia de que aquilo fosse uma boa notícia com que pudesse surpreender Emmett, do que pelo interesse em saber o que estava na carta.

—É, talvez. - ela pensou um pouco e, piscou muitas vezes antes de encolher os ombros ao olhar para a mãe. - Eu não sei, talvez você tenha mesmo razão.

Esme então sorriu e, arqueando as sobrancelhas, afagou o ombro da mais nova.

—Bem, vou te deixar pensando enquanto esquento a comida, certo? - Rosalie assentiu e ela se virou para a cozinha de novo. - Lembre-se de guardar o jornal.

—Tudo bem.

Assim, Rosalie colocou-se a revirar a carta entre os dedos, lendo os selos e as escritas no envelope tanto quanto pôde, até decidir dar à sugestão da mãe algum espaço decente em seus pensamentos que, por pouco, não tornavam-se distraídos com a hipótese impossível de Emmett reprovando o fato de que ela havia aberto sua carta.

E através desse caminho, Rosalie notou que havia se decidido quando já estava com o envelope sobre as pernas e a carta em mãos, prestes a abri-la - como não viu razão para negar-se a fazer em seguida.

Academia das Forças Aéreas de Washington

Caro Sr. Emmett Dale McCarty,

É com prazer que informamos, por meio deste, o recebimento e aprovação de sua inscrição para o nosso programa de formação de pilotos Aeronáuticos, na Academia das Forças Aéreas de Washington.

À vista disso, oferecemos nossas mais sinceras congratulações e o convidamos a comparecer no endereço abaixo, às dez horas da manhã (10 A.M. - Horário do Pacífico) dentro do prazo de uma semana (7 (sete) dias), a contar da data de envio deste informe - registrada em seu envelope - para executar os testes de ingresso necessários, também listados em anexo.

Esperamos tê-lo conosco em breve.

Atenciosamente,
Major Nathan Alexander Griffith.

Academia das Forças Aéreas de Washington

Ao terminar de ler e reler aquelas palavras muitas vezes para um só minuto, Rosalie não teve certeza de como se sentir: havia uma parte sua que, como havia dito a Emmett quando contara aquela ideia, estava realmente feliz por ele, por estar em vias de fazer uma coisa tão nova e corajosa como aquela que, afinal, seria também uma grande e merecida conquista.

Mas, havia outra que, lendo o prazo numa das linhas cheias de palavras, se intimidava um pouco pela perspectiva dos dias distantes estarem se aproximando. 

E deveria ser uma coisa muito mais simples do que aquilo decidir o que iria pensar e sentir agora, sobre algo como aquilo - soava quase estúpido. Mas, no outro lado soava-lhe também, na verdade, uma dúvida tão justa e pertinente quanto qualquer outra. 

Por esse motivo, antes que pudesse pensar mais a fundo sobre o caso, Rosalie colocou a carta de volta no envelope e no topo das outras, para então se levantar e ir contar à mãe, que devia a estar esperando, do que se tratava. 

Mas, antes que pudesse alcançar o batente da sala de jantar, a porta da entrada principal se abriu súbita e ferozmente, como se fosse voar direto para o lado de dentro, e por ela irrompeu um Emmett de semblante e passos ansiosos, o que, por reflexo, tomou a atenção de Rosalie.

—Rosalie? - ele chamou primeiro, perdendo a figura dela ali porque olhara rápido demais, e então se virou para ela de novo, com pressa. - Rose! Rose, eu me lembrei! Me lembrei de você! De todos vocês! - ele exclamou com um tom de riso e correu até ela, largando a mala do trabalho no caminho, e a abraçou-a com um baque enorme antes de tirá-la do chão de repente.

E Rosalie sequer precisou de tempo para entender o que teria parecido um início de conversa muito estranho para qualquer pessoa fora daquela casa.

—Ah, meu Deus, Emmett! Você se lembrou! - ela riu com gosto e o abraçou com força enquanto seus pés estavam longe do chão, e toda as dúvidas de antes deram lugar, sem questionar, à felicidade súbita que dançava em seu peito. 

Emmett riu também, seu riso estrondoso característico que não dava há tempos, e os braços que não queriam soltar o corpo da loira do seu, mas o fizeram depois de fazê-la rodopiar no seu abraço quase sufocante, libertando-a para perguntar tudo o que queria saber sobre aquela aparentemente pequena, mas na verdade tão grande, conquista.


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