Across The Frontline escrita por overexposedxx


Capítulo 19
Capítulo 19 - O Colar


Notas iniciais do capítulo

olá, amores!
espero que estejam bem e se cuidando!
esse é um capítulo importante pra nossa história e eu particularmente gostei muito de escrevê-lo, então espero que gostem de ler também.

boa leitura! ♥



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No dia seguinte à festa, as poucas coisas que haviam restado para arrumar dentro de casa ficaram por conta de Esme, que com a ajuda de Rose, conseguira terminar tudo pela manhã. Como Carlisle e os garotos trabalhavam na segunda-feira, ainda no domingo haviam guardado as mesas de volta e organizado o jardim em geral - dessa forma, no fim daquele dia tudo estava em ordem novamente.

 

Mesmo assim, Emmett chegara do trabalho e sentara à mesa para o jantar dizendo que iria aparar o gramado mais adiante do jardim, uma parte do terreno onde raramente a família ia - e foi o que fez ainda naquela noite, depois de trocar o terno por uma roupa apropriada para o serviço. Não demorou muito para Rosalie vê-lo passar pela sala de jantar trocado numa regata e uma calça mais surrada do que as outras, mas perfeitamente ajustada à cintura pelo cinto no cós. 

 

—Com licença, garotas. - ele pediu num tom divertido, passando entre ela e Esme, que conversavam no ambiente - Se precisarem de mim, estarei lá fora. - e avisou antes de abrir a porta para os fundos, quando a mais velha se apressou.

 

—Tenha cuidado com aquele aparador, querido, e não vá se cansar com isso até tarde. - ela deu a ele um olhar mais preocupado do que severo, e as duas o viram parar entre as portas duplas com um sorriso leve.

 

—Sim, senhora. - brincou, sorrindo quando ela segurou o próprio sorriso, negando com a cabeça. Rosalie assistia de braços cruzados, quase rindo sem perceber, quando ele se aproximou de Esme - Não se preocupe comigo, certo? Prometo que vou descansar depois. - e apertou-a carinhosamente num abraço lateral pelos ombros, saindo pela porta a tempo de vê-la sorrir, cedendo. 

 

—Ele é mesmo especial, não é? Passou por tanto e continua sorrindo, nos divertindo e se esforçando para melhorar. - a morena comentou com um ar de orgulho e compaixão ao mesmo tempo, vendo Emmett se afastar pelo vidro das portas. 

 

—Sim. - Rosalie respondeu apenas, mirando com os olhos a mesma figura que a mãe. Esme arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços antes que ela registrasse a reação. 

 

—Achei que você não gostasse dele até algum tempo atrás. 

 

A loira imediatamente piscou muitas vezes e virou-se da porta para a mesa de novo, trazendo o vaso de flores para o centro mais preciso, como estava antes do jantar. Seus lábios ficaram entreabertos alguns instantes sem que ela dissesse nada. 

 

—Eu nunca disse isso. - finalmente falou, e franziu o cenho como se fosse óbvio - Só não havia tempo para conversarmos antes, e agora eu o... Entendo melhor. - explicou, dando de ombros e cruzando os braços de novo quando fitou a mãe. 

 

—Ah, sim. Isso é muito bom, querida. - ela disse apenas, mas sorriu satisfeita e desencostou-se da cadeira em que apoiava-se - Acho que a terapia está realmente fazendo bem a ele, e ter pessoas com quem se sinta à vontade certamente é bom para o processo também. 

 

—Certamente. - a loira assentiu com a cabeça, vendo a mãe caminhar até a cozinha, quando seguiu-a devagar e encostou-se ao batente do cômodo - Falando em vontade e processo, mãe... Tenho pensado em me mudar daquela casa. 

 

Esme virou-se de uma das bancadas para ela, dispondo algumas frutas à fruteira de cristal que estava no canto, com uma expressão curiosa no rosto. Rosalie achou que era alguma surpresa misturada à satisfação - outra vez -, e antes de continuar, ela respondera. 

 

—Parece uma ótima ideia. - e assentiu sorrindo, deixando as frutas de lado por alguns instantes para virar-se com atenção à mais nova - Devo dizer que imaginei que esse momento chegaria, aliás. Mas, já tem algum lugar em especial em mente?

 

—Na verdade, não. - assumiu, suspirando com a impaciência dessa ideia - Por isso só tenho pensado, mas vou começar a procurar logo. Não gosto da ideia de ficar naquela casa, não é realmente um lar. - ela explicou, gesticulando, e sentou-se numa das bancadas vazias mais perto do batente. 

 

De fato, além de sempre ter sido "a casa dos King II" ou "do filho do Sr. King", sobre os quais (ambos) Rosalie nunca mais se sentira bem depois dos três primeiros anos de casamento, passado esse período aquela casa guardara mais momentos ruins - e indiferentes também, quando passava tempo demais sozinha, antes de Mercedes - do que bons. Ou seja: em hipótese alguma nos últimos anos aquele fora seu lar - o lugar em que se sentia confortável, segura e pertencente. 

 

Depois do funeral, ela dera algum tempo para acostumar-se e dar uma chance ao lugar, mas mesmo agora que as coisas de Royce haviam sido despachadas, não havia como não lembrar das coisas que ele havia feito e deixado, ali e para ela, sempre negativas e marcantes demais. Mesmo agora que ele definitivamente não voltaria a atormentá-la, aquela não era e nunca seria sua casa - e parte de seu processo de cura de todas as cicatrizes com que ele e aquele convívio a deixaram por dentro era acostumar-se com a ideia de estar segura e confortável, como deveria ser.

 

—Realmente, você está certa. Está mais do que na hora de sentir-se bem onde está. - Esme assentiu de novo, dessa vez com mais veemência, quando parou de mexer nas frutas - Por isso, acho que seria ainda melhor ter um lugar para ficar enquanto vende a casa e procura uma nova. 

 

E quando disse isso, o sorriso da mãe se estendeu de um canto a outro, ela ergueu as sobrancelhas com um tom animado de sugestão e entrelaçou as mãos em frente ao corpo. Rosalie soube o que ela estava querendo dizer na mesma hora. 

 

—Aqui? - ela carregou a voz de surpresa, franzindo o cenho, e parou de balançar as pernas na bancada - Está falando sério? 

 

—É claro que estou, querida! Por que não estaria? - Esme falou como se fosse óbvio, e a expectativa de antes clareou em seu rosto - Você tem passado um tempo considerável aqui nos últimos tempos, de qualquer maneira. Só teria o trabalho adicional de empacotar suas coisas e trazê-las, podemos deixar no sótão o que não for para o seu quarto, e lá já está tudo ajeitado. Assim você não se apressa na procura, escolhe realmente a nova casa pelo gosto, conforto, não pela vontade de sair da outra, e ao mesmo tempo se livra de toda a sensação de estar presa lá. 

 

Quando terminou de falar, ela parou os gestos com as mãos e cruzou-as de novo em frente ao corpo. Rosalie fitou do rosto dela para os próprios pés, e levantou o rosto com um suspiro. 

 

—Sim, sim, você tem razão, parece incrível. - ela sorriu levemente, asssntindo, e a mãe sorriu ainda mais largo, quando a loira fez uma pausa - Mas, e quanto à Mercedes? Ela não tem a quem recorrer, não posso mandá-la embora, de jeito nenhum. - e negou com a cabeça, veementemente. 

 

—É claro que não, de forma alguma! Eu estava pensando agora mesmo, ela poderia vir também e se acomodar num dos quartos de hóspedes. - Esme assentiu com a resolução, e fez uma pausa, dando de ombros - Ela pode ficar onde preferir, na verdade. Essa casa tem espaço o suficiente para todos nós e mais alguns.

 

—Bem, isso é verdade. - a loira riu um pouco, e logo sorriu animadamente - Isso seria perfeito. 

 

—E será, querida. - a morena aproximou-se da filha e afagou seu ombro, abraçando-a de lado e recostando à bancada - Sabe como é, vocês vão crescendo, arrumando suas vidas e deixando a casa vazia, mas assim como eu e seu pai, seus lugares sempre estarão aqui caso voltem.

 

Esme sorriu e a filha abraçou-a de volta, a trazendo mais para perto antes de dizer. 

 

—Você é mesmo a melhor mãe do mundo! - ela apertou-a com carinho, fechando os olhos com um sorriso, e Esme riu com a mão em um lado de seu rosto. 

 

—Qualquer coisa pela minha garotinha, hum? - respondeu quando se afastaram, e acarinhou o rosto da filha antes de ir em direção a um dos armários no canto oposto. 

 

Rosalie sorriu animada e esfregou as mãos nas pernas quando desatou a falar. 

 

—Certo, então essa semana vou providenciar os papéis para vender aquela casa, avisar Mercedes e empacotar nossas coisas. - ela enumerou nas mãos, vagando os olhos pelo ambiente - Acho que até o final de semana consigo terminar, trazer tudo para cá e organizar. E então sim, quando os papéis estiverem mais ou menos encaminhados, começo a buscar pela nova. 

 

—Perfeito, querida, tenho certeza que dará tudo certo assim. - Esme assentiu, servindo-se de água, e disse depois da pausa para beber - Seu pai e seus irmãos também podem ajudar com a papelada, você só precisa dizer a eles. 

 

—Sim, eu... 

 

Quando Rosalie ia dizendo, para concordar e planejar contar a notícia na manhã seguinte, o som da porta dos fundos se abrindo as chamou a atenção. Noutro segundo Emmett estava no cômodo, dando uma leve batida de "licença" na soleira, onde parou, fitando-as uma de cada vez. A regata que vestia estava um pouco mais justa ao corpo do que antes, mas nada exagerado, além de mais surrada, e ele tinha uma das mãos fechada em punho, como se reservasse alguma coisa na palma. 

 

—Rose, por acaso você já encontrou aquele colar de que estava atrás outro dia? - ele perguntou parado à porta, com uma feição sugestiva. 

 

—Ah, não. Bem que eu gostaria. - Rose respondeu simplesmente, se lembrando da perda em especial que ainda não conseguira recuperar. 

 

—Ainda não? - a mãe interrompeu, aparentemente preocupada - O de quando era pequena?

 

—Sim, exatamente esse. - a loira lamentou de novo, encarando as próprias mãos. Realmente não fazia ideia de onde o colar com que estava há vinte e tantos anos havia ido parar, e só se lembrava de ter dado por falta dele na manhã do dia em que Royce falecera (e nunca mais encontrado desde então). 

 

—Já procurei em todo lugar. Mas, por que está perguntando? - ela franziu o cenho, um pouco confusa, e a expressão clareou com uma leve esperança - Você o viu? 

 

—Na verdade, eu acho que o encontrei. - o ex-soldado respondeu com um tom cuidadoso de dúvida, e revelou a palma da mão. 

 

Rosalie atentou-se para o gesto e, na mesma hora, arregalou os olhos em surpresa, saltando da bancada com um sorriso largo no rosto. 

 

—Oh, meu Deus, é ele mesmo! - ela recebeu o colar da mão dele e analisou-o só um segundo até comemorar - Emmett, você o achou! 

 

Emmett podia jurar que os olhos dela haviam cintilado como o ouro do colar no jardim enquanto ela sorria animada com a peça entre os dedos, e também  quando exclamou a última frase como se fosse a melhor coisa do mundo. Ele já havia reparado algumas vezes - inclusive no dia anterior - como isso acontecia sempre que ela falava sobre algo ou alguém de que gostava demais, ou quando ria genuinamente de alguma coisa. Se pudesse ser honesto, não se incomodaria em testemunhar isso mais um milhão de vezes. 

 

E Rosalie estava tão inacreditavelmente feliz por finalmente encontrar seu colar, o mais especial que já tivera na vida - desde os três anos de idade -, que se deixara levar só um segundo nos olhos muito azuis dele, estreitos pelo sorriso nos lábios corados, - como já havia acostumado-se a ver e apreciar discretamente -, e em seguida adiantou-se de uma vez, abraçando-o com força. 

 

—Obrigada! - ela murmurou entre o abraço, esforçando-se nas pontas dos pés para apoiar a cabeça em seu ombro, e ele a abraçou de volta na mesma hora, sem pensar. Esme baixou os olhos, sorrindo enquanto o pequeno momento dos dois durava, e voltou a levantá-los quando Emmett falou, ao passo que se afastavam.

 

—Não foi nada. - o ex-soldado sorriu brevemente, dando de ombros - Ele estava lá na frente, eu só encontrei porque achei ter visto algo brilhar no meio de uma parte que ainda não havia aparado, e então fui olhar. 

 

—Que bom que você viu, então. Obrigada. - ela sorriu, olhando de relance para o colar e de volta para ele depois - Acho que tirei em algum dia que fui tomar Sol lá na frente e me esqueci. 

 

—É melhor tomar mais cuidado da próxima vez, hum? - Esme sugeriu à filha, e em seguida desencostou-se do balcão, sorrindo contente para o de olhos claros - De toda forma, o importante é que Emmett o achou. E eu agora, se não se importam, vou tomar banho e ir deitar-me. 

 

Ela sorriu uma última vez, desejou "boa noite" com um beijo na bochecha de cada um, e enquanto eles desejavam o mesmo quase em uníssono, a mulher se retirou para a sala de estar, e depois o andar de cima.

 

Os outros dois permaneceram no ambiente em silêncio por alguns instantes: Rosalie olhou-o de relance e, quando ele fez o mesmo, os dois desviaram os olhares, segurando um sorriso enquanto fingiam se distrair e buscavam algo para dizer. A loira baixou os olhos para o colar, entrelaçando a corrente entre os dedos, e McCarty manteve os seus nos gabinetes altos da cozinha, até que achou melhor quebrar o silêncio incômodo e voltar ao que fazia. 

 

—Bem, preciso terminar o serviço lá fora. Deixei o aparador para guardar. - contou ele, encostando uma mão no batente e fazendo menção de sair com um sorriso breve. 

 

—Está bem. - Rosalie assentiu, sorrindo breve para ele também, e quando ele deu as costas com hesitação, ela avançou um passo e arriscou - Se importa se eu ficar lá algum tempo também? Queria tomar um ar antes de subir.

 

Emmett olhou-a com uma surpresa discreta, piscando mais vezes do que o normal, mas respondeu logo - embora a ansiedade estranha pela hipótese de estar a sós com ela outra vez parecesse ter enrolado sua língua por instantes.

 

—É claro que não, tudo bem. - ele assentiu de volta, sorrindo, as covinhas inevitavelmente dançando em suas bochechas antes de virar-se para sair ao jardim. A loira sorriu outra vez e seguiu-o pelo caminho até que estivessem na altura do gramado em que ele havia deixado suas coisas por guardar.

 

O cheiro da grama, agora aparada àquela altura mais distante, estava sendo alastrado por todo o lugar com o vento leve de veraneio, e não havia uma só nuvem no céu azul escuro e imensamente estrelado acima de suas cabeças. Emmett encarara a paisagem por alguns segundos, antes de mover-se até o cortador de grama e puxá-lo de volta para perto da porta de onde haviam vindo - onde havia a tomada a que esse estava ligado -, deixando Rosalie sozinha no meio do gramado, aonde ela ainda estava parada observando o céu, prendendo os cabelos num coque - e quando o ex-soldado estava distraído a caminho da garagem, desviando o olhar para vê-lo sumir de vista e voltar pouco depois. 

 

—Você sempre gostou de fazer tantas coisas ao ar livre assim? - ela chamou a atenção dele, que se aproximava de novo,  se referindo à lembrança do dia do abrigo, além daquele momento. 

 

Emmett viu-a sentada no gramado, as pernas cruzadas vestidas em calças justas à cintura e largas no comprimento, as mãos repousando nos joelhos, a nuca à mostra pelo penteado que deixava alguns fios loiros encaracolados emoldurando os lados de seu rosto e caindo pelos ombros, cobertos pela blusa que usava. Os lábios quase sorriam para ele enquanto esperava a resposta, acompanhando-o caminhar até mais perto, e ele olhou para o lado oposto só para ter certeza de que voltaria a se concentrar na conversa, quando se sentou no gramado também.

 

—Pensando bem, quase sempre. - ele cedeu um pouco com a cabeça, olhando-a de relance enquanto lembrava - No exército, por exemplo, quase todas as atividades eram ao ar livre, e eu gostava bastante. Mas, esse tipo de coisa especificamente - ele gesticulou para o gramado - eu fazia com minha mãe desde pequeno. Na verdade eu estava com ela o tempo todo, não tinha muitas outras crianças com quem brincar, então fazia tudo o que ela me deixasse fazer, que em grande parte das vezes eram coisas no jardim, onde, mesmo sozinho, eu não podia fazer grandes estragos. - ele riu um pouco e deu de ombros, achando graça de entender isso agora.

 

—Faz mais sentido agora. - Rosalie riu também, e deixou um sorriso no rosto quando emendou - Eu também gostava de ajudar meus pais nessas coisas quando era pequena. Mas, sempre me distraía no meio do que estava fazendo e ia brincar. Agora entendo que provavelmente os dois agradeciam quando isso acontecia, porque queriam fazer as coisas direito e ficar em paz. - ela manteve o sorriso, balançando a cabeça negativamente para si mesma, as lembranças misturadas passando em sua mente. 

 

—Seus pais e minha mãe realmente tinham muita paciência, não é? - Emmett olhou-a, ainda rindo um pouco também. A loira sorriu, concordando com a cabeça e não disse nada, embora tivesse notado a forma proposital como ele excluíra o próprio pai da frase - E sabe, depois dessa fase também passei a gostar de usar esse tempo para pensar um pouco. É realmente muito melhor assim, ao ar livre. - e inspirou lentamente, olhando para o horizonte. 

 

—Bem, espero que eu não esteja atrapalhando isso agora. - ela disse, num tom cauteloso, mas também descontraído, um sorriso breve de sugestão nos lábios. 

 

—É claro que não. - ele respondeu categoricamente, franzindo o cenho como se fosse óbvio, e depois de algum silêncio evitando olhá-la, ele se virou de volta - Pra ser sincero, há algumas coisas em que ando pensando, mas tem parecido que nunca há um momento adequado para dizê-las. 

 

Rosalie agitou as pontas dos dedos no tecido da calça, encarando-os por alguns segundos, e suspirou com ansiedade. Era certo que ele estava falando da mesma coisa que ela vinha pensando, e ela deveria ter imaginado que aquele momento chegaria. Mas, realmente, as coisas vinham sendo tantas e acontecendo tão apressadas que nunca, até então, houvera uma ocasião conveniente sequer para pensar direito em como se sentira com coisas que, como aquela, não haviam sido ditas em voz alta ainda.

 

—Acho que entendo o que está dizendo. - ela afirmou com a cabeça, obrigando-se a finalmente encará-lo de volta, quando reuniu o ar nos pulmões para dizer - Aquele dia na escada... - ela começou a falar, mas quando parou com os lábios entreabertos, Emmett completou.

 

—Eu não consigo parar de pensar nisso, desde aquele dia, Rose. - ele negou com a cabeça, encarando a grama, depois o céu, e só então ela de novo - E você pode dizer, como acho que vai, que foi um erro e que não deveríamos falar disso, mas estamos só nós dois aqui e, honestamente, eu não acho que tenha sido um erro. 

 

—Eu também não acho que tenha sido um erro. - Hale negou com a cabeça, baixando os olhos para as próprias mãos de novo, e voltando em segundos, sem ver a surpresa nos olhos do ex-soldado - Quero dizer, na época talvez tenha sido porque teoricamente eu ainda estava casada, mas agora... - ela ergueu as sobrancelhas, encolhendo os ombros levemente - Bem, agora as coisas são diferentes e eu não preciso dizer pra você que foi um acidente. Eu sei que não foi, e também tenho pensado nisso há algum tempo, eu só não consegui organizar esses pensamentos antes e muito menos dizer alguma coisa. 

 

—É, eu sei, por isso não disse nada antes também. Não teria sido justo com você, com tantas coisas acontecendo. - ele esfregou as mãos nas coxas, mirando-as com falsa atenção - De toda forma, é bom finalmente falar, e eu precisava saber o que você pensava sobre isso. 

 

Ele fez menção de se levantar e Rosalie fitou-o, respondendo sem demorar-se. 

 

—Bem, apesar de muitas coisas terem mudado de lá pra cá, se antes eu era uma mulher casada, agora sou uma mulher viúva, o que não muda muito pras pessoas lá fora, então seria bom se nós não... - ela tentou encontrar as palavras, apertando as mãos uma na outra - Falássemos sobre ou repetíssemos isso lá fora.  

 

E então McCarty voltou a ajeitar-se ao seu lado, um pouco mais virado na direção dela do que antes. 

 

—Mas, você já sabe o resto. - Rosalie fez uma pausa, dando de ombros, apesar de agora olhá-lo e falar com certa hesitação - Foi um beijo, não por acaso, e... - ela suspirou e emendou de uma vez só, com um tom de falsa impaciência - Eu já disse que tenho pensado nisso também, então não há muito o que dizer, não é? 

 

Emmett olhou-a, ainda com certa surpresa, mas com um semblante muito mais curioso do que antes. Ele viu-a abaixar o rosto levemente e uma das mechas loiras caídas pelas laterais pendeu mais à frente de seus olhos, as bochechas corando quase imperceptivelmente à pouca luz dos postes que margeavam o jardim. Era difícil acreditar que ela havia dito todas aquelas coisas e sobretudo uma, que ele ainda processava e ponderava a respeito antes de dizer em voz alta.

 

Rosalie, no meio tempo entre o olhar que ele lhe dava, fazendo seu rosto queimar lentamente com tanta diligência, repassava as próprias palavras na cabeça, quase sem acreditar que havia dito cada uma delas há pouco. De toda forma, ela não havia mentido em parte alguma, e a sensação de dizer aquele tipo de verdade era, embora também agoniante e curiosa, libertadora. E esse foi o pensamento que a encorajou de volta para olhar a figura à sua lateral, que teve a impressão de ver rir um pouco, enquanto enfiava as mãos nos bolsos da calça surrada. 

 

Antes que a loira entrasse em um perfeito delírio, pensando que havia dito algo errado ou que Emmett estava brincando desde o início, ele disse, com um sorriso contido.

 

—Então você estava pensando em repetir isso, desde que não seja "lá fora"? - ele arqueou uma das sobrancelhas e olhou-a com graça, sem mover-se. 

 

—Foi isso o que você assimilou de tudo o que eu falei? - ela conteve o sorriso que dançou em seus lábios de repente e arqueou as sobrancelhas de volta. 

 

—É claro que não. - Emmett riu de leve, negando com a cabeça e olhando para o gramado antes de voltar a ela - Mas, essa foi a melhor parte. 

 

E enquanto ele dizia isso, Rosalie observava-o com um sorriso de que não havia se dado conta, passeando com os olhos pelo formato do rosto quase à sua frente, o filtro labial bem demarcado sobre os lábios curvados num sorriso, os cabelos escuros e curtos harmonizando perfeitamente com os olhos muito azuis, que ficavam mais estreitos conforme sorria. Quando houve silêncio, ela levou uma mão até a linha do maxilar dele, e deslizou os dedos até parar debaixo de seu queixo, de onde trouxe seu rosto para perto e, antes que ele pudesse tirar os olhos dos seus, selou os lábios num novo beijo, mais expressivo, mas também mais sereno do que o primeiro.

 

Era a mesma sensação de que cada neurônio havia se desligado de ambas as mentes, deixando um escuro completo e, ao mesmo tempo, faiscante. Como se assim pudessem sentir a intensidade de estar perto o bastante, a doce percepção de que não havia nada no mundo e, ao mesmo tempo, nunca houvera tanta coisa como naqueles instantes. Mas, dessa vez não havia sentimento que fosse ser resguardado de volta mais tarde, e não havia pressa o suficiente para fazê-los antecipar a distância desnecessária. 

 

E enfim, quando se afastaram, os lábios entreabertos sorriram e, diferente de antes, Rosalie não procurou por coisa alguma para dizer. Os dois se entreolharam de perto enquanto a mão de Emmett deslizava de volta de sua nuca e a dela da lateral de seu rosto - com alguma relutância.

 

—Esqueça o que eu disse. - ele lembrou a última frase, sorrindo de forma divertida, e ela riu com leveza, negando com a cabeça antes de recostar a cabeça ao ombro dele, mirando o céu. 

 

Emmett abraçou-a por detrás das costas e descansou a mão em seu braço, direcionando o olhar para a mesma imensidão que ela, antes que algo os inspirasse falar de novo sobre seus gostos e coisas da infância - o que durou uma longa hora, até que Rosalie tivesse adormecido no sustento dele, e ele, depois de observá-la com um sorriso por segundos, decidisse acordá-la para que entrassem em casa.

 

 


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Notas finais do capítulo

e o nosso casal finalmente se rendeu! tá aí o que a gente gosta de ver, né?

mesmo assim, ainda tem muito o que acontecer com esses dois! vou adorar saber as expectativas de vocês pra eles e o que acharam desse capítulo!

se cuidem e até logo! ❤️



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