Uma semana havia se passado. Uma longa semana sem atividades paranormais. Se não fosse pela tensão que sentiam, especialmente entre as duas garotas, seria uma semana tranqüila. Shayera dormia cada vez pior, o que fazia Wally também ficar acordado. Mesmo se estivesse em sua casa, do outro lado da cidade, ele sentiria. Sabia quando ela precisava dele.

Já Diana, confiava cada vez menos na menina. O clima entre o grupo não era nada bom. E a divisão poderia se tornar perigosa em um momento de luta.

Shayera lavava seu rosto quando Diana entrou no banheiro. As duas se encararam um instante, antes de Diana dar meio volta. Contudo, parou quando Shayera chamou seu nome. Virou-se para ela.

─Eu ouvi o que você disse aquele dia. ─Shayera falou.

─Sinto muito, eu estava alterada. Estou preocupada com tudo. Lilith pode fazer um movimento e o mundo acabar.

Shayera riu.

─Você acha que é a única que tem problemas? Eu ouço Lilith sussurrar para mim. Ela me chama. Sinto que vou ficar louca. Tudo que eu gostaria no momento era apoio e confiança, mas só recebo olhares desconfiados e ameaças de morte.

Diana balançou a cabeça.

─Tem razão, Shayera. Eu...

Mas a ruiva não a deixou terminar. Estava um tanto irritada pela noite mal dormida. Aproximou-se.

─Você é uma princesinha mimada. E eu não gosto de você tanto quanto você não gosta de mim. ─Fez uma pausa, e deu um sorriso malicioso. ─Mas estive pensando, e se quisermos ganhar essa, precisamos deixar de lado nossas diferenças e confiar uma na outra. O que me diz?

Diana piscou com a mudança brusca de comportamento. Um segundo atrás, Shayera dava mostras de querer pular em seu pescoço, e agora pedia uma aliança? Mas ela assentiu, curiosa para saber o que a ruiva planejava.

Ela estava em choque quando Shayera terminou. Nunca, em hipótese alguma, funcionaria. Balançou a cabeça.

─É arriscado demais, Shayera. Você fica louca perto da Lilith.

─Podemos tentar. E eu tenho uma carta na manga.

─Certo. Acho que vou ter que confiar em você.

─Vamos nos reunir com o pessoal de noite, então eu explico melhor.

*****

Lilith se virou para a menina ruiva. Estavam sozinhas. Minutos antes, ela tinha ao menos seis guardas.

─Foi muito fácil, Lilith. Seus guardas eram fracos.

O movimento foi rápido demais. Quando Shayera percebeu, Lilith a segurava pelo pescoço, erguendo-a no ar. A espada de Shayera caiu. Ela usou ambas as mãos para tentar se soltar. Em vão. Lilith aspirou o ar ao redor dela.

─Tem cheiro de vampiro, apesar de andar na luz do sol.

Soltou-a. Shayera caiu desajeitada, tentando respirar.

─Como estou boazinha hoje, vou deixar essa passar. Eu quero um acordo.

Lilith sorriu. Menininha tola e petulante.

─Que tipo de acordo?

─Eu te entrego a caça vampiros, se deixar os outros em paz. Você pode ir para outro lugar, ou nós saímos e damos a cidade à você.

─Por que me entregaria sua amiguinha?

─Eu não gosto dela, e quero proteger alguém.

─Eu vejo amor em você, e o amor não a levará a lugar algum. Inclua-se no acordo e eu posso pensar.

Shayera balançou a cabeça.

─Certo. Vou levá-la para a biblioteca esta noite. Sabe o que fazer...

No segundo seguinte, Shayera corria para fora. Aquilo precisava funcionar ou estariam perdidos. Tinha que funcionar...

*****

Wally fitou uma Shayera muito quieta a seu lado na cozinha. Era assustador quando ela o fazia. Parecia uma estranha boneca em tamanho real. Sabia que ela pensava, embora não soubesse o quão longe estavam seus pensamentos. Era inquietante para ele vê-la tão quieta. Isso sempre indicava que ela estava mal. Tocou-lhe o braço.

─Você está bem?

Shayera se moveu e o encarou. Ela assentiu com um aceno. Os olhos fixos nele. Era muito ruim. Talvez devesse avisar aos outros que ela ficaria em casa pela noite. Pegou o celular, mas ela o impediu.

─O que está fazendo?

─Acho melhor você ficar em casa pela noite.

─Não! ─Ela quase gritou. Então abaixou o tom de voz. ─Eu estou bem, Wally. Você pode confiar em mim.

─Eu te conheço melhor que qualquer um. Sei quando está mentindo.

─Ainda vai ter que confiar em mim.

Independente do que fosse, ele confiava nela. Shayera nunca o decepcionou, certo? Suspirou, derrotado.

─Então a gente tem que ir, Shay.

─Cinco minutos, Wally. ─Ela diz, empurrando Wally para o quarto. ─Eu preciso de cinco minutos...

*****

Os cinco minutos de Shayera estenderam-se um pouco além. Os dois ruivos atravessaram as portas da biblioteca correndo. Todos os outros já se reuniam.

─Atrasados. ─Disse J’onn.

Tanto Wally quanto Shayera pareciam mais vermelhos, o cabelo grudado de suor. J’onn esperava que fosse porque correram, mas...

─Ah, não! ─Era Diana. ─Eu não fiquei esperando todo esse tempo pra que vocês tivessem uma rapidinha!

Os olhos de Shayera brilharam amarelos enquanto ela avançava na direção de Diana. Dane-se o controle.

─Escuta aqui, sua...

Elas pararam com o som de vidro se quebrando. Olharam para cima e o vampiro saltou para dentro. Depois, mais vampiros. Diana correu para pegar sua besta, assim como os outros. Menos Shayera. Ela parou e sorriu quando as portas se abriram. Os vampiros abriram caminho para a mulher sinistra. Lilith.

Shayera deu alguns passos na direção do grupo e se ajoelhou.

─Você veio mesmo. ─Ela disse. ─Mantemos o combinado?

─Então era esse o seu maldito plano? ─Diana gritou, colocando-se em posição de luta. ─Trair a gente?

Shayera ficou de pé e deu de ombros.

 ─Ela só quer a caça-vampiros, e a mim. Lilith prometeu deixar os outros vivos.

─E você acredita nela?

─Vou correr o risco. Não gosto de você, Diana, mas peço que me desculpe.

─Vá se fuder, garota!

Lilith riu.

─Assim que seus supostos amigos tratam você? Apesar do sangue da caça-vampiros ser poderoso, eu só preciso de você.

Shayera olhou ao redor, parando em Wally. Ele estava visivelmente magoado, e não era por menos. Ela pediu que confiasse nela, apenas para traí-los. Lilith estendeu-lhe a mão, que Shayera aceitou.

─Shay... ─Ele chamou.

─Sinto muito, Wally. ─Fez uma pausa. ─Eu amo você.

─Venha comigo Shayera. Juntas reinaremos sobre os mortais. ─E para os vampiros. ─Matem-nos.

─Não! ─Shayera gritou. ─Esse não era o combinado.

─Mudança de planos, gatinha.