Wally chegou na delegacia e ouvia barulho do lado de dentro. Tentou abrir a porta, mas sentiu alguém afastá-lo. Shayera cobriu a boca de Wally, para que ele não fizesse barulho. Quando reconheceu a amiga, parou de lutar.

─Shay?

─Shiii...

Escondidos entre arbustos, viram os vampiros saírem da delegacia. Carregavam J’onn, Clark e John com eles. O ultimo dos vampiros carregava uma caixa. Ela esperou eles se afastarem um pouco antes de segui-los. Wally ia atrás dela, mas Shayera o parou.

─Você não vai. Pode ser perigoso.

─Eu quero ajudar.

─Não quero ter que me preocupar com você também, Wally.

─Não quero discutir, Shay, mas eu vou junto.

Soltou um suspiro de rendição e eles caminharam, seguindo o rastro dos vampiros. Apesar de não vê-los mais, ela sentia a presença deles não muito distante. O cheiro de seus amigos ajudava na procura.

Os ruivos foram parar no cemitério. Shayera ajudou Wally a pular o muro e entrou em seguida. Estava tudo quieto. Eles andaram entre as lápides, Shayera com sua espada pronta para atacar.

─Consegue senti-los?

Ela olhou ao redor. Sem sinal dos vampiros, mas eles simplesmente não poderiam desaparecer. Vampiros não voavam, e não escapariam por cima carregando três pessoas. Então, a resposta obvia seria por baixo.

Um enorme mausoléu ficava num canto mais distante, e parecia um bom lugar para se esconder. Correram até lá.

Shayera empurrou o enorme portão de ferro. Estava um pouco escuro, mas ela conseguia enxergar bem por causa de seus reflexos vampíricos. Segurou a mão de Wally com sua mão livre e o ajudou a caminhar. Depararam-se com um túmulo. Shayera empurrou a tampa, e, no lugar de um caixão, havia uma escada.

─Damas primeiro. ─Wally comentou e Shayera revirou os olhos.

Ela pulou para dentro, e Wally veio logo em seguida. Segurando ainda a mão dele, desceram por alguns metros. No fim da escada, encontraram um túnel. Estava relativamente claro, com algumas velas iluminando o caminho.

Seguiram mais outros metros, andando pelo túnel em linha reta. Saíram em uma galeria de pedra, logo abaixo do cemitério. Wally e Shayera se esconderam num canto, observando.

Além de John, Clark e J’onn, Bruce e Diana também estavam lá. No centro, havia uma banheira, coberta com um líquido vermelho e viscoso. Sangue. Os vampiros abriram a caixa que trouxeram e tiraram a ossada. Um a um, depositaram cuidadosos os osso na banheira de sangue. O corpo de Shayera começou a tremer.

─Sente isso? ─Indagou.

─Isso o que?

─A energia. ─Fitou-o. ─Acho que não. Mas os vampiros sentem.

Diana sentia sua cabeça latejar quando acordou. Tentou se mover apenas para descobrir que estava amarrada. Lembrou-se então do que houve.

Ela e Bruce observavam os vampiros na floresta, até ouvirem passos atrás dela. Ela se virou e tentou lutar, mas os vampiros foram mais rápidos. O mundo escureceu.

Seu observador e os outros amigos se mexeram, também acordando. Todos se encontravam amarrados. Ao redor, os vampiros pareciam ocupados. Um homem alto, de pele negra, parecia o líder. Ele dava ordens, e os vampiros cumpriam suas ordens sem questionar.

─Shay, vamos ajudar.

─Espera um pouco.

Os minutos que ficaram escondidos pareceram intermináveis. A onda de energia aumentava e ela queria descobrir de onde. O sangue na banheira se mexia, e diminuía de profundidade. Os ossos se juntaram em um esqueleto. Aos poucos, formavam carne, nervos e pele. Por fim, o cadáver de uma mulher. Tinha os cabelos longos e escuros, e a pele clara estava manchada com gotas de sangue.

Seja o que for, ela não queria que terminasse. Shayera saiu de seu esconderijo e cortou a cabeça de um dos vampiros. Lutava contra aqueles que vinham contra ela, enquanto Wally soltava os amigos. A mulher abriu seus olhos vermelhos.

─Estou viva!

─Ah, não. Não, não, não!

Shayera escorregou para o chão. Largou a espada, incapaz de se manter. Todos pararam em seus lugares. Até mesmo os vampiros esqueceram de lutar, encarando a estranha figura que se erguia.

A mulher saiu e deu alguns passos, olhando ao redor com curiosidade. Tantos corações batendo. Ficava difícil escolher. Encarou a pequena ruiva ajoelhada. Segurou sua cabeça, como se fosse torcê-la, mas então ela viu o brilho diferente.

Diana livrou-se do vampiro que a prendia e correu na direção da mulher. Acertou um chute em seu estômago. Ela cambaleou, acordando Shayera do transe. Ela piscou algumas vezes, então pegou a espada e com um movimento, decepou a mão que lhe prendia. O sangue negro jorrou.

Shayera não esperou e correu para fora. Todos o fizeram. Os adolescentes seguiam Shayera até estarem no mausoléu. Trancaram a entrada e saíram para o cemitério. Olharam para trás, para ver se não eram seguidos, e não havia ninguém. O sol despontava ao longe e os manteria seguros até o anoitecer.

─O que deu em você, Shayera? ─Diana gritou. ─Ficou louca?

─Calma, Diana. ─A voz de Bruce era baixa, quase um sussurro. Como se contasse um segredo apenas a ela.

─Não sei quanto a vocês... ─Era Clark. ─Mas eu gostaria de sair daqui...

Eles concordaram e se puseram a andar. Shayera agarrou a primeira coisa que conseguiu. Diana sentiu a pressão em seus cabelos, logo em seguida, alguma coisa levando-a para baixo. A única pessoa possível era Shayera.

─Shayera! Você... oh, droga. Me ajudem aqui.

J’onn segurou seu pulso. Ele não sabia como seriam os batimentos cardíacos de um meio vampiro, mas lhe pareceu estável. Nem rápido demais, nem devagar. Pegou a menina em seus braços. Encarou Wally.

─Isso acontece muito?

─Não que eu saiba.

─Tudo bem, vamos sair daqui.

*****

Shayera olho ao redor. O mesmo jardim ensolarado. O mesmo homem estranho.

─Não pode me encontrar em um lugar normal?

─Se ainda não percebeu, eu estou morto. Só posso visitar-lhe em seus sonhos.

─Legal, e que lugar é esse?

─Um lugar de exílio. Eu escolhi ficar, para guiá-la na batalha. Quando vencer, partirei para o além vida.

A ruiva assentiu.

─E quem era aquela mulher vampiro? Porque me senti tão mal na presença dela?

─Lilith. ─Disse sem rodeios. Não havia porque mentir. ─Simplesmente a rainha dos vampiros.

─Pensei que fosse uma lenda.

─Lenda? Antes fosse. Aquela coisa foi morta por seis das sete casas reais vampíricas.

─E a sétima casa real decidiu trazê-la de volta?

─Sim, nem todos os vampiros acreditam em equilíbrio do bem e do mal. ─Fez uma pausa. ─Por mais que ela pareça se sobrepor a você, precisa ganhar.

─Então, você quer que eu ganhe esta batalha para a humanidade?

─Lilith mataria qualquer coisa, não apenas humanos. Ela foi uma vez imparável, até traírem-na e prenderem-na. Tome cuidado com ela, sim? E ganhe.

Ele desapareceu.

─Espera! ─Gritou. ─Eu não posso fazer isso sozinha...

Ela acordou em um lugar macio e escuro. Shayera rolou e foi parar no chão. Com um resmungo, ficou de pé e tateou até uma parede. Encontrou o interruptor e a luz iluminou seu quarto. Estava em casa.

Ouviu vozes baixas do lado de fora. Abriu a porta e caminhou para sua pequena cozinha. Wally estava lá, assim como Diana e os outros. Wally ficou de pé e foi até ela.

─Tudo bem, Shay?

─Só uma dor de cabeça insuportável.

─Você bateu a cabeça quando caiu, Shayera. ─Disse J’onn. ─Sorte que não foi nada grave.

O tom de J’onn soava preocupado, mas todos lhe lançaram olhares curiosos.

─O que foi?

─Saber dizer o que aconteceu?

Pensou em contar sobre o misterioso homem em seus sonhos, mas achou que talvez não fosse a hora. Shayera deu de ombros.

─Fiquei assustada. ─Era verdade. ─A energia que aquela mulher emanava me atraía para ela. Acho que todos os vampiros sentiram.

─Preciso pesquisar e descobrir do que se trata. Não tenho muito por onde começar, embora.

─Um nome ajudaria? ─Todos se voltaram para Shayera.

─Sim, sim. Se este vampiro for conhecido, eu o encontraria em algum livro.

─Legal. Procure por... ─Engoliu em seco. Até o nome lhe causava arrepios. ─Lilith...